7. Ação!
Dias mais tarde...
Estou correndo, em um ritmo irritantemente lento, desde que acordei pela manhã e cheguei aqui. Esse lugar me parece cada vez mais sufocante, assim como as regras impostas por Clark; Não ande muito rápido, não demonstre muita força, nunca olhe ninguém nos olhos e nunca, nunca tire os óculos; e as roupas que tenho de usar... eu me sinto em um tipo diferente de prisão.
Eu sei que ele não faz por mal. Sei que quer o meu bem... mas estou vivendo a vida dele e não a minha.
É isso que acabo falando a ele.
— O que?
Ele questiona. Era horário de almoço, eu o chamei para ir comigo a cafeteria e tentava explicar como me sentia com tudo aquilo.
— Você me transformou em você próprio, Clark – Digo.– Olhe minhas roupas, olhe minha postura, meu comportamento, até o meu jeito de falar. Essa não sou eu.
Ele suspirou.
— Você tem razão – Ele relaxou o corpo na cadeira.– Droga... droga...
— Ei, esta tudo bem. Tenho certeza de que não foi por mal.
— Desculpe – Ele tirou os óculos e aproximou o rosto do meu.– Eu estava tão preocupado em manter você segura e longe do radar que nem mesmo passou pela minha cabeça que estivesse te colocando em um molde.
— Fez isso querendo o meu melhor – Falo, não estava incomodada com sua aproximação, pelo contrário.– Eu entendo.
Mordi meu lábio inferior. Venho pensando muito em Lex Luthor nos últimos dias, quero tentar falar com ele. Quero que seja uma surpresa para Clark e que ele só saiba quando eu estiver trabalhando naquilo que realmente sou boa. Eu me inclino na mesa, na direção dele.
— Eu tenho uma idéia e vou colocar em prática – Começo.– Prometo que quando estiver tudo acertado você será informado.
— Então é um segredo?
— Exatamente!
— Não sabia que guardava segredos agora.
Eu ri.
— Quero fazer uma surpresa, te deixar orgulhoso.
A mão de Clark parou em minha bochecha. Ele deslizou as costas de sua mão por minha pele e sorriu distraído com alguns coisa em meu rosto.
— Eu já sou orgulhoso de você, Hel, tem se saído tão bem.
Não desviei meu olhar do dele, por mais que sentisse meu rosto aquecer.
— Até quando faço algo que não gosta e surge aquela ruguinha bem aqui? – Toquei o espaço entre suas sobrancelhas onde sempre ficava marcado quando ele enrrugava as sobrancelhas de aborrecimento. Ele riu.
— Até quando faz algo que não gosto – Confirmou. Seu rosto estava cada vez mais perto, até que ouvimos um grito, depois outro e então outro. Aparentemente só nós dois ouvimos. Clark me olhou sério: – Fique aqui.
Concordei com a cabeça e o assisti levantar, deixar o dinheiro para pagar os cafés e então sair. Poucos segundos depois a TV da cafeteria mostrava um incêndio, quatro quadras de onde estavamos, um possível desabamento.
Eu arregalei os olhos enquanto assistia a reportagem. Eu não posso ficar aqui, sentada, só olhando. São tantas pessoas lá que talvez Clark não possa salvar todas.
Eu me levantei apressada e sai da cafeteria. Corri em direção ao prédio em chamas, corri do meu jeito, e cheguei em questão de segundos. Não havia mais fogo, Clark o havia apagado com seu sopro congelante.
O Superman já havia salvado metade das pessoas, mas ainda tinham outras lá e não importava o quão rápido nós dois juntos pudéssemos ser, não iríamos tirar todas as pessoas de lá antes que toda a estrutura cedesse. É por isso que tive uma ideia.
Tirei os óculos e o suéter que estavam começando a me incomodar e entrei no prédio. Desci todos os andares até o piso subterrâneo onde ficava um estacionamento. As vigas de sustentação estavam todas desabando.
Usei minha visão de calor no concreto, conseguia fundi-los novamente e evitar que se quebrassem. Voei até o teto e segurei a estrutura com minha próprias mãos enquanto continuava corrigindo as grandes rachaduras com minha visão de calor.
— Clark... rápido!
Resmuguei, e eu sei que ele me ouviu; segundos depois estavamos cara a cara.
— Tirou todos? – Pergunto.
— Tirei – confirmou.– Agora vamos sair daqui.
Concordei com a cabeça e soltei o teto que imediatamente cedeu. Voamos velozmente para escapar do soterramento.
Do lado de fora, eu o olho empolgada, feliz com o êxito de minha idéia.
— Vá para casa, conversamos lá – É tudo o que Clark fala antes de me dar as costas. Ótimo, eu evito que um prédio caía encima de 15 pessoas e o que eu ganho em troca? Uma bronca!
Solto o ar irritada e comecei a caminhar de volta em direção ao prédio do apartamento dele, totalmente de má vontade. Ele não pode simplesmente ver que nós dois somos melhores juntos?
— Ei! Precisa de ajuda? Está machucada?
Eu me volto para o homem que acaba de sair de um carro. Não entendo sua pergunta, até perceber meu estado ao me ver através dos vidros escuros do veículo. Eu estava coberta de fuligem e poeira, quase irreconhecível.
— Eu estou bem, obrigada – Afirmo. Ele insiste:
— Você estava no prédio do incêndio – Disse.– Venha comigo.
Era um homem alto, olhos castanhos e cabelos escuros. Ele me levaria para ser examinada, mas isso não poderia acontecer ou descobririam quem sou.
— Eu estou bem, de verdade – Afirmo, recuando um passo. Ele interpretou minha ação como se estivesse como medo e seu olhar suavizou. Ele estendeu a mão para mim.
— Não vou fazer nada que não queira – Falou.– Sou Bruce Wayne, como é o seu nome?
Eu aperto sua mão.
— Hel... Helena – Respondo, imediatamente me corrigindo.
— Só Helena?
Concordo com a cabeça.
— Eu preciso ir agora – Digo, recolhendo minha mão.
— Esta bem.
Abraço meu próprio corpo e volto a caminhar, um pouco mais rápido dessa vez.
Clark não demorou a chegar. Eu já estava limpa e sentada no sofá esperando por ele. Assim que entrou eu me levantei:
— Sei o que vai dizer. Que sou irresponsável, inconsequente talvez, mas escuta...
— Obrigado – Disse apenas. Eu me calei e o encarei confusa. Depois de alguns segundos de atordoamento eu volto a falar:
— Como é?
— Eu só consegui resgatar todos que estavam no prédio graças a você que segurou a estrutura antes que tudo desabasse. Então... obrigado.
Eu sorri, meio sem graça.
— Não precisa agradecer – Suspiro aliviada.– Eu fiz o que deveria fazer.
— Foi muito inteligente.
Eu corei com o elogio.
— Obrigada.
Ele pareceu se recordar de algo, tirou meus óculos do bolso e estendeu para mim.
— Você esqueceu eles lá.
Apanhei os óculos e coloquei em meu rosto.
— Odiaria perde-los.
Falei, olhando de volta para ele através das lentes grossas.
— Sabe... não precisa usar se não quiser. Não quero te forçar a ser igual a mim.
— Eu quero – Afirmo.– Gosto deles e de certa forma... gosto de me parecer um pouco com você.
— Só um pouco?
Ele tombou a cabeça para o lado me fazendo rir.
— Só um pouquinho.
Confirmei. Estava um clima agradável, e então a porta se abriu e Lois entrou. Eu desviei o olhar de Clark e baixei a cabeça, ajeitando os óculos no rosto. Percebi depois que Clark havia feito exatamente o mesmo movimento que eu. Acho que realmente estou ficando igual a ele em alguns aspectos.
— Fiquei sabendo do que aconteceu no centro – Ela passou por mim e foi direto até Clark, abraçou e o beijou.– Bom trabalho!
—
Foi um trabalho em equipe – Ele olhou para mim. Lois ficou surpresa.
— Sério?
— Hel evitou que o prédio desabasse enquanto segurava as estruturas no estacionamento – Ele contou.
— Uau – Disse, mas não estava assim tão eufórica.– Parabéns.
Aceitei suas parabenizações com um aceno de cabeça.
Caminhei até a porta.
— Bem, eu tenho algo para resolver ainda hoje – Digo.– Até mais tarde.
Saio sem esperar nenhuma resposta e do lado de fora ouço o suspiro de Clark.
O caminho até o prédio da LexCorp não foi nada complicado, não é difícil encontrar um prédio imenso no meio na cidade. Estava atravessando a rua nessa direção quando senti um impacto forte contra meu corpo. Se eu estivesse preparada para recebê-lo, provavelmente não teria nem mesmo saído do lugar, mas da maneira tão distraída que estava, acabei rolando pelo chão.
O carro, que parecia ser de um material muito forte, provavelmente blindado, estava com um grande amassado no local em que havia batido em mim. Saindo pela porta de trás estava o mesmo homem que quis me ajudar mais cedo. Bruce Wayne.
— Não se mexa! – Mandou, então olhou para outro homem que estava no banco da frente, provavelmente o condutor do veículo e continuou: – Chame uma ambulância.
— Não! – Exclamei ficando de pé. Eu não havia sofrido nem mesmo um arranhão. Estava totalmente bem e não havia nenhuma razão para chamar o que quer que fosse uma "ambulância".– Eu estou bem.
Ele me encarou, parecia totalmente desacreditado.
— Você foi arremessada...– Disse e então apontou para o amassado no carro.– E aquilo alí... não deveria nem estar viva.
— Eu sou uma garota de sorte.
Ele franziu as sobrancelhas.
— Eu conheço você – Disse.– É a garota que estava fugindo do incêndio hoje.
— Eu não estava fugindo!
Toquei meu rosto, sentindo que faltava algo, eram os óculos. Estavam a alguns metros dali e eu fui buscá-los. Por ser feito de um material resistente, não havia quebrado com o impacto.
— Como explica o que aconteceu aqui? Você não quebrou um único osso!
Eu engoli em seco, não sabia como explicar e também não podia.
— Bruce Wayne! – Nos viramos em direção ao homem que chamou e que vinha em nossa direção com os braços abertos.– Achei que não viria mais... o que houve aqui? Parece que bateu em um poste.
— Lex Luthor – Ele cumprimentou o outro homem que até o momento não havia me notado.– Foi só um... acidente, nada demais.
Ele me lançou um rápido olhar, do tipo "me resolvo com você depois, não quero envolver mais ninguém", e se voltou novamente para o homem. Esse olhar não passou despercebido por Lex que logo tratou de voltar sua atenção para mim.
— E quem é a senhorita?
Ele estendeu sua mão para mim e eu a apertei, mas ao contrário do que imaginei que faria ele não a soltou. Lex permanece segurando minha mão e acariciando o dorso da mesma com seu polegar.
— Helena – Respondi.– Só... Helena.
— Helena...– Ele repetiu, sorrindo de uma maneira que me arrepiou a espinha.– Como Helena de Tróia, a mulher mais bela que já existiu, capaz de despertar a fúria de Afrodite e ser o motivo de uma guerra entre os maiores homens de seu tempo.
— Eu não conheço essa história.
Digo em tom baixo. Ele, ainda sorrindo deliciosamente, solta minha mão.
— Vai ser um prazer lhe contar.
Eu estava hipnotizada pela forma como ele falava, então apenas concordei com a cabeça.
— Eu estava ansiosa para conhece-lo... inclusive, vim até aqui para falar com você.
Digo, não me lembrando exatamente do motivo.
Bruce me trouxe de volta a realidade, ele pigarreou e Lex voltou sua atenção novamente a ele.
— Vamos, vamos, temos assuntos para resolver.
Disse enquanto voltava para seu prédio. Eu o segui.
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