⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⩩⦙ 019 - Black Velvet - Alannah Myles
DESDE A PRIMEIRA VEZ QUE ROBIN EAGLES assistiu a série How I Met Your Mother ela levou para o coração a seguinte frase dita por seu ideal de homem romântico, Ted Mosby, "Nada de bom acontece depois das duas horas da manhã". Apesar da frase soar idiota para a maioria das pessoas, para a Eagles mais nova ela fazia muito sentido.
Grandes partes dos eventos ruins que ocorreram na vida pessoal da adolescente, ou que desencadearam uma série de infortúnios, aconteceram depois das duas horas da madrugada. Por exemplo, o pior porre, o pior sexo, a pegadinha que culminou na morte do Pierre, os demônios que invadiram sua casa e a obrigaram a entrar no pior estilo de vida existente. Eventos que poderiam ter sido evitados caso estivesse dormindo em sua cama. Mas, como aprender lições com a dor nunca foi o seu forte, ela preferiu ignorar o relógio e ingressar no Impala dos irmãos Winchester acompanhada do Sam, ignorando sua própria regra e conselho pessoal.
O trajeto foi silencioso, apesar de estar trabalhando sigilosamente em equipe, Robin tinha conhecimento de que o Winchester mais novo não confiava cem por cento em sua pessoa, principalmente depois do levante das testemunhas. Mesmo parecendo ingênua aos olhos de desconhecidos por suas feições doces e delicadas, Robin era mais esperta do que podiam notar, conseguindo captar nos pequenos detalhes que, da mesma forma que Sam, nenhum outro caçador confiava inteiramente nela, preferindo Agnes e a salvando caso tivessem de escolher algumas das irmãs Eagles.
A loira achava impressionante como eles eram cegos quando o assunto era Agnes, sendo capazes de ignorar o fato da morena não ter fantasmas em seu encalço. Para Robin aquela era a prova final de que Agnes fazia jus ao sangue que corria em suas veias, sendo o monstro que o pai fazia questão de ofender durante os jantares. As almas daqueles que morreram pelas mãos da Eagles mais velhas sabiam da verdade, que não dava para esperar outra coisa de alguém como ela. Porém, a única vista com maus olhos estava sendo ela, a pessoa que não teve culpa dos atos dos falecidos. Afinal seus fantasmas haviam se matado, não tinha o peso que tentavam colocar sobre seus ombros, foi só uma fatalidade de quem não aguentou comentários sinceros sobre a aparência e nem uma brincadeirinha inofensiva para descontrair. Todos haviam rido, a culpa não foi dela que teve a ideia e nem por ter sido a única a ter coragem de dizer para Lucy que ela não se encaixava nos padrões esperados do seleto grupo de líderes de torcida, aquilo era a vida e não um filme de comédia romântica adolescente.
Por conta do horário na pacata cidade em que estavam passando de viagem, não havia uma alma viva caminhando pelas ruas, a maioria das lojas estavam fechadas com exceção de alguns raros pontos de conveniência que funcionam vinte e quatro horas. Devido ao movimento quase nulo na rua, a luz dos faróis piscavam constantemente no amarelo. Ignorando para onde Sam poderia estar a levando, Robin manteve-se entretida no Game Boy que conseguiu comprar de um viciado por preço acessível no último posto de gasolina que haviam parado, estando mais determinada em enfrentar sua próxima batalha Pokémon do que decorar a rota. Aquele Game Boy seria sua única fonte de entretenimento pessoal, já que Bobby havia a obrigado a excluir todas as suas redes sociais, tanto fakes quanto reais, para não colocar em risco a sua segurança. O que ela considerava estúpido, pois o trabalho de caçador além de ser voluntário poderia mata-los mais rápido e tinha o triplo do perigo do que conversar com desconhecidos na internet.
A adolescente estava tão entretida em seu jogo eletrônico que demorou algum tempo para notar que Sam havia estacionado o carro em um beco escuro, percebendo o ato do motorista somente quando ele começou a trocar mensagens pelo celular. Ela suspirou desgostosa e olhou por cima na direção do rapaz, estando descrente que ele preferia o aparelho eletrônico do que descobrir mais coisas sobre ela. Por mais que ele tivesse tentado puxar assunto várias vezes durante a viagem, todos eles terminavam no nome da irmã, tornando-se um ciclo vicioso com os caçadores no caminho. Robin estava cansada disso, de todos terem histórias felizes com a mais velha e a rebaixarem como "irmã da Agnes", as pessoas não a conheciam por outro termo e, como notava com os Winchester e com Bobby, não estavam dispostas a conhecerem melhor. Qualquer pessoa iria preferir ela ao perceberem que poderia oferecer mais do que a outra, que ela era o próprio milagre na Terra. Mas não, elas escolhiam a irmã rabugenta e movida na força bruta do ódio.
"Deve ter dado um chá de buceta poderoso em toda a galera que caça o sobrenatural" Pensou Robin fazendo uma careta enojada, pois para ela não havia outra explicação para colocarem Agnes em um pedestal. Afinal a própria adolescente utilizava de artimanhas parecidas para conseguir seu lugar no topo da pirâmide estudantil, mas ao invés de sair com qualquer pessoa que cruzasse seu caminho, ela selecionava seus companheiros a dedo, dando sempre a última palavra e mostrando o quanto eles eram sortudos por terem a Queen B como acompanhante.
― O que foi? ― Perguntou Sam ao ouvir a loira bufar alto por conta do tédio e dos pensamentos sobre a irmã mais velha estar roubando a atenção que deveria ser dela.
― Não é da sua conta ― Respondeu a menina rispidamente sem tirar os olhos do Game Boy ― A Ruby vai demorar muito ou está torturando pobres almas?
― Ela disse que está o prendendo na armadilha ― Disse Sam fechando o aparelho celular. ― Nos mandará entrar quando for a hora.
― Caso ela se prenda pode usar seus dons nela ― Robin moveu os ombros com desdém ― Já sabe o que precisa, Ruby está quase obsoleta.
― Ruby não é obsoleta, ela está nos ajudando ― Falou Sam fazendo careta com o comentário da adolescente ― Eu preciso dela.
― Não, não precisa! Pelo amor de Deus, Sam. Você tem a mim ― Robin desligou o Game Boy e virou para o rapaz, encostando o cotovelo no banco do carro ― Sabe que vejo faces, sei quando alguém está possuído.
― Mas tem outra coisa...
― Não me diga que está fodendo com um demônio, Samuel! Sorte que não é capaz de ver suas verdadeiras feições ― Robin fingiu vomitar. ― Patético...
― Está tudo pronto lá dentro ― Anunciou Ruby batendo no vidro do carro antes que Sam pudesse responder o comentário da loira. ― Está de babá outra vez?
― Não me irrite, projeto de capiroto ― Rebateu Robin sendo a primeira a deixar o automóvel, ela parou na frente da demônio estralando os dedos das mãos ― Minha paciência está nos limites, uma gota e eu explodo.
― Gostaria de vê-la tentar! ― Provocou Ruby empeitando Robin.
― Vagabunda dos infernos! ― Sem temer a criatura, Robin ergueu a mão estando pronta para atacar seu pescoço. Entretanto Sam a segurou antes que pudesse agarrar Ruby e fazê-la engolir suas palavras.
― Chega, estamos todos do mesmo lado! ― Protestou Sam forçando a menina a baixar o pulso ― Não devemos nos provocar, temos trabalho a fazer.
― Foda-se! ― Reclamou Robin fazendo caretas e tomando a dianteira.
― Uau! Ela tem a língua afiada como a irmã. ― Ironizou Ruby rindo de escarnio.
― Não provoque ela, Ruby ― Ordenou Sam balançando a cabeça negativamente. ― Você sabe que ela pode te matar.
― Argh! Que bosta! ― Protestou Ruby tomando a dianteira na caminhada, ao passar por Robin ela lhe empurrou com os ombros.
― Puta! ― Robin fez careta ao desequilibrar o corpo e quase cair, acariciando o ombro e olhando com desprazer para a morena.
O estabelecimento escolhido por Ruby era um depósito abandonado no meio da estrada, o tipo de local que deixaria todo Serial Killer e psicopata feliz. Preso do outro lado da sala, estando amarrado em uma cadeira abaixo de uma armadilha do diabo se encontrava um demônio de encruzilhada. Caso fosse em outros tempos, ela temeria o homem ao notar sua face assustadora, porém agora já estava habituada em ver as verdadeiras faces do mal.
― Chegou o casal infernal com sua filha, a criança prodígio. ― Ironizou o demônio preso tentando sair das amarras.
― Vamos acabar logo com isso, tenho uma batalha mais interessante para duelar no meu Game Boy ― Disse Robin ignorando o sarcasmo da criatura e sentando sobre algumas caixas empilhadas. ― Mas se ele demorar para conseguir, faremos do meu jeito. Agora, sem firulas, pergunta logo para ele.
― Qual o seu problema, garota? ― Perguntou Ruby olhando irritada para a menina.
― Você. Sebosa! ― Robin sorriu sem mostrar os dentes e de modo debochado.
― Cadê a Lilith? ― Perguntou Sam ignorando as mulheres, seguindo com o trabalho que vieram fazer.
― Vai se ferrar. ― Retrucou o demônio espreitando os olhos.
― Eu teria cuidado se fosse você. ― Falou Sam com um sorriso ácido na face.
― Por quê? Hã? Você é Sam Winchester, o grande herói? Mas você está aqui, vadiando com o demônio e com a queridinha do diabo. ― Disse o homem amarrado olhando do Sam para Robin. ― Estão bem aqui.
― Cale a boca. ― Ordenou Robin saltando furiosa das caixas, ela detestava quando diziam que ela era a queridinha do rei do inferno. Principalmente por ela ser quase um ser humano perfeito, pelo menos estava acima da média. ― Antes que eu faça você calar.
― Que tal tratarmos de assuntos familiares primeiro? Sua irmã sabe que você está com eles? Que está ajudando as criaturas que levaram o seu paizinho? ― Perguntou o homem sorrindo jocoso, em seguida ele virou para Sam. ― E você? Que tal falarmos desses meses longe do seu irmão? Fale das coisas que faz no escuro com a demônio vadia. Hã? Não vão contar?
Irritado com a falação do prisioneiro, Sam estendeu a mão direita em sua direção com a palma da mão estendida para frente e utilizando dos seus poderes psíquicos adquiridos de forma não convencional, fez com que o homem começasse a regurgitar fumaça negra e com odor forte de enxofre. Em poucos minutos Sam fez o exorcismo com maestria, deixando a casca livre daquele que o prendia dentro de sua própria mente. Ao ver o bom trabalho feito pelo pupilo, Ruby sorriu orgulhosa.
― Argh! Minha vez! ― Robin aproximou do homem desmaiado e checou seus batimentos cardíacos pelo pescoço, aproveitando para curar os pequenos machucados que ele possuía no corpo ― Felizmente vivo, mas não graças a mim. Faço milagres, mas ressuscitar mortos está fora do meu departamento.
― Como se sente, Sam? ― Perguntou Ruby animada com o avanço do aprendiz. ― Hoje seu nariz nem sangrou.
― Bem. Sem dores de cabeça ― Respondeu Sam orgulhoso, ajudando Robin a desamarrar o pobre coitado que aos poucos recobrava a consciência.
― Nada? Que bom! ― Elogiou Ruby.
― Oi, oi! Calma! Está tudo bem agora, senhor ― Avisou Sam ao desconhecido enquanto o ajudava a levantar.
― É melhor levarmos para um hospital, fiz o que deu e o que o não deu já não é problema meu, nem o que dava era ― Robin moveu os ombros com desdém.
Desde que Sam havia descoberto que a adolescente era capaz de gerar pequenos milagres, ele exigia que utilizasse de seu dom com frequência quando saiam escondidos, o que a cansava além do normal por ter que disponibilizar parte de sua energia para os desconhecidos. E se existia algo que Robin detestava era ter que tirar parte do que é seu para oferecer aos outros que nem ao menos serão capazes de agradecer.
Lentamente eles se viraram para a saída do estabelecimento, a loira estava com ambas às mãos no bolso, deixando o trabalho pesado de carregar o civil para Sam. Quando estavam quase alcançando a saída tiveram uma surpresa desagradável, Dean Winchester, a última pessoa que queriam que soubesse do que aprontavam durante as saídas noturnas, entrou irritadiço pela porta. "Definitivamente nada de bom acontece após as duas da manhã" Pensou Robin revirando os olhos ao notar que Dean tinha o mesmo olhar irritado que Agnes quando estava furiosa, por isso os dois se entendiam, eram farinha do mesmo saco.
― E aí? Vocês possuem alguma coisa para me contar? ― Perguntou Dean furioso intercalando seu olhar entre o irmão e a irmã da melhor amiga.
― É a primeira vez que estou aqui, seu irmão disse que queria me mostrar uma coisa legal... ― Robin começou a explicar com a voz falha e fingindo-se de inocente, mas foi interrompida por Dean.
― Não fode, Robin! ― Urrou o mais velho ― É óbvio que você já sabia dessa palhaçada, seja mulher e assuma.
― Ou o que? Vai correndo contar para a minha irmã? Não fode você, Winchester ― Reclamou Robin mostrando o dedo indicador para o mais velho.
― Dean, espera aí... ― Começou Sam soltando o desconhecido e entrando no meio de Robin e Dean, o qual estava caminhando com passos pesados até a adolescente.
― Vai me bater? Venha! Minha irmã vai adorar te mandar de volta para o inferno quando souber disso ― Provocou Robin batendo as mãos sobre o peito e o chamando para briga.
― Cala a boca, Robin! ― Ordenou Sam erguendo o dedo indicador para que ela ficasse quieta ― Dean, eu posso...
― Explicar? É isso? Como podem explicar? Porque não começa dizendo quem é ela e o que ela está fazendo aqui ― Ordenou Dean apontando raivoso para Ruby.
― Bom te ver, Dean! ― Ironizou Ruby.
― Ruby? Essa é a Ruby? ― Perguntou Dean olhando friamente para Sam.
― Ela mesma ― Assentiu Robin tentando fazer com que um irmão ficasse contra o outro, assim a raiva de Dean deixaria de estar focada somente em seus ombros ― Seu irmão está fodendo com a vadia do inferno.
Sem pensar duas vezes, Dean agarrou Ruby pelas golas das vestes e a empurrou com força contra a parede. Com movimentos rápidos de um exímio caçador, ele retirou a faca mágica de matar demônios do cós da cala e ergueu para esfaqueá-la. Antes que pudesse completar o movimento e para a tristeza de Robin, Sam o interrompeu, correndo até Dean e segurando seu braço. Impedindo que o mais velho desse um fim da vil criatura.
― Merda! ― Murmurou Robin inaudível e com expressões chateadas.
― Dean, não! ― Ordenou Sam desarmando o irmão.
Preferindo não interferir nos casos de família que acompanhava ao vivo, Robin encostou o corpo contra a parede, saindo do caminho para que eles rolassem caso houvesse uma briga digna de MMA.
Ao ser desarmado, Dean arremessou Sam contra a parede do outro lado do depósito. Nesse meio tempo, Ruby conseguiu escapar e partiu para cima do Dean, o grudando pela gola das vestes e o empurrando contra a parede como ele havia feito mais cedo.
― Aposto vinte pratas no grandão ― Sussurrou Robin ao homem que havia voltado a sentar na cadeira e também acompanhava a briga, mas com expressões perdidas e confusas.
Notando que Dean poderia perder a briga e aproveitando para se vingar dos deboches da Ruby, Robin pegou um pedaço grande de madeira do chão e o utilizou como bastão, batendo com força na cabeça de Ruby. Mesmo sabendo que poderia usar dos seus poderes para se livrar da demônio, ela havia irritado Dean a ponto de ter noção que ele a mataria assim que mostrasse ser "especial".
― Você está louca? ― Perguntou Ruby soltando Dean ao receber a paulada na cabeça e virando na direção da mais nova, a qual sorriu de escárnio.
― Sou irmã da Agnes, o que você acha? ― Perguntou Robin dando com os ombros e devolvendo o pedaço de madeira no chão.
― Parem de brigar! Tudo tem uma explicação! ― Ordenou Sam se recuperando do empurrão ― Só nos deixe explicar, Dean.
― Explicar? Explicar o que? Que vocês estão se envolvendo com negócios do demônio? ― Rebateu Dean cuspindo as palavras e apontando para Ruby ― Eu vou matar essa desgraçada.
― CHEGA! ― Gritou Robin fazendo com que as luzes explodissem ao iluminar o recinto por alguns segundos ― CHEGA! Agora é minha vez de interferir. Ruby, leve o homem daqui.
― Tudo bem ― Assentiu Ruby apesar de discordar da ideia. Frustrada, ela auxiliou o ex-possuído a levantar, passando o braço do mesmo ao redor do próprio pescoço.
― Para onde pensa que vai? ― Perguntou Dean revoltado.
― Ao pronto-socorro. A não ser que queira brigar antes ― Respondeu Ruby raivosa.
― Ninguém vai brigar mais! ― Repreendeu Robin encostando as pontas dos dedos no braço da Ruby com parte do seu poder, fazendo com que o demônio se contorcesse com o toque ― Agora, suma daqui!
― Até que é obediente a vadiazinha! ― Resmungou Dean irritado.
Ruby ameaçou voltar a ataca-lo, porém a loira fechou o punho contra o braço da demônio, fazendo com que ela se contorcesse.
― É melhor você ir ― Ordenou Robin ― Eu disse que posso te machucar.
― Vá, Ruby! Ele está mal ― Disse Sam com voz serena e aproximando das meninas, ele segurou o pulso da mais nova e a obrigou a soltar o braço da morena. ― Robin...
― Robin! ― Dean gritou o nome da loira ― Você vai voltar comigo, a embarcarei em um ônibus direto para Sioux Falls.
― Dean, não está falando sério... ― Robin começou a protestar, teria que dar muitas satisfações para a irmã mais velha e ao Bobby quando eles souberem que foi expulsa da caçada com os rapazes.
― Eu disse agora, Robin! ― Utilizando da voz de adulto responsável, Dean segurou Robin com força suficiente para mantê-la presa, mas não para machucar e a puxou para fora do balcão abandonado.
― Para, você está me machucando! ― Ordenou Robin tentando se soltar das mãos de Dean ― A minha irmã vai saber disso!
― Ah! Pois ela vai mesmo! ― Crispou Dean entre os dentes
― Dean, espera... ― Implorou Sam caminhando atrás do irmão mais velho e da amiga, a qual era arrastada até o Impala. ― Dean...
― Eu te odeio! ― Gritou Robin ao ser lançada para dentro do Impala.
― Que pena, princesa! O sentimento é recíproco! ― Anunciou Dean trancando a menina dentro do carro.
Se comportando como uma criança mimada, ela gritou e bateu os pés antes de se acomodar direito no banco do passageiro e vestir o cinto de segurança. A fúria não se dava tanto por Dean ter descoberto dos negócios obscuros que vinha trabalhando com Sam, mas pela confiança quebrada. Ela não havia interpretado direito o seu papel de menina inocente, jogando ainda mais o caçador sobre os braços da irmã mais velha. Precisava arquitetar um plano perfeito e rápido para tirar o peso de suas costas. Achava terrível como Agnes tinha razão, que o caçador não a veria como o "pequeno milagre na Terra", mas como sua próxima caça. Ao menos Agnes sabia que ela estava envolvida nos negócios do Sam, tanto que o Winchester mais novo havia ameaçado contar sobre os poderes dela ao Dean caso ela o entregasse.
― Vou embarcar você no primeiro ônibus que tiver para Sioux Falls! ― Relembrou Dean dirigindo como um louco na autoestrada. ― E ao chegar lá não quero que diga nada a Agnes sobre o que houve. Ela não merece saber que sua única irmã, a pessoa mais importante da sua vida, está se engraçando com um demônio.
― Espera, o que? ― Perguntou Robin surpresa ― Pensei que você fosse me entregar para a Agnes. Não vai falar nada a ela? Nadinha? UAU!
― A Agnes não merece esse desgosto. ― Vociferou Dean apertando o pé no pedal ― Mas saiba que sua irmã sacrificou muita coisa na vida para que você levasse a vida que tem, seu pai era um monstro. Ela nunca recebeu amor paterno, ele a tratava feito um animal. Sabia que ela tem marcas de queimaduras de cigarro nas costas? Lorcan era um monstro.
"Isso explica a vida sexual dela" Pensou Robin curvando o lábio e balançando a cabeça positivamente.
― Você não vai falar nada? ― Perguntou Dean ao notar o descaso nas expressões da mais nova.
― Falar o que? Você não está querendo ouvir minhas explicações.
― Explicações suas? Não! Se tiver alguém que pode me explicar o que está acontecendo, essa pessoa é o meu irmão. É o Sam. Eu não a conheço suficiente e, depois de hoje, não confio em você. Mas a sua irmã sim e, seja lá o que tiver acontecendo, ela não merece tanto desgosto.
― Sua confiança na Agnes é cega, Dean. ― Retrucou Robin aumentando o tom de voz. ― Você acha que a Agnes não lhe esconde segredos, que ela é essa mulher perfeita que tanto colocam em um pedestal? Definitivamente você não conhece a Agnes Eagles que eu conheço, uma Agnes que abandonou a própria irmã quando eu mais precisei dela...
― Agnes sempre se preocupou com você, ela nunca te abandonou. Se não sabe, ela se afastou da família para que nenhum mal acontecesse a você, para que você tivesse uma vida normal e não essa merda como a nossa. ― Dean também aumentou o tom de voz. ― Agora você resolve se engraçar com os demônios, criaturas que tanto fizeram mal a sua família e que levaram seus pais embora.
― Minha mãe não foi levada, minha mãe me abandonou com meu pai e com a Agnes. ― Respondeu Robin irritada. ― E aposto que nada disso teria acontecido se minha irmã não andasse com vocês, os Winchester. Não sei se você sabe, mas papai sempre brigou com a Agnes por culpa da sua família. Primeiro por você ser o melhor amigo dela na infância e adolescência, depois quando o John resolveu sair atrás daquele demônio que matou a Mary e levou minha irmã junto com ele.
― Acha que não sei disso? Seu pai não escondia o desgosto que sentia do seu pai. Mas vou dizer uma informação sobre seu papaizinho, a maior parte do ódio que seu pai sentia do meu era porque ele não deu certo com a minha mãe ― Dean balançou a cabeça negativamente ― Seu pai era um bosta desde novo, era amigo da minha mãe, mas não reagiu bem ao ser trocado pelo John.
― E acha que isso se repete com você porque a Agnes escolheu sua família ao invés da nossa? Pois está certo, ela sempre preferiu vocês. E isso que irrita, ela nunca escolheu a própria família ― Choramingou Robin raivosa ― Se ela não estivesse caçando com o John, se meu pai não estivesse ocupado correndo atrás dela pelo país. Muita coisa não teria acontecido a nossa família, muita coisa não teria acontecido comigo.
― Com você? O que de errado aconteceu com você? ― Perguntou Dean fazendo careta enquanto mantinha o timbre de voz alto. ― Pelo que lembre no dia do levante das testemunhas, você tinha a vida perfeita de comédia romântica, tão perfeita que foi a responsável pelo suicídio de dois colegas de escola. Tudo pelo que? Popularidade?
― Vai se foder, Winchester. ― Urrou Robin entre os dentes e cruzando os braços sobre o peito. ― Só digo uma coisa, não coloque a minha irmã em um pedestal como santa, não sou a única pessoa que esconde segredos. Não achou estranho ela ser a única pessoa a não ter um fantasma durante o levante das testemunhas? Também não acha estranho ela saber tanto sobre os demônios e estar morrendo de medo dos anjos?
― O que quer dizer com isso? ― Dean virou o carro, parando na rodoviária mais próxima.
― Nada. ― Robin abriu um sorriso vitorioso. ― Apenas quero que pense sobre isso, Agnes não tinha um fantasma atrás dela. Posso até ter me envolvido com os demônios, ou melhor, com os negócios do Sam com a Ruby. Mas não sou eu que vivo uma vida de mentiras.
Dando com os ombros, Robin pegou seu Game Boy e desceu do carro sendo escoltada por Dean. Estava muito irritada com o moreno naquele momento, não somente por ter a pegado com Sam e a Ruby, mas por ter tentado desonrar a memória de seu pai e a colocado como uma vilã, o que era uma grande blasfêmia, pois por ser parte anjo cometer erros e ser considerada como alguém cruel não encaixava no estilo de vida dela. Se for para os irmãos considerarem alguém como errada na história, ela colocará Agnes nesse posto. Afinal, é a Eagles mais velha que contém sangue de demônio nas veias e, como todos sabem, os demônios são o mal que caminham sobre a Terra. Duvida que os irmãos Winchester continuariam a trata-la como imaculada se soubessem do que a irmã mais velha é capaz de fazer.
― Apenas pense no que te falei, Dean. E lembre-se, você não conhece a mesma Agnes que eu conheço. ― Robin tomando a dianteira até o terminal.
― Espera. ― Chamou Dean quando ela lhe deu as costas.
― O que é dessa vez, Winchester? ― Perguntou Robin batendo as mãos na lateral do corpo e virando em sua direção.
― Tome o dinheiro para ônibus. ― Falou Dean entregando o dinheiro para Robin. ― Mas saiba que Bobby vai ficar sabendo disso.
― Tanto faz, ele não é meu pai. ― Ela deu com os ombros e pegou o dinheiro. ― Apenas pense no que eu disse Dean. Apenas pense.
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