
8
Arisu Ryōhei
Me separaram das minhas amigas. Parte de mim acredita ter sido proposital e a outra parte agradece por não termos de jogar juntos. Nunca se sabe o naipe do jogo até fazer a inscrição e eu não quero mais arriscar jogar algum jogo de copas com elas. Já perdi muito nesse jogo, já tirei muito de Kin e não posso tirar nada de Usagi.
A mulher de óculos me levou de carro junto com uma menina que tinha mais ou menos a minha idade para a empresa de reserva de água — que fica localizada no bairro de Harajuku. As piscinas profundas que deveriam estar cheias de água até a borda estavam vazias. A única coisa que ainda restava nas piscinas era o resquício da chuva recente. Desci as escadas seguido pela mulher dos cabelos curtos e dos óculos escuros, foram longos lances de escada até chegar ao local indicado pelas setas.
A mulher passou pelo limite de lasers sem preocupação alguma, eu por outro lado, inspirei um bocado de ar antes de passar pelo limite — assim que você passa por ele não tem mais volta e se você tentar voltar, morre. Os lasers cortam qualquer coisa em pedaços.
Como de costume, havia uma mesa com celulares e uma placa escrito "um por pessoa". A mulher se aproximou da mesa e logo desbloqueou o aparelho utilizando o reconhecimento facial.
– Isso é um teste para você se tornar um membro executivo da praia. Não falhe. – a mulher se afastou da mesa indo em direção à parede.
Peguei um dos aparelhos e algo me causou estranheza: os celulares estavam com uma capa protetiva contra a água. Que diabo de jogo será essa vez? Uma menina de dreads com um cigarro na boca apagado chegou ao meu lado para pegar um celular.
– Sou a Kuina, prazer em conhecê-lo. – Kuina estendeu a mão direita para mim e eu aceitei.
– Arisu.
– Ann! Está vazando água e começou a inundar a área! – uma voz masculina ressoou atrás de mim. Então Ann é a moça dos olhos escuros. – Ei! Menino do jogo do símbolo! – o rapaz falou me fazendo virar para trás.
O menino de boné e blusa de flanela que Kin puxou a minha orelha e de Karube por não ajudar. Ele está vivo. Sorri ao ver o rapaz.
– Você está vivo! – comemoro.
– Sim! Agora eu sou um membro da praia! Cara eu trabalho na manutenção do lugar e...
– E detesto atrapalhar o momento genuíno do reencontro – Ann interrompeu o menino. – mas está na hora do jogo.
A menina que veio conosco no carro desceu as escadas correndo e pegou um celular para sí. Todos nós seguimos em direção da arena. As inscrições acabaram e o jogo estava prestes a começar.
O rapaz estava certo, a água tinha começado a inundar a área. Quando ele disse que estava vazando água pensei que fosse uma pequena poça no chão como a que se forma no banheiro na hora do banho, mas isso aqui não era uma poça. Seis canos grossos e largos – três de cada lado — jorravam água em uma velocidade constante e com potência. Então é por isso que precisamos das capas a prova d'água para os celulares.
Assim que o último jogador entrou na sala a porta se fechou. Algumas faíscas caiam do teto, um maquinario enorme cheio de fios e metais. As faíscas eram a dica perfeita que ainda corre eletricidade pelos fios. Metal é um bom condutor elétrico. A água já estava batendo na altura dos meus joelhos.
– Há sete participantes. – a voz eletrônica disparou. – Dificuldade: quatro de ouros. Jogo: lâmpada. O jogo começa agora.
– Essa é a última carta de ouros que nós precisamos. – Kuina falou consigo mesma.
– Pergunta: qual das três alavancas acende a lâmpada? – uma porta deslizante de ferro se abriu revelando uma sala minúscula com uma lâmpada pendurada no teto por um fio. – Regra número um: só uma das alavancas acende a luz. – haviam três alavancas: A, B e C. – Regra número dois: vocês só tem uma oportunidade de levantar a alavanca com a porta aberta. Se a porta estiver fechada, é permitido girar a alavanca quantas vezes quiser. Regra número três: se alguém estiver na sala ou uma alavanca ter sido girada, a porta travará automaticamente. O grupo só tem uma chance de responder. Se descobrirem a alavanca correta o jogo é zerado, mas se a água subir e alcançar os fios é fim de jogo.
A menina que veio comigo no carro parecia hipnotizada pelo fio. Antes que eu pudesse pedir para que ela se afastasse o cheiro do queimado invadiu as minhas narinas. A menina encostou no fio e seu corpo foi chamuscado e empurrado para longe. Agora seu corpo boiava na água que começava a subir de nivel.
– Vamos ser eletrocutados. – Ann deu de ombros casualmente e voltou a olhar o celular, como se a morte da menina e o jogo não a afetasse.
– Que incrível! – Kuina levantou as mãos no ar com cuidado para não acertar os fios zombando da situação.
– É só descobrir a chave certa. – o rapaz tentou parecer confiante, mas sua voz falhou. – Eu entro na sala primeiro e nós nos revezamos.
– Não! – Kuina gritou. – Se entramos lá a porta não vai mais fechar!
– E o que devemos fazer então? Não dá para saber se a luz acendeu com a porta fechada! – o rapaz girou o boné na cabeça.
– Se você girar a alavanca A e a resposta não for essa, a luz não vai acender. – Ann desviou o olhar do celular por alguns segundos para fitar o menino.
– E daí? Vamos girar a alavanca A com a porta aberta e se não acender só poderá ser a B ou C. Cinquenta por cento de chance.
– A chance é de sessenta e seis porcento. – Ann falou colocando a mão com o celular para baixo. – O que voce vai fazer Arisu?
– Eu? –engulo em seco. Os nervos e a tensão começavam a se aflorar pela minha pele. – Vamos virar uma alavanca com a porta aberta! Se não der certo vamos escolher entre as que sobraram!
– Então você vai chutar a escolha como em uma prova? – A mulher de óculos escuros gargalhou com escárnio.
– Não temos escolha! – rebato.
– Claro, Arisu! Use as sete vidas que tem aqui dentro para desafiar a probabilidade. Oops! – Ann falou olhando o corpo da menina boiando na água. – Seis.
– Se você está tão confiante assim, responda você! – por um momento eu quis rir, falei como um Daikichi.
– Estou testando você. Agora pense.
– Não venha com essa merda para cima de mim! – Kuina se desencostou da parede e deu um bom passo para frente. – Não nos arraste para o maldito teste do novato.
A água já estava na minha cintura.
– Vai desistir, menina? – Ann perguntou calando Kuina.
– Se ela não desiste eu desisto! – o rapaz do boné se mostrava mais desesperado do que qualquer um dentro dessa sala. – Fale logo antes que todos nós sejamos eletrocutados!
Kuina bufou.
– Ande logo Arisu! Antes que seja tarde demais!
Eu não consigo pensar bem sob tanta pressão. Se Kin ou Usagi estivessem aqui elas saberiam o que fazer e saberiam como acalmar, se elas estivessem aqui eu estaria mais calmo. Elas iriam dar um jeito. Pense Arisu! O barulho da água enchendo a sala e da carga elétrica dançando pelos fios me deixava cada vez mais ansioso e pressionado. A água já batia no meu peito. Pense Arisu! O que eu sei sobre o jogo? O que eu sei sobre o jogo? Apenas uma das alavancas acende a luz. Ok. O que mais? Pense, pense, pense! Só temos uma chance de girar a alavanca com a porta aberta. O que eu estou deixando passar? O que foi que eu ainda não me toquei? O fio estalou sobre a minha cabeça e eu quase pude sentir o calor da eletricidade. Calor!
– Fechem a porta agora!
– Por que? – Kuina gritou. O som da água sendo despejada era alto.
– Só faça isso!
Assim que Kuina fechou a porta eu girei a alavanca A e esperei alguns segundos.
– Agora abra! – o rapaz do boné foi até Kuina ajudá-la a abrir a porta. Ninguém disse nada.
Girei a alavanca B com a porta aberta e a luz não acendeu.
– Kuina veja se a lâmpada está quente!
A mulher entrou na sala com dificuldade devido a força da água que nos rodiava. A água estava limitando a nossa movimentação, a água já estava batendo no meu pescoço. Kuina tirou a mão instantaneamente da lâmpada.
– A resposta é a A. – Ann e eu famos ao mesmo tempo.
– Resposta correta. – a água parou de subir. – Jogo concluído. – a voz eletrônica disse e a porta por onde entramos se abriu.
– Eu não entendo. – Kuina estava boquiaberta.
– Se a porta estiver fechada, é permitido girar a alavanca quantas vezes quiser. Girei a alavanca A. Como quando girei a alavanca B e a luz não se acendeu e a lâmpada estava quente, a resposta certa era A. Energia gera calor.
– E por conta disso, Arisu aumentou a nossa chance de sobrevivência para noventa e nove por cento de chance. Está na hora de voltar para a praia.
Na saída ninguém se preocupou com o corpo da menina com exceção de Ann. A mulher com a ajuda do rapaz, levou o corpo até a mala do carro e algo me diz que não será para um enterro. O rapaz entrou no carro conosco junto com Kuina. Antes de entrar no veículo Ann sorriu para mim e disse:
– Parabéns, Arisu.
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