24 𝖽𝖾 𝗆𝖺𝗋𝖼̧𝗈 𝖽𝖾 2012.

HANNAH DIXON.

Adoro acordar pela manhã e sentir o cheiro delicioso que vem da minha cozinha, porque Carol já está preparando o café da manhã de todos com muito amor,. Ela estava retirando sua segunda remessa de cookies do forno quando passei pela porta da cozinha, Daryl já estava sentado na banqueta atrás do balcão, comendo.

— Bom dia! – Desejo aos ali presentes, beijando a bochecha de meu marido com carinho, recebendo um beijo casto de Carol ao passar por ela e seus doces deliciosos. — Parece delicioso.

— Bom dia, querida. Sente-se, eu preparei um café da manhã reforçado para você e o bebê, também fiz um chá delicioso que vai curar essa sua dor de estômago na hora, Annie.

A garota faz careta enquanto morde sua torrada ao lado de Daryl, que também não pareceu contente com a palavra "chá" sendo citada. Annie vem se queixando de uma dor no estômago, mas garanto que seja apenas porque comeu demais no jantar ontem e foi dormir logo em seguida.

— Ah, mas nem está doendo mais. – Ela mente.

— Pare de mentir, garota, eu escutei você reclamando enquanto usava o banheiro. – Daryl a dedura, e o ronco que vem de sua barriga também. — 'Tá vendo? Ainda sente dor. Beba seu chá sem fazer careta e vai deitar, não quero que fique perambulando pela comunidade hoje, descanse.

Fico em silêncio, assistindo ele agir como um pai que nunca foi. Adoro esses momentos, quando parecemos uma enorme família feliz. Annie se volta para ele, o olhando nos olhos enquanto sua boca está cheia de leite, ele rapidamente pede para que ela espere até que sua boca esteja vazia para poder falar algo.

— Mas eu não estou cansada! – Rebateu, sua barriga roncando outra vez. Ela suspira, sabendo que perdeu no argumento. — Tudo bem, eu tomo o chá da Carol e fico reclusa em meu quarto, como se tivesse infectada por um vírus super contagioso e mortal.

— Eu acho bom. – Ele resmunga antes de levantar. Beijou meus lábios em um momento rápido e vergonhoso, Daryl não gosta de demonstrar afeto em público. — Vou indo, Rick quer sair cedo 'pra cobrir mais terreno. Fique de olho nas coisas em casa, ouviu, garoto?

Jeremy afirma em um aceno de cabeça, ocupado com seu café da manhã.

— Boa sorte na busca de hoje, espero que consigam encontrar coisas boas desta vez.

Ele sorriu para mim antes de finalmente nos deixar para trás. Nossa dispensa está esvaziando após essa crise e todo o trabalho com a expansão dos muros torna tudo ainda mais complicado. Mas Peter e Rick parecem estar se entendendo muito bem quando o assunto é liderar Alexandria e eu estou achando isso ótimo. 

Me sentar e tomar café com a minha família seria realmente adorável agora, mas como médica oficial desse lugar, preciso estar cedinho no trabalho. Pego o pote de biscoitos e a garrafa de água que estava sobre o balcão, me despedindo daqueles que ficariam por ali. As coisas por aqui parecem agradáveis, pessoas me cumprimentam por todo meu caminho até a enfermaria e me chamam de doutora, o que eu secretamente adoro.

Denise me espera com um belo de um chocolate quente todas as manhãs, porque não posso ingerir cafeína durante a gravidez, vez ou outra ela se aventura na cozinha e prepara ovos mexidos para nosso café, mas eu sempre trago algo de casa também. Temos uma bela parceria. Ela está na cozinha, sentada em uma banqueta no balcão, se deliciando com um, aparentemente, delicioso café preto.

— Bom dia, Hannah! O dia não está lindo hoje? – Seu sorriso está mais radiante que o esperado e os olhos brilham feito estrelas. Denise está muito feliz hoje. Ela mostra a xícara de chocolate quente que me espera, sorrindo. — Fiz seu achocolatado, do jeitinho que você gosta. Vem, vamos tomar café.

Sorrindo de sua animação, puxo a banqueta ao lado e me junto a alegria do ambiente. Adaptaram uma casa inteira para que fosse o hospital de Alexandria, e a área de descanso dos médicos é meu lugar favorito aqui.

—  Bom dia, que bicho mordeu você hoje? Está radiante e seu cabelo cheira a xampu de morangos. – Ri, aspirando o cheiro delicioso. — Eu gostei!

— Bicho algum, é só a ocitocina fazendo efeito no meu corpo. – Ela sorri, um pouco tímida, e deu outro suspiro apaixonado. — Ah, tive a melhor noite de sono da história da humanidade. Beijei uma garota!

Sua revelação me causa um sorriso de orelha a orelha, sendo com certeza o ponto alto do meu dia. Minha relação com Denise se desenvolveu muito rapidamente, ela é uma pessoa tão cordial sobre tudo e trabalhar com ela é como andar em nuvens. A mulher aprendeu tudo muito rápido e ainda está se esforçando nos estudos sobre obstetrícia por minha causa, ela é quase um anjo. Mas não, eu não fazia ideia de que ela também gosta de mulheres.

— É sério?! – Indaguei na mesma felicidade. — Que incrível! Quem é? – o sino na porta é ouvido, anunciando a entrada de um paciente. Suspiro em frustração, ela estava prestes a me dizer de quem se tratava... — Eu atendo, não se preocupe. 

Vesti o casaco antes de deixar a cozinha, pois o tempo está esfriando cada vez mais e segui para a recepção. Clara estava lá, carregava o filho nos braços e aparentava estar cansada, como se estivesse acordada durante toda a noite. 

— Clara, oi! Alguma coisa errada com o nosso garoto? 

— Ele teve febre durante a noite, acho que está com a garganta inflamada porque não consegue comer direito e quando come coloca tudo para fora. – Ela suspira em cansaço, o menino quietinho choraminga em seus braços. — Você poderia examiná-lo, por favor?

— Claro, venha, vamos para a sala de atendimentos. – Clara realmente estava apavorada, mães com filhos doentes estão sempre assim. Eu a guiei por entre os corredores, logo adentrando a sala de atendimentos, o meu trauma. — Coloque-o na maca, eu vou buscar meu estetoscópio e já volto, prometo.

Aprendi a lidar com os pais na faculdade, a professora Springsteen dizia que precisamos ter paciência e empatia, porque estamos tratando do amor de alguém, o filho de alguém. Acalmar pacientes deveria ser uma matéria obrigatória na área da saúde, mas apenas os professores mais empáticos nos davam este ensinamento.

Me aproximo de George e Clara, sorrindo docemente para o garotinho antes de lhe entregar um carrinho de brinquedo para que ele fique calmo durante o atendimento. Crianças nessa idade são mais complicadas, mas com amor e dedicação nós alcançamos o objetivo final.

— Oi, George! A titia vai colocar o brinquedinho dela nas suas costas para verificar os pulmões, tudo bem? – Ele não responde, apenas resmunga em sua própria linguagem. Por sorte, George tem um pulmão muito forte. Aferir sua temperatura também não foi difícil, o garoto é muito tranquilo.

Verificar sua garganta foi a parte mais difícil, é desconfortável demais para um bebê de um ano e quatro meses, precisei da ajuda de Clara para segurá-lo e ver com exatidão. A garganta estava realmente irritada e com algumas bolhas vermelhas por todo o corpo. Suspiro, jogando fora minhas luvas.

— O que foi, é muito grave? – Indagou em pavor.

— Não, na verdade é bem comum em crianças. – Levanto a camiseta do garotinho, apontando para a vermelhidão em massa por ali. — George pegou catapora. É mais comum em crianças mais velhas, mas bebês também podem contrair. Com o cuidado certo e os remédios em dia, ele ficará bem em menos de duas semanas.

Mas eu havia esquecido de algo, algo que me lembrei naquele exato momento.

— Acho que devemos redobrar nossos cuidados com George durante seus dias de catapora. Ele é um bebê pós-apocalipse e não tomou nenhuma vacina durante toda a vida, pode ser perigoso. – Ela suspira, sussurrando um "aí meu Deus!" — Mas não se preocupe, eu vou te ajudar. Vou te dar os Antialérgicos para a coceira e analgésicos para a dor e febre, você vai dar banho gelado nele cinco vezes ao dia durante duas semanas. E o mais importante, Clara, não o deixe ter contato com outras crianças. Judith também não tomou vacinas e tem a imunidade baixa, é perigoso para ela também.

— Não é perigoso para grávidas também? – Ela indaga em preocupação. — Acho melhor você tomar um banho bem quente quando sairmos daqui, não quero por em risco o seu bebê.

— Tem razão, eu também acho. – Murmurei, dando um passo para trás. — Certo, eu vou pedir para que Denise te dê os medicamentos, tá? Você vai pra casa e dá um banho bem gelado nesse garotão. Faça compressa de gelo na cabeça dele pelo menos uma vez ao dia, idealmente quando ele for dormir.

[. . .]

Após o atendimento e de avisar Denise sobre o caso, fui diretamente para casa e Carol preparou um banho extremamente quente para mim e também deu um em Judith, pois os garotos brincaram juntos na semana passada. Denise achou melhor que eu ficasse em casa, pelo visto temos mais duas crianças com catapora na cidade. Os outros são mais velhos, nove e onze anos, tomaram suas vacinas corretamente e não precisam de atenção redobrada. Pedi para que Giulia avisasse Maggie sobre o ocorrido, para que ela tomasse os devidos cuidados por aí.

Rick e Daryl voltaram de sua busca com um prisioneiro, um cara que afundou nossa sobrevivência de meses em um lago há quilômetros daqui. Avisei a Rick para que redobrasse sua atenção com Judith e ele vai levá-la para uma consulta ainda hoje, Camila também nunca pegou e está sendo confinada em casa pela mãe, que agora possui sua própria casa ao lado da minha.

Ninguém nunca janta à mesa aqui em casa, normalmente estão todos em seus quartos ou em algum lugar da comunidade, Annie foi dormir cedo, Carol está de guarda e Jeremy é preguiçoso demais para vir fazer a própria comida, se contentou com biscoitos que restaram do café. Mas Daryl e eu, bem, nós somos ótimos cozinheiros.

— Acho que faltou sal nisso aqui. – Murmurei ao provar a carne deliciosa que meu marido preparou para nós. Ele torce o nariz, afirmando em um aceno. — Mas está tudo bem, antes insosso que salgado demais. Papai me dizia isso.

— E você nem pode comer muito sal, acho que vou fazer comida mais vezes, a sua é muito salgada. – Franzi o olhar, o fazendo voltar atrás no que disse. — Não foi isso que eu quis dizer, amor, a sua comida é deliciosa, eu juro.

Gosto de botar medo em Daryl porque ele age como se eu fosse um monstro que pode devorá-lo a qualquer momento quando na verdade eu sou um mosquitinho frágil e indefeso.

— Você vai mesmo cozinhar mais vezes, estou de greve da cozinha por uma semana.

Estávamos prestes a iniciar uma falsa discussão sobre isso quando um mensageiro invadiu nossa casa para avisar sobre a fuga do prisioneiro que trouxeram para casa. Largamos nosso jantar ali mesmo e empunhamos armas no mesmo instante, seguindo direto para onde a movimentação estava estranha, a casa de Rick.

Daryl me pediu para ficar, mas eu não o ouvi dessa vez e embarquei na pequena aventura cheia de adrenalina. A porta da frente estava aberta, curiosamente adentramos a sala seguidos de Maggie, Glenn e Abraham, todos armados. Jesus estava ali, no topo da escada junto a Carl, Rick e Michonne, que inclusive arrumavam suas vestes como se tivessem acabado de finalizar uma... alguma coisa.

[. . .]

25 𝖽𝖾 𝗆𝖺𝗋𝖼̧𝗈 𝖽𝖾 2012

Há uma comunidade nova que Jesus quer nos apresentar, alegando que possuem uma vasta plantação de tudo aquilo que não temos. Ele quer que nosso pessoal vá até eles para uma apresentação amigável e um contrato vitalício entre as duas comunidades, para que possamos prosperar ainda mais rápido neste mundo caótico e problemático. Estamos discutindo a possibilidade em meu escritório, justamente por minha casa ser maior e abrigar um número considerável de pessoas no mesmo cômodo.

— Não acham arriscado? Irmos com ele até uma comunidade desconhecida... e por que se gabar do lugar? Ele nem nos conhece. – Jeremy opina, está recostado em uma das cadeiras de estofado macio já que não é permitido fazer muito esforço físico durante a recuperação. — Isso cheira a armadilha, foi exatamente assim que explodiram a cidade onde vovó nos mantinha seguros em Atlanta.

— Seu ponto de vista é muito bom, Jeremy, fico feliz que não seja tão ingênuo para o mundo. – Rick observa, tratando de o tranquilizar. — Mas ele não comentou nada sobre a comunidade dele quando nos encontramos, só agora. Posso estar sendo muito hipócrita por isso, mas eu escolho depositar uma dose de confiança em Jesus.

— Então nós vamos com ele? – Sasha questionou, negando em um aceno de cabeça fortemente. — Não, vou ficar para proteger Alexandria de qualquer ataque surpresa ou planejado.

Gostaria de me oferecer, mas estou certa de que Daryl não iria concordar com minha atitude e implorar para que eu ficasse em casa, onde é seguro para mim e o bebê. No entanto, estou me sentindo sufocada e preciso desesperadamente respirar novos ares.

— Eu quero ir. – As três palavras saltaram de meus lábios, assustando meu parceiro que me olha perplexo. — Não fui lá fora desde que chegamos aqui, pensei que seu medo fosse que Alexandria nos tornasse fracos.

— Bem, se Hannah vai então eu também vou! – Diz Maggie, recebendo a total atenção do marido. — Ela tem razão, me sinto enfraquecida por esse lugar.

Tento segurar o riso, pois é pura manipulação só para conseguir o que queremos. Gosto como Maggie sempre pega a mesma onda que eu e surfamos juntas nela até o fim, enlouquecendo nosso grupo com isso. Como quando limpamos a prisão e descobrimos sozinhas como matar um zumbi de armadura.

— Certo, então já temos quatro voluntários. – Rick brinca, mas Daryl não gostou muito dessa ideia maluca. — É bom que elas estejam lá quando acontecer, o futuro de nossa comunidade está crescendo em suas barrigas. Por que deixaríamos isso de fora?

As coisas relacionadas ao assunto foram resolvidas com rapidez, foi decidido que um grupo pequeno partiria daqui até Hiltop em um trailer, Leonardo e Merle também se ofereceram para vir conosco. No fim éramos um grupo de nove pessoas com armas muito bem carregadas e prontas para atirar caso algo desse terrivelmente errado com a viagem. 

Fazer uma viajem nunca me foi tão confortável, senti falta de estar aqui fora tanto quanto já estou com saudades de casa. Me acomodei no estofado macio de um grande sofá móvel, bem ao lado de meu amado e gostoso marido, Daryl passou seu braço direito por cima de meus ombros e me manteve ali, como se eu estivesse sendo protegida de qualquer coisa.

— Você sabia sobre Rick e Michonne? – Ele questiona em um sussurro baixo, não querendo que os outros o ouvisse fazendo fofoca. Pegar esses dois no flagra ontem foi o ápice da minha felicidade.

— Não, mas é porque acabou de acontecer. – Ele me lançou um olhar questionador, não entendendo o que quis dizer. As vezes preciso desenhar para que este homem entenda esse tipo de coisa. — Era a primeira vez deles juntos e Jesus estragou tudo, sorte que já tinha acabado a brincadeira, mas seus brinquedos ainda não tinham sido guardados.

Daryl arregala os olhos, me causando um riso nasal silencioso, mas divertido. Observo Glenn e Maggie em nossa frente, também estão sussurrando sobre algo que parece ser muito interessante, pois ele não para de sorrir em momento algum. Bem, apenas agora, que me pegou o bisbilhotando.

— Estive pensando... – Falo de repente, olhando para o casal em nossa frente, tendo suas atenções para mim também. — Foi mesmo uma boa ideia deixar as garotas sem supervisão em casa? Porque eu não gostaria de chegar e descobrir que o meu lindo lar foi destruído, entende?

Antes que alguém possa rir, Daryl responde.

— Não estão sem supervisão, eu coloquei Jeremy em suas colas. – Giro o corpo para poder olhar para seu rosto. — O quê? Eu conheço aquelas meninas, lembro de como deixavam o bloco de celas quando não tinha ninguém lá dentro.

Uma bagunça, era como deixavam. São garotas bagunceiras, mas são amorosas o suficiente para me fazer esquecer esse aspecto em suas personalidades caóticas. Gosto que sejam assim, apenas adolescentes sem preocupação, somente curtindo suas idades enquanto podem.

O trailer ia parando aos pouquinhos, observando um acidente na borda da estrada.

— Acabou de acontecer. – Glenn observa.

Jesus de repente se altera, levantando-se de seu assento e correndo para a porta em um desespero eminente.

— São dos nossos, abra a porta, são dos nossos! – Ele grita, descendo logo em seguida enquanto somos obrigados a fazer o mesmo.

Empunhei meu arco, apontando para frente enquanto ouvia seu diálogo com meu irmão. Rick não confia muito nas pessoas e eu concordo com isso, a confiança é um perigo muito grande no mundo hostil no qual vivemos. Observei o sangue fresco, ou o rastro dele nos levando até uma casa abandonada ali perto enquanto Rick grita com Jesus outra vez, recebendo seu grito de volta bem no meio da cara. Ele o algema, olhando para Maggie e eu.

— Preciso que alguém fique aqui fora com ele enquanto vamos lá dentro, tudo bem por vocês? – Volto o olhar para Maggie, ela acena positivamente.

— Lá dentro parece escuro demais para alguém que ainda não saiu do primeiro trimestre. Salve o dia, garotão!

Ele riu, adentrando a casa junto aos outros enquanto eu pedia para que voltassem sem arranhões. Olhava em volta enquanto minha amiga se empenhava em apontar sua arma para nosso novo amigo, Jesus. Disparei a flecha em um zumbi prestes a chegar perto demais, o derrubando. Recolho a flecha, limpando seu sangue na grama fresca.

— Bela pontaria. – Ele comentou, nem mesmo estava olhando para mim. — Onde aprendeu?

Me virei para eles, notando que Maggie também me olhou neste momento. Me aproximei outra vez, ficando de frente para a estrada e nosso trailer, é uma típica enrascada para roubar veículos e não irá se oficializar em meu turno.

— Pratiquei tiro ao alvo quando criança, dos nove aos Dezenove, então conheci dois irmãos caçadores que me ensinaram o restante. – Dei de ombros, ainda checando o perímetro. — E você, onde aprendeu artes marciais?

— Nada muito complexo, só me matriculei em uma academia de artes marciais e conclui o curso. – Ele ri, fungando em nervosismo. — Acham que meus amigos estão vivos lá dentro?

Maggie suspirou, olhando em volta enquanto isso.

— Se estiverem, nossos amigos os trarão de volta em segurança. – Ela respondeu, o homem sorri para ela. — Rick parece ser um tolo egoísta quando conhecemos, mas ele melhora com o tempo. Prometo a você.

É exatamente assim, meu irmão tem essa casca grossa logo quando o conhecem, mas ele sempre fica mais doce conforme o tempo passa. Rick é precavido, tem medo de que suas decisões ou a liderança tenham efeito negativo em nossa proteção, só está preocupado com a segurança de seu próprio povo. Isso faz dele um bom líder, não é? Lembro-me que ele sempre foi assim, protetor e preocupado, é algo que o define.

O silêncio predominou o ambiente por todo o tempo restante em que aguardamos ao lado de fora e nenhum outro zumbi podre deu as caras para enfrentar minha flecha. Escutamos a movimentação dentro da casa e preparamos para o disparo, mas eles saem correndo e trancam a porta, impedindo que os zumbis saiam também. Eram quatro pessoas, somente uma mulher entre três homens e Jesus abraçou todos eles com muita preocupação. Voltamos para a estrada.

— E então, tudo tranquilo? – Daryl perguntou.

— Sim, nada fora dos padrões. – Respondo antes de lhe dar um meio sorriso. — Mas e você, como foram as coisas lá dentro?

Ele balança a cabeça em um aceno negativo.

— O de sempre. – Deu de ombros, desviando olhar para a estrada. Já percebi que Daryl não gosta de comentar sobre sua saídas, pelo menos não o bastante. — Está tudo bem, o balanço não 'tá incomodando você? Rick disse que pode diminuir o ritmo se você e Maggie estiverem com problemas para manter o café da manhã no estômago.

— Garanto que Maggie e eu estamos muito bem, não é, Mag? – Ela inclina o corpo para poder me enxergar, sorrindo do outro cômodo, estava com o doutor de Hiltop.

— Oh, sim, diga ao Rick que nossos futuros estão bem. – Ela brinca, arrancando uma boa risada de Glenn. — Venham até aqui, o Doutor Carson acaba de nos dizer que era obstetra antes da civilização cair.

Obstetra, quase que ouro nos dias de hoje, principalmente para nós. Entreolho meu marido, que logo se levanta para irmos até eles, Daryl é o mais interessado em nossa gravidez desde o início. Ele segura em minha mão e nos leva até lá, me obrigando a se sentar no mesmo instante.

— Então são duas? Mas que maravilha, a gravidez é uma benção, devem estar muito felizes com isso. – Ele comenta, contente. — Maggie me disse que você também é médica, verdade?

— Sim, eu sou. – Sorri pequeno. — Não cheguei a me formar academicamente, mas um velho amigo me ensinou tudo o que sabia sobre a medicina. Infelizmente, mesmo se obstetrícia fosse nossa área, eu não poderia fazer meu próprio parto e nem mesmo o de Maggie.

— Entendo. Vocês têm alguém para o parto? Estou em dívida com o senhor Rhee e adoraria quitá-la ao trazer dois bebês ao mundo.

Dividimos olhares sugestivos, Maggie então sorriu como nunca. Ela está tão radiante nessa gravidez, adoraria que Beth pudesse vê-la agora, ficaria tão feliz com isso.

— O senhor faria isso? – Daryl questiona, sua voz grossa ecoando o cômodo. — Temos Denise em casa, mas ela era psiquiatra.

Harlan faz careta, uma qual eu entendo como: eu não gostaria de estar na pele dela. Porque Denise estudou a vida inteira para ser psiquiatra, ela exerceu nesta área por anos e agora precisa se moldar para atender nossas necessidades, literalmente tendo que aprender uma nova área em menos de nove meses. Ela é um anjo, eu a admiro tanto por isso.

— Denise está estudando obstetrícia para nos auxiliar durante a gravidez e o parto, além de também me ajudar com os pacientes na enfermaria. – Informo, ele sorri pequeno. — Mas a sua ajuda seria ótima, Dr. Carson, de verdade.

— Bem, eu conversarei com Gregory sobre isso, mas os portões de Hiltop sempre estarão abertos para velhos amigos.

O que mais me preocupa nessa gravidez é a hora de expelir o bebê. Eu já tinha pavor de partos quando o mundo era normal, agora eu sou totalmente apavorada com a ideia de um bebê com aproximadamente três quilos, ou mais, saindo da minha vagina. O pior seria se ele não saísse, o que aconteceu com Lori em suas duas gravidezes... fazer uma cesariana no meio de um apocalipse zumbi é assustador.

Daryl sabe sobre meus medos, é por isso que acaricia minhas costas e afirma sorrateiramente que tudo ficará bem. Beijo seu rosto como agradecimento por afastar meus pensamentos negativos, sentindo o trailer parar aos poucos. A voz de Rick e Jesus ressoava, e ele nos diz que chegamos. Havia uma grande possa de lama logo na saída, Rick me estende a mão para me ajudar.

— Cuidado para não escorregar. – Ele diz, muito preocupado com cada passo que eu dei. Ele me repreende após eu ir rápido demais.  — Devagar, Hannah, você pode cair.

— Você ficar fofo com toda essa preocupação. – Brinquei, talvez ele não tenha gostado muito. — Estou bem, irmão, não se preocupe.

A comunidade tinha muros muito mais altos que Alexandria, todos de troncos de madeira enormes, fiquei impressionada. Era possível ver o pico de uma mansão lá de fora, mesmo que os portões estivessem fechados. Houve uma pequena discussão entre Rick, Jesus e os vigias que apontavam lanças para nós, mas tudo foi resolvido e os portões foram abertos.

— Fique perto. – Meu marido sussurrou enquanto adentrávamos.

Uma pequena explicação sobre a origem da comunidade, meu breve olhar percorrendo por tudo que eu poderia enxergar, analisando cada pequeno detalhe nessa comunidade aparentemente adorável. Pessoas simples com produções a todo vapor, concentradas em seus trabalhos e empenhados a trazer o melhor para todos. É muito diferente de Alexandria, reconheço. Aqui não há nenhuma casa, apenas trailers e a mansão que fica bem no centro de tudo.

— É tudo tão... – Divaguei, apreciando a maravilhosa vista. — bonito.

Jesus sorriu ao me olhar.

— Pois é, fazemos o possível para deixar nossos moradores confortáveis mesmo que não morem em casas. Eles são humildes, alguns até sabem de defender lá fora.

— Oh, isso é muito importante. – Murmurei ao lançar meu olhar para Rick e Daryl. Hiltop tem seus encantos. — Aprender a se defender virou uma necessidade hoje em dia, é muito perigoso para quem não sabe nem mesmo manusear uma arma.

— Concordo com você, mas ainda assim tem pessoas que não estão preparadas para essa informação. – Deu de ombros, abrindo a porta dupla de entrada do casarão, nos dando uma bela visão do que um dia foi um lindo museu de história. — E aqui estamos, no coração de Hiltop. A maioria dos cômodos foram convertidos em quartos, até mesmo aqueles que não eram.

Aquele lugar era realmente mágico, Barrington House sempre foi um lugar lindo e ver o que se tornou é incrível. Visitei o local quando passei uma temporada em Virgínia para o parto de Lara, as obras de artes ainda estão penduradas e muito bem conservadas. Estão cuidando disso também. Uma porta dupla se abre ao nosso lado, mostrando um homem desconhecido de cabelos e barba branca.

— Jesus, você voltou! – Ele dizia em uma falsa animação. — E com convidados, olha que maravilha. – Rick tentou se aproximar para um comprimento, mas foi totalmente ignorado por aquele que diz liderar este lugar. — Por que não tomam um banho antes de conversarmos? Subam, eu não tenho pressa.

— Estamos bem assim. – Rick respondeu, indiferente.

— Eu insisto. Tomem um banho, se vistam e depois desçam para termos nossa tão sonhada conversa. Jesus os acompanhará até um lugar onde possam se lavar.

Devo dizer o quanto achei este homem um cretino agora ou só quando alguém comentar sobre primeiro? Bem, não demorou muito para que alguém reclamasse mesmo.

— Quero que vocês duas falem com ele. – Rick diz em um quase sussurro. — São perfeitas para isso.

— Por que somos mulheres gostosas? – Indago, ele me lança um olhar fulminante. — Qual é, esse homem parece ser o cara mais narcisista da história do universo. Eu já quero socar a cara dele sem que ele tenha falado diretamente comigo, imagine quando vier me cumprimentar.

— Uma amiga me disse que eu deveria dar mais oportunidade para aquelas que tem potencial de liderança. – Respondeu ele. — Mas você tá certa, é melhor que Maggie fale sozinha com ele. Ela é mais habilidosa com pessoas desse tipo.

— Não sei se quero lidar com ele. – Maggie murmura entre dentes, dando um sorriso forçado para Rick. — Mas é o meu trabalho, não é?

[. . .]

Não sei em que momento tudo isso deu errado, não mesmo. Estava muito bem acomodada ao lado de meu amado marido quando de repente uma faca foi fincada no líder babaca de Hiltop e uma briga se iniciou e Rick estava agarrado a um homem. Ele o matou, o matou a sangue frio, cortou sua garganta como se estivesse partindo seu sanduíche ao meio em uma naturalidade aterrorizante. Eu me assustei, percebi que Rick não é mais o mesmo, ele é selvagem e aterrorizante agora. É como aqueles animais que estão sempre prontos para matar quando se sentem ameaçados.

Mas eu não podia lidar com aquilo agora, estive ocupada com a reação da, aparentemente, namorada do cara morto. Ela se apressou até Rick e puxou sua faca da bainha de sua calça, mas ninguém tenta matar meus irmãos, não se eu estiver perto o suficiente para lhe atingir com um soco no rosto. A garota loira puxou sua faca e fui rápida o suficiente para agarrar sua mão com brutalidade, socando o centro de seu rosto e a deixando cair, bem ali ao lado do namorado morto.

— Você quer ir com ele? Eu posso fazer isso agora mesmo se tentar algo contra meu irmão novamente. – Minha voz saiu grossa, e então percebi que eu também mudei. As circunstâncias mudaram todos nós, precisamos nos adaptar ao que chamamos de mundo. Me viro para Rick, o checando. — Tudo bem com você?

— Sim, obrigado por cuidar das minhas costas. – Respondeu, dando-me um beijo casto em minha testa. — Teve uma ação rápida, eu gostei.

Sorri pequeno para ele, levando minha atenção ao homem esfaqueado que sangrava no chão, Maggie tentava cuidar dele. Eu o ajudei com o que pude, pelo menos até seu médico chegar e assumir meu posto, cuidando dele com mais sabedoria e recursos. Mas se não fosse por Maggie e eu com nossa habilidade em estancar feridas abertas, Gregory estaria morto agora.

Não me preocupei com tudo aquilo naquele momento, na verdade só tenho pensado em uma coisa desde que chegamos, o aparelho de ultrassonografia que este lugar possui. Eu queria muito, muito mesmo ver o nosso bebê e descobrir se estava tudo bem com ele, e graças à Maggie agora eu posso. Ela teve sua conversa e fechou um acordo satisfatório com Gregory que, de certa forma, me deixou um tanto preocupada.

Aniquilar um grupo inteiro de sobreviventes muito bem equipados em troca de comida e duas ultrassom. . . Não parece um acordo justo, mas foi o que conseguimos fazer por nosso povo. Manter Alexandria de pé estava sendo difícil.

Estamos no trailer barra enfermaria, assistimos Maggie em sua consulta e foi tão confortável ouvir o som de seu minúsculo coração bater que quase me emociono. Minha vez chegou logo em seguida e eles continuaram ali, nós acompanhando como fizemos com eles.

— Sei que você é médica, mas o gel pode ser um pouco mais gelado do que imagina. – Ele avisa antes de despejar o líquido pastoso em minha barriga lisa. Na verdade não era tão gelado quanto pensei que fosse, era até formidável. Agarro a mão de Daryl, que estava com os olhos vidrados no monitor enquanto o doutor Carson manuseava o aparelho em minha barriga, buscando por nosso neném. — Oh, olha só ele aí.

Sua imagem borrada e pequenina faz meu sorriso se tornar largo e radiante, sentindo uma sensação inesquecível tomar conta de meu corpo naquele momento tão especial. Daryl sorriu para o monitor, olhando para mim em seguida.

— É o nosso bebê? – Perguntou ele, os olhos brilhando. — Como é que ele 'tá, doutor?

O doutor hesita, pude sentir sua expressão mudar de repente.

— O que foi? Há algo de errado? – Questionei em preocupação, sentindo uma bola entalada em minha garganta. — Fale, Dr. Carson!

— Não, é só que. . . – Divagou, percorrendo o aparelho em minha barriga com um pouco mais de cuidado. — Eu não acho que você esteja grávida de um mês e meio como me disse, Hannah, na verdade o seu bebê já saiu do primeiro trimestre há pelo menos duas semanas.

Meus olhos se arregalam e agarro a mão de meu marido com ainda mais força. Disparo meu riso nervoso pelo cubículo que aquele local se tornou e minha voz preocupada soou.

— Não, isso não é possível, minha barriga é pequena demais para quatro meses e eu ainda tenho enjoos matinais. – Expresso minha preocupação. — E ele parece ser tão pequenininho, Dr. Carson, você tem certeza disso?

Meu bebê é pequeno comparado a um feto de 14 semanas, isso me preocupa bastante.

—O bebê está abaixo do peso, isto é fato, e também é pequeno demais para aparentar ter quatorze semanas, mas há algo aqui que não há como refutar sua idade. – Ele aponta para o monitor, sorrindo pequeno para nós enquanto circular com os dedos uma parte destacada da imagem. — Meus parabéns, papais, é uma menina.

Daryl cambaleia, se escorando em Glenn enquanto Maggie riu alto e uma pequena lágrima de felicidade escorreu por minhas bochechas. Estou esperando uma menina, a minha filha. Meu marido sorriu para mim e selou nossos lábios em uma comemoração amorosa, os olhos brilhando em emoção.

— Oh meu Deus, Daryl, nós vamos ter uma menina! – Exclamei em alegria, beijando seus lábios outra vez enquanto não conseguia conter a emoção que habitava em mim. — Uma filha, dá pra acreditar?! É surreal.

— É, muito surreal. – Ele responde em um sorriso, beijando minha bochecha. Mas rapidamente tratou de fazer seus questionamentos sobre a saúde da neném. — A falta de peso não a afetou? Minha filha está bem de saúde, ela não tem nenhum problema?

Dr. Carson sorriu diante nossa felicidade.

— Ela está com dificuldades para se desenvolver por falta de nutrientes por parte da mãe, Hannah precisa se alimentar melhor daqui 'pra frente se quiser que a filha continue crescendo e se mantenha saudável. – Diz ele, uma parcela de culpa me atinge repentinamente e ele pareceu notar isso. — Mas não se martilize por isso, se manter saudável e ter refeições ricas em carboidratos fica ainda mais difícil quando se está em um mundo como o nosso. Eu recomendo que fique em repouso até que seu bebê recupere o peso ideal, para não colocá-la em um risco desnecessário.

— Ela não vai poder trabalhar, então? – Glenn questionou em curiosidade, estava agarrado à Maggie como um carrapato.

— Por pelo menos duas semanas, não. Eu quero que as duas voltem aqui há cada semana que fecharem um mês na gestação, tudo bem? Assim consigo acompanhar de perto o desenvolvimento dos fetos. Mais uma olhadinha na filhinha de vocês, digam até outro dia.

Sorri apaixonadamente para o monitor e sua imagem borrada de uma bebê minúscula, meus olhos lacrimejam assim que o som de um coração acelerado ecoa o cômodo. É o som de seu coraçãozinho, os batimentos cardíacos da minha filha. Tudo mudou agora, parece que até meu amor imensurável por ela aumentou, se é que isso é possível. E, Deus, ver meu Daryl tão empolgado com a filha me deixava nas nuvens.

Eu finalmente ganhei o meu final feliz, talvez? É difícil saber, mas acabo de conquistar a família que eu sempre sonhei em ter.

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001: UHULLL, É MENINAAAAA!!!!! Quem me acompanha no ttk já sabia que era uma garotinha, mas cá estamos. Eu fiquei tão feliz finalizando esse capítulo que com certeza foi o maior que eu já escrevi, chegando a 5700 palavras.

002: Desculpem se demorei para publicar, mas eu realmente
gostaria de entregar algo bem feito para os meus leitores e isso
fez com que a escrita se tornasse mais lenta e dolorosa para mim.

003: A fanfic completou 2 anos ontem, então considerem isso uma comemoração.

Beijinhos da Malu!!! ❤️‍🩹🫶