
005.
005. Não era mesmo
HAZEL NÃO VOLTOU PARA O CÉU, assim como havia dito que não faria. Ao menos, naquela vez, ela teve o bom senso de avisar antes de fazer tal ato.
Mas não pôde voltar para sua casa quando o caso de Anna acabou, Castiel a implorou para que ficasse ao menos por perto. Parecia que o fim do mundo precisava do máximo de anjos o possível naquela região. O engraçado era que ela não ligava para o fim do mundo, ou ao menos tentava não ligar.
O hotel em que havia ficado hospedada era antigo e ela já havia estado lá à uns trezentos anos atrás; esperava que nenhum dos funcionários fosse algum ser sobrenatural que ainda trabalhasse por lá, não queria ser reconhecida. Também esperava não ter que lidar com nenhuma visita indesejada por parte de seus irmãos, a última coisa que queria é algum anjo vindo lhe questionar, argumentar ou ameaçar. Não estava com ânimo para aquilo.
Cinco dias atrás, ela havia feito o check-in usando uma das identidades falsas que havia acumulado ao decorrer dos anos, agora ela estava usando o nome de Eleanor Watson, uma advogada que era originada de um lugar bem longe dali. No primeiro dia, quando perguntada em qual horário desejava o serviço de quarto, a mulher respondeu que só era necessário por volta das oito da noite, pontuando que não queria ser incomodada antes ou depois desse horário.
Conforme subia os dois lances de escada, ela conseguiu notar que haviam tido muitas mudanças no local. Logo na entrada ela notou que o prédio havia mudado o nome, com certeza de proprietário e provavelmente havia sido demolido com o tempo. Afinal, haviam sido trezentos anos, não treze dias.
Desde o primeiro dia ali, quando entrou no quarto que estava numerado de acordo com a chave que tinha em mãos, fechando-o rapidamente assim que adentrou no ambiente. Ela era um anjo, claro, mas não gostava de ter que usar seus poderes e muito menos de ter algum trabalho lutando com coisas que pudessem lhe rastrear, então a primeira coisa que fez após trancar o quarto foi jogar sua mochila na cama e abri-lá. Um pequeno milagre aqui e ali e ela havia conseguido dinheiro para comprar os itens que precisava.
Hazel guardou o que restou do sal após encher as janelas e a porta com ele. Puxou o tapete de uma vez e balançou a lata de tinta antes de começar a desenhar uma armadilha do diabo, e enquanto essa secava, ela tratou de fazer selos anti-anjos pelas paredes também. Não, ela não iria ser incomodada em hipótese alguma. Se não podia voltar para sua casa, também não queria ver ninguém.
ELA PODIA NÃO CONSEGUIR dormir, não como os humanos faziam. O máximo que Hazel conseguia era fechar os olhos e por poucos minutos ser embalada em uma paz reconfortante, não sentia nada, não via nada, e ficar assim era ótimo para ela; mas a duração disso era pouca, e o resto da noite ela ficava quieta e de olhos fechados. Era o suficiente para ela, ao menos por hora.
Mas sua paz foi arrancada de si na sexta noite, quando um único grito de terror ecoou pelo corredor do hotel, a mulher deu um pulo de sua cama e correu até a porta. Porém o selo que ela havia feito não permitia a entrada e muito menos a saída de anjos; ela caminhou até sua cama e tirou a faca de anjo debaixo do travesseiro, retornou para a porta e começou a retirar a casca da tinta.
— Ê porra — estava demorando mais que o normal naquilo e por um instante ela pensou seriamente em usar seus poderes. O sigilo que ela havia criado tinha uma mistura especial para ser feito, era justamente para ser difícil de tirar.
Mas o grito havia sido seguido de um silêncio mais alto ainda, e algo dentro de si gritou para que ela não saísse do quarto. Hazel relutou, olhou para sua mão e notou que essa estava tremendo.
— Merda. — ela murmurou, segurando a faca com mais força quando uma sombra parou em frente a porta. E por um outro segundo de lucidez, algo veio à sua mente: porque caralhos eu 'tô me escondendo ? eu não deveria ser tipo, uma das coisas mais poderosas da Terra ? Mas um instinto de sobrevivência que ela tinha adquirido por passar tanto tempo sem usar o lado destrutivo de seus poderes ainda lhe alertavam que deveria ficar quieta.
E foi isso que ela fez, quando a sombra foi embora, ela reforçou o selo que havia quebrado e passou o resto da noite quieta e atenta à qualquer barulho. Sairia pouco tempo antes do sol nascer, e dependendo da situação, sabia as pessoas certas para recorrer.
E como havia planejado ela saiu cedo do seu quarto e ainda pode ver o cenário de resultado ao grito da noite passada. O sangue manchava as paredes marrons do hotel e o carpete estava ensopado, de onde ela passou, só conseguiu ver os dedos quebrados de uma mão feminina. Não conseguia chegar mais perto por conta da movimentação dos funcionários, então seguiu caminho.
ELA SABIA QUE os céus estavam de olho na movimentação deles, ou pelo menos, Castiel estava. Quando ela perguntou onde podia encontrar os Sam e Dean, o outro anjo respondeu prontamente e se mostrou curioso sobre o assunto, mas ela disse que se tratava de uma caçada que ela teve a infelicidade de estar presente para poder alerta-los.
O motel onde os irmãos estavam era realmente de beira de estrada, a pintura acabada e a placa neon que só acendia algumas letras no letreiro mostravam isso com detalhes. Ela teve que desembolsar o seu "dinheiro milagroso" para a recepcionista informar em qual quarto os dois homens que chegaram no impala estavam.
Após ser indicada qual corredor tomar, a mulher caminhou observando os números gravados nas portas dos quartos, escutava um barulho ou outro atrás das portas mas ignorava isso o quanto podia até enfim conseguir encontrar o quarto de número dezoito.
Ela bateu três vezes na porta. Já havia sentido o selo de proteção contra anjos, mas mesmo se não tivesse um ali, ela ainda assim bateria na porta; seu pai podia não ter lhe dado educação, mas ela tinha aprendido na rua, isso pode apostar que sim. O anjo escutou as vozes dos dois atrás da porta, e não demorou muito para um deles ver quem era pelo olho mágico. Que motel tinha um olho mágico, fala sério.
"É aquela mulher." Ela conseguiu ouvir a voz de Sam, dando um ênfase no "aquela".
"O que ela quer ?" Era a voz de Dean.
— Tenho trabalho 'pra vocês, rapazes. — ela disse alto o suficiente para que eles escutassem — Nada com o céu — balançou a cabeça —, é trabalho mesmo.
E eles começaram a falar mais baixo e Hazel estava ficando impaciente.
— É sério gente, tem vidas em perigo.
— As nossas ou a sua ? — novamente a voz de Dean, mas dessa vez mais perto da porta.
— A de gente inocente. — e sentiu o selo anti-anjos ser rompido.
A porta se abriu, revelando os dois irmãos bem perto dela, ambos pareciam guardar suas armas. Dean, que estava na porta, deu passagem para que ela entrasse de uma vez no quarto.
— Não queria incomodar vocês. — começou a falar — Mas são os únicos que conheço e que estão por perto.
— E porque não chamou outros anjos ? — perguntou Sam, puxando uma cadeira para que a mulher se sentasse e ele mesmo sentou na ponta de uma das camas presente no quarto. Dean ficou em pé, encostado na parede ao lado da porta.
— Eu não queria — e balançou a cabeça, se corrigindo em seguida — eu não quero que eles saibam onde eu estou.
— Ué, e 'cê não tava com eles no céu tocando suas harpas ou... — Dean era quem estava falando, parecia querer alfinetar a mulher por conta do último e nada agradável encontro que tiveram — matando inocentes como a Anna ?
— Não sei se Anna morreu. — ela balançou a cabeça e encarou o mais velho dos dois irmãos — Não voltei 'pro céu depois daquilo, eu vim direto pra essa cidade.
— E porque ?
— Porque eu não gosto de lá.
E um silêncio pesado pairou sobre o ar. Hazel estava ficando desconfortável e isso estava começando a afetar os outros também.
— Enfim, — ela se levantou e puxou um mapa do bolso, havia pego junto com os folhetos que entregavam no hotel. Pegou uma caneta que estava em cima da cabeceira entre as camas e marcou — essa é a localização do hotel.
— Conta direito o que aconteceu. — pediu Sam, ele parecia ser o mais focado dos dois ali.
— Não sei, eu estava dormindo e...
— Anjos dormem ? — perguntou Dean, confuso.
Era a segunda vez que ele perguntava algo para Hazel no tipo, a primeira foi se anjos comem.
— Eu sim. — deu um sorriso rápido e forçado para ele, ainda conseguindo ver que ele revirou os olhos antes que ela voltasse sua atenção para o mapa — Continuando, estava dormindo e ouvi um grito. Eu tinha feito um selo que impede que anjos entrem ou saiam e não consegui quebrá-lo a tempo.
— Porque você faria isso ? — Sam continuava com as perguntas e Dean repetiu, incentivando que ela respondesse logo.
— Colegas, acho que já deu pra notar que eu não gosto da ideia de 'tá no meio da burocracia do céu. — impaciente, ela começou a falar, estava irritada consigo mesma — Não quero que eles me achem, não quero que eles me vejam, não quero vê-los também.
— Ah. — foi tudo que eles conseguiram emitir.
— Então, antes de vir para cá, eu consegui ver que a vítima era uma mulher e 'só isso.
Sam e Dean ficaram em silêncio, trocando olhares entre si. Era óbvio que estavam tentando decidir o que fazer, ela era assim com seus irmãos também. Por fim, parecia terem chegado a uma decisão quando Dean se desencostou da parede e caminhou até as bolsas que eles carregavam.
— A gente 'só vai tomar uma ducha e 'já vamos 'pra lá.
— Certo, obrigada. — ela se levantou rapidamente, mas algo a fez parar e se virar para os dois — Deixem eu participar da investigação.
— Oi ?
— Por favor. — ela pediu novamente — Eu gosto daquele hotel.
— E isso é motivo ? — Sam estava com uma sobrancelha arqueada.
— Qual é, eu 'tava na inauguração dele. — revelou — Eu gosto do lugar, quero garantir a segurança de quem se hospeda por lá.
— Na inauguração ? — Dean franziu o cenho enquanto tirava um terno de dentro da bolsa — Que foi há...?
— Oh. — não deveria ter falado isso, faça eles esquecerem — Uns trezentos anos atrás.
Em unisom, os dois emitiram um bom e sonoro "O que ?!".
— Não sei o porquê da surpresa — foi a vez dela franzir o cenho — eu sou mais velha que a terra, praticamente. — e questionou: — Vão me deixar participar ?
Os irmãos fizeram o lance do olhar mais uma vez.
— Acho que um dos que o Dean usa vai servir em você. — disse Sam, por fim.
ALGUNS HÓSPEDES DO HOTEL já estavam do lado de fora quando os três chegaram. O tempo que ficaram dentro do Impala à caminho do hotel foi silencioso agora estava sendo interrompido pelos burburinhos das pessoas, algumas relataram aos outros que haviam escutado gritos, outros diziam que iam denunciar o hotel por permitir que algo daquela magnitude acontecesse, alguns até mesmo diziam que assim que fossem liberados do interrogatório policial iriam embora.
Os três entraram no local mostrando seus distintivos do FBI, obviamente falsos, mas ninguém iria analisar aquilo tempo o bastante para descobrir, isso era fato. Um funcionário os levou até o local onde o corpo estava, já que havia sido levado à pouco tempo para o IML; mas, o rapaz que os guiava relatou que havia sido um dos primeiros a chegarem no local, ainda estava tremendo pelo choque se ter sido a cabeça da mulher esmagada como se tivesse sido atingida por uma enorme rocha. Ele saiu assim que deixou os três no local, dizendo que os deixaria trabalhar em paz.
O vaso estava quebrado no chão próximo onde estava a marcação de onde estaria o corpo no carpete agora mancha em vermelho-sangue, mas não teria força o suficiente para esmagar um crânio como o rapaz havia descrito. Analisam o que dava em primeira visão, não conseguiram encontrar nenhum sinal de que tinha alguém atrás da vítima.
— Hum. — Hazel fez um som baixo e falou: — Não acho que tenha sido humano.
Dean franziu o cenho.
— Foi atrás da gente sem nem saber se era trabalho nosso ?
— Eu suspeitava que não era. — deu de ombros — Tenho certeza agora.
Ela levantou a cabeça e olhou para os cantos das paredes, encontrando as câmeras que poderiam ter gravado o crime, só torcia para que os policiais não chegassem antes.
— Eu vou olhar as câmeras. — avisou e viu os dois concordarem com a cabeça. Ainda não confiavam nela, certo, tudo bem — Alguém precisa ir ver o corpo e outro tem que ver se já tiveram outros casos como esse antes.
— Eu vou pegar o laudo da perícia. — disse Sam e se virou para o irmão com a mão estendida, esperando que ele entregasse a chave do carro. Dean pareceu não gostar da ideia, mas resmungou baixo e deu a chave para o outro.
Sam saiu rapidamente do local deixando os dois para trás, um silêncio se estabeleceu brevemente mas foi quebrado pelo Winchester:
— O cara disse que não tinham mais quartos disponíveis — começou a reclamar — o Sam saiu com o carro. Onde que eu vou pesquisar sem alguém 'pra atrapalhar ?
Ela enfiou a mão no bolso do paletó que estava vestindo. Havia colocado a chave do quarto que estava instalada ali, suspirou e entregou elas para o homem.
— Se perguntarem, diga que Eleanor Watson é uma pessoa muito humilde, quase um anjo. — ironizou no final, sorrindo levemente.
Ela não deixou que ele respondesse, pois saiu quase como um foguete em direção a recepção para poder ver as imagens das câmeras de segurança. Dean ficou parado, olhando para a chave em suas mãos, anjo não era coisa de Deus não, pensava consigo.
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