003 • 𝗙𝗟𝗢𝗥𝗘𝗦𝗧𝗔
Em uma noite fria e calma, Charlotte se isolava em seu quarto, ignorando todo o mundo lá fora. Seu celular com certeza estava jogado em algum lugar naquela enorme bagunça e ela não fazia a menor questão de o encontrar por agora.
Aproveitava que o irmão resolveu ir dormir na casa de um amigo e Scott com certeza deveria estar trancafiado em seu próprio quarto, já que pela manhã teriam seu primeiro dia de aula. Seus dias de sofrer seu luto no conforto de sua cama haviam acabado, e agora ela deveria enfrentar a cruel realidade de uma adolescente órfã que cursa o último ano.
Derrepente, Charlotte ouviu dois gritos em conjunto vindo do lado de fora da casa, e logo os reconheceu. Eram Stiles e Scott. A garota se levantou abruptamente e correu pelo corredor, descendo as escadas apressadamente enquanto alcançou um cabo de vassoura que encontrou pelo caminho. Charlotte girou a marçaneta tão rápido e bateu com o cabo no ar, dando golpes no ladrão invisível até ver que não havia ninguém além deles três ali, e que Stiles estava pendurado no teto.
— qual o problema de vocês? - indagou raivosa, abaixando o cabo da vassoura — por que estavam gritando?
Stiles sorriu e acenou.
— a gente se assustou um com o outro.
Eu também me assustaria.
— o que exatamente você pretendia fazer com essa vassoura? - questionou Stiles
Charlotte rolou os olhos, deixando a vassoura de lado.
— desce do teto, Stiles. Seu sangue vai acabar descendo para o cérebro e irá morrer por isso.
O garoto branco, com um único pulo, conseguiu descer do telhado e caiu de pé no gramado.
— meu pai saiu há uns vinte minutos, receberam um alerta. Chamaram o departamento de Beacon e a polícia estadual, parece que dois atletas encontraram um corpo na floresta - o garoto diz rapidamente.
— um cadáver? - questionou de sobrancelha juntas, logo se arrependendo.
— não, um corpo vivo - ironizou, recebendo o olhar nada agradável da melhor amiga sobre ele — desculpe, Lottinha, me perdoa - pediu, se esquivando do tapa que nem ameaçou ganhar.
— tá, e foi um assassino? - Scott questionou
— só sabem que é uma mulher branca de vinte e poucos anos.
— se acharam o corpo, pelo o que estão procurando? - questionou Charlotte, apoiando seu corpo na parede da casa
Stiles dá um sorriso ladino, um daqueles que parece gritar problemas.
— essa é a parte interessante - tocou a ponta do nariz da amiga, recebendo um tapa fraco em sua mão — só acharam metade do corpo.
Conhecendo bem o Stiles, ele não veio até aqui apenas para lhes dar informações confidenciais da polícia. Esse garoto quer aprontar algo e quer a companhia dos McCall e Delgado para isso.
— tá bom, agora o que a gente tem a ver com isso, Stiles?
Ele nem precisou falar nada, o sorriso cínico nos lábios e as sobrancelhas subindo e abaixando diversas vezes já o entregou. Ela olhou para Scott, que pareceu não discordar do que o melhor amigo sugeria.
— fala sério, gente. Por que vocês não conseguem ser adolescentes normais? - murmurou, fechando a porta de casa.
Stiles sorriu animado, tomando a frente do grupo.
— e lá vamos nós, em uma sinistra aventura em grupo outra vez. Além do mais, você anda muito depressiva, precisa de algo para levantar seu astral.
— o que te fez pensar que procurar corpos na floresta levantaria o meu astral? - juntou as sobrancelhas — você tem as piores ideias.
(...)
Charlotte as vezes se questionava o porquê de ainda topar embarcar nas aventuras loucas que a dupla caótica costumava ter. Talvez fosse porque ela não queria que eles morressem em uma sozinhos, mas que diferença faria se alguém os assassinasse na presença dela? Só a traria mais traumas e mais meses de terapia.
— só para deixar claro, eu não gostaria de estar aqui - a loira murmurou, batendo a porta do jipe
— nem eu, era para eu estar tendo um bom sono antes do primeiro dia.
Stiles deu seu primeiro passo para dentro da floresta, levando os amigos junto com ele.
— não sejam maricas, galera. É só a metade de um corpo, não há nada demais nisso.
Charlotte tomou a lanterna da mão do melhor amigo, pois ele não tem uma condenação motora muito boa e vivia a balançando.
— qual parte do corpo estamos procurando, meu querido Michis? - ela indagou, sabendo que ele não saberia a resposta.
— eu não pensei nisso.
— foi o que eu imaginei. - resmungou
— e se o cara que a matou ainda estiver por aqui? - Scott questionou amedrontado, colado na cintura da prima, na intenção de não se perder.
— também não pensei nisso.
Charlotte o olhou incrédula. Eu deveria matar esse garoto.
— é ótimo saber que pensou nos mínimos detalhes - Scott diz enquanto subiam um pequeno barranco — sabe... - pegou sua bombinha de asma no bolso do casaco — eu acho que o portador de asma deveria ficar com a lanterna.
Ao chegar na parte plana, Stiles puxou a garota junto a ele para o chão, a causando uma pequena dor pelo impacto. Charlotte estava pronta para lhe acertar com mil socos e um milhão de palavrões, mas Stiles tapou sua boca e só então ela notou os carros da polícia ali em frente.
Scott finalmente os alcançou e se jogou ao lado dos dois. Stiles teve a brilhante ideia de tomar a lanterna das mãos de Charlotte, a desligar e sair correndo feito maluco pela floresta escura.
— Stiles, espera por nós - Charlotte sussurrou, correndo atrás do garoto, deixando o pobre e asmático Scott para trás.
Eles corriam entre as árvores e Charlotte ainda não entendia nada, então sentiu o amigo agarrar sua mão, lhe arrastando por todos os lados. Foram parados por um dos cães farejadores da polícia e várias lanternas foram focadas em seus rostos, os fazendo perder o equilíbrio e cair.
— opa, opa - a voz do xerife Stilinski ecoou, se aproximando dos garotos e seus policiais — esses mini delinquentes pertencem à mim, podem deixar.
Os policiais se afastaram, levando seus cães com eles. Noah esticou o braço, oferecendo uma ajuda a amiga de seu filho, que havia se espatifado no chão ao lado dele.
— crianças... - disse ele, puxando a garota.
Charlotte passou as mãos pelo moletom azul, limpando as folhas que haviam grudado no tecido. Ela levantou o olhar para o xerife, lhe dando um sorriso cínico enquanto enfiava as mãos nos bolsos do casaco.
— tio Noah - sorriu nervosa — olha, eu tava mesmo falando sobre o senhor para o Michis.
Stiles a atingiu no cotovelo, não por ela estar falando algo que não deveria e sim por ter dito o apelido dele para seu pai.
— oi pai, tudo bem com você?
Noah fitou o filho por inteiro e depois a garota. Conhece os dois bem o bastante para saber que não estavam fazendo algo útil ali.
— o que fazem na floresta a essa hora? - juntou as sobrancelhas, com seu ar de seriedade.
— caminhada.
— meditação.
O mais velho intercalou o olhar entre os dois, percebendo que a mentira estava no ar. Normalmente a dupla Stiles e Charlotte costumam mentir para qualquer um e saírem ilesos de qualquer radar, mas parecem estar um tanto enferrujados.
— Charlotte precisava de ar fresco, sabia que ela está ficando maluca? - mentiu descaradamente, ganhando uma cotovelada na costela
— então... você ouve todas as minhas chamadas? - indagou, olhando diretamente para o filho.
— quem? Eu? - se fez de sonso, mas sabia que de nada iria adiantar, não com o seu pai — nem todas, não as chatas.
Noah parecia muito bravo com o filho, mas não é nada muito grave comparado às outras trocentas coisas que Stiles já aprontou junto a Charlotte ao longo da vida.
— cadê o terceiro integrante do trio satânico de vocês? - questionou olhando em volta, em busca do Scott
— o Scott? Ah, ele ficou em casa. Disse que queria ter uma boa noite de sono antes do primeiro dia, algo sobre ser do primeiro time de lacrosse ou coisa assim - deu de ombros — de que isso importa mesmo?
Não conformado com a não verdade do filho, Stilinski começou a gritar pelo nome de Scott, que estava bem encolhido atrás de uma árvore grande, escutando tudo. Ele encarou Charlotte, que lhe deu outro sorriso nervoso.
— bom, não podem ficar aqui, estamos vasculhando a área. Sabem onde estacionaram o carro?
— é, a gente sabe. Na verdade, a Charlotte sabe - murmurou a segunda frase, fazendo a garota praguejar.
— não é tão longe daqui, tio Noah. Ficaremos bem.
— nem pensar, acompanho vocês até lá - ele diz, colocando as mãos atrás das costas dos dois — e quando eu chegar em casa teremos uma conversinha sobre privacidade.
— essa não existe no vocabulário dele, eu já procurei - ironizou Charlotte — nem deve saber o significado.
O mais velho olhou para a garota, lhe dando um sorriso pequeno. Noah conheceu Charlotte quando ainda era um bebê, e por ser tão próximo de Ian, seus filhos acabaram se tornando bons amigos. Atualmente, Charlotte o considera um tio de verdade, e ele a considera como uma filha que nunca teve, a que tem juizo.
— não entendo como você acaba nessas coisas, Charlie. É esperta demais para ser melhor amiga do meu filho.
— pai, eu ainda estou aqui.
Charlotte sorriu.
— alguém tem de impedir que ele morra com essas ideias malucas, não é? – debochou, o homem assentiu — ele me obriga.
O homem levou os dois adolescentes até a estrada outra vez, e só saiu de lá quando entraram no jipe e saíram dali. Não confiava nessa dupla.
— a gente vai embora ou espera o Scott? - Stiles questionou enquanto dirigia para longe dali.
— não deixamos ninguém para trás, encosta o carro e esperamos por ele.
E então a noite se prolongou por mais algumas horas. O início de tudo havia acabado de acontecer.
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