
80| 𝐑𝐄𝐍𝐀𝐒𝐂𝐄𝐍𝐃𝐎
02 𝖽𝖾 𝖺𝖻𝗋𝗂𝗅 𝖽𝖾 2012.
Com Maggie acordada Hannah temia que as coisas ficassem ainda mais depressivas do que já estava, mas a única coisa que importava para Giulia era que seu irmão estava morto e que sua mãe estava lá durante todo o show de horror que Negan lhe proporcionou. Ela era uma salvadora vendo o próprio filho ser assassinado em sua frente e nem mesmo pareceu se sentir culpada.
Estavam as quatro em frente aos túmulos de Glenn e Abraham, Hannah acariciava o pingente que seu amigo lhe deu de presente de aniversário, aquele que contém a foto tirada na cabine do Shopping. Ela observou Maggie apalpar a terra da cova, chorosa.
— Eu não encontrei o colar dele, acho que deve ter sido destruído durante as pancadas na cabeça. – Giulia diz, sua voz carregando um tom doloroso e sombrio. Estendeu para a cunhada o relógio de bolso que um dia pertenceu a Hershel, que repassou para o Rhee. — Estava no bolso da calça, achei que fosse querer guardar.
Maggie lhe deu um sorriso torto e molhado por lágrimas, sentindo o restante de seu coração se partir em mais pedaços.
— Fique com ele, Glenn planejava dá-lo à você quando atingisse a maioridade. – Ela busca por algo nos bolsos, puxando de lá o pingente dourado que o marido dividia com a irmã e a melhor amiga. — Ele deixou comigo pela manhã, esqueceu na pia do banheiro na verdade.
Riram, mas o aperto no coração foi ainda maior. Saber que Glenn não estava mais entre os vivos era como se afundar em um mar repleto de tubarões, para todas elas. Hannah se aproximou da amiga grávida e lhe deu um de seus sorrisos tristes, era tudo o que tinham agora.
— Ei, como se sente? – Ela indaga em preocupação.
Não havia como reparar a barriga cada vez maior de Hannah e a maneira como ela a acariciava, era adorável. Maggie sorriu para a amiga e a abraçou sem pensar duas vezes, lembrando de como Glenn estava feliz por ter dois bebês a caminho e dizendo aos quatro cantos que seus filhos seriam melhores amigos como Hannah e ele.
— Estamos bem, mas o doutor recomendou que eu ficasse até o fim da gestação, ele quer me monitorar de perto para ter certeza de que está tudo bem.
— Então vamos ficar. – Sasha respondeu de prontidão, evitaria Alexandria e suas memórias até onde conseguisse.
— Ah, eu não posso, sou a única médica de Alexandria. Nossa gente precisa de mim. – A loira diz, sentia-se extremamente chateada por não poder estar com Giulia e Maggie em sua nova jornada. — Mas prometo voltar para visitas sempre que puder.
Giulia se acomodou nos braços da tia, molenga e chorosa, seu rosto avermelhado mostrando o quanto já chorou.
— Eu posso ir com você, tia? – Questionou em um fiapo de voz. Considerando que a namorada reside lá e que Giulia precisava de uma luz no fim do túnel, ninguém achou estranho. — Por favor!
Hannah troca olhares com Maggie, que afirma em um balançar de cabeça.
— Claro que sim, amor. Vamos partir amanhã de manhã, está tarde demais para pegar a estrada ainda hoje.
Giulia acena positivamente e volta o olhar para o túmulo do irmão. Era quase possível enxergar a dor e escuridão sobrevoando sobre elas, tão apavorante que ninguém conseguia falar nada sobre suas perdas. Aquela noite traumatizou todas elas e isto é um fardo que terão de carregar até suas mortes.
[. . . ]
03 de abril de 2012
Hannah Dixon.
Dormir com essa criança pulando no meu ventre é quase impossível. Se estou de pé me incomodo, se me deito é ela quem não está confortável, se me sento a menina começa a me chutar, começo a pensar que toda essa marra de bebê zangada é tudo saudades do papai manhoso dela e não a julgo, também estou morrendo de saudades do meu maridinho turrão, mas a preocupação com seu bem-estar chega a me sufocar. É, Cassie, acho que não é sua culpa da mamãe estar dormindo mal.
Me levantei e fiz um café bastante amargo, tanto que o cuspi fora no momento em que o coloquei na boca. Sentei-me à mesa redonda e esperei que outra vítima caísse em minha travessura inofensiva enquanto bebericava o café que coloquei adoçante. Sasha foi a primeira a acordar depois de mim, estava com seus cabelos emaranhados em um único bolo e os olhos ainda pesados pelo sono.
— Oi, bom dia! – Ela desejou com doçura ao me ver, seu sorriso pequeno iluminando o local. Sei que Abraham trocou Rosita, minha amiga, por ela, mas não consigo a odiar por isso quando é ela quem nos dá a força que precisamos para continuar. — Oh, você fez café, que delicia.
— Bom dia, como passou a noite? Depois de nossa pequena aventura, é claro. – Noite passada enfrentamos uma enchurrada de zumbis mandados por Salvadores, Maggie salvou a pátria.
— Consegui o resto da noite de sono e sem interrupções. – Sorriu com a conquista, assim como eu. Ela se serviu e sentou para degustar do líquido preto, mas a careta que fez ao engolir me fez soltar um riso divertido. — Wew, está igual ao do Tyreese!
Para minha surpresa, Sasha não pareceu triste após se lembrar do irmão, ela recordou-se com um sorriso nos lábios e eu fiz o mesmo ao lembrar do meu irmão morto.
— É, o Jeff também fazia uns cafés amargos quando eu era criança. – Não pôde fazer quando eu me tornei adolescente, pois estava morto.
— Vai sair agora?
Nosso grande show ontem a noite impedindo que os zumbis tragos pelos Salvadores inundasse a comunidade foi algo notório, e pela demora de Maggie e Jesus na sala de Gregory agora aposto que terão seu lugar aqui garantido até o nascimento do bebê Rhee. Mas eu não posso esperar mais, preciso voltar para casa o quanto antes.
— Só esperando Giulia com suas coisas, preciso ver minha família o quanto antes ou irei enlouquecer atrás desses muros de madeira.
Sasha sorri. Não consigo me sentir segura em Hiltop, mesmo que Jesus tenha me garantido milhares de vezes que ele mesmo cuidaria de nós aqui dentro eu ainda quero ser protegida por aqueles que amo. Quero proteger Annie e Carl, que estão em Alexandria agora, quero abraçar meus irmãos e minhas sobrinhas. Preciso me sentir em casa.
— Entendo você, acho realmente muito bonito a maneira como os Grimes priorizam a família em todos os momentos e não abrem mão de nada.
É, com exceção da vez em que Rick quis vir para Virgínia quando Camila e eu ainda estávamos "perdidas". Dei a ela um sorriso, sou realmente grata pela família que tenho e os amo assim. Giulia e Jesus adentram o pequeno trailer repentinamente, interrompendo nossa conversa boba.
— Oh, bom dia, meninas! – Jesus desejou em simpatia. — Está pronta para ir? Preparei a caminhonete para vocês, até consegui alguns pré-natais e outras coisas para levarem.
Jesus me contou tudo o que sabe sobre os Salvadores, ele garante que a essa altura eles já esvaziaram tudo de útil em Alexandria e com certeza levaram todas as nossas armas. Então estou levando as nossas reservas. Espero que não estejam pensando que iremos acatar à suas ordens e virar seus servos para o resto de suas vidas, nós iremos revidar com força.
— Estava esperando por vocês, não vejo a hora de chegar em casa. – Levantei-me da cadeira, indo em sua direção. — Querida, vá buscar nossas coisas no quarto, tudo bem?
Ela me acena com seu olhar profundo, acatando ao meu pedido doce. Estou tão preocupada com a minha garotinha que nem mesmo penso em minhas dores, apenas nela.
— Obrigada por ter nos conseguido tanto, Jesus! – disse a ele, seu sorriso pequeno nasceu em seu rosto. — Não tem ideia do quanto significa para nós, terá sempre um Grimes para contar em suas aventuras pelo mundo. Ou um Dixon.
— Que isso, fico feliz em ajudá-las, principalmente aos bebês que ainda não nasceram. – Respondeu descontraído. Fico tão aliviada em saber que minha filha é amada até mesmo por aqueles que tão pouco nos conhece. — Mas você tem certeza de que não precisam ser acompanhadas até pelo menos metade do caminho?
— Estaremos bem. – Giulia responde de repente, mal havia nos alcançado. — Fique aqui com Sasha e Maggie, as mantenha em segurança até nossa volta.
Ele acenou positivamente e nos acompanharam até lá fora, onde a caminhonete estava estacionada. Maggie veio se despedir e prometi voltar logo para uma visita e, com sorte, boas notícias. Deixá-la para trás não era o certo, eu sei que não, mas preciso convencer meu irmão de atacar Negan com unhas e dentes. Não descansarei, não enquanto aquele homem respirar.
[. . .]
Chegar em Alexandria com certeza foi a pior parte, ter todos os rostos conhecidos ali nos recepcionando menos os deles... me destruiu. Vi como Annie correu para Giu e também vi como antes ela estava com Jeremy e Leo, como bons irmãos. Aquilo me deixou feliz.
Rick e Lara foram os primeiros a chegarem até mim, me agarrando feito um bebê indefeso e protegendo-me de todo mal que aquele mundo me oferecia, eu os abracei como irmã mais nova enquanto Lara me olhava com lágrimas nos olhos.
— Me desculpe, Bel! – Ela implorou, sentindo-se culpada pelo que aconteceu aquela noite.
— Não é sua culpa, Lara, a culpa é dele! – Minhas palavras saíram mais duras do que gostaria, mas transmiti a mensagem da maneira que era para ser.
Ela suspira e em fim me solta, dando espaço para a minha Annie que veio cheia de saudades e lágrimas, me abraçando como se não houvesse amanhã. Essa garota é metade da minha vida, e com ela veio os dois garotos a qual eu protejo com unhas e dentes.
— Tudo bem com vocês? – Questionei com pressa, agoniada para saber se algo aconteceu aqui enquanto eu estive fora.
— Sim, estamos bem. – Leo respondeu-me com precisão. — Garanti que ficássemos.
Dei a ele um sorriso agradecido. A melhor coisa que Daryl fez foi acolher esse garoto em suas asas e o educar como tal, agora ele é metade de um Dixon.
Por falar em Dixon, assisti Merle agarrar Giulia em um abraço apertado e beijar sua testa inúmeras vezes, sorrindo para ela como se fosse sua filha. Era alívio em seus olhos.
— Maggie e Sasha não vieram? – Rick indaga ao meu lado.
— Dr. Carson acha melhor que Maggie permaneça em Hiltop até o bebê nascer, para o bem dos dois. – Ele acena a cabeça ao compreender. — Jesus nos deu uma força. Pensando que os Salvadores já houvessem saqueado a comunidade ele conseguiu umas coisinhas para nos ajudar.
Ele se volta para o carro atrás de nós, Rosita puxa a lona cobrindo a carroceria e descobre nossas novas bugigangas. Comidas frescas, arcos, flechas, lanças e algumas outras coisas que não fui capaz de memorizar.
— Um presente à Alexandria e seus líderes por treinarem suas mulheres tão bem a ponto de somente elas serem capaz de destruir um carro de som e acabar com uma dúzia de zumbis. – Giulia brinca, recebeu a atenção do grupo. — Longa história.
Percebo que ela ainda está abraçada a Merle e acho isso fofo. A não ser por suas marcas de pancadas no meio da fuça, vermelho igual um pimentão, e foi assim que ele veio me cumprimentar. Nos abraçamos por um curto período e ele acariciou minha barrigona de grávida, admirado com o tamanho de sua sobrinha.
— Uau, como essa garota cresceu tanto em tão poucos dias? – Indagou em seu humor de origem. Abaixou-se até alcançar minha barriga e se preparou para um sussurro. — Oi, bonitinha do titio Merle, você está em casa agora e o tio vai cuidar de vocês até seu pai estar de volta.
Sorri enquanto meu coração se enchia de um orgulho denso e uma saudade apertada. Parece que não vejo meu marido há anos e isso deixava um buraco em meu peito que crescia há cada dia.
— Obrigada, Mer! – Ele sorriu e depositou um beijo casto em meu cabelo. — Posso considerar você como um ótimo cunhado agora. Das duas partes.
Nos acompanharam pelas ruas alexandrinas enquanto jogávamos conversa fora, Merle e Camila até conseguiram fazer Giulia rir durante o caminho até em casa e aquilo me deixou em alívio, me fez perceber que enquanto ela tiver Merle Dixon como seu protetor e guardião, então ela terá tudo. Mas eu sentia falta de alguém aqui, alguém que jamais deixaria de me receber no portão com um sorriso no rosto e uma pistola na outra mão.
— Onde está o Carl?
[. . .]
04 de abril de 2012.
Carl sumiu. Rick saiu em uma busca com Aaron antes de notar seu sumiço, Michonne também não está na comunidade mas há garantias de que Carl não esteja com ela porque Enid também não está aqui. Eles fugiram juntos para algum lugar e estou apavorada. Mas entendi o que estava acontecendo quando ouvi os caminhões se aproximarem enquanto eu saía de casa.
— Só pode ser brincadeira. – Lara murmurou ao meu lado, carregava a filha em seu colo após buscá-la na creche improvisada, estava dormindo. — Ah, fala sério!
Conseguimos ver o momento exato em que Carl e Negan desceram do mesmo caminhão. Aquele garoto rebelde aprontou alguma e com certeza foi algo grandioso. Era longe demais para que nos vissem e reconhecessem de imediato, então resolvi arriscar.
— Ele já viu a Camilla? – Perguntei em calmaria, mas sei que não. Se tivesse a visto teria a levado com ele.
— Eu a escondi quando ele veio da primeira vez, por isso Merle levou aquela surra.
— E não pode a esconder outra vez?
— Para que ele o mate agora? Eu amo o meu marido, Hannah, não posso perdê-lo para este homem asqueroso. Além disso, Hadassa nos descobriu da última vez, ela pode não ser tão boazinha hoje e nos dedurar.
Percebi o quanto Hadassa mudou em nosso último encontro perturbador, mas ainda sim ela me parece aquela garotinha gentil de antes, ao menos quando bateu o olho na irmã. Ficamos paradas no mesmo lugar enquanto a garota e seu pai caminhavam em nossa direção com os olhos brilhando e um sorriso sendo esboçado em seus rostos.
Foi quando Merle parou na esquina, impedido de continuar por um dos Salvadores machões que Negan tem como servo. Negan era Negan e Hadassa era apenas uma garotinha reencontrando sua irmãzinha depois de anos longe. Eles pararam há três passos de nós.
— É a... – Ele perguntou, o sorriso aumentando quando Lara afirmou em um aceno silencioso. — Eu posso?
— Ela está dormindo, pegou virose de um coleguinha da creche, acho melhor não acordar. – Argumentou minha irmã. Lara não estava mentindo, a filha realmente não estava em seus melhores dias em relação à imunidade e seria bem melhor que ela continuasse dormindo agora.
— Bem, então a leve para casa, deixe que ela durma em uma cama confortável. Dwight irá te acompanhar.
Perguntaria que cama seria essa se ele levou todas que tinha nessa comunidade, mas Negan não foi idiota o suficiente e deixou as camas que pertenciam a crianças indefesas justamente por não saber em qual casa sua filha estava morando. Minha irmã saiu em passos curtos na companhia de outro cão de caça do ex amante e eu permaneci ali sendo encarada pelo homem que matou meu melhor amigo, foi quando avistei Carl logo atrás de Hadassa, muito desconfiado.
— O que o garoto fez agora? – Indaguei de uma vez como quem conhece muito bem o sobrinho.
Negan deu um de seus sorrisos nojentos e inclinou as costas.
— Esse garoto tem culhões, Hannah, ele não é nem um pouco igual ao pai. Você acredita que ele entrou clandestinamente em um dos meus caminhões, roubou as minhas armas e matou dois dos meus homens dentro do meu santuário?
Dei de ombros, mas não antes de ameaçar matar o Carl com meus olhos, ele percebeu isso.
— Me parece algo que ele faria. Peço desculpas pelas ações do meu sobrinho, você deve entender o quanto é difícil manter os adolescentes na linha quando se tem muita coisa para fazer, não é? Me descuidei do menino por dois segundos e ele simplesmente evaporou daqui. Essas crianças são muito criativas.
— Você é a medica desse lugar, acredito que deve ter muito trabalho sendo a única com um diploma aqui dentro. E é só por isso que irei perdoar você, Hannah, porque você é uma ótima profissional.
Forcei um sorriso para ele, mas senti o embrulho no estômago ao fazer. Seu olhar foi diretamente para minha barriga marcada pelo vestido rosa claro que eu estava usando, como quem estava muito curioso para saber sobre algo que não lhe diz respeito enquanto eu varria aquela comunidade com os olhos em busca de Daryl, soube que Negan o trouxe em sua última visita.
— Ele não veio, o pai do seu bebê. Ficou na cela, mas ele está bem, eu juro a você. É um pouco teimoso, mas sei que vou conseguir domá-lo algum dia.
Ri em escárnio, baixinho é claro, mas nítido para ele que estava tão perto. Dei de ombros e me preparei para seguir meu caminho de volta para casa.
— Eu posso levá-lo para casa agora? Quero ter uma conversa sobre limites com meu sobrinho.
— Na verdade nós queremos fazer uma visita ao seu irmão hoje, viemos especialmente para isso. – Hadassa respondeu, teve o sorriso orgulhoso do pai como incentivo.
— Rick não está, ele saiu bem cedo para buscar por mais coisas para vocês e provavelmente não voltará hoje.
Seu sorriso pequeno e nojento me enoja, idêntica ao pai.
— Não nos incomodamos em esperar até que volte, liberei minha agenda antes de vir até aqui justamente por querer um tempo de qualidade com a minha irmã. – Respondeu ela, empurrou Carl para mim como se ele fosse seu prisioneiro. — Nos leve até a residência Grimes, Hannah.
[. . .]
Presenciar tudo o que esse homem disse à Olivia, suas insinuações asquerosas e o bullying descarado que a pobre mulher sofreu me enojava, mantinha minha idéia de matá-lo fresca e ativa. Mas eu fui forte, jamais deixaria aquele homem sozinho com os meus sobrinhos, principalmente com Judith, que ele pareceu se encantar por tamanha semelhança com Camila em sua idade.
Negan nos obrigou a apresentar cômodo por cômodo, brincou de casinha e fez da gente seus fantoches até se cansar de tamanha idiotice. Sentamos na varanda e ele pôs Judith em seu colo, me senti incomodada com sua ação mas não pude opinar sobre nada em momento algum e era como se eu estivesse morrendo por dentro. Aguentei em silêncio suas baboseiras, mas não poderia deixar que Negan falasse tanta abobrinha para minha sobrinha que mal entende o que está acontecendo.
— Não diga essas coisas para a menina. – Intervi quando ele afirmou que deveria matar nossa família, matar seu pai. — Não encha a cabeça dela com suas ameaças quando tudo o que a mãe dela fez foi defender sua imagem para a sua filha sempre que pôde. Não diga para Judith que deveria matar a família dela quando Lori afirmava para Camilla que você iria voltar para ela algum dia.
Ele se calou imediatamente, passando a bebê para os braços da filha que estava de pé logo atrás dele. Hadassa a pegou com cuidado e brincou com a menina antes de entregá-la para Olivia, também com cuidado e educação.
— Você não aceitaria que qualquer um de nós fosse até a sua filha, que também é uma criança, e dissesse à ela que deveria matar seu pai e a irmã porque ele é um babaca que olha torto para as pessoas. – Voltei a argumentar e sei que tive efeito quando ele não disse nada até agora. — Não descarregue suas frustrações na minha sobrinha, em nenhuma delas.
Seu suspiro repetido é acompanhado pelo sorriso cínico que também deu as caras, me senti amedrontada por um segundo quando ele levantou-se e ameaçou vir em minha direção, mas foi impedido pela filha mais velha, Hadassa, que entrou em sua frente no instante em que percebeu o que iria acontecer.
— Pare com isso, você sabe que ela está certa. – A menina disse, o mesmo tom que já ouvi sua mãe usar vez ou outra. — Onde estava com a cabeça? Ela é só um bebê. – Hadassa se aproximou ainda mais do pai, pronta para sussurrar algo que fui capaz de ouvir. — E você só machuca a Hannah se me matar primeiro.
Não teve contato visual da parte dele, nem mesmo físico, mas Negan se afastou após alguns segundos. Ele não demonstrou fraqueza diante da rebeldia da filha, só continuou com o que sabe fazer de melhor, encher a porra do saco alheio. Mas antes que Negan continuasse com o seu teatro pessoal o grito estridente de Giulia ecoou a rua, e vinha diretamente de minha casa.
Correr quando está grávida não é confortável ou ideal, mas eu dei as costas para eles em uma rapidez absurda que sequer me importei com minha condição física nesse momento. Merle já estava lá, parado na varanda pois foi impedido de entrar por uma salvadora, Arat talvez, foi quando percebi que estava sendo acompanhada em um ritmo lento por aqueles que estavam comigo quando comecei a correr.
— O que aconteceu? – Perguntei antes de subir os degraus da varanda.
— Eu não sei, essa mulher feia não me deixa entrar. Acho que é a mãe dela, Hannah. – Meus olhos se arregalam minimamente enquanto o ódio se apossou de meu corpo.
Eu sempre odiei Lisa Rhee nas histórias que Glenn me contava, a maneira como fez pouco caso dos filhos e os maltratou até que chegassem ao limite e fugissem no meio da noite para outro país já me era suficiente para querer esganá-la. Mas agora, depois de saber que ela assistiu aos últimos momentos de seu filho e a maneira como ele foi brutalmente assassinado pelo cara com quem ela claramente transa? Essa mulher merece a morte e o inferno.
Arat não foi capaz de me impedir de entrar em minha própria casa, ninguém é capaz de parar uma mãe quando sua criança está em perigo. Adentrei aquela sala com tanto ódio que tenho certeza de que saia fumaça de minhas orelhas. Lisa puxava Giulia pelo pulso perto da Lavanderia, que era em um corredor de área de serviços.
— Tia, socorro, essa louca quer me levar embora. – A menina diz em sua voz falha.
— Levar embora? Quem você pensa que é pra querer levar Giulia da minha casa? – Indaguei, minha voz nunca soou tão firme quanto agora. Agarrei sua mão com força e esmaguei seus dedos, soltando a menina e a puxando para trás de mim.
Lisa pareceu se exaltar quando percebeu que uma grávida possui mais força que ela mesma e puxou sua pistola, apontando ela para mim enquanto eu protegia a menina.
— Eu sou a mãe dela, loirona! Eu sei o que é melhor pra minha filha e eu vou levar ela desse inferno de cidade vocês querendo ou não.
Ri, ri porque achei isso a coisa mais engraçada e absurda do mundo.
— Mãe? Acha mesmo que ainda pode se entitular uma mãe depois do que fez aquela noite? Você não é mãe e nunca foi, Lisa, nós duas sabemos disso! Yoona e Glenn sabiam, por isso fugiram de você.
— Você não sabe de porcaria nenhuma! – Esbravejou ela cheia de fúria, mas não senti medo de sua arma engatilhada. — Não conheceu meus filhos antes disso tudo começar, como pode saber? Giulia, venha para cá agora.
A garota agarrou meu vestido com mais força, podia sentir suas mãos trêmulas em minhas costas. Ela nega em um aceno, se escondendo ainda mais.
— Me obedeça, garota, eu sou a sua mãe! – Ela gritou com raiva, mas Giu estava preparada.
— NÃO, HANNAH DIXON É A MINHA MÃE! – Gritou por cima da mulher, os olhos repletos de água enquanto ainda se tremia. — Foi ela quem esteve lá em minhas noites de pesadelo, mesmo que um apartamento à cima, foram Glenn e ela quem me educaram e fizeram de mim a pessoa que sou hoje. Não você, não a Yoona, mas Hannah e Glenn. – Pareceu sentir mais confiança ao falar do irmão, quis provocar. — Lembra dele, mãe? Foi o segundo a ter o crânio esmagado e na frente da esposa grávida que estava tendo a porra de um aborto. Você não matou só o seu filho como também matou o seu neto.
Sua arma foi finalmente destravada e ela teve meu sorriso por isso.
— Pode me matar agora, Lisa, mas puxe o gatilho com a certeza de que irá criar um tumulto no segundo seguinte, e não pense que irá escapar com vida dele. Você vai morrer, meus homens são fiéis à mim e eu nem sou a líder. – Os passos se tornaram mais próximos, eu sabia que era Negan a se aproximar. — Vamos, Lisa, mostre para a sua filha caçula que é covarde o suficiente para atirar na cara de uma mulher grávida. A mulher que deu tudo por ela desde seus nove anos.
— Lisa! – A voz grossa de Negan ecoou minha casa, quase que estrondosa. A mulher se virou para ele imediatamente. — Que porra você está fazendo? Abaixe a droga da arma agora.
Hadassa estava feito um obsessor em suas costas, mas em silêncio e quase imóvel. Lisa dividiu seu olhar entre mim, que estava na mira, e Negan, que não estava nada satisfeito com tudo aquilo.
— Você disse que eu poderia levar a minha filha comigo hoje se a encontrasse, eu a encontrei e essa barriguda descarada não quer deixar a pirralha vir.
Foi a vez de Negan nos entreolhar, sua feição séria analisando a situação por inteira até finalmente ter seu veredito.
— Eu ouvi a conversa, Lisa, a garota não quer vir com a gente. Deixe que Hannah continue com ela, nós já matamos o irmão dela que por sinal estou surpreso por ele ser seu filho.
Mas Lisa não abaixou a arma e isso o irritou profundamente.
— Caralho, eu já mandei você abaixar a droga da arma. – Seu grito até chega a me assustar, mas mantive firme em meu posto de mãe protetora. A mulher guardou a arma e o sorriso satisfeito de Negan nasceu — Ótimo, agora nós vamos sair por aquela porta e você não vai mais incomodar nossas amigas, nós não somos tão cruéis a ponto de perseguir grávidas ou coisa do tipo. – Ele se inclina para enxergar Giulia e acena. — Querida, desculpe o transtorno, você parece mesmo bem abalada. Eu vou Deixá-las em paz agora, vamos todos sair daqui, pessoal.
Lisa saiu, mas não antes de nós ameaçar com os olhos, e Negan levou seus cachorros com ele para fora de minha casa. Envolvi Giulia em meus braços até me certificar de que sua respiração estava regulada, não poderia arriscar uma crise de pânico agora. Manter essa menina em segurança virou minha prioridade e eu mataria qualquer um que ameaçasse meu objetivo.
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001: Primeiramente gostaria de pedir desculpas pelo atraso nas atualizações, mas recentemente descobri que estou gerando uma criança dentro de mim e agora entendo todo meu mal estar nos últimos meses, que me impediram de atualizar.
002: Eu pretendia escrever até o reencontro deles em Hiltop mas as coisas ficaram longas demais e decidi concluir por aqui, no próximo capítulo tem reencontro.
Beijinhos da Malu
e do baby malu!!!💋🩷💙
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