25.
HÉCTOR FORT
📍BARCELONA, ESPANHA
Encarei os outros jogadores em aquecimento enquanto tomava um pouco de água. Estar de volta, finalmente retomando a rotina normal, era sem dúvida a melhor sensação.
Pablo se aproximou com o sorriso de sempre, segurando uma garrafa de água também.
— E aí, cunhado, aproveitou as férias? — Ele perguntou, descontraído. —
— Acho que o necessário, mas nada de tão fantástico. — Respondi, dando de ombros. — E você?
— Digamos que eu viajei pra Sevilla e passei as férias lá com a Maya. Estar em paz com a família era tudo o que eu precisava. Mas, com certeza, voltar aos treinos, mesmo que devagar, já é um grande começo. — Pablo comentou, com um brilho nos olhos ao falar da família. —
Assenti, concordando.
— Você tem razão. Logo você vai estar de volta a cem por cento, jogando ainda melhor do que antes. — Fiz uma pausa, mudando o tom para mais curioso. — E a Maya e a Serena, como estão?
Pablo sorriu ainda mais largo, claramente feliz.
— Estão ótimas. A Maya está mais à vontade agora, mas decidiu adiar um pouco o retorno à rotina dela. E a Serena... sério, você precisa ir vê-la. Você vai se encantar à primeira vista.
Ri baixo, animado com a ideia.
— Prometo que ainda essa semana passo lá pra ver vocês.
Pablo deu um tapinha no meu ombro, satisfeito.
— Vou cobrar. Mas, e você? Como estão as coisas com a Luna? Aproveitaram as férias juntos?
Soltei uma risada breve, lembrando dos momentos com ela.
— Aproveitamos o tempo que tivemos. Eu tentei surpreendê-la com algumas coisas, sabe como é. Mas agora, voltar à rotina e conciliar tudo é o verdadeiro desafio.
Pablo assentiu, compreensivo.
— É sempre assim, mas você sabe o que está fazendo. Luna parece ser do tipo que valoriza até os gestos mais simples. — Pablo comentou com um sorriso sincero. —
— Ela é, sim. Por isso eu quero fazer dar certo, independente da correria. — Respondi, determinado. —
Pablo me observou por um instante antes de sugerir:
— Sabe, vocês poderiam ir jantar lá em casa hoje. Seria bom. A Maya vai adorar ver vocês, e a Serena... bem, ela é a estrela da casa agora.
Ri da forma como ele falava da filha.
— Parece uma boa ideia. Vou falar com a Luna e confirmo. Mas já aviso que ela pode querer levar algo pra vocês, ela nunca chega de mãos vazias.
— Isso é com ela. A Maya também gosta dessas coisas, então vão se entender. — Pablo disse, rindo. —
— Certo. Vamos combinar então. E você já voltou a treinar mais forte ou ainda tá pegando leve? — Perguntei, mudando de assunto enquanto começávamos a caminhar de volta para o campo. —
Pablo soltou um suspiro dramático.
— Estou me esforçando, mas o técnico ainda tá me segurando. Sabe como é, ele acha que tenho que ter "cautela".
— Ele tá certo. Não adianta correr antes de estar pronto. Você vai voltar com tudo, mas precisa respeitar o tempo do seu corpo.
— Tá, tá, já entendi. — Ele disse, levantando as mãos como se se rendesse. — Só não vai usar isso contra mim quando for a minha vez de puxar sua orelha.
— Prometo pensar no caso. — Respondi com um sorriso. —
Antes que Pablo pudesse retrucar, Lamine surgiu do nada, com aquele ar provocador de sempre, e jogou a água da garrafinha dele na nossa direção.
— Dá pra vocês voltarem a treinar logo? O campo não é lugar pra reunião de família! — Ele disse, rindo alto enquanto nós desviávamos, tentando não nos molhar. —
— Sério, Lamine? Isso era mesmo necessário? — Perguntei, secando algumas gotas que caíram no meu rosto. —
— Absolutamente. — Ele respondeu, com um sorriso tão largo que dava vontade de revidar. —
— Você tá pedindo pra levar uma bolada no treino. — Pablo ameaçou, ainda rindo. —
— Como se você conseguisse acertar! — Lamine retrucou, já recuando alguns passos, claramente pronto para fugir. —
— Vou guardar isso pra mais tarde. Agora volta pro campo antes que o técnico ache que você tá em outro esporte. — Falei, apontando para ele. —
— Tá bom, tá bom. Só não digam que eu não ajudo vocês a pararem de conversar fiado. — Ele disse, girando nos calcanhares e voltando correndo para o grupo. —
Pablo e eu trocamos olhares e rimos.
— Ele nunca muda, né? — Comentei, ajeitando meu uniforme. —
— Nunca. Mas é bom ter alguém como ele por perto, senão tudo ficaria sério demais. — Pablo respondeu, dando um tapinha no meu ombro antes de voltar para o campo. —
Com o apito do técnico, o treino recomeçou. Passes precisos, corridas cronometradas e a intensidade característica de um time que queria estar no topo dominaram o resto da sessão. Pablo, mesmo retornando aos poucos, mostrou a mesma habilidade de sempre, enquanto eu tentava me superar a cada jogada.
Quando o treino finalmente terminou, o técnico deu as últimas orientações e nos liberou. O vestiário foi tomado por conversas e risadas, a energia descontraída de sempre após uma sessão puxada.
Enquanto eu guardava minhas chuteiras, ouvi a voz inconfundível do Marc Bernal ao entrar no vestiário, seguido pelo Lamine.
— Olha quem sobreviveu ao primeiro treino do ano! — Marc anunciou, apontando para mim com um sorriso provocador. —
— Não só sobreviveu, como carregou o time. É ou não é, Héctor? — Lamine completou, jogando uma toalha em mim. —
— Vocês dois só aparecem pra encher o saco, né? — Respondi, secando o rosto e tentando não rir. —
— Claro! É nosso papel na sua vida, Fort. — Marc retrucou, cruzando os braços com um ar teatral. —
— Ah, então o papel de vocês é ser um fardo? Porque não vi vocês no campo hoje. — Retruquei, rindo. —
— Precisa me lembrar disso? Férias ainda não acabaram pra mim, amigo. — Marc brincou, fingindo ofensa. —
— E pra mim, treino só começa depois do almoço. — Lamine completou, arrancando risadas de todos no vestiário. —
— Tá, mas vocês vieram aqui só pra isso ou têm algo útil pra dizer? — Perguntei, jogando minha mochila no ombro. —
— Na verdade, a gente veio te chamar pra um jogo de videogame mais tarde. — Marc disse, piscando como se tivesse alguma grande ideia. —
— Contanto que vocês dois não escolham os times mais apelão, eu topo. — Respondi, saindo do vestiário enquanto eles seguiam atrás de mim, ainda discutindo sobre qual time eles iriam escolher. —
— Antes disso, preciso passar na sala da Luna. — Falei enquanto caminhávamos para fora do vestiário. —
— Ah, claro, porque nenhum dia está completo sem uma visita à sua namorada. — Marc provocou, dando um leve empurrão no meu ombro. —
— É um assunto pessoal, Marc. Nada que interesse vocês dois. — Retruquei, tentando soar sério, mas não consegui segurar o sorriso. —
— Pessoal? Sei... aposto que é só mais uma desculpa pra fazer ela esquecer do mundo por causa de você. — Lamine brincou, rindo enquanto tomava água. —
— Se vocês continuarem falando besteira, vou acabar cancelando o jogo na casa do Marc. — Alertei, olhando para eles com um sorriso desafiador. —
— Tá bom, vai lá, romântico. Mas não demora, senão começamos sem você. — Marc respondeu, levantando as mãos como se estivesse se rendendo. —
— Relaxa, vou ser rápido. Depois a gente vai direto pra sua casa. — Respondi, me despedindo enquanto eles seguiam na direção oposta, ainda trocando provocações —
Caminhei pelos corredores até a sala de fisioterapia, com os ecos das risadas de Marc e Lamine ainda na minha cabeça. Ao chegar, bati de leve na porta aberta antes de entrar. Luna estava sentada à mesa, concentrada no computador. Seus olhos estavam fixos na tela, e ela franzia a testa de um jeito adorável, como se estivesse tentando resolver algum grande mistério.
Encostei na porta, observando-a por um instante. A luz suave do final da tarde iluminava o ambiente, e ela parecia alheia a tudo ao redor. Não pude evitar sorrir.
— Sempre tão focada, hein? — Falei, quebrando o silêncio. —
Ela ergueu o olhar, visivelmente surpresa, mas seu rosto logo suavizou em um sorriso ao me ver.
— Héctor? Não sabia que você ia passar aqui. Tá tudo bem? — Ela perguntou, cruzando os braços e se recostando na cadeira. —
— Tá tudo ótimo. Só queria ver você antes de ir pra casa do Marc. — Respondi, caminhando até ela. — O que tá fazendo aí tão concentrada?
— Revendo alguns relatórios de recuperação dos jogadores. Nada muito interessante. — Ela disse, virando o monitor levemente na minha direção para me mostrar. —
— Pra mim, tudo o que você faz é interessante. — Falei sem pensar, o que a fez soltar uma risadinha baixa. —
— Muito bonito. Vai me distrair só pra não treinar mais hoje? — Ela brincou, arqueando a sobrancelha. —
— Não, prometo que tô sendo rápido. Só queria saber como você tá. — Respondi, agora mais sério. — Sei que anda cheia de trabalho.
Ela suspirou, relaxando os ombros.
— É verdade, mas nada que eu não consiga lidar. E você? Como tá? Treinando forte, pelo visto.
— Sim, mas nada que não valha a pena. Especialmente quando sei que posso contar com você por perto. — Falei, inclinando-me para apoiá-la na mesa. — E, claro, porque eu queria te lembrar que não importa a correria, você é minha prioridade.
Ela sorriu, o tipo de sorriso que fazia tudo valer a pena.
— E você sabe como me deixar sem graça. — Ela disse, balançando a cabeça com um sorriso suave. — Vai logo pro Marc antes que ele te mande mensagem reclamando.
— Mas antes, quero te fazer um convite. O Pablo chamou a gente pra jantar na casa dele hoje. Você tá disponível? — Perguntei, cruzando os braços enquanto a observava. —
Ela parou por um instante, pensando.
— Acho que sim, não tenho nada muito urgente depois daqui. Você quer que eu vá? — Ela perguntou, me olhando com aquele jeito meio tímido que só ela tem. —
— Claro que quero. Vai ser bom a gente sair um pouco, sem trabalho ou treino no meio. — Respondi, sorrindo. —
— Tá bom, então eu vou. Mas só se você prometer não exagerar no videogame com o Marc e o Lamine antes disso. — Ela brincou, apontando o dedo pra mim de maneira teatral. —
— Prometo. Até porque, se eu chegar atrasado no jantar, sei que quem vai me dar bronca é você. — Falei, rindo. —
Ela riu também, balançando a cabeça novamente.
— Tá certo, Héctor. A gente se vê mais tarde, então.
— Combinado. Não vou ganhar nem um beijo? — Perguntei com um sorriso esperançoso. —
— Não. Você tá em processo de me reconquistar, lembra? E, além disso, aqui é local de trabalho. — Ela respondeu, cruzando os braços e arqueando a sobrancelha, mas com um sorriso brincando nos lábios. —
— Justo. Mas você sabe que vou continuar tentando. — Falei, dando um passo para trás, ainda sorrindo. —
— Boa sorte com isso. Agora vai antes que o Marc e o Lamine venham te buscar pela orelha. — Ela brincou, voltando a atenção para o computador. —
Saí da sala rindo, já pensando em como surpreendê-la mais tarde. Assim que cheguei no corredor, vi Marc e Lamine me esperando do lado de fora, claramente curiosos.
— E aí, romântico? Conseguiu convencer a dona Luna a ir no jantar? — Marc perguntou, com um sorriso provocador, cruzando os braços enquanto esperava minha resposta. —
— Óbvio. Eu sempre consigo. — Respondi com um sorriso confiante, ajeitando a mochila no ombro. —
— Convencido. Um dia a Luna te dá um fora só pra você aprender a ser humilde. — Lamine retrucou, rindo enquanto começávamos a caminhar pelo corredor. —
— Quem sabe. Até lá, vou aproveitar minhas vitórias. — Falei, entrando no clima da brincadeira. —
— Só não esquece que, antes do jantar, tem um jogo pra você perder. — Marc disse, piscando de forma desafiadora. —
— Sonhar nunca é demais, Marc. — Respondi, rindo enquanto ajeitava a mochila no ombro. —
— Vai falando aí, depois que perder, quero ver manter esse discurso. — Ele retrucou, apontando para mim como se já tivesse certeza da vitória. —
— É bom vocês dois se prepararem. Vou jogar tão bem que vai parecer treino. — Acrescentei, provocando enquanto caminhávamos para fora. —
▪︎ 🇪🇸 ▪︎
Eu deveria ter pensado melhor antes de vir para a casa do Marc. Talvez tivesse sido uma boa ideia perguntar se a Nina já tinha voltado do intercâmbio. Não era de fugir das coisas, mas agora tudo o que eu queria era sair daqui o mais rápido possível.
Nina Bernal, minha ex-namorada, provavelmente uma das melhores pessoas que passaram pela minha vida. Nunca pensei que fosse reencontrá-la assim, de repente, e em uma situação tão inesperada.
Ela estava sentada no sofá da sala, rindo de algo que o Marc dizia enquanto segurava um copo de suco. Quando nossos olhares se cruzaram, o sorriso dela diminuiu um pouco, mas não desapareceu completamente.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Lamine apareceu atrás de mim, com uma tigela de pipoca nas mãos e um sorriso malicioso no rosto.
— Héctor, meu amigo... você tá lascado. — Ele disse, segurando o riso. —
— Você sabia que ela tinha voltado? — Perguntei em um sussurro irritado, encarando ele. —
— Claro que não! Se soubesse, tinha te avisado. Mas agora já era. Boa sorte. — Ele respondeu, dando de ombros como se fosse a coisa mais natural do mundo. —
— Vou fingir que tô passando mal e vou embora. — Falei, já começando a olhar para a porta de saída. —
— Não vai, não. Pode parar com isso. Se ela quiser falar com você, você vai falar com ela. Aliás, você sabe que deve falar com ela... sobre aquela promessa. — Lamine disse, cruzando os braços e me encarando como se fosse meu treinador. —
— Cara, eu não quero machucar ela. Como vou chegar lá e falar, "Ah, então, esses meses que você passou longe, eu arrumei outra namorada e não sinto mais nada por você"? — Respondi, balançando a cabeça, já sentindo o peso dessa conversa que eu queria evitar. —
Lamine suspirou, balançando a cabeça.
— Héctor, você não tá fazendo nenhum favor pra ela ou pra você fugindo disso. Vocês têm história, e ela merece ouvir de você, não descobrir por aí.
— Tá fácil falar, né? Você não tá no meu lugar. — Retruquei, tentando ignorar o nó que se formava no meu estômago. —
— Não tô, mas tô vendo que você vai acabar se enrolando ainda mais se não resolver logo. Vai, homem, encara isso de uma vez.
Antes que eu pudesse responder, Marc apareceu com um controle de videogame na mão e um sorriso tão largo que dava pra desconfiar.
— E aí? Resolveram o drama ou vão transformar isso num daqueles filmes de romance complicado? — Ele perguntou, obviamente curtindo a confusão. —
— Só falta você pra ajudar... — Resmunguei, pegando o controle que ele me oferecia. —
— Relaxa, a Nina tá tranquila. Ela não vai te devorar vivo. — Marc falou, jogando um pacote de snacks em cima da mesa. — Agora para de drama e joga logo.
Eu suspirei, sabendo que estava adiando o inevitável. Nina merecia uma conversa, mas talvez não fosse naquele momento. Por enquanto, eu precisava me concentrar no que tinha na frente, ganhar dos dois no videogame. Ou pelo menos tentar.
O jogo estava rolando, e, como previsto, eu estava perdendo feio. Não que eu fosse ruim, mas minha cabeça estava em outro lugar. Cada vez que tentava me concentrar, minha mente voltava para a cozinha, onde Nina estava.
— Cara, você tá jogando ou só segurando o controle? — Marc perguntou, rindo enquanto marcava mais um ponto contra mim. —
— Acho que ele já aceitou a derrota antes mesmo de começar. — Lamine provocou, se jogando no sofá ao meu lado. —
— Só tô distraído, beleza? — Respondi, tentando soar casual, mas o tom da minha voz me entregou. —
— Distraído ou nervoso? Porque, sinceramente, você tá pior do que o normal. — Lamine comentou, jogando um olhar para a cozinha e de volta pra mim. —
— Tá bom, chega. Vou pegar algo pra beber. — Disse, largando o controle e levantando, mais pra sair daquela situação do que por sede. —
Quando entrei na cozinha, Nina estava ali, mexendo no celular enquanto tomava alguma bebida. O som do vidro sendo colocado na bancada foi suficiente para ela levantar os olhos de sua tela. Ela me olhou, surpresa, mas logo um sorriso surgiu no rosto dela.
— Héctor. Achei que você tava jogando com os meninos. — Ela disse, ainda com aquele sorriso discreto, mas os olhos dela estavam atentos, curiosos. —
— Estava... mas acho que não tô muito bom nisso hoje. — Falei, tentando soar natural enquanto me aproximava. —
Ela riu baixinho, ainda com a bebida na mão, e deu uma olhada rápida no celular antes de guardá-lo no bolso.
— É, você nunca foi o melhor, né? — Ela disse com um tom leve, mas o ar entre nós estava tenso, carregado de uma energia não resolvida. —
— Pois é, parece que eu não sou bom em muitas coisas hoje. — Respondi, sentindo a insegurança apertar um pouco. Olhei para ela, respirando fundo. — Nina, será que a gente pode conversar?
Ela hesitou por um momento, e o sorriso desapareceu um pouco, como se estivesse ponderando o que eu tinha a dizer. Ela colocou a bebida de lado e me encarou, agora mais séria.
— Claro. Sobre o que? — Perguntou, com um olhar curioso, mas eu podia ver uma sombra de cautela em seu rosto. —
Respirei fundo, sabendo que esse seria o momento de resolver as coisas entre nós.
— Sobre a gente. — Falei, as palavras saindo mais pesadas do que eu esperava, e o silêncio que se seguiu foi suficiente para perceber que as coisas entre nós ainda estavam longe de se resolver. —
Ela me observou em silêncio por um momento, e o peso do que eu estava prestes a dizer parecia pairar no ar.
— Eu sei que a gente tinha feito uma promessa. — Comecei, tentando não deixar que as palavras saíssem de forma mais dura do que eu queria. — Mas, Nina... Eu... Eu não consegui cumprir essa promessa. Eu estive longe, e o tempo, as coisas que aconteceram, tudo... Eu mudei. Eu mudei muito, e isso não é fácil de admitir, mas é a verdade.
Ela ficou em silêncio, apenas me encarando, e eu senti o peso do olhar dela. Não era uma expressão de raiva ou de tristeza, mas havia algo ali, algo que eu não conseguia ler completamente.
— Então você está dizendo que não quer mais tentar? — Nina perguntou, com a voz baixa, mas com uma firmeza que me surpreendeu. —
Eu hesitei, não conseguindo responder de imediato. Eu realmente não queria machucar ela, mas não podia continuar mentindo para mim mesmo ou para ela.
— Eu... eu não posso mais. Eu não posso mais tentar. Eu sei que a gente fez uma promessa, mas, quando você foi embora, eu acabei conhecendo outra pessoa. E, por mais que eu tenha tentado, não consigo mais voltar atrás. Eu... eu mudei, e não posso fingir que ainda sinto o mesmo.
Ela ficou em silêncio, o sorriso que antes estava presente em seu rosto desaparecendo aos poucos. Eu podia ver que ela estava processando tudo, e seu olhar agora estava mais sério, mais distante.
— Então você está com outra pessoa, é isso? — Ela perguntou, a voz tensa, mas sem raiva. Apenas uma constatação. —
Eu respirei fundo, sentindo um peso enorme em cima de mim.
— Sim. Eu... não queria que fosse assim, Nina. Eu tentei cumprir nossa promessa, mas não deu. Eu estou com outra pessoa, e não posso mais continuar com as ilusões de que vou ser o mesmo para você.
Ela se afastou um pouco, como se estivesse se distanciando não só fisicamente, mas emocionalmente também. Sua expressão estava um pouco mais fechada agora, e eu senti que tinha feito algo irreversível, algo que não tinha volta.
— Eu entendo. Não sei se é o que eu queria ouvir, mas entendo. — Nina respondeu, a voz baixa. — Só... por que não me contou antes? Por que esperou tanto tempo para me dizer isso?
Eu olhei para ela, sentindo o peso das minhas próprias palavras.
— Eu... eu não sabia como fazer isso, Nina. Não queria te magoar, não queria que você pensasse que era algo contra você. Mas a verdade é que as coisas mudaram, e eu não sou mais quem eu era quando você foi embora. Eu sinto muito.
Ela deu um pequeno sorriso, mas não era um sorriso de felicidade. Era mais um sorriso triste, resignado.
— Eu sei. Eu percebo, Héctor. Não é fácil, mas eu sei. A vida segue, né? — Ela disse, com uma leveza que eu não esperava. — Eu só... queria que fosse diferente. Mas eu entendo, realmente entendo.
Eu fiquei ali, sem saber o que mais dizer. A sensação de culpa me consumia, mas eu sabia que, de alguma forma, isso já estava feito. Eu não poderia voltar atrás.
— Eu... espero que você consiga seguir em frente também, Nina. — Falei, tentando dar algum tipo de alívio, mesmo sabendo que a dor ainda estava ali, não resolvida. —
Ela assentiu, mas o olhar dela agora parecia mais distante, como se estivesse aceitando a realidade do que eu tinha dito. Não era o que ela queria ouvir, mas ela sabia que não havia mais o que fazer.
— Eu vou. Eu sempre sigo em frente. Só não sei se vou conseguir olhar para você da mesma forma de antes. — Ela disse, mais para si mesma do que para mim, e, com isso, pegou a bebida novamente, virando-se para o balcão com um suspiro pesado. —
Algo no fundo não me fazia acreditar que ela tinha aceitado tudo tão bem assim.
001. Temos personagem nova, logo posto o segundo capítulo só peço que votem e comentem na fanfic.
002. Desculpa qualquer erro ortográfico. Espero que estejam gostando da Fanfic.
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