2. Raio de Sol
Ele me disse que se chamava Kal-El, o último sobrevivente da casa de El, mas que aqui na Terra recebeu o nome de Clark. Kal-El não conhecia a Zona Fantasma, e tudo o que sabia a respeito de Fort Rozz fôra aquilo que seu pai deixou registrado em um dispositivo semelhante ao que recebi de minha mãe:
- Então você foi criada em uma prisão de segurança máxima? Com todos os maiores criminosos condenados de Krypton?
Seu tom era obscuro, provavelmente estava imaginando o tipo de monstro que eu teria me tornado.
- Sim - Confirmei.- Mas eles nunca souberam de minha presença até o momento em que fugi na cápsula. Eu sempre fui escondida muito bem pela carcereira que tomou conta de mim.
Lancei uma rápido olhar para o céu e me dei conta de que o sol do planeta estava baixando, logo estaria escuro, Kal olhou para o horizonte e depois de uma pausa onde pareceu pensar a respeito de algo muito importante, olhou para mim:
- Venha comigo... vamos conversar em outro lugar, você precisa descansar.
- Vamos voar novamente?
Pergunto empolgada. A sensação de extrema liberdade que tive ao voar foi maravilhosa. Diferente de tudo o que já senti a vida toda.
Ele sorriu suavemente para mim.
- Não, podemos ir caminhando, não é longe.
Kal agarrou a nave e saiu, arrastando-a consigo, eu o segui.
- Aonde vamos?
- Estamos no Kansas, e alí foi a casa onde fui criado pelos meus pais adotivos. Achei que aqui poderia ser o melhor lugar para trazê-la e também evitar uma confusão na cidade, fora que lá podemos conversar melhor.
Eu segui seu olhar e avistei uma casa.
- Por que está fazendo isso? Digo... me ajudando?
Kal continuou andando firme e olhando para frente enquanto me respondia:
- Além de seu tio e os companheiros dele que invadiram a Terra meses atrás e tentaram destruí-la, nunca encontrei ninguém que viesse do mesmo planeta que eu. Você passou por muita coisa, chegou aqui agora... está confusa. Eu me sinto na obrigação de ajudar você.
Continuei seguindo-o até chegarmos a casa. Logo uma mulher de aparência mais velha saiu e veio em nossa direção, ela pulou encima de Kal e eu recuei assustada, mas ele pareceu feliz.
- Oi, mãe!
- Querido - Ela segurou o rosto dele.- Achei que eu tivesse de esquecido de sua velha mãe.
- Eu nunca faria isso - Ele negou com a cabeça. Ele olhou para mim e depois novamente para ela.- Mãe, está é Hel-Zod, ela... veio de muito, muito longe e não tem onde ficar. Eu gostaria de saber se...
- Claro que pode ficar aqui - Ela concordou e veio em minha direção. Ela segurou minhas mãos e as apertou.- Os amigos de meu filho são sempre muito bem-vindos, eu sou Martha. Vamos entrar, o jantar está quase pronto...
Enquanto ela subia as pequenas escadas e voltava para dentro da casa, Kal me guiou também para o interior.
Atravessamos a casa até encontra-la novamente no que reconheci ser uma cozinha. É bem diferente do que via em Fort Rozz, as coisas são mais... rústicas, feitas com madeira, e menos tecnológicas ou automáticas.
- Eu estava com o pressentimento de que não jantaria sozinha está noite - Martha sorriu.- Filho, troque-se para o jantar, não quero que estrague sua roupa.
Kal riu e balançou a cabeça.
- Claro, mãe - Ele olhou para mim.- Eu não vou demorar.
Assenti com a cabeça e o observei sumir em um corredor mais adiante. Ouvi uma voz meio estática, me esqueci da mãe de Kal e segui o som até um outro cômodo onde havia uma caixa iluminada. O som vinha dela, havia tambem uma mulher que parecia estar presa lá dentro. A caixa parecia uma versão antiquada de vários painéis existentes em Fort Rozz. Prestei atenção no que a mulher dizia:
"Caiu no centro de Metrópolis, destruindo boa parte do asfalto de avenida principal e causando imenso engarrafamento. O objeto voador não identificado adentrou a atmosfera nesta tarde e não temos qualquer informação da origem dele."
Apertei os olhos e continuei olhando para a tela quando a mulher sumiu. De repente outra imagem apareceu. Um homem de capa vermelha que reconheci sendo Kal estava parado em frente a outro alguém... acabei reconhecendo a mim mesma. A voz da mulher retornou:
"Recebemos essa filmagem amadora de um civil que passava próximo ao local do acidente. Aparentemente o Superman conseguiu estabelecer contato com a recém-chegada ao planeta. Seria ela outra refugiada alienígena que busca um lar ou a primeira de uma grande invasão a Terra? Isso vem dividindo opiniões..."
- Não de atenção ao que eles dizem na Tv, são muito sensacionalistas, estão sempre atrás de audiência então acabam aumentando onde não tem necessidade.
Olhei para Kal parado na entrada do cômodo. Estava com outras vestes, totalmente diferente do traje Kryptoniano, isso me causou estranhamento.
- Vão vir atrás de mim.
Digo.
- Provavelmente, até terem certeza de que não é uma ameaça - Ele cruzou os braços e me olhou preocupado.- Lembra-se do que comentei a respeito de seu tio?
- Lembro sim.
- Zod invadiu a Terra, ele queria um tipo de Codex, onde poderia gerar e multiplicar DNA Kryptoniano, dessa forma poderia reconstruir Krypton - Explicou.- A intenção era destruir a Terra e construir a nova sociedade Kryptoniana encima dos destroços. Muitas pessoas morreram durante a luta quando eu tentei impedi-lo, Metrópolis sofreu um grande prejuízo.
- Está insinuando que...
- Que eles estão apavorados. Os humanos... eles tem certa dificuldade em aceitar o novo e o diferente. Zod deixou marcas profundas, os fez ver que existe vida lá fora e que podem não ser amigáveis. Eles acham que todo alienígena que vem de fora é perigoso e hostil, por isso eu quero que você fique aqui até que eu possa acalmar os ânimos e fazê-los entender que você não é uma ameaça.
Abracei meu corpo com os braços e baixei o olhar.
- Eu entendo... Kal, estou acostumada a me esconder para evitar ser hostilizada.
- Como assim?
- Em Fort Rozz se descobrissem que eu era uma Zod... principalmente filha de Anan, eu seria morta. Passamos anos consertando a cápsula com o que tinhamos disponível, e então pude escapar de lá.
- Eu sinto muito - Disse. - Sinto muito mesmo.
Fiquei em silêncio. A mãe de Kal nos chamou, alegando que a comida estava pronta. Ele pousou sua mão em meu ombro e juntos seguimos de volta para a cozinha.
Nos sentamos em uma mesa não muito grande. Eu nunca havia tido uma refeição como essa antes, ou com uma comida igual a essa. Por mais que meu paladar não estivesse acostumado, logo tratou de se acostumar, pois era tudo delicioso. A mãe de Kal gostava de falar, e de rir também. Ela contou como encontrou Clark, é assim que ela o chama sempre, e contou sobre tudo o que ele fazia quando pequeno.
Foi uma noite agradável, diferente de tudo o que eu havia vivenciado até aqui, e eu gostei. Eu ria, mesmo sem entender, quando ela dizia algo que deixava o filho constrangido e o rosto dele se tingia de um vermelho escuro.
A sra.Kent já havia ido se deitar, mas eu não tenho sono algum. Estou do lado de fora da casa, fitando as estrelas. O céu daqui é diferente do que sempre apreciei.
- Pensativa?
Kal perguntou, sentando-se ao meu lado.
- Não, só... só olhando as estrelas, tentando não me assustar com todas as mudanças.
- Eu também gosto de observar as estrelas.
- Elas parecem ser tão pequenas daqui, não acha? - Perguntei, abraçando meus joelhos.- Lá encima elas são enormes.
- É... as coisas na Terra nem sempre são perfeitas, mas eu garanto que é o melhor lugar que você poderia ter pousado - Disse.- É um dos poucos lugares que você vai poder chamar de lar.
Concordei com a cabeça, lançando um breve olhar para ele.
- Kal...
- Olhe... eu prefiro que me chame de Clark.
Eu franzi as sobrancelhas.
- Mas este é o seu nome.
- Eu sei - Afirmou.- Mas, Kal-El foi o nome dado para alguém que cresceria e viveria uma vida totalmente diferente em um planeta diferente. Ele é alguém que não chegou a existir. Clark Kent é quem eu realmente sou.
- Eu entendo - Afirmei.- Clark.
Ele sorriu.
- O que queria me dizer?
- Gostaria de lhe perguntar... não vai ficar aqui, não é?
- Não - Ele negou, suspirando baixo.- Desculpe, Hel, mas tenho uma vida na cidade. Eu tenho emprego, tenho uma namorada... não posso ficar aqui com você.
- Namorada?
Perguntei.
- É. O nome dela é Lois.
Isso não me esclareceu muita coisa.
- O que é uma "namorada"?
Ele abriu a boca e fechou novamente, depois ele conseguiu formular algo:
- É como uma companheira. Alguém que você gosta muito.
Eu concordei com a cabeça.
- Como os pares em Krypton? Um macho e uma fêmea?
- Bem... mais ou menos isso.
Concordei novamente.
- Entendi - Suspirei. fiquei mais um tempo em silêncio e então me voltei repentinamente para Clark.- Eu quero um nome. Um nome diferente, assim como você. Estou neste planeta e é uma nova vida. Quero um novo nome também.
- É sério?
Eu confirmei com a cabeça.
- Então... o que acha de...- Ele pensou um pouco.- Helena.
- O que ele significa?
- Vem do grego. Significa "Raio de Sol", acho que combina bem com você. E pode continuar mantendo "Hel" como apelido.
- Gostei - Sorri.- obrigada.
Ele sorriu de volta e eu voltei a olhar o céu.
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