prólogo
Asgard, com seus imponentes salões de ouro e céus pintados em tons vibrantes de lilás e laranja ao pôr do sol, era um lugar onde a infância parecia eterna. O ar era preenchido com o som das cachoeiras cristalinas que caíam pelas montanhas e o vento suave que passava pelas pontes de arco-íris do Bifrost. Era nesse paraíso que Nox, com seus 8 anos de idade, crescia entre os deuses.
Nox era diferente. Seus olhos carregavam o brilho das estrelas mais distantes, algo que nem mesmo os anciãos de Asgard conseguiam explicar completamente. Ainda assim, sua risada era tão pura e contagiante quanto a de qualquer criança. Naquele dia, o pátio do palácio de Odin era o cenário de mais uma das aventuras que ela, Thor e Loki criavam com a imaginação fértil de jovens asgardianos.
— Vamos lá, Nox, mais rápido! — gritou Thor, que segurava um pedaço de madeira improvisado como uma espada. Seu cabelo loiro brilhava sob a luz do sol, e ele já exibia a força que um dia seria lendária.
— Você nunca vai me alcançar! — respondeu Nox, correndo com a leveza de uma folha ao vento. Seus cabelos negros esvoaçavam atrás de si enquanto ela desviava das colunas de mármore e dos arbustos perfeitamente aparados do jardim.
Loki, mais estratégico, observava a cena à distância, com um sorriso astuto. Ele não era tão rápido quanto Thor nem tão leve quanto Nox, mas sabia como transformar qualquer situação em uma vantagem.
— Por que correr quando você pode ser esperto? — murmurou, com um brilho travesso nos olhos.
Com um movimento ágil das mãos, ele conjurou uma pequena ilusão: uma pilha de pedras apareceu magicamente diante de Nox. Assustada, ela parou bruscamente, quase perdendo o equilíbrio.
— Loki! — reclamou Nox, cruzando os braços e fazendo uma careta.
Thor explodiu em gargalhadas, aproveitando o momento para alcançá-la. — Peguei você! — declarou ele, triunfante.
— Isso não é justo! — disse Nox, empurrando Thor de leve, mas sem esconder o sorriso que começava a surgir em seu rosto. — Loki está trapaceando de novo!
Loki se aproximou, inclinando levemente a cabeça com seu ar típico de superioridade. — Trapacear é apenas outra forma de jogar, Nox. Talvez você devesse aprender isso.
— Talvez você devesse aprender a não ser tão convencido — retrucou Nox, com um sorriso desafiador.
Antes que Loki pudesse responder, uma voz grave e poderosa ecoou pelo pátio.
— Crianças, o jantar está pronto!
Era Frigga, com seu tom maternal, mas firme. O trio imediatamente abandonou sua "batalha" e correu em direção ao palácio, cada um tentando chegar primeiro.
Nox adorava esses momentos, onde a grandiosidade de Asgard parecia se reduzir à simplicidade da infância. Mesmo entre os filhos de Odin, ela se sentia aceita, como se sempre tivesse feito parte daquele mundo.
[...]
Nox abriu os olhos mais uma vez, o peito subindo e descendo em um ritmo frenético enquanto o eco das memórias se dissipava em sua mente como fumaça. Aqueles fragmentos do passado vinham e iam em sua mente como flashes desordenados, mas sempre deixavam uma sensação amarga de perda. Por um instante, ela permaneceu imóvel, observando o teto do quarto, como se buscasse respostas nas sombras que o luar deixava ali.
A luz pálida da madrugada começava a invadir o ambiente pelas frestas da cortina. Piscando lentamente, Nox desviou o olhar para o despertador ao lado da cama.
4h40 da manhã.
Sempre o mesmo horário. Sempre o mesmo sonho. Estava ficando cada vez mais difícil. O peso daquela recorrência apertava seu peito, como se o tempo tentasse lhe dizer algo que ela não conseguia entender.
Aquela era sua nova rotina: acordar com o mesmo vazio, o mesmo nó na garganta, as mesmas memórias que nunca pediram permissão para invadi-la. Um mundo inteiro de sentimentos pairava sobre ela, mas nada se manifestava além do silêncio opressor do quarto.
— Nox! — A voz da mãe ecoou pela casa, mas soou distante, quase como se fosse de outra vida.
Nox não respondeu. Apenas se sentou na cama, os dedos passando pelo cabelo bagunçado, a respiração ainda pesada. Seus olhos encararam o chão, fixos em algo que não estava realmente ali.
— Ela não está ali... — murmurou para si mesma, um sussurro que mal quebrou o silêncio.
Havia um cansaço em sua voz, algo mais profundo que noites mal dormidas ou sonhos que se repetiam. Era o tipo de cansaço que vinha da luta constante contra si mesma, contra quem ela foi e quem ela havia se tornado.
— Ela não existe mais... — repetiu, passando a mão pelo rosto, como se tentasse apagar a sensação das lágrimas que teimavam em não cair.
Aquela Nox, a Nox das memórias, parecia tão distante agora. Era uma lembrança quase irreal, um eco de quem ela foi em um tempo que não voltaria. Asgard, Thor, Loki... tudo parecia parte de um sonho distante que agora só a visitava para lembrar o que ela havia perdido.
O silêncio voltou a preencher o quarto, mas desta vez, parecia mais pesado, quase sufocante. Nox respirou fundo, tentando afastar as lembranças, mas elas permaneciam, como sombras insistentes. Lá fora, o sol começava a se levantar, tingindo o céu com tons de laranja e dourado.
Era um novo dia. Mas para Nox, a noite ainda não havia terminado.
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