⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⩩⦙ 010 - Riverside - Agnes Obel
TRÊS DIAS HAVIAM SE PASSADO DESDE O OCORRIDO NO ARMAZÉM ABANDONADO. As palavras ditas por Castiel para Agnes e Dean continuavam soando como incongruências preocupantes, tomando conta da maioria de seus pensamentos diários por não encontrar explicações cabíveis para a interferência divina desde a criação de Adão e Eva, tendo de confiar cegamente naquele que alegava ser um anjo do Senhor.
Entretanto, para o desgosto de todos aqueles que dividiam o mesmo teto com Agnes Eagles, a mais velha das irmãs transformou-se em uma pessoa completamente diferente daquela que estavam acostumados. A quantidade de comentários maldosos cheios de sarcasmos haviam diminuído, passava horas com o rosto em meio aos livros e preferia a solidão ao invés da companhia dos amigos e irmã. O encontro havia mexido não somente com suas crenças religiosas, mas pessoais. Ela preferiu ignorar os comentários do Castiel sobre Robin, recusando em acreditar que a irmã mais nova poderia estar escondendo coisas importantes que ajudariam ambas a resolverem problemas, afinal, apesar de toda grosseria e a constante necessidade de permanecer na defensiva, ela nunca escondeu assuntos importantes da mais nova, mantendo sua vida pessoal como um livro aberto para Robin caso essa desejasse ler.
A mudança comportamental de Agnes dentro do lar preocupava a todos, principalmente Robin. Apesar da loira ter negado qualquer envolvimento com anjos e jurado não compreender as palavras de Castiel, era visível em sua conduta que algo a preocupava mais do que o normal, fazendo com que Bobby e Dean começassem a desconfiar de suas atitudes mesmo Sam dizendo ser desnecessário. Contudo, Robin evitava ficar por muito tempo no mesmo ambiente que a irmã mais velha, Dean e o padrinho, principalmente caso estivessem sozinhos. Ela focava o tempo livre atualizando o diário de caçada com informações sobre os monstros, feitiços úteis e qualquer coisa que a ajuda-se em uma futura caçada, ficando preparada teoricamente para o que aparecesse em sua frente. Algumas vezes Sam lhe fazia companhia, tentando lhe acalmar dos perigos do caminho e conversar sobre outros assuntos que não envolvesse anjos, demônios ou seres sobrenaturais no geral.
No fundo Robin estava contente com o distanciamento da irmã dos outros caçadores, mesmo se estivessem no mesmo ambiente. Dessa forma não tinha a sensação de ser uma peça de quebra-cabeça infantil tentando unir-se com o desenho de um quebra-cabeça complexo de mil peças. Ela sentia uma pontada de inveja quando eles recordavam todos os eventos que passaram, os anos de caçada e o fato de Agnes ser querida por muitas pessoas do ramo, aquelas conversas só provavam que ela não conhecia nem metade de quem a irmã realmente era.
Era quase hora do almoço quando Agnes levantou da cama e uniu aos demais no andar inferior. Os cabelos castanhos estavam presos de qualquer maneira num rabo de cavalo despenteado, as olheiras profundas e o fato de permanecer com a mesma roupa da noite anterior eram provas de que havia passado mais um dia em claro. Não era necessário que fizessem perguntas sobre o que sentia naquele momento, sendo visível estar exausta e frustrada por sua tentativa de contactar Castiel, ou qualquer outro anjo, ter falhado.
— Bom dia, raio de sol! — Cumprimentou Bobby analisando a afilhada dos pés a cabeça quando a mesma passou em sua frente para ir à cozinha. Ela o respondeu com um grunhido enquanto buscava por algo que pudesse comer na geladeira, pegando um pedaço de pizza fria e cerveja. — Não acha que é muito cedo para isso?
— Não estou vendo café em lugar nenhum — Rebateu Agnes abrindo a garrafa na borda da mesa. — Vão me dizer sobre o que estão discutindo?
— O Dean está relutante em aceitar que pode ter sido salvo pela cavalaria — Disse Sam olhando com leve descaso para o irmão.
Mesmo conseguindo uma resposta de Sam relacionada a pergunta, Agnes havia feito a mesma de modo retórico. A discussão sobre Dean ter sido salvo, ou não, por um anjo era tópico frequente das conversas desde que foi deixado o galpão. O mais velho se recusava a aceitar que era digno de salvação, assim como Agnes vinha se recusando a aceitar sua proteção divina, acreditando ser um tipo de armadilha. Bobby já havia desistido de tentar convencer o rapaz a muito tempo, buscando pelas informações que provassem a existência de anjos, enquanto Robin assistia tudo de longe e em silêncio, seguindo pela primeira vez a regra da irmã de não se intrometer em assuntos de terceiros.
— Pode ter sido qualquer outra coisa — Reclamou Dean gesticulando irritado com uma das mãos — Só sei que não fui agarrado por um anjo.
— Talvez... — Agnes começou a falar, mas foi interrompida por Dean.
— Não me diga que acredita nisso, Agnes! — Ele balançou a cabeça negativamente, esperava algum tipo de apoio da melhor amiga.
— Passei a noite rezando, tire suas próprias conclusões — Ela moveu os ombros com desdém.
— Você o que? — Perguntou Bobby ficando tão surpreso com a fala da afilhada do que os demais.
— Não vou dizer duas vezes — Agnes revirou os olhos e respondeu com a boca cheia de pizza gelada — Eu preciso de respostas e, até onde sei, rezar é uma forma de obter respostas.
— Você nem sabe se ele é um demônio, Agnes — Reclamou Dean olhando furioso para a melhor amiga — Demônios mentem!
— Jura? Agora estou surpresa — Ironizou Agnes levando a beirada da mão até o centro do tórax. — Dean, escuta! — Ela aproximou de onde os amigos estavam acomodados e apoiou o braço sobre o ombro do Sam antes de continuar — Onde você viu um demônio imune a círculo de sal? As armadilhas? Aquela faca mágica? Eu sou demonologista, Dean. Conheço demônios melhor do que qualquer um daqui, seu pai pediu minha ajuda. Por isso confie em mim quando digo que Castiel não é um demônio.
— A esquilo tem um ponto — Concordou Bobby curvando os lábios.
— Os demônios estavam com medo dele na lanchonete — Falou Robin pela primeira vez depois de tirar um dos fones de ouvido que estavam desligados.
— Mas vocês não acham que se os anjos existissem algum caçador já teria visto? — Dean cruzou os braços sobre o peito e olhou para cada um dos presentes — Em algum lugar? Alguma vez?
— Você vê o ar? — Perguntou Agnes dando um sorriso sarcástico.
— Não fode! Estou falando sério — Dean revirou os olhos.
— Os anjos se esconderem tem uma questão filosófica por trás, o ser humano não seria bom por vontade própria, mas esperariam uma recompensa por isso. — Agnes deu com os ombros — Os humanos são as Karen, os anjos são os gerentes. Nem sei mais o que estou falando, mas creio que tenha entendido a mensagem.
— Ninguém entendeu — Respondeu Bobby fazendo caretas.
— O que a Agnes quer dizer é que eles não tiveram motivos para aparecer até agora... — Robin começou a explicar, mas foi interrompida por Dean.
— Como não? E a primeira guerra mundial? Segunda guerra? Peste negra...
— Provavelmente eles tenham ajudado, mas não abertamente — Agnes suspirou — O Castiel tem uma casca, anjos ficam como homens normais, por isso nenhum caçador encontrou com eles. Os anjos não se revelaram apesar de estarem aqui, não existe uma música sobre isso?
— É sobre Deus — Respondeu Dean recordando da canção "One of Us" da cantora Joan Osborne.
— Anjos são soldados de Deus, logo se comportam em partes como seu líder — Rebateu Agnes determinada a mudar o pensamento do amigo em relação a existência de anjos. — A questão aqui é a seguinte: Custa ter um pouco de fé? Não estou dizendo com certeza absoluta, mas...
— Esse é o lance, Eagles! Nós não temos certeza — Ele bateu as mãos na mesa e a encarou irritado. — Não vou acreditar que essa coisa é um anjo do Senhor, só porque diz que é.
— Grite comigo outra vez e arranco o seu pinto enquanto dorme! — Ameaçou Agnes retirando a faca do cós do short jeans e apontando na direção da virilha do Dean — Agora, você vai calar a boca e me escutar, não estou passando a noite em claro para ser refutada por um idiota. Nunca imaginou que pode existir algo maior que a porra do seu umbigo? O mundo é equilibrado, desde os primórdios da humanidade isso é explicado. Se o mal existe, é óbvio que o bem também existe.
— Você não tem provas.
— Eu tenho, Dean!
Com expressões nervosas estampadas na face, Agnes deixou a sala de jantar dando passos pesados e sem terminar os últimos goles de sua cerveja, algo raro para a personalidade da mulher. Os três homens se entreolharam, ficando levemente aflitos com o que a mais velha poderia estar aprontando em seu momento de reclusão. Não demorou muito para que Agnes regressasse carregando sobre os ombros a mochila pesada, Bobby teve que ser rápido para tirar a mão do caminho quando ela esvaziou todo o conteúdo da bolsa sobre a mesa, a qual estava repleto de livros importantes que haviam "sumido" da biblioteca particular do caçador.
— É sério, Agnes? — Perguntou Bobby olhando dos livros que havia passado horas procurando para a jovem mulher, a qual moveu os ombros com desdém.
— Depois você briga comigo, primeiro quero que olhem isso — Ela caçou no meio dos livros o conteúdo que julgava importante e estendeu para que Bobby pudesse ler. — Eu marquei...
— Notei — Ironizou o caçador irritado por ter seu livro centenário com rasuras a lápis.
— Nos últimos dias pesquisei um amontoado de folclore bíblico, pré-bíblico, qualquer coisa que pudesse ajudar. Também tentei aprender cuneiformes. E sabem o que todos tem em comum? — Agnes fez uma pausa melodramática e fechou o livro marcado na cara do Bobby, o qual estava terminando de ler junto com Sam e Dean — Os anjos são capazes de tirar uma alma do inferno. Obrigada, podem me aplaudir.
— E o que mais? — Insistiu Dean curioso.
— O que mais o que? — Perguntou Bobby com um misto de surpresa e irritação em suas expressões, ele não sabia que a afilhada era capaz de mergulhar de cabeça em determinados assuntos, apesar do conhecimento da mesma em demônios e caçada.
— O que mais ele poderia ter feito? — Perguntou Dean olhando do Bobby para Agnes.
— Além de arrancar você dá fornalha? Milagres no geral. — Agnes respondeu dando com os ombros. — Dean, isso é uma boa notícia.
— Como? — Perguntou Dean olhando para a amiga.
— Pelo menos dessa vez, não é outra porcaria demoníaca. De repente você foi salvo por um dos mocinhos, sacou? — Argumentou Sam antes que a Agnes pudesse responde-lo.
— Okay. Pode ser que talvez existam anjos. E daí? Deus existe? — Ironizou Dean.
— Depois dessa? Aposto que sim. — Respondeu Bobby começando a crer.
— Eu não sei. — Dean deu as costas ao grupo e se afastou, não queria demonstrar o quanto estava nervoso com toda a novidade.
— Deixa que falo com ele — Disse Agnes aos outros. Ela gesticulou para que mantivessem no lugar e aproximou de Dean, o abraçando por trás e apoiando o queixo em seu ombro — Sei que assusta, eu estou assustada depois do que o Castiel disse. Você pode não ser ligado nesses lances, ser ateu. Mas agora não é questão de fé. Foi comprovado que anjos existem e que se importam com você.
— Se importam? Essa é a prova de que Ele se importa comigo pessoalmente? Desculpe, Agnes. Mas não me convence. — Dean olhou para ela entortando o lábio.
— Por que não?
— Agnes, porque ele se importaria comigo? Porque justamente comigo? — Ele perguntou erguendo lentamente o tom de voz, para que os outros pudessem ouvir.
— Dean... — Começou Agnes levando uma das mãos ao rosto dele para tentar acalma-lo.
— Esquilo, você me conhece. Salvei umas pessoas, tá. Acho que isso compensa os roubos e as transas casuais. Mas por que eu mereço ser salvo? Sou apenas um cara comum.
— Não, você é mais do que um cara comum, Dean. Você é importante para o pessoal lá de cima. — Robin respondeu de maneira serena no sofá, abrindo um sorriso singelo.
— É! E isso dá medo. — Falou Dean assustado e soltou um suspiro.
— Acha que eu não sei? — Perguntou Agnes acariciando as bochechas do amigo e depositando um beijo tenro logo em seguida — Mas estamos nisso juntos e sabe o que dizem sobre anjos, eles são os heróis.
— Se o anjo te tirou do inferno, com certeza possuem planos que te envolvem. Caso contrário ainda estaria mofando naquele lugar horrível. — Robin entortou o lábio e guardou os fones de ouvido no bolso da calça.
— Minha irmã tem razão — Assentiu Agnes — Além do mais, eles confiam em você, da mesma maneira que eu confio e que aquele pessoal ali confia. Mesmo você sendo um completo babaca em vários momentos.
— Não gosto de ser notado em festas, muito menos por Deus. — Disse Dean olhando da Agnes, para Robin e em seguida para Sam.
— Certo! Que pena, Dean. Pois acho que ele quer que você puxe os parabéns. — Ironizou Sam ao irmão.
— Está bem, o que sabemos sobre anjos? — Perguntou Dean cedendo aos quatro.
— Que ótimo que perguntou. — Agnes puxou Dean pela mão, o levando de volta para próximo a mesa. — Um segundo, sim. — Ela juntou todos os livros que estavam espalhados pelo chão, com os braços carregados despejou os exemplares pela segunda vez sobre a mesa. — Comece a ler.
— Você vai comprar torta. — Dean apontou o dedo para o Sam e pegou o menor e mais fino dos livros trazidos por Agnes.
Agnes sorriu ao notar a mudança no comportamento do melhor amigo, ficando mais aliviada por ele ter regressado a ser o velho Dean que conheciam.
— Eu vou comprar torta — Assentiu Sam levantando da cadeira que estava acomodado e espreguiçando o corpo.
— Irei com você! — Avisou Agnes enganchando no braço do mais alto. — Preciso refrescar minha mente e estou cansada da quantidade absurda de nomes com "el" que são citados nesses livros: Emanuel, Samael, Gabriel, Rafael, Samuel...
— Meu nome — Zombou Sam batendo a ponta do indicador no nariz da amiga, imitando o gesto que ela costumava fazer quando eram mais novos e ele ficava aos seus cuidados.
— Você está bem, Agnes? — Perguntou Bobby preocupado antes do casal de amigos deixarem a casa.
— Por que não estaria? — Ela perguntou fazendo caretas com a dúvida do padrinho.
— Me responda você — Falou Bobby apontando para a quantidade gigantesca de livros que ela havia espalhado na mesa alguns minutos antes. — Quando se interessou em fazer pesquisas profundas? Leu todos esses livros?
— A maioria deles — Agnes curvou os lábios, compreendendo as razões que faziam o padrinho desconfiar de sua saúde mental e bem-estar. Assim como Dean, ela também não estava agindo como todos esperavam, mostrando outro lado de sua personalidade. — Grande B. não tem o que se preocupar, estou bem. Acontece que passei minha vida estudando sobre demônios, caçando demônios e aprendendo sobre eles. Agora, me responda, o que se opõem aos demônios?
— Anjos!? — Respondeu Sam antes que Bobby pudesse dar a resposta.
— Exatamente! — Ela piscou para Sam e voltou a puxá-lo para fora da casa enquanto falava com o padrinho — Estou bem, grande B! Só ativei o meu modo nerd, não tem o que se preocupar.
Os olhos do caçador acompanhavam Agnes com desconfiança enquanto mesma deixava a casa na companhia de Sam. Apesar dela dizer em voz alta que as preocupações não eram necessárias, ele não tinha tanta certeza sobre isso. Ele esperou eles estarem fora de vista para quebrar o silêncio enquanto iniciava a leitura dos quotes importantes marcados por Agnes com lápis, post-it e etiquetas coloridas.
— Robin, a sua irmã...
— Não sei de nada! — Mentiu Robin levantando do sofá antes que Bobby terminasse qualquer pergunta que pudesse fazer relacionada a mais velha que poderia levantar dúvidas sobre ela própria. — Para mim a Agnes está normal.
— Ela não está normal — Disse Dean trocando olhares desconfiados com Bobby.
— Está sim! — Crispou Robin tentando soar calma — Agora, se me dão licença, tenho coisas para estudar.
Juntando o diário de caçada e o iPod, Robin deixou a sala de estar e subiu as escadas que davam para o andar superior, indo direto para o quarto que vinha dividindo com Agnes desde que se mudaram.
— Não confio nessa garota — Sussurrou Dean assim que Robin deixou o cômodo.
— Sinceramente? Também estou começando a ter minhas desconfianças — Disse Bobby sério. — Mas ela é uma adolescente.
— Isso não é desculpa — Dean voltou a atenção ao livro, recordava sobre as coisas ditas por Castiel sobre a Robin para Agnes. Porém havia prometido a melhor amiga não falar nada ao Bobby sobre essa parte da conversa, pelo menos enquanto ela não tivesse resolvido seus assuntos pendentes. Ele não confiava na Robin, mas confiava em Agnes o suficiente para aguardar por respostas, principalmente depois dela demonstrar empenho com a pesquisa.
Em meio a gostosas gargalhadas, Sam e Agnes caminharam lado a lado até o Impala preto que Dean herdara de seu pai. A morena se impressionava em como aquele carro era bem cuidado pelos membros da família desde que se lembrava como gente, aguentando poucas e boas durante as caçadas e nunca os deixando na mão. Apesar do carro ser dos Winchester e nenhum deles permitir que dirigisse, Agnes tinha um carinho gigantesco pelo automóvel e boas memórias, tendo passado por muitas experiências dentro daquele carro, desde coisas boas à eventos ruins, principalmente durante os meses que saiu em caçada com John. Mesmo com todos os anos e maltrato ocorridos durante as caçadas, o carro continuava parecendo novo.
— No que está pensando? — Perguntou Sam ao notar o devaneio da amiga enquanto ela acariciava o painel depois de se acomodar no banco do passageiro.
— Posso dirigir? — Ela perguntou esperançosa, enquanto sorria animada para o rapaz.
— Sabe que não — Respondeu Sam rindo divertido e dando a partida — Era uma das regras do papai "Nunca deixar a Eagles dirigir o carro".
— Odeio essa lealdade de vocês com o John — Murmurou Agnes jogando o corpo contra o acento de couro e cruzando os braços, fingindo estar ofendida com a recusa. De fato, aquela era uma das regras do John desde que ela deu perda total em um dos carros do Bobby durante as aulas de direção. — Acredita que ele dirigiu com um tiro no braço e não me deixou tocar no volante?
— O papai? — Perguntou Sam surpreso.
— Sim! John nunca me deixou dirigir, mas adorava quando o ajudava a trocar a marcha — Zombou a caçadora sorrindo maliciosa enquanto gesticulava.
— Agnes! — Exclamou Sam fazendo com que o carro "engasgasse" na estrada ao errar na mudança de marcha. — Você e o papai...? Hum...
— Estou brincando, Sammy! — Mentiu Agnes rindo das expressões feitas pelo mais novo. Apesar dela sempre atormentá-lo na infância dizendo que John era o seu sonho de consumo, não revelaria aos meninos, principalmente ao Sam, que havia se envolvido intimamente com o pai deles durante o tempo que estiveram juntos na estrada. Principalmente depois de sua reação — Céus! Você ainda fica incomodado com isso?
— Bom, é do meu pai que estamos falando.
— E daí? Não é meu pai! — Provocou Agnes movendo os ombros com desdém.
— É sério, Agnes!
— Estou brincando, fofinho! — Ela lambeu a ponta do dedo e enfiou na orelha do Sam, o qual resmungou com o hábito da mulher de o pentelhar, tentando fazê-la parar enquanto dirigia. — Olhe nós dois, como nos velhos tempos.
A morena ria divertida com a situação. Não conseguia acreditar em como o pequeno Sammy havia crescido, ele não era mais a criança fofa que ficava aos seus cuidados quando seus pais resolviam caçar juntos. Deixou de ser a muito tempo o jovenzinho vulnerável que temia o escuro e palhaços, sendo agora um belo homem forte, seguro de si e que seguia afinco os negócios da família. Apesar dela nunca ter desejado vê-lo nessa vida, da mesma forma como desejava que Robin não ingressasse no ramo das caçadas.
— O que foi? — Perguntou Sam notando a mudança de expressões dela.
— Me sinto uma velha aqui. Você era menor do que eu, Samuel. — Respondeu Agnes voltando a atormentá-lo enquanto dirigia, dessa vez bagunçando seus cabelos — Porra! Sei que somos só alguns anos de diferença, mas mesmo assim. É estranho notar o quanto você cresceu.
— Não fui somente eu que mudei. Você também cresceu, ficou ainda mais bonita com o passar dos anos — Elogiou Sam sorrindo com o canto dos lábio e pousando a mão carinhosamente no joelho dela.
— Como o Bobby me dizia "Encolher você não vai" — Agnes riu com a lembrança da infância, o padrinho sempre dizia essas palavras quando ela se surpreendia com os centímetros a mais que ganhava a cada visita na casa do caçador quando seu pai estava fora.
— Falando no Bobby, ele pareceu estar muito irritado com o Dean nos últimos dias, andando atrás dele pela casa e dizendo "Espero que ele não esteja com a Esquilo" — Sam franziu o cenho e riu fraco.
— Ele está com ciúmes, sempre teve essa superproteção comigo. Lembro quando comecei a namorar com um idiota nos breves anos que frequentei o colégio, ele ficou em cima o tempo inteiro. Bobby é mais o meu pai do que meu próprio pai, então ele tem esse lance de se importar. — Respondeu Agnes rindo baixo — E meio que ele me pegou com o Dean no quarto quando o Castiel apareceu no motel. Não havia rolado nada ainda, era preliminar, só estava sem camisa, o Castiel atrapalhou antes que começasse o ato. Anjo fodido! Não aparece para me dar respostas, mas para atrapalhar minha diversão...
O caçador se afogou com a própria saliva ao ouvir o motivo que havia tirado Bobby do sério, infelizmente era impossível não imaginar a cena. Sentiu as bochechas corarem ao perceber que estava imaginando a amiga da maneira que a mesma se descreveu. Mesmo tendo notado o mal jeito de Sam com o assunto, ela preferiu ignorar dessa vez.
— E você e o Dean... — Começou Sam tentando fazer com que sua voz soasse normal.
— Não rolou nada. — Agnes deu com os ombros, cruzando os braços sobre o peito. — Pelo menos dessa vez, quem sabe na próxima. — Ela sorriu sem mostrar os dentes. — Sabe, se quiser te deixo dar uns pegas na Robin depois que ela fizer vinte e um.
— Eu não quero dar uns pegas na Robin. — Sam a repreendeu fazendo careta.
— Sério? Vocês estão tão juntinhos nos últimos dias — Comentou Agnes arqueando as sobrancelhas. — Já sei, quer casar com ela...
— Não! Definitivamente não! — Respondeu Sam com a suposição.
— Se está dizendo. — Agnes riu fraco — Mas, voltando a falar do Dean, o que temos não passa de uma amizade colorida. Ele é meu melhor amigo.
— Agora fiquei com ciúmes, pensei que eu fosse seu melhor amigo — Provocou Sam fazendo beicinho.
— Você é meu favorito — Ela o abraçou pelos ombros e depositou um beijo estalado em sua bochecha — Dean é só minha versão masculina.
— Não sei como isso me deixa melhor — Ele segurou uma das mãos dela e beijou com ternura. — Mas saber que sou o favorito é alguma coisa.
— Oh meu pequeno, não tão pequeno, Winchester — Agnes beijou a bochecha dele novamente e se afastou em seguida. — Quem sabe um dia você não possa ter os mesmos bônus que o Dean em nossa amizade.
— E o que preciso fazer para esse dia chegar? — Dessa vez foi o momento de Sam investir no flerte com Agnes. — Sabe que estou maior que você, não pode usar a desculpa de que tenho de crescer.
— Isso é verdade! — Assentiu Agnes curvando os lábios — Agora, Samuel Winchester... — Sensualmente ela reaproximou dele, inclinando o corpo para frente e levando o dedo indicador no queixo do caçador, virando o rosto do mesmo lentamente em sua direção após ele estacionar o carro — Tudo o que precisa fazer é pedir com jeitinho.
Sorrindo com malícia, ela o provocou roçando seus lábios sobre os dele enquanto sussurrava a última frase, fazendo com que os pelos do corpo de Sam arrepiassem enquanto cedia suas provocações. Sem saber o que responder, o rapaz entreabriu os lábios na espera de um beijo enquanto fechava os olhos. Entretanto Agnes não prosseguiu com o ato, afastando do mais novo de acordo com que abria com delicadeza a porta do Impala. Assim que a porta estava aberta, ela desceu do automóvel rindo fraco.
— Vai ficar no carro, Winchester? — Perguntou divertida antes de fechar a porta do veículo.
— Não, eu não vou ficar no carro! — Sam riu envergonhado e balançou a cabeça negativamente, estando surpreso por ter caído no truque que a anos Agnes estava acostumada a aplicar e levemente chateado por não ter recebido o beijo que aguardava à tempos. Ele voltou para realidade quando o telefone tocou, no visor estava marcado o número da Robin — Oi, Robin!
— O que minha irmã quer? — Perguntou Agnes ao escutar o nome da mais nova e parando a caminhada que fazia em direção a loja de conveniência.
— Tudo bem! — Sam ignorou a pergunta da Agnes, apenas gesticulando com o indicador para que ela esperasse um minuto enquanto seguia conversando com a Eagles mais nova — Não, as coisas estão tranquilas — Ele fez um pausa — Okay, pode deixar!
— Ela quer falar comigo? — Insistiu Agnes cruzando os braços sobre o peito e fechando as expressões, não gostava do fato da mais nova estar cheia de segredos nos últimos dias, principalmente quando esses não a envolviam.
— Eu levo a torta do Dean. — Prosseguiu Sam sem dar importância a pergunta da melhor amiga — Ele disse o que? Eu não vou esquecer. Alguma vez já me esqueci da torta? — Riu durante a pausa breve — Chiclete de menta e redvines? Okay! Pode ficar tranquila e confiar em mim. Tchau!
— O que ela queria? — Insistiu Agnes olhando frustrada para Sam quando ele guardou o celular no bolso.
— Só desejava saber como você estava e pediu para comprar algumas coisas — Sam sorriu sem mostrar os dentes.
— E porque ela não ligou para mim? — Perguntou aumentando a desconfiança.
— Ela disse que seu celular estava desligado — Mentiu Sam dando com os ombros e jogando as chaves do carro na direção da caçadora. — Pode encher o tanque enquanto compro as coisas?
— Claro! — Assentiu a mulher descontente.
Desde que regressaram de Illinois, Robin e Sam compartilhavam segredos e sussurros da mesma forma que Dean e Agnes estavam fazendo. Porém a caçadora não ousava desconfiar do Winchester mais novo por conhecê-lo a muito tempo, acreditando que o mesmo não esconderia algo do Dean, mesmo que esse segredo envolvesse ela ou a irmã. Agnes queria acreditar que o segredo que eles compartilhavam envolvia algum interesse romântico. Porém a conversa com Castiel continuava a assombrar seus pensamentos e a forçavam a desconfiar, não só da irmã, mas também de Sam.
Enquanto enchia o tanque de gasolina do carro, ela olhava discretamente na direção do Sam, assistindo o rapaz se afastar. Ela virou o rosto para o lado oposto do Winchester quando o mesmo virou para trás, disfarçando rapidamente suas encaradas. A caçadora voltou a espiá-lo, após alguns segundos, conseguindo captar o momento exato que ele sumiu na direção dos banheiros atrás da loja de conveniência ao ser chamado pela mesma demônio que estava com ele no motel de beira de estrada quando se reencontraram.
— Filho da puta! — Urrou Agnes batendo a palma da mão na lateral do carro e chutando a roda, atraindo atenção de um civil que abastecia o carro na bomba ao lado da dela.
Ela não conseguia acreditar que Sam estava envolvido com demônios e, com certeza, Robin sabia. Deixando óbvio que a ligação da irmã mais nova não foi para pedir comida, mas para avisá-lo que a tal da 'Kathy', ou seja lá qual fosse o nome da possuída, estava por perto. Agnes sentiu o rosto esquentar devido o ódio que sentia.
Frustrada com o que havia presenciado e furiosa por Castiel estar certo em relação a Robin, ela ingressou no carro assim que o tanque ficou cheio, acomodando-se no banco do passageiro com os braços cruzados sobre o peito e expressões severas. Após longos minutos, Sam retornou para o carro com um sorriso estampado na face, colocando as sacolas com os pedidos no banco traseiro.
— Trouxe um copo de Slush puppie de Blueraspberry, seu favorito — Disse Sam entregando um copo gigante de raspadinha gaseificada azul para a companheira de compras. A qual aceitou contrariada e sem agradecer. — De nada...
— Vai se foder, Winchester — Rebateu Agnes quando o rapaz soou sarcástico. — Eu deveria jogar isso nos seus olhos.
— O que eu fiz? — Perguntou Sam se fazendo de inocente.
— Não sei! — Ironizou a caçadora depois de dar um longo gole na bebida — Me responda você, imbecil.
— Agnes...
— Você é um cretino filho da puta — Agnes o estapeou com força no rosto, pegando o caçador de surpresa e o fazendo abrir a boca estupefato — Não acredito no que fez.
— Já entendi, você me viu conversando com a Kathy — Sam suspirou passando a mão sobre o local dolorido — Não temos nada, foi casual...
— Vai a merda! Sabe do que estou falando, não nasci ontem. Não se faça de idiota para o meu lado, você sabe que eu sei a verdade — Urrou Agnes o estapeando novamente, porém dessa vez Sam conseguiu proteger o rosto com ambos os braços — Sei o que ela é. Não acredito que está se encontrando com eles, que é amigo de demônios. O pior, que minha irmã está envolvida nessa patacoada.
— Merda, esqueci que você é como a Robin. — Falou Sam dando a partida com o carro, acreditando que se estivesse na estrada ela não seria capaz de machucá-lo — Confie em mim, ela está me ajudando. Está do nosso lado.
— E você acredita nisso? — Agnes riu sarcástica — Ou é muito tolo, ou muito idiota para cair nesse papinho. Talvez seja os dois. Essas criaturas não têm lado, Sam. Elas pensam nelas, somente nelas. Seu irmão sabe dessa palhaçada?
— Não. E preferia que não contasse. Tem muita coisa em jogo — Disse Sam diminuindo a velocidade do carro.
— Como o que, por exemplo? — Agnes perguntou.
— A amizade de vocês, talvez? — Perguntou Sam jogando sujo. — Sua relação com o Bobby?
— Isso foi uma ameaça? — Agnes arqueou uma das sobrancelhas. — Você está tentando me ameaçar, Winchester?
— Você sabe o meu segredo e eu sei o seu — Respondeu Sam recordando do que Robin havia dito dias atrás, caso Agnes descobrisse que Sam estava se envolvendo com demônios, tudo o que necessitava fazer era colocar em jogo a relação dela com Dean e Bobby, ameaçando contar para eles o que ela era capaz de fazer.
— Muito bem! Aprendeu essa merda com eles? — Perguntou Agnes franzindo o cenho. — Pensei que fosse de confiança.
— Não está me deixando escolha, Agnes.
— Ótimo! Espero que vá para o inferno de mão dadas com eles e não retorne para superfície — Crispou Agnes entre os dentes e cruzando os braços na frente do corpo.
— Agnes, por favor...
— Não vem com "Agnes, por favor..." — Ela o imitou com voz mole — Por que você está envolvido com eles?
— Lilith! Pretendo derrotá-la — Disse Sam com honestidade.
— E você acha que consegue?
— Não sozinho, por isso a Robin está me ajudando.
— VOCÊ ENVOLVEU A MINHA IRMÃ NESSA MERDA? — Gritou Agnes gesticulando irritada.
— Ela se ofereceu para ajudar.
— Não acredito que envolveu a Robin em suas merdas demoníacas, isso explica o que Castiel disse. — Urrou a mulher cobrindo o rosto com uma das mãos.
— A Robin tem um dom — Argumentou Sam. — Vocês têm o dom.
— O que temos não é um dom, imbecil. É uma maldição. Passei anos protegendo a minha irmã de caçadores, fazendo de tudo para que ela tivesse uma vida normal, brigando com o papai para que ela não entrasse nesse mundo. Agora vem você querendo nos expor ao mundo. — Agnes tremia de raiva enquanto falava, pausando entre as frases para beber um pouco da raspadinha.
— É um dom. Vocês salvam as cascas, salvam as pessoas — Disse Sam com a voz baixa — Agnes, pense nisso, podemos trabalhar juntos.
— Salvei pessoas por anos sem precisar me aliar a demônios. Não será agora que irei me aliar a um. — Ela bufou irritada — Não posso fazer isso e nem deixar que envolva a minha irmã nos seus planos maléficos. Se quer fazer merda, ótimo! Problema seu! Mas faça sozinho. Não envolva minha família, briguei com o papai quando ele tentou fazê-la ingressar no ramo com o mesmo interesse, não pense que com você não será diferente.
— Foi uma escolha dela!
— Foda-se! Ela ainda não é maior de idade. Quando ela fizer vinte e um anos ela toma suas próprias decisões, até lá eu sou a responsável — Rebateu Agnes colocando um ponto final na discussão. — Pensei que fosse o inteligente da família, Winchester. Mas me enganei.
Os dois permaneceram em silêncio durante o resto do caminho de volta para a casa do Bobby. Agnes manteve a boca ocupada com a raspadinha, fazendo questão de gerar o barulho irritante com o canudo. Estava descrente de que Sam havia a ameaçado e que Robin estava envolvida com demônios depois de tudo o que passaram nos últimos meses. Para não ouvir os barulhos feitos por Agnes, Sam aumentou o volume do rádio, abaixando somente quando estavam dentro dos terrenos do Bobby.
O caçador mais velho já os esperava na frente de casa junto com Robin e Dean. Assim que Sam parou o carro com o motor ligado, Bobby enfiou a cabeça pela janela aberta do lado do passageiro.
— Deixe o motor ligado — Falou Bobby tomando o copo de raspadinha da mão da afilhada e bebendo o resto do seu conteúdo.
— Sério, Grande B? — Perguntou Agnes gesticulando frustrada, para ela os últimos goles eram os mais gostosos.
— Qual o problema? — Perguntou Sam antes que Bobby pudesse dar uma resposta para Agnes.
— Tenho um amiga em outro estado. Olívia Lowry. Estou ligando para ela há três dias, querendo falar sobre os anjos. Ela não costuma ignorar minhas ligações — Respondeu Bobby preocupado.
— Espero que nada de ruim tenha acontecido com ela — Disse Agnes ficando preocupada. Conhecia a caçadora devido aos longos anos na estrada, chegando a passar alguns dias com ela quando mais nova, quando Bobby precisava sair para caçar de última hora e não queria levá-la.
— Também espero, Esquilo — Assentiu Bobby.
— Eu dirijo! — Anunciou Dean na porta do Impala, quase saltando no colo do irmão mais novo.
— A Robin vai com você! — Disse Agnes quando Robin ameaçou ingressar no carro, parando ao lado da porta da irmã na intenção de que a mesma lhe desse passagem para ingressar no carro.
— Por que? — Perguntou a loira confusa.
— Estou mandando — Respondeu Agnes rudemente.
— Agnes... — Robin sorriu amarelo e olhou para Sam, o qual curvou os lábios e fez um pedido de desculpas silencioso. — Tudo bem, vou com o Bobby!
— Fica para a próxima, loirinha! — Disse Dean dando com os ombros enquanto xeretava as coisas que Sam havia comprado. — Cara... — Falou Dean após olhar todo o conteúdo de dentro do objeto. — Sério?
— O que? — Perguntou Sam surpreso, olhando para Dean com expressões confusas.
— Cadê a torta? — Dean perguntou olhando para o irmão através do espelho retrovisor.
— Ele esqueceu junto com a dignidade — Respondeu Agnes colocando os pés sobre o painel.
— Ih! Já saquei o que está acontecendo aqui — Disse Dean apontando do irmão mais novo para a melhor amiga, antes de prosseguir com a frase, ele obrigou Agnes a tirar os pés do painel do carro e limpou o mesmo — O Sam está pegando a Robin?
— Não! — Respondeu Sam fazendo caretas.
— Sim! — Falou Agnes por cima de Sam. — Eu não quero mais os dois sozinhos.
— Porra, Sammy! A menina é menor de idade — Disse Dean rindo enquanto dava partida no carro.
— Ela tem dezenove... — Sam começou a tentar se defender da mentira contada por Agnes, mas compreendeu o motivo por trás disso. Era uma forma dela não explanar a verdade para Dean e ao mesmo tempo o afastá-lo de sua irmã mais nova. — Quer saber, é isso! Estou saindo com a Robin.
— Pode bater nele, Agnes! — Disse Dean para a melhor amiga enquanto ria da situação.
— Ah! Mas com certeza eu vou! — Assentiu Agnes olhando ameaçadora para Sam através do espelho retrovisor — Ele que fique esperto comigo à partir de agora, pois não sabe o que sou capaz de fazer.
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