001.
001. Mármore branco
FINALMENTE O ÚLTIMO vaso estava em seu lugar, perfeitamente alinhado junto com os outros no jardim de sua casa da mulher. Estava incrivelmente orgulhosa do que havia feito nos últimos anos cultivando suas plantas e flores, agora estavam mostrando resultado florescendo lindamente.
Pela porta dos fundos, sentiu o aroma do limão invadir suas narinas da casa recém limpa. Sorriu minimamente quando pôde avistar como a casa estava organizada, com tudo em seu lugar, sem nenhuma poeira ou inseto que pudessem tirar o ar de tranquilidade que estava presente naquele ambiente. Morar sozinha tinha suas vantagens.
Pegou o cesto de roupas e caminhou até o varal, começou a recolher as vestimentas que estavam estendidas no varal desde a manhã daquele dia. O sol havia sido quente o suficiente para secar as roupas de tecido mais finos, e agradeceu à isso por sua camisa do flamengo ter secado, havia um jogo para assistir no barzinho perto de casa no dia seguinte e não seria a mesma coisa se não estivesse usando o manto do seu time.
Estava em paz, nada no seu dia parecia ser levado para um caminho estranho, tudo corria perfeitamente normal. Tomou um banho rápido e se vestiu com um short jeans e uma camiseta leve; o sol já denunciava que era por volta das quatro e meia da tarde, e ela sabia disso, e um domingo quente só poderia ser completo com uma cerveja gelada em um bar de esquina com um gelo de procedência duvidosa. Mas ela estava mais grata do que nunca por poder ter aquilo.
O DONO DO LOCAL já conhecia a mulher, havia sido ele quem a indicou uma casa que estava à venda quando ela chegou no país. Não precisou falar, ele apenas acenou com a cabeça, já sabia que seria o mesmo pedido de sempre: uma latinha e um tira gosto, o básico e nada era melhor do que o básico.
Ela observava o lugar enquanto esperava seu pedido chegar. Gostava de ver a movimentação das crianças soltando pipa em um campinho próximo ao local; adorava mais do que tudo ver as pessoas subindo e descendo pelas ruas, vivendo suas próprias e simples vidas, pareciam estar tão imersos em si próprios que nem ao menos notavam sua simplória presença naquele local. O Brasil havia sido o local certo para ir, as paisagens eram lindas de tirar o fôlego e as pessoas eram de longe as mais gentis que ela já havia conhecido. Quando seu pedido chegou, ela não demorou muito para beber e comer; observou o movimento mais um pouco, conversou com o dono do bar e algumas outras pessoas que estavam ali sobre o jogo de futebol do dia seguinte, pagou e seguiu para sua casa que ficava no fim da rua; mas antes, ajudou uma idosa à carregar suas compras, mesmo que a casa da senhora fosse quase três ruas depois da dela. A mulher agradeceu com um daqueles gentis sorrisos dos de idade mais avançada e entregou um pedaço de bolo de fubá que havia feito naquele dia para a mais jovem.
ESTRANHOU QUANDO parou na porta de sua casa, tinha certeza que não estava esperando visitas, principalmente a de um dos seus. Pensou seriamente em dar meia volta e retornar para o bar, ou para qualquer outro lugar, mas já sabia que sua presença já havia sido sentido pelo outro que estava lá dentro. Espero que não tenha sujado minha casa, pensou consigo mesma, enquanto empunhava sua lâmina, viu pelo canto do olho quando o fio duplo da arma brilhou sob a luz do poste. Lentamente, empurrou a porta, como se estivesse entrando na casa de um estranho e não na sua própria casa.
Viu o ser de costas para ela, parecia observar a simplicidade da casa e embora não pudesse ver suas expressões ━ se é que tinha uma ━ sentia que ele parecia surpreso. E não demorou nem mais um segundo até ela saber quem estava ali na sua frente, parado como uma estátua no meio da sala.
━ Como me achou ? ━ foi a primeira coisa que disse após ligar a luz, o que a possibilitou de ver o atual receptáculo que ele ocupava.
━ Pistas, boatos e muito tempo de busca.
━ Não deveria ter achado. ━ suspirou, se jogou no sofá macio e aconchegante, queria mandá-lo ir e ligar na novela, esquecendo que havia se encontrado com um anjo após anos ━ Vá embora, Castiel. Eu não devo nada a ninguém.
━ Você deve tudo, Hazel. ━ ele continuava em pé, embora estivesse quase no mesmo nível, ainda não havia perdido os hábitos que lhe acompanharam por anos ━ Deve voltar para casa. Para o céu.
━ O céu já foi minha casa, Cass. ━ deu de ombros e fechou os olhos com força ━ Não é mais, não tenho mais nada.
━ Então, não ouviu o que está sendo relatado na rádio angelical ?
━ Eu desliguei. ━ levantou-se e caminhou até a geladeira, sendo acompanhada pelos olhos atentos do anjo. Abriu e tirou uma garrafa de água com gás ━ Água ? ━ ofereceu para ele, e o viu negar com a cabeça com uma mínima careta na face, anjos não precisavam comer e nem beber, é claro ━ Enfim, desligue a rádio à tempos. O que está acontecendo ?
Podia não dar o braço à torcer de maneira alguma, mas agora estava curiosa para saber com o que os anjos estavam lidando que fosse tão urgente para ela ter sido o alvo de procura por muitos meses.
━ Eu tirei Dean Winchester do inferno. ━ revelou.
━ Dean Winchester ? ━ riu de maneira sarcástica, antes de falar algo mais sarcástico ainda ━ Ele não existe, era apenas uma lenda que papai contava antes de nos pôr para dormir.
━ Ele existe. O pai nunca contou histórias para dormir, nós nem precisamos dormir.
━ Cara, cadê seu senso de humor ? ━ Castiel franziu o cenho em sua direção e como resposta, ela apenas balançou a cabeça ━ Esquece. Pode continuar.
━ Precisamos de você Hazel. ━ finalmente parecia que ele estava indo direto ao ponto ━ Temos um problema com um anjo.
━ Desde os primórdios existem problemas com anjos. ━ ela riu abafado, embora não tivesse motivo nenhum para isso. Apenas se lembrou de si mesma.
━ Um anjo caído. ━ oh, ele deveria ter dito isso antes se quisesse a total atenção da mulher. Agora ela observava e ouvia atentamente tudo o que era relatado ━ Anna, ━ um alívio instantâneo atingiu o ser de Hazel, respirou fundo e continuou ouvindo com atenção ━ ela está na Terra como humana, mas ainda pode ouvir a rádio angelical e isso é um perigo para nossa existência.
━ Então vocês tem que achá-la antes dos demônios ?
━ Exatamente, nós temos, e isso inclui você.
Hazel levantou-se mais uma vez, colocou as mãos na cabeça como se estivesse pensando no que faria. Respirou fundo, uma, duas, três vezes e caminhou até a janela, observando o céu estrelado que se punha lá fora. Imaginou como estava a situação além do que poderia observar, como estava o céu que ela conhecia de verdade. Balançou a cabeça em negação.
━ Não posso, Cass. ━ suspirou ━ Não posso mesmo.
━ E porque não ?
━ Eu tenho uma vida aqui. ━ deu de ombros, ainda sem olhar para o outro ━ E eu gosto dessa vida, gosto mesmo. Estou em paz.
━ O céu é a paz verdadeira.
━ Não é. ━ uma risada engasgada, algo que mais parecia o início de um choro pode ser ouvido ━ Não para a gente. Você sabe que não é.
━ Hazel. ━ o tom de voz do outro havia mudado, parecia mais sério e determinado ━ Você tem vinte e quatro horas para decidir se virar para seu verdadeiro lar e irá batalhar ao lado dos seus, como deve servir.
━ Caso contrário ? ━ ela se virou para encarar Castiel, a pergunta foi feita pela mais pura pirraça por parte da mulher, ela sabia muito bem o que era feito com aqueles que não faziam o que o céu desejava, embora ela ainda não tivesse sido punida.
━ Caso contrário, você enfrentará a fúria dos céus.
━ É claro que vou. ━ um sorriso de canto brotou no canto de seu rosto. Não conseguiu ver a reação do outro anjo, por conta da velocidade que ele saiu do ambiente.
Voltou para a janela. Não queria ir de maneira alguma, sem chance. Demorou séculos para sair de lá e agora que estava finalmente se encontrando em um lugar teria que voltar para...aquele inferno branco e de mármore.
Balançou a cabeça em negação. Não, lá não era o inferno, sua cabeça era, sua família era; mas aquele lugar não era o inferno, era o céu.
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