Capítulo 04: À Beira Da Insanidade
UMA SEMANA APÓS o início das férias e Wendy já estava à beira da insanidade.
Sua residência era de dimensões generosas, mas a falta de opções de entretenimento a deixava entediada. Assim, ela vagava pelas extensas plantações da fazenda, vestindo um chapéu com um laço encantador em tom de rosa bebê, um vestido amplo que rodopiava com seus passos e o habitual pirulito de cereja adornando seus lábios.
Enquanto caminhava, seus pensamentos se dirigiam às notas escolares, que haviam sofrido uma decadência considerável, especialmente após sua incursão no mundo de Mello e das festas, um desvio que havia claramente prejudicado sua concentração.
Aquele mundo de excessos, no qual ela mergulhara, estava agora em contraste com a serenidade das plantações, deixando-a contemplativa e ciente das escolhas que precisava fazer para recuperar seu foco e equilíbrio. Wendy sabia que era hora de reavaliar seu caminho e reencontrar a concentração necessária para retomar seus estudos e sua vida com uma perspectiva mais equilibrada.
Mas era quase impossível para sua atenção.
Wendy delicadamente colheu um morango maduro diretamente do pé e observou sua coloração vermelha vibrante e sua forma generosa. Contudo, ela não pretendia saboreá-lo ali; em vez disso, planejava levá-lo para sua mãe. Embora tivesse plena consciência de que provavelmente receberia uma bronca por colher morangos, estava decidida a surpreender sua mãe com esse gesto.
Wendy estava prestes a continuar seu passeio pelas plantações quando Touta Matsuda, um dos funcionários que trabalhavam para seu pai na fazenda, a chamou pelo nome com um grito estridente. Curiosa, Wendy se virou com uma sobrancelha arqueada, aguardando o que ele tinha a dizer.
Matsuda correu em direção a Wendy, ofegante e ansioso, após instantes, finalmente conseguiu falar:
━ Srta. Keehl! Sua mãe está te chamando. Ela disse que é algo realmente importante! ━ Wendy inclinou a cabeça para o lado, surpresa com o chamado repentino. Sabia que sua mãe geralmente preferia descansar na cama, então a urgência desse chamado a deixou intrigada e preocupada.
Wendy se aproximou de Matsuda com uma expressão de inquietação, sua curiosidade acentuada pelo chamado urgente. Ela indagou ao mesmo:
━ Matsuda, você tem alguma ideia do que minha mãe quer? ━ ele coçou a nuca com um gesto nervoso, antes de responder.
━ Não tenho certeza, Srta. Só disse que era algo importante e que você deveria ir até ela o mais rápido possível. ━ ele respondeu com um aceno, e Wendy, com uma sensação de calma relativa, dirigiu-se à sua casa.
Matsuda, com sua natureza afável, continuou a acompanhá-la, iniciando uma conversa sobre os morangos e o progresso da colheita, mantendo a atmosfera leve enquanto a envolvia em histórias sobre as peculiaridades das plantações e as peripécias na fazenda que mantinham as coisas interessantes.
Wendy apreciava essas conversas, que serviam como um breve escape das preocupações que a haviam assaltado momentos antes.
WENDY ENTROU EM casa apressadamente, com preocupação evidente em seu rosto.
Ela fez questão de limpar a sujeira da plantação de seus sapatos e lavar as mãos antes de se aproximar de sua mãe, que estava sentada no sofá da sala com um lençol sobre as pernas. O rosto adorável e reconfortante de sua mãe a deixou momentaneamente em dúvida, mas ela não podia ignorar a urgência do chamado.
━ Mãe, a senhora está bem? O que aconteceu? Por que me chamou? Onde está Mello? ━ Wendy perguntou com pressa, sua voz carregando a ansiedade que sentia, enquanto se ajoelhava ao lado do sofá para estar mais próxima de sua mãe.
━ Wendy, estou bem, fique tranquila. Mello está descansando, e chamei você aqui porque a visita que temos é para você, não para ele. ━ 'tranquilizou' a mulher com um sorriso terno, enquanto seu olhar percorria a sala à procura de alguém que Wendy jamais esperaria encontrar ali: Near, ou melhor, Nate.
Ele se erguia com uma presença marcante, vestindo uma camisa social branca de corte impecável, com os primeiros botões desabotoados, revelando sutilmente a pele do pescoço. Sua calça jeans acentuava sua figura esguia, proporcionando um contraste com o quadril ao conjunto.
No entanto, eram seus olhos penetrantes e sorriso leve que capturavam a atenção de Wendy.
Nate brincava com uma mecha de cabelo, deixando-a cair graciosamente sobre a testa, um gesto que, além de casual, realçava sua aparência atraente e descontraída. Era um contraponto intrigante à sua característica expressão séria e às olheiras que, curiosamente, acrescentavam um certo charme à sua imagem.
A surpresa que varreu Wendy era inegável, e suas bochechas coraram involuntariamente diante da presença inesperada de Near. Ela fez um esforço consciente para conter a avalanche de sentimentos que a assaltava e, com um sorriso nervoso, estendeu a mão em saudação, cumprimentando Nate de maneira calorosa, porém um tanto perplexa.
O reencontro com alguém que já fizera parte de sua vida de forma tão intensa a deixava emocionalmente atordoada, mas também intrigada, ansiosa para entender o motivo de sua visita. Tudo bem que ela o via todo santo dia no colégio, mas não em sua casa.
O que diabos estava acontecendo? Por que diabos Near estava em sua casa?
As últimas lembranças que Wendy tinha de sua visita remontavam a quando tinha apenas doze ou treze anos.
O que a estava perturbando era como Near aparecia repentinamente, carregando uma onda de calor que inundava suas bochechas, parecia um regresso a um jogo de faz de conta da infância.
Lembrava-se vividamente de como as visitas de Near, naquela época, eram um tanto desconfortáveis, dadas suas atitudes hostis e seu orgulho inabalável. O mistério em torno de sua visita e a inevitável sensação de reviver antigas lembranças a deixaram intrigada e ansiosa por respostas.
As palavras fugiram de Wendy, deixando-a momentaneamente sem saber o que dizer. O turbilhão de sentimentos e as lembranças do passado com Near a atingiram como uma onda.
Tentando compreender o motivo por trás dessa visita inesperada, ela finalmente conseguiu reunir seus pensamentos e proferir mentalmente em forma de teste: "Nate, é realmente uma surpresa te ver aqui. Eu sei que estudamos juntos, mas como tem passado?".
Wendy mal podia disfarçar a curiosidade que borbulhava dentro dela, aguardando ansiosamente as explicações que Nate traria.
━ Mãe... o que ele está fazendo aqui? ━ Wendy perguntou, sua incredulidade ainda visível em seus olhos.
A mulher à sua frente sorriu ainda mais, revelando um segredo que parecia aguardar ansiosamente para ser compartilhado.
━ Se me permite responder, vim chamá-la para estudar. Talvez tenha esquecido, mas foi a recomendação da escola. ━ ele respondeu, oferecendo um breve sorriso.
Wendy levou a mão à testa, fechando os olhos com força. Como poderia ter esquecido de um detalhe tão crucial? E o que diabos estava passando pela mente de Near para segui-la? Por que ele não simplesmente ignorou o convite?
Nada fazia sentido, e Wendy sentiu que a confusão estava tomando conta de sua mente. Ela estava à beira de enlouquecer.
━ Não é ótimo, minha filha? Near e você juntos novamente, como quando eram crianças! Por que nunca me disse que estudavam juntos? E também, por que não compartilhou que estava passando por dificuldades na escola? ━ Wendy sentiu uma onda de frustração crescer enquanto sua mãe parecia exultante com a presença de Nate ali.
Era evidente que as duas famílias nutriam a esperança de laços mais fortes entre seus três filhos, Wendy, Mello e Nate River.
A ideia era que os três fossem amigos, mas o destino havia feito Near crescer mais introvertido que o normal.
Wendy suspirou profundamente, abrindo os olhos, e encarou Near com uma mescla de irritação e questionamento.
━ É verdade... Como pude esquecer disso? ━ ela riu suavemente ao disfarçar, desejando secretamente que a terra se abrisse e a engolisse, enquanto mexia seu pirulito constantemente na boca. Uma espécie de distração que a ajudava a lidar com a situação.
━ Wendy, querida, que tal tomar um banho, pegar suas coisas e ir estudar na casa dos River? Com a colheita em pleno andamento, aqui em casa está um tanto barulhento, você sabe como é. ━ a mulher sugeriu com um sorriso. Wendy suspirou, concordando com a ideia e se levantou para seguir as instruções de sua mãe. ━ Ela já volta, Nate!
Wendy cravou suas unhas na palma de sua mão, julgando a si mesma mentalmente por ir tão mal na escola, se fosse um tico melhor, poderia se livrar dessa situação. Poderia se livrar de Near como ele tanto demonstrou querer.
Ele se achava melhor que ela, só por ser mais inteligente e todo mimimi e ela odiava isso, mas não conseguia conter sentimentos de infância por ele, e ela se odiava por isso.
━ Merda... ━ ao entrar em seu próprio quarto, Wendy estava visivelmente contrariada. Ela resmungou baixinho, fechando a porta com um estrondo que ecoou pelo corredor.
Do fundo da casa, Mello gritou algo como "quebra!", mas Wendy apenas encolheu os ombros, presumindo que ele já estivesse acordado há algum tempo.
Ela caminhou até sua cama e jogou sua mochila com um suspiro de alívio, como se tivesse finalmente chegado em um refúgio seguro. Wendy começou a trocar de roupa, escolhendo um shorts jeans confortável e despojado, acompanhado de um croptop rosa que, apesar de não ser excessivamente curto, deixava um pouco da pele da sua barriga à mostra.
O toque final foi um lacinho branco que adicionava um toque de charme ao seu visual.
Diante do espelho, Wendy examinou atentamente o reflexo de si mesma, deslizando suavemente a mão pela trama do tecido que cobria seu corpo. O que mais a encantava na casa dos River era o vasto jardim, um lugar que costumava ser o epicentro das festas memoráveis que a família costumava promover para o bairro.
No entanto, um dos pontos altos desse paraíso verde era a casinha da árvore, situada no quintal, que sempre a deixava maravilhada. Era um local verdadeiramente incrível, cheio de segredos e aventuras esperando para serem explorados.
Os pais de Near, donos da casa, eram pessoas amáveis, com quem os pais de Wendy mantinham uma amizade de longa data. Durante a infância, as duas famílias eram tão próximas que pareciam uma só, formando uma grande família.
Mas com o tempo, desavenças surgiram entre os três mais jovens, e essa união se desgastou gradualmente, resultando em um afastamento entre as famílias, embora as memórias dos dias mais felizes ainda persistissem.
━ Wendy, minha filha! Vamos logo! O Near está esperando! ━ a mãe de Wendy chamou, fazendo-a arregalar os olhos ao vê-la ali. Wendy rapidamente correu até sua mãe e passou um dos braços em volta do pescoço dela.
━ Mãe! A senhora está maluca de vir aqui sozinha?! ━ Wendy reclamou, com um semblante sério, levando sua mãe até a cama e acomodando-a sentada.
━ Estou bem, querida! E não estou sozinha. ━ afirmou a mais velha. Num instante, Near abriu parcialmente a porta do quarto de Wendy, causando uma rápida mudança na cor de suas bochechas. Ele observou o ambiente e Wendy seguiu o olhar dele até que ele se fixasse em um quebra-cabeças específico.
Imediatamente, Wendy correu na direção do objeto, pegou o quebra-cabeças e o lançou ao chão, iniciando o processo de desmontagem com um misto de determinação e ansiedade.
Near arqueou uma sobrancelha, e a mãe da garota observou a cena desenrolar-se rapidamente.
━ Wendy, você está ficando louca? O que aconteceu, filha? Esse não é o quebra-cabeça que você montou com o Near? ━ questionou a mais velha. Wendy sentiu seu rosto ruborizar mais do que imaginava ser possível e, tomada pelo pânico, começou a rir nervosamente.
━ O que ele está fazendo aqui? ━ Mello indagou, aproximando-se com o torso sem camisa, claramente revelando que tinha acabado de sair da cama. Wendy, ao ver a cena, levou a mão à testa, sentindo-se constrangida diante da situação inesperada.
━ É bom te ver também, Mello. ━ Near cumprimentou, esboçando um sorriso educado, enquanto Mello revirava os olhos com um ar de desdém, desviando do River com um empurrão sutil ao passar pelo mesmo.
━ Sua irmã vai estudar com o Near. Venha me ajudar a levantar. ━ pediu a mulher, fazendo com que Mello arregalasse os olhos.
━ Nem fudendo que ela vai. ━ ele pontuou, cruzando os braços e encarou Wendy. ━ Você não vai né?
© Victória Melo, 2023
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