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𝕮𝖆𝖕𝖎́𝖙𝖚𝖑𝖔 1 - 𝕮𝖗𝖎𝖘𝖙𝖆̃𝖔 𝖊 𝕰𝖛𝖆𝖓𝖌𝖊𝖑𝖎𝖘𝖙𝖆. ✝️

capítulo 01

EU ME DEITEI em um lugar para dormir e enquanto dormia eu tive um sonho. Eu vi um homem com um grande fardo em suas costas lendo um livro, e eu percebi que visões do fogo dos céus assombravam um certo homem chamado Cristão.

(O homem estava almoçando com sua esposa e seus dois filhos, mas ele não conseguia se alimentar de tão aflito)

― Ainda está lendo aquele livro? ― sua esposa perguntou o encarando.

― Na verdade, sim, faz muito sentido.

― Me falou que aquele livro te chateia, mas você continua lendo. Eu achei que você fosse parar. ― a mulher continuou olhando para ele, analisando suas reações.

― Eu sei, é que eu não consigo largar.

― E sobre o que você leu hoje?

― Bom, eu sei que isso vai parecer loucura. Eu não diria isso se não soubesse que é verdade, mas hoje eu li que nossa cidade vai ser destruída pelo fogo. Nós vamos morrer, a menos que eu encontre uma maneira de escaparmos. Eu amo muito vocês mais do que qualquer coisa, e eu não vou parar enquanto não encontrar esse lugar de refúgio. Este lugar de pura alegria do qual este livro fala.

― Tá certo. ― a mulher respondeu, irritada. ― Isto é loucura. Eu quero que você pare de ler este livro. Porque não passam de histórias, fantasias e contos de fadas nada é real. Cristão eu sou real, nossas crianças são reais, eu não quero que você se preocupe com essa conversinha louca sobre o fim do mundo! Amor, estamos perfeitamente seguros aqui.

― Eu não vou ficar de braços cruzados, esperando a gente morrer e esse fardo fica cada vez maior e maior. Preciso encontrar uma maneira de me livrar dele e salvar nossa família. Essa é a pura verdade...

No meu sonho eu vi que o grande fardo e as visões da destruição que virá, atrapalhavam o sono de Cristão. Dia após dia Cristão mandava pelo bairro estudando o seu livro, ele orava determinado pela resposta que salvaria todos eles. Em meu sonho eu vi que sua família não lhe dava ouvidos, sua família se recusava a abrir seus olhos para a verdade. Como muitos outros estavam cegos pelas coisas deste mundo.

― O que você quer que eu faça? ― Cristão gritou angustiado, após vivenciar outra visão do fogo do céu caindo em sua cidade, em seguida avistou um homem se aproximando, seu nome era Evangelista.

― Qual é o problema? ― o homem perguntou assim que se aproximou dele.

― Não consigo achar um jeito de salvar minha família do fogo dos céus. Não estamos prontos para morrer.

― Não estão prontos? Com tanta maldade no mundo, não seria bom fugir disso tudo?

― Se eu morrer, minha família também morre. ― Cristão apontou para o seu grande fardo nas costas. ― E esse fardo vai me arrastar para o inferno!

― Entendo. ― Evangelista assentiu. ― Bom eu acho que posso te ajudar. ― o homem tirou um pergaminho de dentro do terno e entregou para Cristão.

― Fuja da ira que virá. ― Cristão leu em voz alta o que estava escrito no pergaminho. ― Fugir? Fugir para onde?

― Para lá. ― o homem apontou para as campinas. ― Tá vendo a porta? Se olhar com atenção vai ver a luz brilhante.

― Acho que vi alguma coisa.

― Então corra para lá e não olhe para trás. E quando chegar lá vai encontrar a porta.

― E depois?

― Bata. Sabe o que fazer depois. ― Evangelista indicou o caminho outra vez. ― Não fique parado aí filho, corra e não olhe para trás.

― CRISTÃO NÃO VAI! ― gritou Cristiana, sua esposa.

Então Cristão correu com toda a sua força para o caminho que o levaria até a porta.

― Espera voltar! ― gritou uma vizinha.

― E a sua família? ― perguntou outra.

― Continua correndo garoto. ― acenou outro vizinho e esse era um senhorzinho.

― Parece que temos um fugitivo. ― comentou Obstinado.

Mais dois de seus amigos, Obstinado e Flexível estavam determinados a trazê-lo de volta. Eles saíram da Cidade da Destruição, e o alcançaram pouco antes de encontrar o caminho.

― Cristão para! ― Obstinado o segurou.

― Por que me pararam?

― É porque queremos botar juízo na sua cabeça. ― Obstinado respondeu.

― É. ― Flexível afirmou.

― O que? Vocês querem que eu volte para Cidade da Destruição?

― É! ― os dois amigos afirmaram.

― Pense nisso, só o nome da nossa cidade deveria fazer com que corresse comigo.

― Como nunca pensamos nisso? ― Flexível olhou para Obstinado.

― Isso é besteira. É só um nome Cristão. É só um nome é isso. Eu também ouvi essas histórias todas, se você sair vagando por lá e se formos com você todos vamos morrer!

― É, e todos vamos morrer de qualquer jeito e vamos parar no lago que queima com fogo e enxofre. ― Cristão olhou para seus dois amigos. ― Ouçam seus corações, vocês sabem que estou dizendo a verdade. Venham comigo, salvem suas vidas e suas famílias!

― Você não sabe o que está dizendo Cristão, mesmo se passasse pelo pântano da desconfiança, mesmo se chegasse tão longe, tem criaturas lá fora que vão arrancar a pele dos seus ossos, sem falar no rei de todos os demônios, o Apoliom. ― Obstinado se aproximou dele. ― Você tem tudo que uma pessoa poderia querer nesse mundo. Você tem uma bela casa, você tem uma bela esposa que te ama e filhos que te adoram. Nós vivemos uma vida de luxo aqui.

― Muito luxuosa... ― Flexível sorriu.

― Não, Não... Espera aí é tudo fachada. Tá legal? Venham comigo e vão experimentar a vida real. Felicidade real, nada vai se comparar com o que vocês vão ter se seguirem por este caminho fielmente até o final.

― Para onde você acha que esse caminho vai te levar no final? ― Obstinado perguntou encarando o amigo.

― Para uma herança incorruptível que está além da sua imaginação.

― Você está ouvindo? ― Flexível olhou para Obstinado achando interessante o assunto de seu amigo Cristão.

― Uma que nunca vai se estremecer desde que você vá pelo caminho diligentemente. ― Cristão continuou, sorrindo.

― Isso parece bom. ― Flexível comentou.

― Está tudo escrito neste livro. ― Cristão levantou o seu livro de instruções que era a palavra de Deus.

― Eu não estou interessada no livro Cristão. Eu quero que você volte para casa, é isso que eu quero!

― Eu não posso voltar.

― Como assim não pode votar? ― Obstinado ficou na frente dele, impedindo que Cristão prosseguisse o seu caminho. ― Você não pode voltar?

― Não.

― Tá, faça como quiser. ― Obstinado, liberou o caminho para ele. ― Vamos Flexível, vamos embora ele está louco, ele perdeu o juízo.

― Não, espera aí... ― Flexível segurou o amigo, Obstinado. ― E se ele estiver certo?

― Se ele estiver certo?

― Calma aí... Escuta, escuta. Eu já ouvi algumas dessas histórias e se for verdade, então ele é mais esperto que a gente. Ele está tentando achar um lugar mais bonito de tudo que já imaginamos, certo?

― Certo. ― Cristão afirmou.

― Certo! ― Flexível assentiu.

― Você ficou louco. Flexível você ficou louco, ficou muito perto dele. Escuta a coisa mais inteligente que pode fazer é voltar para casa comigo, voltar pra sua esposa, para sua família. Ele é maluco e se você for com ele você vai morrer!

― Não, não é verdade. ― Cristão respondeu. ― Não é verdade. Se você vier comigo vai ganhar tudo aquilo que eu te falei hoje e muito mais. Foi tudo escrito em sangue por aquele que nos ama.

― Olha eu me decidi. ― Flexível respondeu. ― Eu vou com Cristão. Olha você sabe chegar nesse lugar né?

― Sei. ― Cristão respondeu afirmando com a cabeça. ― Evangelista disse que se seguimos por este caminho até o final chegaremos numa porta, vamos?

― Tá bom. ― Flexível olhou para Obstinado. ― Anda, vamos?

― Eu vou para casa, vocês dois são malucos. ― Obstinado respondeu se distanciando dos dois amigos. ― Eu vou para casa curtir meu ar condicionado, vou sentar e ter uma ótima refeição com a minha família, mas vocês não. Vocês vão brincar lá no pântano. Eu vou comer aquela salsicha caseira que a minha esposa faz e vocês gostam tanto. Vou comer algumas batatas, talvez, e espero que se divirtam-se no pântano porque eu vou estar bem confortável. Divirtam-se, podem se atolar nesse pântano, até mais!

― Está pronto para esta jornada, amigo? ― Cristão perguntou para Flexível ainda olhando para Obstinado indo embora.

― É tô. Vamos lá? ― Flexível ficou ao seu lado e assim os dois companheiros foram caminhando nessa nova jornada. ― Pode me contar mais sobre esse reino para onde vamos?

― É meio difícil de descrever na verdade.

― E aquele livro? Acredita mesmo que tudo que está escrito ali é verdade?

― Sem dúvida. ― Cristão sorriu.

― Tipo o quê?

― Tipo que vamos ter vida eterna no reino de pura alegria e que teremos coroas de glória e roupas que brilharão como o sol e não haverá mais lágrimas pois o dono do lugar vai enxugar todas elas.

― Vai ter mais gente lá?

― Anjos e criaturas cujo brilho nos encantará, milhares e milhares de outros que estiveram lá antes de nós que são amáveis...

― Nossa parece bom demais para ser verdade. ― Flexível o interrompeu. ― Mas ao chegar lá, como vamos entrar?

― Bom, diz o livro se quisermos receber nos será concedido de graça.

― Ah, eu mal posso esperar para chegar lá... Será que a gente pode apertar o passo?

― Estou fazendo o melhor que posso…

Eu vi Cristão e Flexível indo em frente falando sobre as maravilhas da Cidade Celestial, não prestando muita atenção ao caminho e por onde estavam.

― Vamos mais rápido para chegarmos mais cedo, tá? ― Flexível respondeu, animadamente. ― Vamos!

Enquanto conversavam, os vi aproximarem-se de um pântano enlameado no meio da campina, no qual ambos caíram de súbito, pois estavam distraídos com o assunto. O pântano chamava-se Desconfiança. Ali permaneceram chafurdados por algum tempo, quase completamente cobertos de lama, até que o Cristão, por causa do pesado fardo que carregava, começou a atolar-se ainda mais.

― Eu tô preso!

― O que foi que aconteceu? ― Flexível perguntou, indignado, contra o seu companheiro.

― A gente se apressou. ― Cristão respondeu ainda preso. ― Saímos do caminho...

― Saímos do caminho? Acabamos de começar. Eu tava te seguindo! Tá fedendo aqui! ― Flexível respondeu irado tentando sair por si próprio da lama. ― Por que eu dei ouvidos a você? Quando sairmos daqui, você vai sozinho...

― Tô preso. ― Cristão disse tentando se mexer e não conseguia. ― Flexível tô preso, pode me ajudar?

― Não. ― Flexível respondeu se mexendo entre a lama com facilidade. ― Lamento.

― Flexível pode me ajudar?

― Hum... Não!

― Flexível? ― Cristão gritou observando Flexível saindo com facilidade do pântano da desconfiança.

― Divirta-se! ― ele respondeu indo embora, abandonando o seu companheiro.

― Socorro! ― Cristão gritou percebendo que havia ficado sozinho no pântano. ― Socorro!

🕊️🌿

N/A: Será que eu fui a única que ficou triste pelo Flexível ter desistido na primeira dificuldade? E de ter deixado o Cristão sozinho no pântano? Ai gente, o que vai acontecer com ele? #preocupada

👋🏻 Até o próximo capítulo=)

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