Capítulo 29
“Você não é nossa filha” essa frase se repetia em minha mente a todo segundo me deixando perdida, como se tudo que eu tivesse vivido não passasse de uma mentira. Eu me sentia péssima por saber que aqueles que eu chamei de pai e mãe na verdade não eram nada meus, e me senti traída por me esconderem isso durante todo esse tempo. Será que o Ruggero também sabia? Talvez por isso ele me beijasse daquele jeito? Por saber que nunca fomos irmãos?
Eu queria correr, me esconder e chorar, gritar até que esse vazio que estou sentindo passasse, mas eu precisava ser forte e continuar ali para saber a verdade, para saber quem são meus pais.
Só percebi então que estava chorando, comecei a soluçar e senti a mão dele em meu ombro me tranquilizando e pedindo para que eu me acalmasse.
- Tira a mão de mim – falei me afastando e enxugando o rosto. Fico perturbada só em imaginar Ruggero me escondendo tudo isso.
- Calma minha filha, não fique assim – mamãe disse paciente.
- Como não? Depois de anos vocês me contam isso e esperam que eu fique bem e aceite sem problemas? – tapei o rosto sentindo que não conseguiria encara-los no momento. – Quem são eles? Por favor, eu tenho o direito de conhecê-los.
- Sempre temi por esse dia – Bruno suspirou e puxou um álbum de fotos que estava em cima da mesa. – Talvez seja doloroso para você ouvir isso Ka.
- O que é? Me digam logo – pedi em meio a lágrimas. Bruno virou o álbum para mim e colocou o dedo em uma fotografia velha.
- Essa era você ainda com um aninho e seus pais – olhei-os atenciosamente e sorri ao notar o quanto eu era parecida com minha mãe de sangue na foto, nossa cor de cabelo era a mesma e meu rosto continha os mesmos traços que o seu, ao olhar meu pai que me segurava com um sorriso de orgulho enorme no rosto, percebi que não nos parecíamos tanto, mas meus olhos verdes eram idênticos ao dele. Uma angústia me invadiu e eu me perguntava o motivo por qual havia me abandonado, na foto eles pareciam tão orgulhosos, por que fariam isso comigo?
- Eles pareciam gostar de mim, por que me deixaram? – perguntei com um tom dedecepção.
- Ei querida não é nada disso que você está pensando, eles lhe amavam muito, mas aconteceu um desastre – os olhos de Antonella lacrimejaram.
- O que aconteceu? Me contem – implorei.
- Foi um incêndio – senti meu coração se apertar. – Você era muito novinha, faltava uma semana para seu aniversário de dois anos quando aconteceu o incêndio em sua casa, que era ao lado da nossa, um problema na cozinha fez a casa pegar fogo e destruiu tudo sem dar a chance de seus pais sobreviverem.
- E como eu sobrevivi?
- Nesse dia, você havia saído mais cedo para passear com sua babá, eu estava com o Rugge no parquinho quando vocês chegaram – ela sorriu ao se lembrar. – Você correu até ele para abraça-lo, sempre foram muito unidos, viviam juntos.
Olhei para Rugge que sorriu de lado para mim.
- Quando voltamos para casa já era tarde demais, o carro do bombeiro tentava controlar as chamas que tomavam conta da casa, seu pai... – ela parou.
- Continue, por favor, eu preciso saber – implorei fazendo-a suspirar e continuar.
- Lorenzo, seu pai fez de tudo para salvar a vida de sua mãe, mas acabou morrendo. Cristina resistiu por algumas horas, fomos para o hospital e permaneci ao lado dela, da minha melhor amiga, ela me fez prometer que cuidaria de você Ka, que faria de você minha filha – Antonella chorava. – O Lorenzo e a Cris te amavam muito, você era tudo para eles meu amor.
- Antonella eu... – fiquei sem palavras, ela cuidou de mim como se fosse sua própria filha, poderia muito bem ter me colocado em um orfanato ou algo do tipo.
- Eu vi você nascer, vi você crescer Ka, sempre aceitei e respeitei suas escolhas minha garota – Antonella sorriu enquanto acariciava meu cabelo.
- E isso quer dizer que se sua escolha for permanecer com o Rugge, nós respeitaremos e vamos ter que aceitar apesar de que seja difícil pra mim – Bruno falou e limpou a lágrima que escorreu no canto do olho.
- Eu e a Cris ficávamos planejando o futuro de vocês juntos – Antonella sorriu olhando para mim e depois para Rugge. – Ela sempre falava que vocês seriam namorados, que o Rugge engravidaria você e nós obrigaríamos vocês a se casarem – Antonella gargalhava ao se lembrar. – Sua mãe era hilária, quando você estava aprendendo a andar Ka, costumava cair muito, o Rugge corria até você para beijar seu machucado.
- Que lindo – sorri para Ruggero que retribuiu.
- E ela falava que seriamos avós muito cedo e pelo visto ela estava certa – sorriu novamente. Me aninhei nos braços de Rugge enquanto seus braços deslizavam ao meu redor.
- Pera aí, você não engravidou ela não né?! – Bruno nos olhou assustado.
- Claro que não pai – Rugge falou e murmurou “eu acho” me fazendo rir.
...
Depois de tantas revelações, Karol já estava mais calma e até mais feliz por descobrir mais coisas sobre seus pais verdadeiros, ela e mamãe não paravam de conversar. Eu particularmente estava mais feliz ainda por saber que não somos irmãos, assim nada de fato impediria que ficássemos juntos.
Quando nossos pais foram pra cozinha preparar algo para comer, Karol foi para seu quarto, a acompanhei discretamente e puxei seu braço antes que entrasse no quarto.
- Você está bem? – perguntei enquanto acariciava seu rosto. Ka me abraçou e deitou o rosto em meu ombro.
- Acho que sim, eu nunca imaginaria algo assim Rugge – beijei seu rosto e brinquei com seu cabelo. Sei que isso é difícil, eu não acho que conseguiria ser tão forte como ela está sendo.
- Vai ficar tudo bem – selei seus lábios e sorri.
- Você já sabia disso? Não mente para mim – Karol me encarou séria.
- Claro que não, se eu soubesse teria contado a você – a imprensei na parede e selei seus lábios novamente.
- Sério? Então você me amava mesmo imaginando que éramos irmãos? – perguntou.
- Sim meu amor, eu nunca desistiria de você – sorri e beijei seu queixo.
Karol sorriu, um dos sorrisos mais lindos que já vi na minha vida, suas pequenas mãos seguraram meu rosto puxando-me para um beijo calmo e ao mesmo tempo intenso.
Deslizei as mãos por suas costas colando seu corpo ao meu.
Eu amo tanto essa garota.
...
Depois de Caro explicar toda a situação para Chiara sobre Lionel, a loira se perguntava se isso era realmente verdade, afinal quem lhe garantia que não fosse uma brincadeira de mau gosto dela para se vingar? Mas Chiara não conseguiu ficar parada depois que ouviu Caro chorando e implorando para que lhe ajudasse, ela precisava fazer alguma coisa.
- Eu vou chamar a polícia – Chiara disse aflita.
- Não! Ele vai me matar Chiara, se a polícia chegar depois que Lionel ele vai me matar – a morena chorava, estava tão vulnerável que ninguém lhe reconheceria.
- E se eu for sozinha ele mata você e eu – Chiara respondeu grosseira. – Se acalma, logo chegaremos.
Chiara não esperou Caro protestar, desligou a ligação e discou o número da polícia entrando em contato e contando detalhadamente sobre o que estava acontecendo, os policiais chegaram com a viatura na casa de Chiara.
- Qual o endereço? Onde sua amiga está? – um deles perguntou.
- Eu não sei, nem ela disse – Chia lamentou.
- Qual o número que sua amiga ligou? Podemos rastrear a ligação – um deles sugeriu.
- Vou ligar para ela – a loira pegou seu celular e retornou a ligação para o número que Carolina manteve contato.
- Você já está chegando? Eu estou com medo Chia – Kopelioff murmurava.
- Calma, eu estou com a polícia e eles vão rastrear a chamada, vai dar tudo certo – Chiara passou o celular para um dos policiais que continuou conversando com Caro tentando acalma-la e arrancar informações para tentar ajudar.
- Consegui rastrear, estaremos chegando em alguns minutos, mantenha a calma – o homem falava para Caro enquanto o outro dirigia para o endereço que lhe passaram.
- Não demorem, por favor – Carolina implorava e se desesperou quando a ligação caiu, o celular havia descarregado.
Escondeu o celular de baixo da cama e se encolheu rezando para que sua ajuda chegasse antes que Lionel. A viatura estava cada vez mais perto e Chiara tremia de nervosismo, temia que algo muito sério acontecesse com Carolina.
Lionel abriu violentamente a porta, ele estava muito alterado depois de ter se drogado, um vício que ele nunca deixaria. Foi até Caro e a empurrou com força para que ela acordasse, mas ela fingia que dormia, encarou Lionel com receio.
- O que você vai fazer? – a garota perguntou enquanto se encolhia.
- Quero me divertir um pouco, tira a roupa. – ordenou fazendo o corpo de Caro congelar.
- Você não pode fazer isso Lionel – soluçou.
- Cala a boca e faça o que mandei – puxou o braço de Caro machucando-a, ela gritava e pedia para que parasse. Lionel parou, mas não porque ela pediu e sim porque o barulho da sirene chamou sua atenção. Olhou rápido para a mesa procurando por seu celular e não o viu.
- Você chamou a polícia sua desgraçada – estapeou o rosto de Caro com força, saiu correndo pelo local procurando por sua arma.
Os policiais cercaram a casa e ordenaram para que Chiara permanecesse no carro, mas ela não aguentou e saiu correndo para os fundos da casa tentando achar uma entrada.
- Aqui é a polícia Lionel Ferro, sabemos que está aí mantendo Carolina Kopelioff em cárcere, se entregue e tudo ficará bem – disse no auto-falante.
- Vem aqui vagabunda – Lionel puxou pelos cabelos prendendo seu braço nopescoço da garota, apontou a arma na cabeça dela e murmurou. – Eu não terei pena de matar você, saiba disso.
- Se você não sair nós iremos invadir e será pior para você Lionel – novamente o policial gritou, mas ele apertou o pescoço de Caro esperando que os policiais entrassem.
Chiara conseguiu achar uma entrada e antes de ir ajudar à amiga, pegou um tronco grosso que achou no chão. Assim que achou os dois, sentiu o temor percorrer seu corpo com a arma apontada para a cabeça de Caro, mesmo assim se aproximou com muita calma por trás e acertou o tronco na nuca de Lionel fazendo-o desmaiar.
- Caro! – correu até a garota abraçando-a com força.
- Obrigada por ter vindo – Carolina agradecia enquanto chorava.
Porém tudo estava bom demais pra ser verdade. A pancada seria suficiente para causar muitos danos em Lionel, mas a força depositada por Chiara não foi suficiente e ele acordou, estava desorientado, mas conseguia ver as duas garotas em sua frente.
- Não tão rápido assim – murmurou quando as meninas estavam saindo. Chiara empurrou Caro no chão salvando-a, Lionel atirou contra elas, mas Chiara caiu no chão com a bala que lhe atravessou a barriga.
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