Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

[ 𝟬𝟬𝟭 ] 𝗔 𝗠𝗨𝗥𝗗𝗘𝗥𝗘𝗥 𝗔𝗡𝗗 𝗧𝗥𝗔𝗜𝗧𝗢𝗥

༺☆༻
⌗ 👻. 𝙄𝙉𝙉𝙀𝙍 𝙍𝙀𝘽𝙀𝙇
❪ 𝒑𝒂𝒓𝒕 𝒐𝒏𝒆 ━ 𝒉𝒖𝒏𝒈𝒆𝒓 𝒈𝒂𝒎𝒆𝒔 𝄒
chapter one ㅤㅤ uma assassina e traidora

▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬

ㅤㅤㅤㅤㅤ

ㅤㅤㅤ

Riley estava sentada no sofá, dedos entre os dentes e lágrimas nos olhos enquanto observava a transmissão ao vivo dos Jogos. Ela havia completado nove anos há poucos meses e, pela primeira vez, tinha a chance de assistir aos jogos vorazes; sua mãe sempre dizia que não havia necessidade dos irmãos Kendrick verem algo tão brutal, então, para ela, aquilo tudo era muito novo.

E muito significativo.

Jonathan Kendrick estava na arena e Chrysan Kendrick tinha grandes esperanças de que seu filho mais velho ganharia aquela edição - já haviam se passado dezoito dias e restavam na arena apenas ele, o tributo masculino do dois e o feminino do dez; as chances caíam pesadas para Jonh, principalmente com a garota machucada, mas, pelo jeito que as coisas estavam indo, era difícil de saber qual seria o resultado final. Sylvie Laurie deveria ter morrido durante o ataque do bestante mas ela ainda estava ali, viva - ainda que extremamente debilitada - e contando com a ajuda de Jonathan. Chrys passava horas sentadas em frente ao teletransmissor, na espera de que o filho a matasse - era um passo mais próximo da vitória e de enfim retornar para casa, mas Riley sempre via a mãe se decepcionar com as oportunidades perdidas. Ela não comia, não bebia, a mulher mal se mexia, com medo de desviar o olhar e descobrir o pior.

Então ela ficava ali. Esperando. Era desesperador quando Caesar Flickerman interrompia as transmissões para discursar as baboseiras rotineiras, mas Riley gostava; significava que sua mãe poderia dar uma pausa na vigília para cuidar de si mesma... ou deixar que Riley cuidasse dela. Ela a banhava, ajudava a se vestir, comer, todas as necessidades básicas que um ser humano precisava para sobreviver. Tudo isso ao mesmo tempo em que se preparava para lidar com uma perda que sabia estar por vir; Jonathan não ganharia aquele jogo, não contra Agnar Martell, que com certeza buscaria vingança pela morte de sua parceira de Distrito, morta pelas mãos de Sylvie há uma semana.

Era engraçado para Riley como alguém poderia querer vingança em um cenário como aquele; claro, ambos gostariam de ficar vivos até o fim, mas... não significava que estaria mais perto da vitória? Chegaria a hora em que ambos iriam se enfrentar, então, com ela morta por outra pessoa, aquele processo não deveria ser mais fácil? Ela simplesmente não conseguia entender.

━ Eles eram amigos, Riley. ━ sua mãe respondeu, quando a garota de cabelos negros sussurrou alto demais e tirou a mais velha de seus devaneios. ━ Imagine você e Katniss, por exemplo. Você iria hesitar para matar ela, mesmo que só restassem vocês duas. E, se soubesse da morte dela, iria reagir da mesma forma.

━ Mas é diferente.

A loira riu da ingenuidade dela.

━ Não é não.

━ É sim. Nós não vamos ser colhidas. ━ falou, tamanha confiança que, por um instante, Chrysan acreditou; a mais velha engoliu em seco, sem desviar seu olhar do teletransmissor.

━ Vocês ainda tem três anos.

Não era para Riley se intimidar, mas, diante das circunstâncias atuais, como poderia não se amedrontar com a possibilidade de, um dia, estar naquela arena? Sempre soube que os Jogos não eram um mar de rosas - principalmente vendo o homem responsável por mentorear os tributos de seu distrito, que parecia beber cada vez mais com o passar dos anos -, e, vendo com os próprios olhos a crueldade que os Jogos Vorazes eram, estava errada em querer ter esperanças? Estava errada em sonhar com a possibilidade de ser uma das adolescentes sortudas o suficiente para passar seis anos consecutivos sem ter seu nome colhido?

A Kendrick mais nova ficou calada; não faria sentido algum rebater a mais velha, por mais que quisesse lhe dizer o quão errada estava, que ela e Katniss iriam permanecer ali até completarem seus dezoito anos e ficaria tudo bem. A criança acreditava fielmente nisso, assim como sua mãe acreditava fielmente que o filho mais velho retornaria para casa vivo.

Ambas estavam completamente erradas.

Naquela noite, Sylvie assassinou Jonathan Kendrick; no dia seguinte, mataria o rapaz do Distrito Dois e venceria o sexagésimo sexto Jogos Vorazes e retornaria para seu Distrito, para sua família, viva; existia a possibilidade de perder a perna, mas ainda estava viva e era o que importava ali. Riley esperava aquele resultado; o pai de Sylvie era um campeão, vencer estava no sangue dela.

Mas o que seu irmão tinha? O pai dos dois havia morrido anos atrás em algum tipo de acidente que sua mãe nunca quis explicar muito bem - a partida dele ainda a magoava, mas Riley era incapaz de dizer se o motivo era raiva ou tristeza -; a própria Riley mal conseguia lembrar da face do homem, a única coisa que a fazia ter certeza de que tudo não havia sido coisa de sua cabeça era o broche que ele havia deixado em suas mãos antes de sair da residência pela última vez.

Já sua mãe era costureira, nunca havia lidado com uma situação de vida ou morte.

Os Kendrick não tinham sangue de campeões ou de lutadores.

Os Kendrick eram... nada.

Chrysan passou meses de cama, incapaz de lidar com o fato de que seu filho estava morto; meses esses em que Riley precisou tomar a frente e trabalhar no lugar da mãe, para garantir que a comida fosse posta à mesa. Riley não era a melhor costureira do Distrito, mas o pouco que aprendeu com a mãe era o suficiente para agradar os moradores e Pacificadores que vinham em busca do serviço.

Aquela havia sido a rotina delas pelos meses que se sucederam: Riley tomando conta da casa e Chrysan de luto por Jonathan.

Quando a turnê de Sylvie Laurier foi anunciada, Riley, agora com dez anos, temia a reação da mãe; a entrevista após sua vitória foi cancelada com a desculpa de deixar ela descansar após ferimentos tão graves, mas todo mundo sabia que era para evitar tocar no nome de Titus e os acontecimentos ao redor dele - as pessoas conseguiam lidar com assassinatos brutais televisionados, mas seu limite parecia ser a imoralidade cometida nos corpos após a morte.

Ela entendia; se assistir aquilo havia sido doentio, imagina estar lá dentro, vendo tudo isso acontecer mas sem poder impedir?

Entretanto, ainda com o cancelamento da entrevista, a turnê pelos Distritos continuava de pé. Sabia que não tinha como fugir daquele evento, teriam problemas caso decidissem faltar - eram da família de um dos tributos mortos, era essencial a presença delas naquele dia. Então apenas se acalmou e deixou-se lidar com aquilo quando o momento chegasse.

ㅤㅤㅤㅤ

༺☆༻

ㅤㅤㅤㅤ

Riley subiu as escadas de metal atrás da mãe, suas mãos segurando o corrimão com uma força desnecessária, se posicionando no centro da plataforma; mesmo que fosse uma altura consideravelmente baixa, a garota temia escorregar e cair. O resto da plateia começa a chegar e se posicionar na área, mas sua atenção estava focada no chão de terra logo abaixo dela.

Pensava na vergonha que passaria com ela caída lá embaixo, algum osso para fora e uma poça de sangue ao seu redor. A risada das crianças, a risada de Sylvie... seria um momento icônico a Laurier fazer graça da garota cujo irmão morreu por suas mãos.

Uma queda daquela não lhe mataria, mas a falta de cuidados médicos eventualmente faria o trabalho. Não iriam se preocupar em cuidar de alguém em uma situação daquela; não era uma pessoa de relevância, porque iriam se incomodar? Se não perdesse um membro, acabaria em um caixão.

Pensava se sua mãe iria se importar. Se iria chorar por ela da mesma forma que chorou por Jonathan.

Pensava se ela iria sequer notar.

━ Psiu.

Ela piscou algumas vezes, notando que o local estava cheio; se todos os moradores já não estivessem por ali, estava quase perto, o que significava que a apresentação estava prestes a começar. A loira olhou ao redor, seus olhos travando na imagem de Jonathan no telão posicionado logo atrás delas. Ele parecia diferente ali; mais limpo, saudável. Nem parecia o rapaz anoréxico que saiu do Distrito Doze meses atrás.

A simples imagem do irmão foi o suficiente para lhe deixar emocionada.

Virou-se para a mãe. A mais velha provavelmente estava ciente da imagem, visto que já chorava compulsivamente; ela parecia tentar se controlar, com um lenço cobrindo o rosto, mas a Kendrick mais nova conseguia ouvi-la claramente e seus ombros tremendo lhe entregava. Ela tocou o braço alheio, tentando reconforta-la de alguma forma, mas sua mãe não parecia querer tal acolhimento, puxando o braço de volta.

Psiu!

Riley piscou forte, expulsando as lágrimas dos olhos, antes de abaixar o olhar, tentando descobrir quem poderia ser o responsável por aquele chamado irritante, quando bateu seus olhos em Katniss. A morena acenou, seu olhar fazendo uma simples pergunta que Riley vinha escutando desde a morte de seu irmão.

"Você 'tá bem?"

Até aquele momento, a loira foi incapaz de responder aquilo de forma sincera. Nunca uma resposta direta, nunca um 'sim' ou 'não'. Ela apenas dava de ombros e apertava seus lábios em um sorriso fraco; parecia ser o suficiente para que não lhe importunassem mais e era isso que importava para ela - que as pessoas seguissem em frente, assim, ela também poderia. Mas naquele dia, Riley estava com raiva. De sua mãe por negligenciá-la; raiva de Sylvie, por ter o sangue de seu irmão nas mãos, de Haymitch por não ter tentado - após o retorno do mentor, a Kendrick o viu poucas vezes e, em todas elas, o homem se recusava a cruzar caminho com ela.

E, falando nele, o homem não parecia estar ali naquela manhã. Riley pensou se ele estava em casa; ser um campeão o faz ter certos privilégios, ela só não sabia que incluía evitar ver aquele show de horrores que era a maldita turnê.

Riley fitou Katniss por alguns segundos antes de sacudir a cabeça para os lados. A Everdeen apertou seus lábios em um sorriso simpático antes de ter seus cabelos acariciados pelo pai. Só então a loira notou a presença da família da amiga ali; o senhor Everdeen, sua esposa e a irmã mais nova de Katniss, Primrose, que estava com quase cinco anos. O homem fitou Riley, acenando em sua direção com um sorriso acolhedor; ele sentia pena por aquilo acontecer logo com a melhor - talvez a única - amiga da filha. Ela acenou de volta, dando o seu melhor para parecer simpática diante de tantos sentimentos conflituosos em sua cabeça.

O sr. Everdeen era um bom homem, educado, trabalhador. Riley gostava dele; ele a fazia pensar no próprio pai e ela gostava de pensar que seu pai era como ele, preocupado com a família e o bem-estar, preocupado em criar suas filhas da melhor maneira possível em uma situação tão complicada. Ela sentia inveja de Katniss por ter tudo aquilo - nunca iria confessar, mas sentia. A garota era sortuda e sabia disso.

Katniss não era a criança mais simpática e educada da Costura - ou do Distrito - e, até aquele dia, Riley não fazia ideia de como as duas se aproximaram poucos meses estudando juntas. Não é que elas se detestavam ou fossem o completo oposto da outra, mas era estranho já que Katniss não era do tipo sociável, então, quando começaram a notar a aproximação da Everdeen e da Kendrick, foi difícil de esconder o choque; para o pai da morena, era bom ver sua filha ter alguém com quem contar. Ele tinha consciência dos problemas que Chrysan passava, como mãe solteira - e, agora, com um dos filhos mortos, era importante para a jovem Kendrick ter algum suporte.

Não seria surpresa Katniss se fechar - ainda mais - após a morte dele, em alguns anos.

Riley ainda acenou para Prim, que com toda sua ingenuidade, acenou de volta animada.

Pacificadores se aproximaram do palco e, logo em seguida, foi possível ver o atual prefeito - um homem cujo nome Riley nunca conseguia lembrar - subir o palco e parar em frente ao microfone posto ali.

Estava começando.

Ela sentiu uma mão puxar a sua e fitou a mãe; suas bochechas estavam molhadas, seu nariz escorria e seu rosto estava avermelhado, assim como seus olhos. Chrysan não se virou na direção de Riley nem uma vez, seus olhos focados no palco à frente e no que o prefeito dizia. A mais nova não prestou muita atenção - ela não se importava, apenas queria que aquilo acabasse de uma vez para que pudesse finalmente ir embora -, mas foi só uma voz feminina ecoar nas caixas de som espalhadas pela área que ela ergueu o olhar para lá.

Sylvie Laurier, em carne e osso.

Ela estava usando uma saia azul longa, cobrindo toda sua perna - possivelmente por conta do machucado adquirido na arena - e uma camisa branca com detalhes nas cores dourado, azul e laranja, botões azulados e manga longa, com desenhos de sois na parte dos ombros.

Riley apertou os lábios com força. A Kendrick tentou ignorar aquele ódio que lentamente subia para sua cabeça e manter sua atenção na garota de cabelos ruivos, mas era complicado. Ela soltou a mão da mãe, apertando os dedos em punho enquanto respirava fundo lentamente.

Sylvie estava usando as cores favoritas de seu irmão - cores que Jonathan havia lhe contado na arena, horas antes de ser morto.

━ Bom dia, Distrito Doze. ━ sua voz soava rouca.

A ruiva travou por um instante, virando-se para o pai, parado poucos metros atrás dela; um homem alto e, de longe, amedrontador. Ele acenou com a cabeça para a mão da jovem, que só então Riley viu estar ocupada com papéis. Sylvie lentamente se virou para a plateia novamente, analisando os cartões em mãos.

Ela deu um sorriso largo, olhando ao redor dos moradores presentes.

━ Meu nome é Sylvie Laurier, vencedora da sexagésima sexta edição dos Jogos Vorazes. Antes de co-começar... gostaria de prestar minhas condolências pa... para os tribu- ━ ela abaixou a cabeça, piscando algumas vezes enquanto olhava para os cartões; ela limpou a garganta e soltou o ar. ━ Gostaria de prestar minhas condolências pelos tributos caídos e agradecer pelo suporte de meu aliado, Jonathan Kendrick, em minha vitória. Sem a ajuda dele e... dele e sua infeliz morte, eu não estaria presente aqui hoje. Jonathan... ele salvou minha vida. Após a disputa contra o Distrito Dois e o ataque do bestante, minhas expectativas de sobrevivência haviam caído drasticamente, preciso confessar. O que restava era alguém aparecer e terminar com meu sofrimento, mas... não foi isso que ele fez.

Riley fechou os olhos, escutando enquanto a garota falava de seu irmão como se o conhecesse a anos. Ela gostaria de poder subir ali e acertar ela como ela fez com Jonathan, até que seu coração parasse de bater, a vida fosse arrancada de seus olhos e suas mãos se manchassem com seu sangue assim como o de Jonathan manchou as mãos de Sylvie.

Riley não se importava se fosse morta ali, na frente de todos.

Mas temia por sua mãe.

Ao invés disso, ela voltou a segurar a mão da mais velha, apertando com tanta força que Chrysan foi forçada a desviar o olhar da pessoa no palco e fitar a Kendrick mais nova. Ela não entendeu, mas não era necessário muitas dicas para saber que a filha estava daquele jeito por algo que a Laurier falou - ou melhor ainda, fez.

Ela estava do mesmo jeito.

Obrigada a assistir todo o espetáculo de horrores, Chrysan observou todo o acontecimento, sem saber que sua filha também havia visto. Ela achava que Riley estava dormindo, esperançosa de que Jonathan fosse matar a garota do Dez naquela noite, mas era como se o destino tivesse outros planos.

Chrysan estava tentando aguentar, manter tudo suprimido, mas a dor da perda de um filho era demais para ela. E vendo Logan Laurier ali, naquele palco, com a filha dele viva... despertou um ódio mortal que sobreviveria gerações.

Ambas ergueram a cabeça ao ouvir um fungado.

Sylvie estava chorando.

Aquele ato enfureceu Riley ainda mais, se é que era possível. Eles poderiam ter sido aliados, mas aqueles poucos dias que passaram juntos nem se comparavam aos anos que os irmãos Kendrick tinham juntos, passando por poucas e boas naquele fim de mundo que era o Distrito Doze.

Tudo para uma garotinha privilegiada vir e falar o quão grata está por ele ter morrido?

Ele me salvou. Poderia ter me matado bem ali e conquistado sua vitória, eu sei que ele seria capaz de matar o outro tributo, mas ele preferiu salvar minha vida e não há palavras que possam descrever o quão grata eu estou. Eu terei para sempre uma dívida com Jonathan e... sinceramente, não sei como poderia pagar, sen- senão... senão aproveitando minha vida da melhor maneira possível. E, uhm, Francis. ━ Sylvie prosseguiu, fitando a família da falecida garota; Riley não se lembrava de ter visto ela pelo Distrito, mas ainda era uma perda. ━ Ela não era minha aliada e também não tive a chance de conversar com ela, mas, uhm... analisando o jogo após minha saída, eu pude ver que Francis era uma pessoa boa, que arriscou a própria vida para tentar salvar aqueles mais fracos, aqueles mais jovens. Eu sinto muito por sua perda.

Riley fitou a família da garota, posicionada em um palco similar ao seu mas do lado contrário de onde estava. Um homem, uma mulher e outras quatro crianças estavam presentes ali - todos chorando, emocionados, enquanto o resto da plateia mais embaixo os observava com olhares de pena. A loira retornou seu olhar para a ruiva, notando a estranha expressão dela para os papéis.

━ Os... os tributos deste Distrito foram nobres guerreiros, que trouxeram honra para seus familiares e orgulho para seu povo. Estamos todos unidos, vitoriosos e... ━ ela olhou para o pai por cima do ombro. ━ vitoriosos e sacrificados para servir a um propósito maior: o poder e glória da Capital. Panem hoje, Panem amanhã... Panem para sempre.

Ela limpou os olhos e deu as costas para a plateia, retornando para o prédio da prefeitura; mesmo de longe, era possível notar o estresse do pai da ruiva. Riley ficou confusa por um instante, repassando as últimas partes do discurso em sua cabeça até uma certa palavra chamar sua atenção.

Sacrificados.

Era a primeira vez que ouvia alguém usar aquela palavra. Todos os anos, durante a turnê, os tributos vencedores usavam 'tributos caídos' - sacrificados era novidade para ela. Pensou se aquilo havia sido o suficiente para irritar o Laurier.

A multidão começou a se dissipar e Riley desceu do palco atrás da mãe, encontrando-se com Katniss e sua família.

━ Oi, Chrysan, como você tá? ━ o pai de Katniss questionou; a resposta era bem óbvia dada a face molhada e olhos avermelhados, mas não havia maldade em seu tom, muito pelo contrário. Ele tinha aquele tipo de energia que faz você se acalmar, relaxar; era assim com Riley e ela notou ser o mesmo com a mãe.

━ Não muito bem, mas um dia vai melhorar. ━ sussurrou, olhando para a mãe de Katniss e apertar os lábios em um sorriso apertado antes de se afastar.

A Kendrick mais nova a observou ir embora, mas retornou o olhar para os outros presentes ao sentir alguém segurar sua mão.

Katniss.

━ Você tá bem?

━ Não.

━ Quer conversar?

A loira desviou o olhar por um instante antes de discordar.

━ Então... quer ficar sentada um pouco antes de ir pra casa?

Riley concordou.

━ Pai, a gente volta já, tá bem? ━ Katniss avisou já se afastando; o homem não teve tempo nem de concordar, rindo fraco enquanto observava as duas garotas se afastando, mãos dadas enquanto iam para longe da prefeitura.

━ Vamos para casa? ━ ele sussurrou para Primrose, que estava em seu braço, passando o outro pelo ombro da esposa, enquanto caminhavam para a residência.

ㅤㅤㅤㅤ

༺☆༻

ㅤㅤㅤㅤ

O sol estava se pondo quando Riley e Katniss retornaram para casa, ambas cansadas após passar tanto tempo na floresta fora do Distrito. Sabiam o quão perigoso era, mas, diante da situação em que a Kendrick se encontrava, sua única preocupação era com o que aconteceria com a Everdeen caso fossem pegas.

Se despedindo de sua amiga, ela observou a morena entrar em casa antes de subir as escadas da sua própria residência. Suas mãos estavam sujas de terra e grama, assim como grande parte de seu corpo, principalmente seus joelhos; apesar de ter tentado manter a roupa limpa, as táticas de distrações de Katniss Everdeen não funcionavam assim. Passando a mão pelos fios loiros, ela ainda encontrou um raminho de folha preso entre a trança que sua amiga fez.

A Costura estava silenciosa. Os trabalhadores já haviam voltado para casa nesse horário e não haviam muitas pessoas por ali, pelo menos não perto dela.

Por isso foi fácil para Riley ouvir passos se aproximando dela.

Ela tocou a mão na maçaneta, pronta para puxá-la para baixo e entrar em casa quando cometeu o erro de olhar para trás.

Sylvie Laurier estava nos pés da escada.

Riley sentiu todo seu sangue gelar e seu coração parar de bater. Após todo o esforço de Katniss de distrair a cabeça da loira, a vontade dolorosa de atacar Sylvie se fez presente novamente - foi inútil, como ela havia imaginado. Ela havia sido capaz de guardar aquele ódio no fundo de seu coração, mas com a Laurier ali, a poucos passos de seu alcance, tudo voltou como um tapa.

Era como se Sylvie estivesse zombando dela, como se achasse que ela fosse algum tipo de palhaço.

━ Tudo bem se eu me aproximar? ━ questionou, quieta.

Riley queria dizer que sim. Queria dizer para Sylvie se aproximar, ficar frente a frente com a Kendrick, que estava morrendo para poder atacá-la, mas a ideia desapareceu tão rápido quanto veio; Riley estava de frente à atual vencedora dos Jogos Vorazes. Não era algo ordinário como um prêmio estúpido de escola feito com pedras e gravetos.

Sylvie era uma assassina, traidora, que ganhou seu jogo na base de ataques calculados e uma brutalidade que todos ainda comentavam, mesmo após seis meses desde o fim da edição.

Além do mais, Riley era extremamente baixa, magra e fraca, seria surpreendente se ela fosse capaz de acertar ao menos um tapa na outra.

━ Não.

Sua voz saiu baixa. Não estava confiante o suficiente para falar com ela, além do mais, não sabia se sua mãe estava acordada e não queria perturbar a mais velha. Depois do dia que tiveram, quanto menos estresse para ela, melhor.

━ A-ah. Ok. ━ ela limpou a garganta, dando um passo para trás. ━ Bom, eu... uhm...

━ Sylvie...

Riley virou a cabeça na direção da voz com um susto - era Logan Laurier, o pai da garota, que evitava o olhar da Kendrick. Estava tão distraída com ela em sua frente que nem prestou atenção em quem mais poderia estar ao seu redor. Aproveitando, notou também um Pacificador logo atrás dele; se não fosse os ocasionais movimentos de sua mão na longa arma, Riley diria que era uma estátua.

A mais velha - que a Kendrick só agora notou ter as pontas dos cabelos na cor preta, fazendo um contraste diferente com o resto do ruivo - apenas ergueu a mão, olhando para o mais velho por cima do ombro. Não se deu ao trabalho de se virar para ele e, pela expressão no rosto de ambos, Riley deduziu que a possível briga após o discurso foi ruim.

━ Olha, Riley... ━ a garota prosseguiu novamente, o olhar focado momentaneamente nos anéis que tinha em mãos, onde mexia ansiosamente; ela ergueu a cabeça, fitando Riley nos olhos. ━ Eu queria me desculpar pessoalmente por... tudo e não espero que me perdoem. Pode soar estranho, mas o que eu fiz não é algo digno de perdão ou desculpas, e... na-na verdade, eu nem sei o que faço aqui. Eu- bom...

━ Dá 'pra chegar no seu ponto de uma vez por todas e ir embora logo?

Riley prendeu a respiração, piscando em surpresa algumas vezes. Ela fitou o pai, que tinha seu olhar na Kendrick, antes de voltar para a garota novamente, acenando envergonhada.

━ Claro... bom, eu vim aqui oferecer algo para lhe ajudar com... suas dificuldades aqui na... Costura. Sei o quão difícil pode ser nos Distritos e queria fazer algo... algo bom uma vez. Em memória ao seu irmão. ━ ela apertou os lábios, abaixando-se para pegar uma cesta que estava fora da visão de Riley. Sylvie subiu alguns degraus e o colocou no pé da varanda, mas não desceu novamente. ━ Não é muita coisa, mas... achei que pudesse lhe ajudar, sabe? E, bom, pretendo doar parte do meu... meu salário vitalício para você, todos os meses. Para você e sua mãe não precisarem se-

Riley soltou a maçaneta, dando alguns a frente e acertando a palma de sua mão na bochecha direita de Sylvie. A ruiva foi pega de surpresa, tropeçando, batendo o joelho no degrau e se apoiando no corrimão para evitar rolar escada abaixo, sendo socorrida pelo pai. O Pacificador, quieto até aquele momento, mirou a arma na Kendrick, mas a mão da Laurier erguida o fez parar suas seguintes ações.

━ Não, não, não, 'tá tudo bem. ━ sussurrou, fitando o indivíduo. Cabelo cobria seu rosto e uma dor aguda vinda de seu joelho a fez fechar o rosto em uma careta, sentindo algo molhado escorrer por sua canela. ━ Eu 'tô bem, pode abaixar a arma.

O homem hesitou por um instante mas fez o que foi pedido, seu dedo ainda próximo do gatilho enquanto tinha seus olhos na loira, que havia se afastado e encostado às costas na porta de casa. Ela estava mais surpresa de ter tido a coragem de fazer aquilo do que a possível consequência que teria; Riley tentou se controlar mas ouvir aquela garota falando do que poderia ser melhor para ela e sua mãe atingiu um nervo que ela nem sabia ter.

━ Sylvie!

━ Eu 'tô bem! ━ sua voz saiu mais rouca e agressiva dessa vez, largando do aperto do pai e se endireitando, tocando o joelho dolorido. Ela trouxe a mão para sua visão, erguendo as sobrancelhas diante da palma ensanguentada. ━ Eu não esperava que seguisse por esse caminho, mas não posso lhe culpar... eu faria o mesmo se matassem meu irmão e o assassino tentasse falar comigo.

Ela fitou Riley, apertando seus lábios em um sorriso fraco.

━ Eu não quero seu dinheiro.

━ Eu notei. Mas seu irmão se foi, Riley. ━ a forma como ela disse seu nome lhe deu arrepios. ━ Você precisa aproveitar as oportunidades que aparecem. Aqui vocês não têm as mesmas chances de serviços, de trabalhos, como nos outros Distritos, sabe disso. Eu quero ajudar você a se preocupar com outra coisa além do dinheiro.

━ Eu não preciso de você ou de sua ajuda. ━ proferiu entredentes. ━ Bateu a cabeça forte demais quando matou Jonathan?

Sylvie umedeceu os lábios, os apertando em uma linha antes de suspirar, desviando o olhar.

━ Discutir com você é inútil. ━ disse baixinho antes de olhar para a mais nova de novo. ━ Falei tudo que tinha para falar, então estou satisfeita. Até outro dia, Riley.

A ruiva se virou, descendo as escadas com a ajuda de seu pai. Riley esperou até eles e o Pacificador estarem longe de sua vista para poder soltar o ar e abaixar a cabeça.

━ Que merda eu fiz?

Choramingou, batendo as mãos na cabeça enquanto se agachava. Ela não estava se reconhecendo; Riley não era uma criança agressiva ou impulsiva - muito pelo contrário, ela sempre tinha a cabeça no lugar, nunca fazendo algo sem pensar quinhentas vezes nos possíveis resultados, por medo das consequências que seu irmão pudesse ter. Mas ali estava ela, viva, porém, viva pela decisão de uma outra pessoa que tinha o poder e a chance de acabar com sua existência.

Ela ergueu a cabeça novamente para o caminho em que eles três foram, deixando seu olhar cair para a cesta, que ainda estava ali.

Curiosa, engatinhou até lá, esticando o braço para puxar o objeto de madeira. Ela desamarrou o lenço fino e de aparência cara que o cobria, pensando em quantas refeições seriam garantidas com a venda daquele pedaço de pano insignificante. Sua atenção se voltou para o conteúdo da cesta e o pensamento anterior rapidamente sumiu.

Haviam frutas, pães, garrafas de suco, chocolates - coisas que Riley achava ser apenas capaz de sonhar. Ela não era estúpida - não pensou duas vezes antes de arrastar a cesta até a porta de sua casa, preocupada com quem poderia ter visto.

Segurança não era algo garantido naquele Distrito, principalmente na Costura. Comida era algo pelo qual as pessoas não tinham vergonha de lutar, mesmo que seu adversário fosse uma garotinha de dez anos com uma mãe doente.

Ela arranjou forças para pôr a cesta na mesa e passou o resto da noite apenas observando, sem ter coragem de erguer a mão e matar a fome que sentia desde cedo.

ㅤㅤㅤㅤ

༺☆༻

ㅤㅤㅤㅤ

capítulo um e já vem com quase 5k, gostaro?

kid!katniss mora no meu coração,
pena que o pai da bichinha morre :(

primeira aparição de sylvie, opiniões?

não esqueçam de curtir

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro