
009| ℋ𝒾𝒹𝒹ℯ𝓃 ℳℯ𝓂ℴ𝓇𝒾ℯ𝓈 ℴ𝒻 𝓉𝒽ℯ 𝒫𝒶𝓈𝓉
Memórias ocultas do passado
3866 words
Mystic Falls, Virgínia, 1864.
Eᴍ ғʀᴇɴᴛᴇ ᴀ ᴜᴍᴀ enorme mansão deslumbrante e antiga, um jovem filho dos donos se mantinha em pé, olhando para frente de forma terna e calma. Sua postura ereta e mãos para trás transmitiam um ar de tranquilidade que demonstrava confiança. A alguns metros, uma carruagem parava em frente a casa, tendo um banquinho posto à frente da porta, pelo cocheiro. Uma dama de vestido simples e bonito desce primeiro, logo estendendo a mão e ajudando uma segunda moça a descer. O olhar confiante e belo logo é atraído para a figura do homem em frente a porta, que prontamente se move e para em frente a ela, a encarando com um leve sorriso.
— Deve ser a senhorita Pierce. — Ele fala sorrindo gentilmente, acenando com a cabeça, as mãos ainda postas atrás das costas.
— Por favor, me chame de Katherine. — A bela dama fala, exibindo um sorriso e estendendo a mão, que é rapidamente segurada pelo rapaz, que a olha encantado.
Atualmente
Meus passos aflitos e preocupados deviam ecoar por toda a casa. Conforme eu andava de um lado para o outro no quarto, meus pensamentos iam para o corpo de Zach no colo de Stefan, e o fato de Damon estar a solta por aí. Me sento em minha cama aflita, suspirando e passando a mão pelo cabelo, enquanto olhava para o anel em minha mão. Em um movimento rápido, me levanto e olho para a cama nervosa, choramingando de frustração.
— Que merda. — Choramingo, sentindo vontade de chorar. Meu olhar cai novamente para o anel em minha mão, e por um momento, sinto vontade de voltar até Stefan e jogar esse maldito anel nele e dizer que estou fora de tudo isso. Infelizmente, minha burrice e vontade de ajudar os outros não me permitiria fazer isso. — Isso, Annabethy. Muito bem! Se relacione com vampiros mesmo, uma coisa muito inteligente de se fazer. — Zombo de mim mesma, falando sozinha enquanto voltava a caminhar pelo quarto.
— Melhor amigo humano e normal? Nãaaao, vamos se tornar amiga de um vampiro centenário que tem um irmão maluco que provavelmente quer te matar agora! — Continuo falando comigo mesma, antes de arregalar os olhos ao perceber o que eu tinha dito.
— Meu Deus… — Sinto meus olhos se encherem de lágrimas, enquanto o desespero volta com tudo. — Ele vai me matar! Puta merda, eu não devia ter xingado ele, nem ofendido, nem zombado da cara dele por estar preso.
Murmuro indignada, fungando e me sentando na cama, olhando para o chão tristemente. Damon provavelmente estava com raiva de mim, e com isso, ele com certeza tentaria me matar se me visse. Talvez não, talvez ele só me machucasse. Sinceramente, não sei o que é pior. Suspiro, me jogando para trás e me deitando na cama, um pequeno beicinho em meus lábios. Quando Bonnie tinha dito a algumas semanas que eu tinha um azar peculiar, eu não achava que era a esse nível.
Me levanto novamente e caminho até minha cômoda, deixando o anel ali em cima quando sinto minha mão começando a suar. Respiro profundamente, sentindo meu coração acelerado começando a se acalmar, enquanto eu escuto algumas vozes no quarto de Elena. Dou de ombros, apenas querendo que tudo isso acabasse, e eu pudesse voltar para a minha vida normal e pacata. Bom, nem tanto normal, mas o suficiente. Paro em frente a janela fechada, observando a paisagem calma e tranquila da rua, minha mente nervosa e turbulenta.
Depois de alguns minutos me acalmando, saio da frente da janela, caminhando novamente para a cômoda, meus olhos se arregalando ao notar a falta do anel. Meu coração, que eu finalmente tinha conseguido acalmar, volta a bater descontroladamente, enquanto eu sinto o mundo ao meu redor girar, um único pensamento em minha mente:
— Fudeu. — Murmuro, começando a procurar o anel no chão.
Não importa quanto tempo tenha se passado, nem o fato de meu quarto estar todo revirado, com roupas, objetos, papeis e diversas coisas no chão. O maldito anel tinha simplesmente evaporado. Ou aquilo era uma brincadeira cruel do destino, ou eu realmente era burra o suficiente para perder um anel, um muito importante aliás. Me sento em minha cama, completamente frustrada, enquanto encarava a bagunça em meu quarto. “Não adianta perder o anel, agora vou ter que arrumar toda essa bagunça”. Pensei irritada.
Meu olhar vai para a verbena e a estaca em cima da cômoda, e eu suspiro cansada, pensando em como minha vida tinha mudado em tão pouco tempo. Um leve farfalhar de tecido chama minha atenção, e eu me viro, confusa. Ergo a sobrancelha lentamente, um vinco se formando em minha testa em sinal de confusão.
— Mas o que caralhos…? — Minha voz para de soar, enquanto eu olho para o tecido azul de minha blusa, que estava esparramada no chão, se movendo. O pior, era que não tinha absolutamente nada nem ninguém ali.
— Foda-se… — Eu resmungo, dando um passo para trás. Certo, aquilo era demais. Vampiros? Ok, eu aguento. Fantasmas? Já chega. A blusa se move bruscamente novamente, e eu grito assustada, correndo e tentando abrir a porta, meus olhos se arregalando ao perceber que estava trancada. — Puta merda, puta merda. — Minha voz é cheia de pânico, enquanto eu tento forçar a porta, desesperada.
Um barulho forte soa no quarto, e quando eu olho para trás, tudo estava… empilhado? Observo aquilo incrédula, a mão que segurava a maçaneta da porta caindo levemente, enquanto eu me aproximava da pilha de roupas e objetos, que outrora estavam distribuídos desleixadamente pelo quarto. — Eu tô ficando louca. — Sussurro, ainda pasma. A cômoda onde a estaca e a verbena estavam, range levemente, como se tivesse alguém arrastando ela. Olho para o lugar rapidamente, vendo o móvel levemente arrastado, sem ninguém ali.
— Vamos, Annabethy… é tudo na sua cabeça… — Sussurro, andando em passos lentos e receosos em direção a cômoda, meu olhar fixo ali. — Tudo na sua cabeça… exatamente como no dia do estacionamento, e no dia da festa do fundador. Você vai surtar, e então acordar novamente no quarto. É só um sonho muito… — Minha voz morre, e eu encaro incrédula uma leve luz vermelha atrás da cômoda, parecia uma fumaça, leve, suave, quase invisível. Suspiro surpresa, minha cabeça se inclinando levemente para o lado, enquanto eu me aproximava mais. Assim que chego, não tinha mais nada ali além da cômoda fora do lugar. Mais nada… a não ser uma tábua solta.
— Eu juro… ainda bem que não estou no século 17. — Murmuro, meu rosto em uma carranca, enquanto eu empurrava mais a cômoda, terminando de libertar a tábua. Tiro o pedaço de madeira dali, observando o buraco escuro, e então… um pequeno brilho lá no fundo. Movo minha mão em direção ao fundo, tateando às cegas até meus dedos tocarem em algo sólido, e gelado, bem gelado. Minha mão se agarra em uma pequena caixa, e eu trago ela para cima, observando confusa o objeto de aparência bem antiga. — Credo, minha bisavó deve ser mais nova que isso. — Resmungo, franzindo o cenho.
Ignorando meu subconsciente me chamando de burra e gritando para mim não mexer em uma caixa desconhecida que estava escondida em uma tábua solta do meu quarto, que definitivamente não existia antes, eu observo atentamente o objeto. — É bem bonita. — Murmuro, franzindo a testa. A caixa era preta, continha pequenas pedras ao redor que se assemelhavam muito a um rubi. A coloração vermelha escarlate é bem forte, quase hipnotizante. Meus dedos se movem instintivamente até o feixe, tentando abrir, em vão.
Um suspiro frustrado sai de mim, enquanto eu me sentava no chão de pernas cruzadas, olhando emburrada para a caixa. Além de não ter uma explicação de como surgiu ali, também não abria, ótimo. Permaneço alguns segundos sentada no chão, antes de me levantar, ainda com a caixa em mãos. Me movo lentamente em direção a cama, com o objetivo de pegar meu celular e ligar para Stefan. Antes que eu possa sequer fazer isso, uma pancada é desferida em minha cabeça, e eu caio no chão atordoada, levando a mão na minha testa e sentindo o sangue. Meus olhos se fecham lentamente, e a única coisa que escuto antes de desmaiar, são sussurros calmos.
Meus olhos se abrem aos poucos, minhas pálpebras piscando rapidamente enquanto eu me acostumava com a luz. Tudo parecia estranho por um momento. Meu corpo estava pesado, como se um prédio tivesse caído em cima dele. O brilho parecia mais sensível em meus olhos, enquanto eu me sentava com dificuldade na cama, resmungando de dor. Meus olhos percorrem todo o ambiente com estranheza, parecia… estranho demais. Aos poucos noto as mudanças no lugar. A cama, que agora eu percebi, era de solteiro. Meu quarto, que antes era decorado com várias coisas de Harry Potter e dragões, agora tinha uma decoração infantil, ainda com alguns dinossauros que sempre gostei no passado, mais bonecas e coisas da Barbie, que eu tinha me livrado a anos.
— Que porra? — Murmuro, me levantando com rapidez. Aquele era meu quarto de quando eu tinha 7 anos, não fazia… não fazia sentido. Suspiro, indo até a estante, que tinha livros de colorir e histórias como Chapéuzinho Vermelho, A Branca de Neve, e etc. Inclino a cabeça para o lado, confusa, meus passos indo até o espelho. Eu estava normal, ainda tinha minha aparência de 17 anos, o que me confundia.
— Annabethy, querida! Venha logo, seu pai fez aquelas panquecas que você ama! — Uma voz soa atrás da porta, e eu imediatamente sinto meus olhos se encherem de lágrimas ao ouvir.
— Mamãe? — Minha voz é um sussurro doloroso e incrédulo, enquanto eu dava um passo para frente, parando ao ver uma criança ruiva saindo do banheiro do quarto, correndo em direção a porta de maneira animada. Meus olhos se arregalam ao ver aquilo. Me vendo, nos meus provavelmente sete anos, correndo e abrindo a porta, mostrando a figura da minha mãe sorrindo para a criança. Eu. Eu era a criança.
— Anna! Achei que estivesse arrumando seu cabelo, olha só. Um ninhozinho de passarinho. — A mulher fala com uma voz brincalhona e amorosa, fazendo uma risada infantil ecoar no quarto. Sinto uma lágrima escorrendo em minha bochecha, enquanto dava um passo para frente, observando minha mãe pegar a criança no colo. Me pegar no colo. Suspiro, sentindo minhas mãos tremerem. Eu estava na frente delas. Na frente da… minha versão criança. Elas não me viram? Eu… o que era aquilo?
Meu corpo se move instintivamente em direção a elas, que começam a descer as escadas, rindo e conversando. Assim que elas chegam na cozinha, meu coração se acelera, e mais lágrimas aparecem, enquanto eu observo meu pai na frente do fogão, jogando panquecas para o alto, pegando com a frigideira e fazendo Elena e Jeremy rir. Observo meu pai com um olhar de tristeza e saudade, entrando e parando em frente o balcão. Ninguém me via, era como se eu fosse um fantasma. Jeremy, que era bem menor do que Elena e eu nessa idade, abre um enorme sorriso ao… bom, ver a antiga Annabethy.
— Annie! — Ele grita animado, chamando a atenção de nosso pai, que se vira com um sorriso. Minha mãe deixa a pequena eu de sete anos no chão, e eu rapidamente vou até Jeremy, me sentando ao seu lado. Suspiro, balançando a cabeça, secando as lágrimas que caiam sem que eu percebesse, olhando aquela cena com tristeza.
— Bom dia, querida. — A voz alegre e amorosa do meu pai ecoa em meus ouvidos, enquanto ele caminhava em direção a Annabethy criança, beijando a testa dela. Meu corpo parecia travado. Eu observava tudo com tristeza e saudades. Eu me lembrava daquele dia, eu tinha passado o dia com meu pai no consultório dele, brincando com alguns brinquedos enquanto ele trabalhava.
Minha visão nubla novamente, e eu me seguro no balcão como se fosse desmaiar. De repente, todo o ar ao meu redor parece mudar, e de repente abro os olhos, me encontrando no escritório do meu pai. Meu olhar cai para minha figura de sete anos sentada no chão, com vários dinossauros, dragões, e bonecas no chão, brincando sozinha.
— Salvem a princesa! — A pequena voz infantil ecoa pelo lugar. Era a área pessoal do escritório do meu pai, eu sempre ficava lá enquanto ele resolvia outros assuntos. — Essa não! O grande Maldor vai atacar o reino! — Observo com um leve olhar de nostalgia minha figura criança levantar um dragão, movendo ele com as mãos como se ele estivesse voando em direção a uma… espécie de fortaleza de legos. Dou uma leve risada, me lembrando de como eu era criativa antigamente. Meio louca também.
— Agora, eu comando aqui! — A pequena Annabethy fala, engrossando a voz para fingir ser o tal “Maldor” — Obedeçam, súditos!
Ela finge barulhos de explosão e choque, pegando vários bonecos com a mão e movendo para o lado, fingindo que eles estavam correndo e gritando. Dou uma leve risada, me aproximando mais. Enquanto ela travava uma falsa luta entre um dragão e um dinossauro, observo quando acidentalmente um boneco que se parecia muito um esquilo humanoide acabar caindo perto de uma porta fechada. A famosa porta que nosso pai nunca nós deixava entrar.
— Volte aqui comandante! Não adianta fugir! — Observo minha mini eu gritar e se levantar com o dragão ainda na mão, se abaixando em frente a porta para o boneco, enquanto se apoiava em uma mão na madeira em sua frente. A porta se abre de repente, quase derrubando ela pelas escadas abaixo. Me aproximo preocupada comigo mesma, o que era irônico, se pensar. Ao me aproximar, franzo a testa, olhando para baixo e notando a escada que descia para um lugar escuro. Era… estranho. Eu me lembrava de quando fui para o escritório do meu pai, e de brincar como uma doida com os brinquedos. Mas não tinha nenhuma memória da porta em meu cérebro.
— E agora, Maldor? — A mini eu pergunta para o dragão de brinquedo em sua mão, receosa. Ela sabia que não tinha permissão para descer ali. Tomada pela curiosidade, observo a mini eu começar a descer as escadas, e logo sigo seu exemplo, caminhando com curiosidade.
Eu mal tinha percebido que minha eu do passado tinha sumido. Meus olhos focavam no fundo da escada, onde só tinha algumas tralhas e outras coisas. Mais do que isso, tinha uma pequena porta, escondida por algumas caixas. Movida pela curiosidade, me movo lentamente em direção a porta, minha mão tocando com cuidado a maçaneta, que assim que giro, percebo não estar trancada. Suspiro, criando coragem e abrindo, revelando um lugar claro demais para algo que ficava no subsolo.
Meu corpo estremece quando noto que era um tipo de sala de cirurgia escondida. Uma maca, não tão nova e com resquício de sangue no canto, estava no meio do lugar, com diversos instrumentos médicos de cirurgia ao lado, tal como arquivos empilhados um pouco mais afastados. Suspiro trêmula, meu coração batendo forte em meu peito, enquanto eu caminhava em direção a maca. Era diferente, tinha uma espécie de algema embutido nos dois lados, como se fosse para prender quem quer que estivesse lá. Ao olhar para o lado, franzi o cenho confusa, vendo um corredor que de longe dava para ver algumas celas. Quando meus pés começam a se mover em direção ao lugar, minha visão se borra, e eu caio no chão.
Tento me levantar, aturdida e ofegante, olhando para o lado e vendo que eu estava em frente a uma das celas. Meus olhos se arregalam quando noto um homem na casa dos 25 anos, olhando para mim assustado e confuso. Continuo tentando me levantar, gaguejando enquanto me afastava, o encarando incrédula. Ele parecia fraco, e cansado, além de estar em uma condição não muito boa.
— O que está fazendo aqui, criança? — O tom dele é preocupado e cansado, enquanto ele tenta se levantar. Era quase como se ele não esperasse me ver aqui, o que eu não julgava. Até porque, não era normal ter uma… pera ai, ele disse criança?
— Criança?! — Apesar de assustada, meu tom saiu indignado, enquanto eu o encarava. Sinto minha alma saindo ainda mais de meu corpo ao notar minha voz. Infantil. Voz infantil. Olho meu corpo assustada, vendo que de algum jeito, eu agora estava no corpo da “mini eu”. Suspiro, esganiçada. Olho para ele novamente, ele não parecia perceber meu pânico com a mudança de corpo, e logo percebi que me movia em direção a ele, mesmo sem querer.
Senti vontade de gritar para mim mesma, dizendo para parar, e que mesmo que eu sempre tenha sido uma garota imprudente, não era uma boa ideia se aproximar dele. Meu corpo não me obedecia, e eu só notei ele arregalar os olhos, se afastando como se minha presença o queimasse, apesar do divertimento em seus olhos com a minha reação.
— Não se aproxima! Não quero te machucar, garota… — Ele murmura, e eu sinto meu corpo parando. Eu, e a mini eu, que no momento parecia comandar as falas e os movimentos de meu corpo, enquanto eu só era capaz de assistir, olhamos ele chocada, ainda tentando entender o que diabos ele estava fazendo ali, preso embaixo do escritório do meu pai.
— V-você é um preso? Cometeu algum crime? — “Eu” pergunto gaguejando, o encarando nervosa. Ele suspira, parecendo achar minha pergunta engraçada, antes de me olhar seriamente. — Vai embora daqui, garota. Você não deveria estar aqui. — A preocupação dele parece voltar enquanto ele ignora minha pergunta, e eu apenas observo ele tossir, aparentando estar bem fraco.
— Você está machucado. — Falo assustada e preocupada, vendo sangue seco na camisa dele, que parecia meio rasgado. Ele tenta se afastar, parecendo aliviado pelas grades impedirem minha mini eu de se aproximar ainda mais, só que ainda preocupado, pois ele poderia me alcançar facilmente. Quando observo mais seu corpo, meus olhos se arregalam levemente. Talvez ele fosse um vampiro. Mas então porquê ele estava preso? Por que ele não saiu de lá? E então me lembro, verbena… ele provavelmente não tinha forças, assim como quando Stefan deu verbena a Damon.
— Não se preocupe comigo, garota. Agora vá embora antes que alguém te ache aqui! — Ele fala novamente, prendendo a respiração. Era ridículo o fato que eu era tão teimosa quando criança –e ainda sou–, pois meu corpo apenas se aproxima mais dele.
——Eu sou a Annabethy, qual seu nome? — Observo a forma inocente que minha voz sai, e quase sinto vontade de dar risada. Ah se a mini eu soubesse que ele era um vampiro… iria estar gritando aos ventos agora. — Meu papai pode te ajudar. Ele é médico. — E então eu sinto um choque de realidade ao escutar minhas palavras. Meu pai… Aquele homem estava sendo mantido preso embaixo do consultório do meu pai. Ele sabia. Sinto meus olhos lacrimejarem levemente, enquanto eu pensava sobre isso. Meu pai não faria isso, faria? Ele não… E então me recordo das vezes que Jeremy e eu tentamos abrir a porta do escritório que era proibida. A forma como ele ficava furioso.
Sinto um aperto em meu coração. O homem em minha frente parecia legal, então porquê o papai faria isso? Talvez eu estivesse enganada, afinal, nunca se pode confiar em alguém que não conhece, e eu não conhecia o homem em minha frente. Mesmo assim, meu estômago embrulhava só de pensar na possibilidade de meu pai estar fazendo algo horrível aqui embaixo, além de prender ele.
Depois de passar um tempo pensando, o belo homem em minha frente encara a mini eu pensativo, antes de suspirar.
— Eu sou- — E então ele é interrompido, e eu sinto meu corpo ser erguido do chão com brutalidade.
— ANNABETHY! — A voz de meu pai enche meus ouvidos, cheia de fúria e certa preocupação, enquanto ele me sacudia pelos ombros. Eu posso sentir minha eu do passado assustada, quase chorando. — Quantas vezes eu já disse para não chegar perto daquela porta?! — O tom dele era perigosamente baixo, e eu me senti encolher sobre ele.
— Vamos! — Meu pai parece adquirir outro sentimento ao notar que eu estava ali. Pânico. Como se eu tivesse descoberto algo que não devia. E descobri. Olho o homem na cela assustada, vendo ele me encarar com pena e temeroso, e por um segundo, vejo minha forma ser arrastada pela escada, antes de sentir minha consciência apagando novamente.
Acordo em pânico no quarto, me sentando na cama rapidamente, ofegante, sem perceber as lágrimas que caiam em meus olhos. Levo minha mão até a garganta, sentindo a necessidade de respirar. Mas eu não conseguia. Sentia o ar escapando de mim com a mesma facilidade que as lágrimas escorriam. Meu peito ardia, implorava por ar, e eu me vi levantar da cama, tentando andar em direção a porta. Eu tentava pedir socorro, pedir ajuda, mas nada adiantava. Sinto meus joelhos cederem e caio no chão, agarrando minha garganta desesperada, os soluços ecoando no quarto vazio, enquanto minha mão que estava apoiada no chão agarrava meu peito, em busca de alívio.
Sinto meu corpo pendendo para o lado, enquanto continuava chorando em angústia, sentindo o chão frio tocar minha testa. Não sei por quantos minutos permaneci ali, nem por quanto tempo senti a sensação desesperadora do meu pulmão buscando ar de forma agoniante. Minutos, talvez horas, se passaram, e eu permaneci no chão, chorando silenciosamente, os soluços ecoando em meus ouvidos de forma dolorosa. Levanto minha cabeça assustada, olhando ao redor como se procurasse algo. Mas o que? Eu me perguntava, fungando e limpando minhas lágrimas com as costas da mão, finalmente sentindo o ar entrar corretamente em meu pulmão.
Meu quarto estava todo arrumado, mas a sensação de estranheza permanecia ali, como se algo estivesse errado. Continuo ajoelhada no chão, ainda fungando ocasionalmente, enquanto segurava a lateral do meu rosto. Eu estava assustada, eu sentia desesperadamente que algo estava errado. Eu tinha tido um pesadelo, eu sabia. Mas não me lembrava. De nada.
Nada… Repito para mim mesma, sentindo como se algo faltasse. Algo faltando não só em meu coração, mas em minha mente também. Suspiro trêmula. Eu sentia minhas mãos tremendo conforme eu tentava limpar as lágrimas. Eu sentia o sol entrando em meu quarto através da janela, indicando o começo do novo dia. Eu sentia… o vazio se apoderar de meu corpo, enquanto eu suspirava. Me levanto alguns minutos depois, meu rosto se virando para o espelho enorme que eu tinha no canto do quarto, observando meu próprio reflexo. Tinha marca de mãos em meu pescoço, muito provavelmente resultado da minha busca desesperada por ar. Meu rosto estava avermelhado pelo choro, quase fazendo meu cabelo sentir inveja. Suspiro, caminhando em direção a cama, meu olhar caindo rapidamente na mesinha ao lado. Uma caixa antiga e cheia de pedrinhas vermelhas, que eu não me lembrava de ter deixado ali.
Ao mesmo tempo em que sentia estranheza ao olhar o objeto de aparência bonita e antiga na cômoda, sentia a sensação de familiaridade. Era como se eu já tivesse visto aquela caixa antes. Como se eu já tivesse sentido ela em minhas mãos. Suspiro, encarando a coloração preta que entrava em harmonia com as pedras vermelhas cravadas ao seu redor, antes de olhar para a janela, meu olhar perdido.
Nada a dizer sobre a Annabethy nesse capítulo, hein...
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