32. Tempestade de Verão
O tempo pareceu dar uma virada assim que deixei o celeiro. Enquanto Coast City brilhava em uma tarde ensolarada pós batalha, a pequena cidade no Kansas onde a fazenda Kent residia está embaixo de um dos maiores temporais que já vi desde minha chegada a Terra.
Clark me contou sobre esse tipo de tempestade. Tempestades de verão. Elas costumam acabar tão rápido quanto começam, são devastadoras em sua maioria. Mas a melhor parte, pelo menos segundo ele, é que um arco-íris sempre aparece depois.
– Clark!
Gritei caminhando em sua direção. Ele estava se afastando da casa. Depois que o silêncio tomou conta, quando ele ouviu mencionar o nome de Bruce daquela forma, ele pediu licença para a mãe e simplesmente deixou a casa. Eu o encontro já próximo da estrada.
— Clark, por favor me escuta.
Peço.
— Escutar o que, Hel? – Ele parou e se virou para mim. Eu conseguia ouvi-lo acima do ruído furioso da chuva, e seu tom de voz era magoado, ferido.– Que você o ama? Eu já ouvi muito claramente.
— O que diabos você está pensando? Que ele está acima de você?
Perguntei.
Ele se aproximou de mim.
— Não, eu acho que ele está muito próximo. Eu acho que ele está a um passo de conseguir o que ele quer. Você.
— Não diga isso, Clark.
— Eu não sou burro, Hel, eu percebo os olhares – Ele passa as mãos pelos cabelos para tira-los do rosto. – A forma como ele olha para você, eu sei que ele te ama.
— Você...
— E eu também vejo como você olha pra ele – Clark continuou.– Você está cheia de dúvidas, eu sinto isso.
— Está bem! Eu estou com dúvidas. Era isso o que você queria ouvir? – Finalmente admiti isso em voz alta e poder dizer isso a ele tirou um enorme peso das minhas costas.– Eu estou em dúvida porquê nunca senti isso antes, droga, eu nunca senti nada antes, Clark! Eu cresci no meio do nada, eu não sou como você!
As palavras estavam fluindo de mim agora, nada poderia parar a torrente que saia da minha boca. Eu precisava dizer a ele tudo o que estava martelando na minha cabeça esses últimos tempos ou simplesmente não sei o que pode acontecer. Eu sei que ele vai me entender... pelo menos eu espero que ele entenda.
— Você se lembra de quando cheguei aqui? Se lembra de que você precisava me explicar cada pequena coisa? Clark, eu ainda sou aquela pessoa. Eu não aprendi a lidar com tudo de uma hora para a outra, eu estou confusa. Você precisou encarar esses sentimentos quando se viu entre mim e Lois, então por favor, eu preciso que me entenda agora.
As mãos dele que estavam fechadas em punho relaxaram, ele respirou fundo e os ombros caíram.
— Eu só não quero perder você – Ele disse, desviando o olhar.– Eu sinto muito por gritar, eu... eu perdi a cabeça.
A chuva estava diminuindo. Como ele me falou... elas acabam tão rápido quanto começam.
— Eu pensava que ficar com você era uma obrigação – Digo.– Como nossos pais disseram... fomos feitos um para o outro, mas não estamos em Krypton, Clark. E eu não quero que ficar com você seja uma obrigação.
— É isso que tem sido nas últimas semanas? Uma obrigação?
Eu neguei.
— No começo eu pensava que seria. Eu queria cumprir o propósito que minha mãe traçou para mim, eu sabia que você fazia parte dele. Eu queria deixa-la orgulhosa....– Falei. Me sinto envergonhada em dizer isso. Não que eu não gostasse de Clark, eu o amo tanto, mas eu não posso mentir. O que me impulsionou a de fato escolhe-lo de primeira foram essas razões. Foi o fato de que era ele que minha família escolheu para mim.– Clark você precisa entender que durante muito tempo eu não tinha esperança nenhuma. O que me trouxe até a Terra foi a vontade de cumprir o destino que minha mãe reservou para mim junto com a rota da cápsula.
Eu o estava magoando. Eu consigo ver em seus olhos. Eu quero me bater por fazer ele sofrer, mas ele me escutou no celeiro. Ele já sabe que Bruce também está no meu coração.
— Em algum momento...– Ele parou. Os óculos estavam em sua mão.– Em algum momento você ficou comigo por simplesmente me amar?
— É claro! – Afirmei dando um passo em sua direção.– Clark eu já o amava antes mesmo de saber o que era amor.
— Então qual é o problema?
— O tempo que eu passei com Bruce foi muito importante para mim. O lado dele que ele me permitiu conhecer... foi tão íntimo. Clark, como eu disse... eu sou nova nisso, não sabia e ainda não tenho certeza se sei o que é amor de verdade. O que eu sinto por ele pode não ser, mas é forte. É isso que eu sei. E eu sei que você entende que eu não quero machucar você. Eu quero ser sincera.
Ele desviou o olhar novamente e mordeu o lábio inferior. Eu estou me sentindo estranhamente leve com tudo isso. Essa conversa precisava acontecer.
— Você não me machucou – Ele disse por fim.– É claro que doeu muito ouvir tudo isso, mas... você está certa sobre tudo. Quando eu deixei Lois, eu não pensei que talvez você também tivesse coisas para resolver. Eu pensei que... você era nova na Terra, não tinha bagagem. Eu me enganei. Eu...
Ele se aproximou de mim e afastou meus cabelos molhados do meu rosto para poder acariciar minha bochecha. Então continuou:
— Quando vi aquela gravação do meu pai e da sua mãe, acho que também acabei achando que era uma obrigação nossa ficarmos juntos imediatamente. Só que tudo parecia tão certo naquele momento... aquilo que nossos pais disseram, e depois como nos encaixamos tão bem... eu só queria que aquilo nunca terminasse.
Eu me lembrei daquele dia, daquela sensação. Eu fechei meus olhos e o calor da mão dele de repente se transformou em tudo o que eu conseguia pensar.
— Você tem direito de escolha, Hel, eu não quero tirar isso de você.
A voz dele soou baixa e doce, até meio triste. Eu consigo sentir o medo dele, o medo de me perder. Eu já senti esse medo antes, o medo de perder alguém que amo tanto. Me lembrei da sensação de ver o esqueleto de Bruce Wayne usando o anel negro e me sentir horrorizada, paralisada, e depois me lembrei de quando impedi Bruce de cravar uma lança de Kriptonita no peito de Clark.
Eu lutei por ele. Eu entrei na frente da lança. Eu o segurei comigo, mesmo que aquilo significasse a minha morte também.
Eu ainda estava no mesmo lugar. Completamente encharcada, olhos fechados e a cabeça tombada em direção a mão dele.
— Nós precisamos entrar, ou minha mãe vem nos buscar.
Ele murmurou. Eu abri os olhos e encarei seu rosto. Clark estava dando o seu melhor, tentava sorrir, mas ele estava triste e eu via isso em seus olhos.
— Pode fazer algo por mim antes? – Pergunto.
Mesmo que eu não mereça já que acabei de te magoar.
É o que penso.
— Eu faria qualquer coisa por você, Helena.
— Podemos agir como... como antes? Quando cheguei na Terra e você me trouxe para cá, quando tudo era fácil e eu não me sentia horrível por ter quebrado seu coração?
Ele sorriu levemente e me puxou para um abraço, me pressionando levemente contra seu peito. Eu o abracei de volta.
— O meu coração é seu. Você pode fazer o que quiser com ele.
Eu fechei novamente meus olhos e me apertei mais a ele.
Martha quase enlouqueceu quando nos viu voltando para casa totalmente molhados. Ela insistia que deveríamos nos secar, ou poderíamos adoecer, mesmo que nossa saúde seja literalmente perfeita. Ela mandou que tomassemos banho e vestisse roupas quentes para o jantar. Clark colocou algumas dele que tinha em seu antigo quarto, enquanto eu usei uma calça de Martha e uma camisa enorme de Clark.
Eu desci as escadas até a sala onde estava a TV. Ela estava ligada no canal de notícias e imagens dos acontecimentos em Coast City passavam sem parar na tela. Vi um trovão branco e então algo que parecia um raio colidir contra um prédio, demorei alguns segundos para percebe que aquele raio era eu.
— O jantar está servido, querida.
Sra.Kent me chamou do corredor que levava a cozinha.
Eu a acompanhei. E por incrível que pareça as coisas realmente pareceram aquele primeiro dia.
Eu subi até o quarto onde Clark passou sua juventude e bati na porta levemente.
— Pode entrar.
Ele permitiu. Eu abri a porta devagar e entrei, fechando-a atrás de mim em seguida.
Clark estava deitado na cama que ficava no centro do quarto e encarava o teto. Na verdade ele observava as pequenas estrelas brilhantes presas alí.
— Posso me juntar a você?
Perguntei repentinamente tímida.
— Claro.
Eu caminhei até a cama e me deitei ao sei lado. A cama é pequena, ficamos bem juntos um ao lado do outro. Eu encarei o teto assim como ele.
— Eu estava me lembrando da minha primeira noite aqui...– Murmurei.– De como eu estava perdida e com medo de me perseguirem.
— Eu nunca permitiria que isso acontecesse.
Ele murmurou de volta. Eu sorri, ainda encarando o teto, e segurei sua mão com a minha.
— Eu sei, mas foi inevitável – Continuei.– Você me tranquilizou.
— Eu não tinha idéia de como você estava se sentindo, mas tudo o que eu queria era que se sentisse em casa.
Eu me virei para ele.
— Você conseguiu.
Sussurrei. Ele se virou para mim.
— Fico feliz que tenha conseguido pelo menos isso.
Encostei minha cabeça em seu peito, pronta para dormir. Clark beijou minha cabeça e abraçou meu corpo mais perto do dele.
Não acho que seja cedo demais para admitir. Talvez eu apenas precisasse de uma conversa franca com ele, de um momento assim, eu só precisava me relembrar dos motivos pelos quais me senti atraída por ele no começo.
Eu o amo como nunca vou conseguir amar outro.
— Ei, querida, você se lembra daquela feira da cidade?
Martha perguntou quando cheguei na cozinha na manhã seguinte.
— Eu não poderia esquecer.
Respondi.
— Bem, ela está de volta. Eu precisei ir na cidade hoje, o que acha de ir comigo?
— Clark também vai?
Pergunto ansiosa. Ele não estava na cama quando acordei. Senti falta do calor que seu corpo proporcionava junto ao meu.
— Ele já está na caminhonete. Estamos esperando por você.
Ela piscou para mim e saiu da cozinha pela porta dos fundos.
Certo, eu tenho que falar com Clark, dizer a ele minhas conclusões da noite passada. Imediatamente eu a sigo.
Estavamos andando entre as barracas exatamente como da última vez. É tudo tão parecido que me deixa com uma sensação esquisita.
— Você quer?
Ele perguntou e indicou com a cabeça um senhor que estava vendendo algodão-doce. Eu ri.
— Com certeza.
Clark foi até o homem e comprou o doce, quando ele voltou eu peguei um pedaço e coloquei na boca. Imediatamente ele derreteu em minha lingua.
— Você me mostrou tantas coisas incríveis – Falei pensativa.– Todas as minhas... primeiras vezes foram com você.
— Eu queria apresentar o mundo pra você.
— Obrigada por isso – Falei. Peguei mais um poucos e coloquei na boca. Eu me forcei a encará-lo.– Tenho algo a dizer.
— Não precisa fazer isso se não quiser.
Ele balançou a cabeça.
— Isso o que?
Pergunto confusa.
— Agradecer e se despedir – Respondeu.– Hel, eu vou entender as você quiser seguir outro caminho.
Eu balancei a cabeça.
— Eu não vou a lugar algum, Kal-El – Digo, pegando um pouco do doce e aproximando de sua boca.– Agora coma isso e me escute.
Ele abriu a boca e eu coloquei o algodão encima de sua lingua.
— Clark, eu não estava acostumada com tantos sentimentos, eu... perdi o controle deles, entende? Eles ficaram misturados, confusos, eu estava completamente perdida no meio deles – Comecei.– Eu não sabia diferencia-los. Mas agora, mesmo não tendo certeza de muita coisa, eu tenho certeza de pelo menos uma: Eu quero estar com você. Não porquê meus pais queriam, ou porquê os seus queriam, mas porquê eu te amo. Porquê você me acolheu nesse planeta e me fez me sentir em casa, você sempre foi tão doce e compreensivo. Você é o meu ponto seguro.
O rosto de Clark se iluminou com um sorriso e eu juro que ele ficou ainda mais bonito do que ele é. Ele aproximou-se de mim e encostou sua testa na minha.
— Deus.... eu queria tanto ouvir isso.
Murmurou. – Eu estava com tanto medo de você se afastar.
— Eu nunca conseguiria fazer isso.
Digo apoiando uma mão em sua nuca e o puxando para mim. Nossos lábios se encontraram.
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