9. Decisão dolorosa.
O Sol estava se pondo, uma luz muito bonita refletia nas enormes rochas e abrilhantavam a espuma branca produzida pela água que colidia contra as montanhas.
Sentei de pernas cruzadas e respirei fundo, esse lugar me parece... o meu lugar, mas estou tão confusa. Nos últimos dias venho querendo tanto me encaixar, mas acabo por não pertencer a lugar algum. Eu havia me livrado do sueter e da camisa, usava apenas a peça de baixo que se chama sutiã, e as calças.
— Eu a procurei por toda parte.
Ergo a cabeça e vejo a capa vermelha esvoaçante.
— E como me encontrou?
— Depois de algumas horas, acionei o rastreador no seu celular.
Claro, sabia que aquela coisinha servia para me vigiar ou algo assim.
— Não queria que viesse atrás de mim e me visse dessa forma – Suspirei.– Não queria que me procurasse nunca mais.
— Por que esta dizendo isso?
Ele se sentou ao meu lado na pedra.
— Estraguei tudo – Digo.– Achei que alguém poderia me ajudar, mas ele não era quem parecia ser...
— De quem está falando? É sobre a surpresa que mencionou?
— Não quero falar sobre isso, não quero nem me lembrar que fui tão leviana – Eu falo me deitando de costas na pedra.– E também não quero mais voltar para Metropólis.
— Achei que quisesse muito isso – Ele fez uma pausa.– Vai voltar para a fazenda?
— Também não.
— Então para onde vai?
Eu tinha uma ideia. O cartão que recebi de Bruce Wayne ainda estava em meu bolso, parecia queimar contra minha pele. Bruce me disse para procura-lo, ou ele viria atrás de mim. Talvez eu devesse ir atrás dele primeiro.
— Não se preocupe comigo, Clark, eu sou crescidinha.
— Não peça algo que não sou capaz de cumprir.
Eu virei minha cabeça em sua direção. Clark é tão bonito, finalmente consigo admitir isso para mim mesma. Seus olhos são da cor da água que quebra contra as pedras quilômetros à baixo.
— Você sabia que Helena provocou uma guerra?
Ele balançou a cabeça de maneira confusa, eu havia mudado de assunto tão bruscamente que com certeza o deixei atordoado.
— O quê?
— Helena de Tróia, que fugiu de Esparta e fez com que seu marido e seu amante guerreassem por 7 anos.
Expliquei brevemente.
— Quem te contou essa história?
— Não importa.
Ele suspirou.
— É... eu ouvi sobre isso, mas não pensei nisso quando lhe sugeri o nome.
— Você sabia que ela era considerada a mulher mais linda?
Perguntei.
Clark baixou o olhar e coçou sua nuca.
— Bem... sim.
Confirmou. Eu me sentei.
— Me acha bonita, Clark?
— Por que está perguntando isso, Hel?
Eu ignorei sua pergunta e repeti a minha:
— Me acha bonita?
— Claro! – Afirmou rapidamente. Então fechou os olhos e balançou a cabeça.– Desculpe... eu não poderia dizer isso.
— Qual é o problema?
Pergunto tocando seu braço. Sinto minha mão aquecer.
— Eu não quero ferir seus sentimentos, mas... eu não sei, eu amo Lois, ou pelo menos é o que digo a mim mesmo todos os dias – Disse, seu olhar perdido na água logo abaixo.– Então eu encontrei você. Foi algo tão imediato, achei que fosse só o sentimento de proteger você, de cuidar de você, já que você acabou de chegar, mas não é. Eu não sei o que é e acho que seria melhor não descobrir.
— Desculpe, nunca quis atrapalhar.
Murmurei.
— Não está atrapalhando, você não tem culpa – Ele se virou para mim, estava tão perto, eu fechei os olhos e suspirei baixo, o ar tremeu ao sair de mim. Clark tocou meu rosto e de alguma forma senti sua aproximação... depois se afastou. Abri os olhos e ele estava de pé.– Eu não posso e nem quero fazer isso com ela.
Eu também me levantei, então essa é a hora de tomar uma decisão difícil, outra grande decisão. Me volto na direção de Clark e solto de uma vez:
— Eu entendo, mas espero que entenda também as minhas razões para me afastar e não voltar mais para Metropólis.
Ele cruza os braços.
— Isso é algo totalmente diferente. Você precisa de orientação.
— Eu vou ter, mas não por você – Afirmo. Talvez eu esteja ferindo seus sentimentos, e isso de certa forma também me machuca, mas eu tenho que ser convincente.
— E quem vai ser?
— Acho que não o conhece e prefiro que continue assim.
— Quer me tirar totalmente da sua vida?
— Provavelmente é o melhor que devo fazer, deixá-lo em paz e com a sua vida, Clark.
— Já conversamos sobre isso antes. Você faz parte da minha vida agora.
— Não, agora é diferente – Digo.– Agora o problema é estar perto de você.
Ele ficou calado, eu perdi meu olhar nas rochas e respirei profundamente.
— Eu vou ser sempre grata pelo que fez por mim.
Clark balançou a cabeça.
— Eu não entendo – Diz.– O que aconteceu para que mudasse tão bruscamente?
Se eu voltar para Metropólis, Lex vai me reconhecer e então vai deduzir minha ligação com Clark, com certeza até que descubra todas as minhas mentiras e que ele é o Superman não vai demorar. Quero evitar que meu erro estúpido afete sua vida. Sem contar que também não aguento mais estar todos os dias presa na mesma rotina, vendo-o com Lois e me sentindo uma intrusa. Eu não quero ser uma intrusa.
Não digo nada disso a ele, pelo contrário, eu desvio meu olhar para o céu e então olho para o dispositivo preso em meu pescoço.
— Sou uma Zod e você um El – Começo.– Você matou meu tio e eu... pensei que pudesse conviver com isso, mas não consigo. Eu não tenho ninguém e ele poderia ser a família que nunca tive, agora não tenho nada.
— Esta falando sério? – Perguntou chocado.– Hel, eu tive que fazer aquilo. Eu me odiei por isso, mas tive que fazer.
E eu estou me odiando agora. Seu olhar de culpa é tão avassalador que não consigo sustentar por muito tempo, por isso volto a olhar para baixo:
— E eu tentei levar numa boa, mas não consegui e você não pode me culpar por isso. Eu queria, Clark, queria esquecer, mas não consigo, porquê agora você tem uma família e eu não tenho ninguém.
— Você tem a mim – Disse em voz baixa.
— Lois tem você, eu tenho o que sobra – Sou dura.– E eu não vou mais me contentar com isso, por isso vou embora.
— Certo – Concordou.– Então nunca mais quer me ver?
— Pelo menos por enquanto, eu acho que você deveria se afastar de mim.
— Como quiser!
Não estava furioso, apenas... decepcionado? Ou triste? Não acho que consiga dizer.
Em seguida Clark deu um impulso tão forte que rachou a pedra. Ele se tornou um ponto tão pequeno no céu que logo desapareceu. Talvez eu não devesse ter dito isso a ele, mas que outra forma eu teria para romper o laço sem muitas explicações?
Eu errei quando procurei Lex, devo arcar sozinha com meu erro e não envolver Clark na história. Ele gosta da vida que leva, gosta de Lois e do emprego que tem. Eu não me perdoaria nunca por colocar tudo o que ele tem em risco ficando perto dele... por mais que eu queira ficar.
Peguei o cartão no bolso e o telefone, o número estava impresso em tinta preta. Disquei rapidamente e aproximei o aparelho do ouvido. Alguns segundos depois uma voz grave e profunda atendeu.
— Bruce – Digo em tom baixo.– Sou eu...
— Helena – Diz.– Que bom que me ligou.
— Podemos conversar? – Pergunto.
— Claro. O hotel que estou em Metropólis...
— Não – Eu o interrompi.– Não estou mais em Metropólis e não pretendo voltar.
— Tudo bem – Ouvi seu suspiro.– Estou voltando hoje para Gotham, pode me encontrar lá.
— Ótimo – Paro por alguns instantes.– Onde fica Gotham?
Ouvi sua risada rouca, em seguida me explicou como chegar. Eu não conhecia nada por ali então ouvi com atenção. Depois de desligar, encaro o infinito de água mais uma vez, péssima idéia já que a única coisa refletia alí são os olhos de Clark.
Quando parece entardecer e logo estará escuro, dou um forte impulso com os pés e me ponho a voar em direção a Gotham city.
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