21.
LUNA MONTENEGRO
📍BARCELONA, ESPANHA
Fazia alguns dias que eu não via o Héctor. Desde que voltamos da casa de campo, no mesmo dia em que ele descobriu aquela carta, ele ficou distante, estranho. Não atendia minhas ligações e parecia ter desaparecido. Isso estava me deixando muito preocupada.
Tentei ligar para ele várias vezes hoje, mas era como se ele estivesse determinado a me ignorar. Nem ao menos respondia às minhas mensagens. Deixei o celular em cima da bancada, respirando fundo, enquanto passava as mãos pelo cabelo, sem saber o que fazer. O que estava acontecendo com ele?
— Lunita! Bom dia, maninha! — Ouvi a voz animada do Matteo entrando na cozinha. — Que cara é essa?
— Bom dia, Mat. Só alguns problemas… — Respondi, sem muita energia. —
— Esse problema tem nome e sobrenome, né? Héctor Fort, acertei? — Ele disse, cruzando os braços com um sorriso divertido. —
— Por que você me conhece tão bem? Não consigo esconder nada de você mesmo, né — Admiti, com um sorriso fraco. —
— Claro que não, e estou aqui para te escutar. Conta pra mim, o que aconteceu? — Matteo falou, parando ao meu lado. —
— Promete que vai guardar segredo? — Perguntei, olhando para ele com seriedade. —
— Eu prometo, confia em mim. — Matteo respondeu, firme, me dando a confiança que eu precisava para continuar. —
Suspirei fundo antes de continuar, buscando as palavras certas.
— No fim de semana que passamos na casa de campo, o Héctor descobriu uma coisa... Uma carta que dizia que a família dele, as pessoas que o criaram, não são a família biológica dele. — Fiz uma pausa, sentindo o peso das palavras. — E, pelo que diz a carta, a verdadeira família dele é... os Lorenzetti.
— Os Lorenzetti? — Matteo arqueou as sobrancelhas, surpreso. — Cara, isso é pesado. Nosso pai vai surtar se descobrir.
— Eu sei. E é por isso que estou tão confusa e preocupada. Não sei como lidar com isso, e o Héctor... ele está se afastando de mim, não sei o que está passando pela cabeça dele. — Minha voz saiu quase em um sussurro, cheia de preocupação. —
Matteo me puxou para um abraço apertado, deixando-me descansar a cabeça em seu ombro.
— Calma, maninha, não fica assim — Ele disse em um tom suave, passando a mão pelos meus cabelos. — Eu sei que é muita coisa pra processar, mas não se preocupa tanto. O Héctor só precisa de tempo, ele vai voltar. Ele te ama, isso não mudou.
— Eu sei, mas é tão difícil não poder fazer nada... — Murmurei, fechando os olhos, tentando encontrar conforto naquele abraço. —
— Eu entendo, mas às vezes, dar espaço é o melhor que você pode fazer. — Matteo afagou minhas costas com ternura. — Confia em mim, ele vai te procurar quando estiver pronto. E quando isso acontecer, você vai estar lá, do lado dele, como sempre esteve.
Assenti lentamente, sentindo um pouco do peso sair de meus ombros, embora ainda estivesse preocupada. Mas, por enquanto, o apoio do meu irmão me dava a força que eu precisava para esperar.
— E enquanto isso, você tem a mim — Matteo continuou, se afastando só o suficiente para me olhar nos olhos. — Eu tô aqui pra te apoiar em tudo, maninha. Você sabe disso, né? Sempre que precisar, é só me chamar.
Dei um pequeno sorriso, sentindo o carinho nas palavras dele. Mesmo com toda a confusão que o Héctor estava passando, saber que eu tinha Matteo ao meu lado me confortava um pouco.
— Eu sei, Mat. E sou muito grata por isso. Você sempre sabe como me acalmar. — Falei, grata. — Mas agora eu preciso ir, Mat. Já estou atrasada para o trabalho.
— Sempre tão ocupada. Mas tudo bem, vai lá. Só não esquece de cuidar de você também, tá? — Ele soltou um suspiro exagerado. —
— Pode deixar — Respondi, com um sorriso mais leve. — A gente se fala mais tarde.
Me aproximei, dei um abraço rápido nele e saí, ainda com a cabeça cheia, porém mais tranquila por ter desabafado.
¤ 🇪🇸 ¤
Era tarde da noite, e as luzes da cidade brilhavam através da minha janela entreaberta. Tudo o que eu conseguia pensar era nele. Não o vi no CT, e parecia que essa cidade havia se tornado imensa demais para que eu pudesse encontrá-lo. A ausência dele doía profundamente. Era como se ele tivesse sumido do mapa, e eu me sentia impotente.
— Lu? Podemos entrar? — Ouvi uma voz familiar me chamar da porta. —
Olhei para trás e vi Marc e Lamine ali, ambos com expressões preocupadas.
— Claro, entrem — Respondi, tentando disfarçar o quanto estava perdida nos meus próprios pensamentos. —
Eles se aproximaram devagar, sentando-se ao meu lado na cama. Lamine.
— A gente percebeu que você não tá bem... Quer conversar? — Ele falou, direto. —
Marc assentiu em silêncio, mas o olhar dele já dizia tudo. Eles estavam ali para me animar, e isso me tocou profundamente.
— Eu só... eu só tô preocupada com o Héctor. Ele sumiu, e eu não sei mais o que fazer. — Minha voz saiu fraca, cheia de preocupação. —
— Quando a gente falou com ele no treinamento, ele parecia bem... quer dizer, fisicamente. Mas a cabeça dele estava longe, sabe? Ele estava distraído, meio aéreo. Quando perguntamos sobre você, ele desviou o assunto. — Marc disse, me olhando com um semblante calmo. —
Eu senti um aperto no peito ao ouvir isso, tentando processar.
— Ele... ele nem quis falar de mim? — Perguntei, sentindo uma pontada de tristeza. —
— Não assim diretamente, mas a gente sabe que ele está lidando com muita coisa. Talvez esteja tentando proteger você de alguma forma. — Lamine balançou a cabeça. —
— Só que ele não entende que esse jeito dele de me proteger só acaba me machucando. Ele está fazendo a mesma coisa agora, me ignorando, e isso não é proteger... — Desabafei, sentindo um nó na garganta. —
— O que você precisa fazer é mostrar a ele que você está aqui, independente de tudo — Disse Lamine, com um sorriso esperançoso. — Que tal ir ao jogo amanhã? Isso sempre animou o Héctor, e pode ser uma oportunidade de vocês se falarem.
— Acha que isso vai funcionar? — Perguntei, ainda incerta. —
— Com certeza! — Marc respondeu, soltando-me do abraço e piscando. — Você sabe que ele adora quando você está por perto. Se você estiver lá, ele não vai conseguir ignorar você.
— É, e se a atmosfera do jogo não funcionar, a gente pode dar um jeito de fazer você ter um tempinho a sós com ele depois — Lamine acrescentou, confiante. —
— Certo, vocês me convenceram. Vou dar um jeito de ir. — Sorri, sentindo uma onda de esperança tomar conta de mim. —
— Sabia que te convenceríamos! — Marc brincou, com um sorriso vitorioso no rosto. — Afinal, quem resiste ao nosso charme?
— Ou talvez tenha sido o plano brilhante do Lamine, né? — Acrescentei, rindo de leve. —
— Ei, não subestime a genialidade aqui, hein! — Lamine levantou as mãos em fingida humildade. — A verdade é que com a gente no comando, isso vai ser moleza. Já pensou? Vocês dois lá, clima de jogo, emoção no ar... Héctor não vai saber o que o atingiu!
— Quem sabe ele não acaba até dedicando um gol pra você, hein? — Marc piscou, tentando aliviar a tensão. —
Eu ri, mesmo ainda um pouco preocupada, mas o bom humor deles conseguia quebrar um pouco o peso que estava sentindo.
— Vocês dois são impossíveis... — Murmurei, balançando a cabeça, mas já me sentindo um pouco mais leve. —
— É o nosso dever como seus melhores amigos, Lu. — Marc falou, como se fosse uma missão solene. — A gente não vai descansar até ver você bem de novo.
— E até o Héctor voltar a ser o cara sorridente e sem complicações de antes. — Lamine completou, com um aceno de cabeça. — Porque, sinceramente, ele também precisa dessa força. Vocês dois são mais fortes juntos.
— Exatamente. — Marc concordou, abraçando-me de lado. — Estamos nessa com você, sempre.
— Eu sei, e sou muito grata por isso. — Sorri, sentindo o peso no peito aliviar um pouco mais. —
¤ 🇪🇸 ¤
A atmosfera do estádio Olímpico Lluis Companys, com o som dos torcedores e as luzes brilhando, só me deixava ainda mais empolgada para o jogo que começaria em alguns minutos. Eu estava imersa naquela energia contagiante quando senti alguém se aproximar.
— Quanto tempo, Luna. — Uma voz familiar falou ao meu lado. —
Me virei e vi Javi sorrindo.
— Javi? — Eu ri, surpresa. — Eu não pensei que encontraria você por aqui.
— Bom, digamos que eu estava sem muito o que fazer e decidi vir assistir ao jogo. E que surpresa te encontrar por aqui! — Javi comentou, com um sorriso descontraído. —
— Pois é, surpresa pra mim também. — Sorri de volta. — Mas bom te ver.
Conversei com Javi, tentando parecer animada, quando, de repente, meu olhar se desviou para a área do camarote do outro lado do estádio. Foi então que a vi. Lana estava lá, conversando com algumas pessoas, parecendo despreocupada. Um desconforto imediato tomou conta de mim, e eu senti um aperto no peito. Por mais que estivesse tentando aproveitar o jogo, aquela visão me fez lembrar de tudo o que tinha acontecido entre nós.
— Tá tudo bem, Lu? — Javi perguntou, percebendo a mudança na minha expressão. —
— Ah... sim, é só que... — Olhei de novo na direção de Lana, tentando disfarçar o incômodo. — Acho que me distrai por um momento.
Tentei afastar a tristeza que começou a surgir. Saber que Lana estava ali, do outro lado, me fez sentir ainda mais a distância que existia entre nós agora, e isso, junto com as questões envolvendo Héctor, tornava as coisas ainda mais difíceis.
O jogo começou intenso, e apesar de eu estar ali para ver o Héctor, minha mente estava dividida. Ele estava em campo, concentrado na defesa, mas algo nele parecia distante, assim como tem sido nos últimos dias.
O Valencia conseguiu marcar, e o empate deixou a torcida nervosa, mas Héctor continuava firme, cortando as jogadas, evitando que o placar mudasse novamente. A cada movimento, eu o observava, tentando entender o que se passava em sua cabeça.
Quando o Barcelona fez o segundo e o terceiro gols, a energia no estádio mudou, e a vitória parecia mais próxima. Héctor não marcou, é claro, sendo zagueiro, mas seu papel na defesa foi essencial para manter o placar a favor do time. Com o quarto gol nos minutos finais, a torcida explodiu em alegria. Eu tentei me contagiar com essa felicidade, mas, por dentro, a preocupação com ele só aumentava. O jogo terminou em quatro a dois para o Barcelona, mas eu sabia que minha verdadeira batalha começaria quando conseguisse falar com Héctor.
— Bom, Javi, foi ótimo te ver por aqui! — Disse, tentando manter o tom leve enquanto olhava em direção ao campo. —
— Igualmente, Luna! A gente se esbarra de novo qualquer dia desses. — Ele sorriu, descontraído. —
— Espero que sim. — Sorri de volta, sentindo o peso da minha ansiedade por Héctor. — Tenho que ir agora, mas foi bom conversar com você.
— Claro! Aproveita o resto da noite. — Javi me deu um sorriso amigável. —
— Obrigada, vou tentar. — Acenei enquanto me afastava. —
Me afastei de Javi e segui em direção ao estacionamento, tentando controlar a mistura de ansiedade e expectativa que tomava conta de mim. A noite estava fria, e as luzes fracas do estacionamento criavam sombras alongadas enquanto eu caminhava em direção ao lugar onde Lamine e Marc tinham dito que poderia esperar Héctor.
Me encostei em uma das paredes próximas, abraçando meus próprios braços para afastar o frio, mas sabia que não era apenas o clima que me deixava desconfortável. Eu estava prestes a vê-lo depois de dias sem qualquer resposta, e isso me deixava ainda mais nervosa.
Olhei ao redor, esperando que ele aparecesse a qualquer momento.
Depois de alguns minutos que pareceram uma eternidade, vi Héctor saindo do vestiário. Ele estava distraído, passando a mão pelos cabelos molhados, sem me notar. Respirei fundo e caminhei em sua direção, parando bem na frente dele.
— O que você está fazendo aqui? — Ele perguntou, claramente surpreso ao me ver. —
— Esperando meu namorado — Respondi, cruzando os braços. — Aquele que anda fugindo de mim há dias e me ignorando. Você conhece ele?
— Eu não estou te ignorando, Lu — Héctor respondeu, com um suspiro. — Eu só... precisava de um tempo, pra pensar.
— Se você não estivesse me ignorando, Héctor, teria atendido minhas ligações e respondido minhas mensagens. — Retruquei, tentando manter a calma, mas a mágoa era evidente. —
— Luna, não complica mais as coisas. É melhor deixar tudo como está — Ele respondeu com um suspiro pesado. —
— Melhor pra quem, Héctor? Porque pra mim não tá nada melhor! — Falei, cruzando os braços, sem esconder minha frustração. — Você acha que afastar as pessoas quando está com problemas resolve alguma coisa? Você só complica tudo mais ainda. Você nem pensa em como isso me afeta, como me machuca. Eu só quero estar do seu lado, e você me empurra pra longe como se isso fosse proteção.
Héctor me olhou por alguns instantes, o rosto sério, e então suspirou pesadamente antes de falar.
— Eu sei que não é fácil, Lu, mas é o que eu preciso fazer agora. Acredite, é melhor ficarmos afastados por um tempo até eu conseguir resolver tudo isso. — Ele disse, a voz firme. —
As palavras dele caíram como um balde de água fria em mim. Meu coração apertou, e tentei encontrar algo que pudesse fazer para mudar aquilo.
— Mas por que a gente não pode enfrentar isso juntos? Eu tô aqui pra você, Héctor... — Eu tentei argumentar, mas ele balançou a cabeça, já decidido. —
— Não, Luna. Se você não consegue entender isso, então talvez seja melhor... que a gente termine. — Ele disse, de forma séria, mas dolorosa. —
Senti meu peito afundar, como se o chão tivesse se aberto debaixo de mim.
— Então é assim que você quer ter um futuro comigo, Héctor? — Minha voz tremia, mas eu segurei firme. — Me afastando sempre que tiver um problema? Você acha que isso é o jeito certo de resolver as coisas? Que ignorar as pessoas que te amam é a solução?
Eu senti as lágrimas começando a se formar, mas me recusei a deixá-las cair.
— Você fala em futuro, mas toda vez que as coisas ficam difíceis, você se afasta. Como a gente pode construir algo assim? — Continuei, meu tom ficando mais suave, quase implorando para que ele entendesse. —
Héctor olhou para o chão, visivelmente abalado, mas ainda relutante em ceder.
— Eu... eu não sei, Lu. Eu só não quero te machucar ainda mais. E, às vezes, eu acho que estar perto de mim só vai te fazer sofrer. — Ele murmurou, a voz baixa e cheia de incerteza. —
— Estar longe de você é o que me machuca de verdade, Héctor. — Eu disse, com sinceridade. — Eu quero enfrentar isso com você, não ser deixada de fora.
— Eu não posso te deixar nessa situação, Lu — Héctor disse, balançando a cabeça. — Você já fez tanto por mim, e eu sou grato por isso. Mas dessa vez, eu preciso enfrentar isso sozinho.
— Héctor... — Eu comecei, mas ele me interrompeu, com um olhar sério. —
— Não, escuta. Eu sei que você quer me ajudar, e eu admiro isso, de verdade. Mas esse é o tipo de coisa que eu preciso resolver por mim mesmo. Não é justo te arrastar pra toda essa confusão, ainda mais agora. — Ele suspirou, parecendo pesaroso. —
Eu olhei para ele, tentando entender, mas só sentia um vazio crescendo dentro de mim.
— Você não entende que eu quero estar com você em todos os momentos? Não importa quão difícil seja. — Minha voz saiu quase como um sussurro, enquanto as palavras pesavam no ar. —
Héctor se aproximou de mim, segurando suavemente meu rosto entre suas mãos. Seus olhos, normalmente cheios de energia, agora estavam profundos e preocupados.
— Lua, eu preciso que você entenda... — Ele começou, olhando fundo nos meus olhos. — É importante que você se cuide, que cuide de si mesma. Eu não quero que você se machuque por causa de mim.
— Mas eu não quero ficar longe de você, Héctor. — Respondi, a voz embargada. — Estar longe de você é o que me machuca de verdade. Eu quero enfrentar isso com você, não ser deixada de fora.
— Eu sei que você quer, mas eu preciso fazer isso sozinho. Já fez muito por mim e não posso deixar você nessa situação. — Ele respirou fundo, a tensão evidente em seu rosto. — E se, depois de um tempo, você achar que é melhor terminar, eu vou aceitar. Mas, por favor, não chora por causa de mim.
Então, ele se inclinou e me deu um beijo suave, como se quisesse transmitir todo o seu carinho em um único gesto. O mundo ao nosso redor parecia desaparecer, e naquele momento, tudo que eu queria era acreditar que tudo ficaria bem. Quando ele se afastou, olhei para ele com lágrimas nos olhos, incapaz de encontrar as palavras certas.
— Eu vou esperar você, Héctor. Porque eu te amo. — As palavras saíram como um sussurro, mas carregavam toda a sinceridade que sentia. —
— Eu também te amo, minha estrela. E isso só torna tudo mais difícil. — Héctor sorriu levemente, mas a tristeza ainda estava presente em seu olhar. —
— Eu não me importo, eu estarei aqui. Sempre estarei. — Respondi, com firmeza. —
Ele me olhou por um momento, como se estivesse tentando gravar aquela imagem na memória, antes de se afastar lentamente. A dor da separação e a preocupação com o futuro me envolvia, mas, naquele momento, havia um fio de esperança.
001. Eu não gosto de fazer eles sofrerem mas é uma fase ou não.
002. Desculpa qualquer erro ortográfico. Espero que estejam gostando da Fanfic.
003. Votem e comentem muito para liberação do próximo capítulo ser rápido. Bjos da Bia.
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