
9
Usagi Yuzuha
Fuyuki, o membro do conselho de blusa azul e óculos, me levou até Shinjuku com um grupo de três pessoas. A arena era uma fábrica de fósforos e o lugar é sinistro. A tinta da parede - que costumava a ser cinza - está descamando deixando exposta a cor dos tijolos e barro. Fiquei por algum tempo olhando para a construção, Arisu me disse que poderia ser importante observar ao redor da arena e as saídas possíveis do local. O Fuyuki parou ao meu lado de braços cruzados e disse:
- Vamos antes que as inscrições acabem.
- Certo. - comecei a caminhar em direção da entrada sem desviar os olhos da fábrica.
- Usagi. - o homem chamou me fazendo parar. - Isso é um teste para ver onde você se encaixa na praia, tente concluir o jogo.
- Certo. - entrei na fábrica depois de dar uma última e boa olhada na estrutura do lugar.
"Certo" é a única coisa que eles vão ter de mim, não vou responder menos e vou evitar responder mais. Não confio nessas pessoas e com certeza não estou afim de ser descuidada e me prejudicar depois. Fiz uma promessa. Eu vou fazer de tudo para sobreviver.
Arisu se desculpou mais cedo por ter me levado até a praia. Bobo. Eu não fui até a praia por conta dele ou de Kin, fui porque quis. Cedo ou tarde eu iria descobrir a praia e ir até lá com ou sem Arisu.
Me preocupado com Arisu e Kin hoje mais do que venho me preocupado desde que nos conhecemos. Arisu já colocou grande parte da dor dele para fora - ele reagiu - , mas Kin... Ela guardou tudo para dentro de sí e eu não sei se vai levar muito tempo para ela explodir ou desistir de tudo. Sei que ela se mantém forte pelo amigo, mas ela se enfraquece fazendo isso.
- Tempo de inscrições esgotado. - a voz digital começou a falar através dos celulares de cada jogador. - Dificuldade: seis de ouros. Jogo: bingo na fábrica de fósforo. Objetivo: Encontrar e informar todos os números nas vinte e quatro salas para completar o jogo. Cada jogador só terá uma caixa de fósforo. Tempo limite: trinta minutos. Encontrem a caixa de fósforo e completem o bingo dentro do tempo limite.
Eram sete jogadores no total. Os jogadores se dividiram em alguns grupos para procurar a caixa de fósforo, mas não me juntei a nenhum deles. Se eu fosse o Game Master onde eu esconderia a caixa para consumir o tempo dos jogadores? Como eu despistaria os jogadores? Comecei a andar pela fábrica observando os grupos ao meu redor e procurando as caixas. Todos estavam se esforçando demais para achar os fósforos, procurando em lugares improváveis demais.
Nenhum dos jogadores havia entrado na sala de controles da fábrica. Do lado de fora, a sala tinha uma parede metade pintada de bege e metade coberta por uma janela extensa e não tão cristalina. O vidro estava sujo dificultando a visão para o lado de dentro da sala. Rodei a maçaneta e entrei na sala. As paredes eram bege igual ao lado de fora da sala, as mobílias estavam empoeiradas e repletas de teias de aranha. Gargalhei ao olhar para a mesa de controle. Sete caixas de fósforo deixadas em cima da mesa, tudo calculado até o último detalhe.
Coloquei a caixa de fósforo dentro do bolso do meu casaco e observei o painel na mesa. Apertei o botão que dizia "microfone".
– As caixas estão na sala de controle. Uma caixa para o jogador. – falei pelo microfone olhando o cronômetro no celular. – Faltam vinte minutos para o fim do jogo, se apressem.
Assim que saí da sala vi Fuyuki parado perto da porta me encarando. Não tenho tempo para isso agora. Segui as setas que apontavam para uma sala vazia por exceção de uma espécie de túnel. Não tinha nenhum número nas paredes beges.
Entrei no túnel escuro e meu cocei o nariz ao sentir a poeira acumulada no local roçar nas minhas narinas. O túnel devia ter medade da minha altura e dois metros de largura. Abri a caixa de fósforos e contei a quantidade dos palitos de madeira. Doze.
Acendi o primeiro e comecei a engatinhar pelo túnel escuro – agora iluminado mal e parcamente pelo fósforo — elevando a minha mão direita que segurava o palito para iluminar as duas paredes do túnel.
– Vinte e quatro. – falei ao achar o número rabiscado na tinta.
O fogo já começava a se alastrar pela parte de madeira do fósforo chegando perto dos meus dedos. Assim que o calor chegou a milímetros de distância dos meus dedos apaguei a chama. Acendi o segundo fósforo e iluminei o resto do túnel, nenhum número.
O celular se acendeu iluminando o número quarenta e seis no bingo. Os jogadores possuem a mesma tabela de números, somos como um só.
O túnel acabou e eu entrei em outra sala, dessa vez a sala estava iluminada por uma única lâmpada. Nas quatro paredes da sala em formato retangular haviam os números treze, trinta e oito. Anunciei em voz alta e o dispositivo captou a minha voz, marcando no bingo os números que eu encontrei.
Entrei em outro túnel com o terceiro fósforo aceso procurando os números pela parede. O tempo começou a apertar. Antes que o fogo pudesse apagar localizei o número um e avisei ao dispositivo. A cartela digital de bingo se completava automaticamente com os números que eu achava, mas ainda tinham espaços vazios. Esse túnel era mais extenso que o primeiro. Gastei três fósforos nesse túnel, faltam apenas seis para acabar com o conteúdo da caixinha e oito números para completar o bingo.
Sete minutos.
Continuei o jogo a medida em que o tempo diminuía e acendi o próximo fósforo para iluminar a vigésima sala do jogo. O cheiro de podridão me dava ânsia, por mais que eu não enxergasse de onde o odor estava vindo. Dessa vez o fogo chegou tão perto dos meus dedos que os senti arder. Imediatamente soltei o pedaço de madeira no chão. Xinguei comigo mesma. Só restam quatro fósforos. Acendi o próximo palito torcendo para ser mais cuidadosa comigo mesma — não gostaria de ter bolhas no dedo por conta de queimaduras – encontrei o próximo número.
– Cinco.
Faltavam dois números para a conclusão do jogo. Vou conseguir.
– Três minutos restantes. – a voz digital avisou.
Me engatinhei cada vez mais rápido pela sala ignorando a gosma e poeira que grudavam nas minhas mãos cada vez que eu avançava. Haviam três fósforos restantes quando eu adentrei na minha oitava sala a procura dos números.
Acendi o pedacinho de madeira e comecei a procurar os números pelas paredes da sala. Engatinhei rápido o suficiente para ganhar tempo e devagar o bastante para que o meu movimento não apagasse as chamas.
– Vinte e sete. – mais um número e o jogo será zerado.
Gastei o penúltimo fósforo dentro dessa sala, mas não obtive nenhum sucesso em achar algum número. Mais um fósforo. Como eu vou conseguir achar o próximo número com um fósforo? Limpei o suor da minha testa com a manga do casaco e voltei a apoiá-la no chão. O chão é de concreto! O concreto é resistente ao calor! Abri a caixa de fósforo e rasguei o papelão em cinco pedaços diferentes — guardei a maioria dos pedaços e deixei apenas um do lado de fora do bolso. Acendi o palito e ateei fogo no papelão fazendo o mesmo queimar. Fez fogo o suficiente para iluminar a sala e me fazer enxergar a parede. Nenhum número aqui.
Prossegui até a próxima sala e acendi outro pedaço de papelão esperando que o número estivesse nessa sala, mas o fogo apagou rápido demais. Merda.
– Bingo! – o dispositivo avisou. – Jogo concluído.
Alguém conseguiu achar o último número.
Engatinhei para fora da sala escura e olhei para as minhas mãos. Estavam sujas com um líquido esverdeado estranho, as limpei no casaco. Tirei a peça de roupa do corpo e joguei no lixo, quando eu retornar ao hotel irei lavar muito bem a minha mão e corpo. Todos os jogadores se reuniram no lado de fora da fábrica. Todos estavam bem.
– Hora de voltar para a praia. – Fuyuki avisou para os jogadores. – Bom jogo. – o homem se dirigiu a mim sério.
– Vamos para a praia! – os jogadores gritaram em êxtase prontos para embebedar.
Pov da minha rainha 🥺🤚
– Vocês sabiam que é "mal e parcamente" e não "mal e porcamente"? Descobri isso hoje e também descobri que sempre falei errado.
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