━━━━〔 𝘤𝘩𝘢𝘱𝘵𝘦𝘳 𝘵𝘸𝘦𝘯𝘵𝘺-𝘵𝘸𝘰 〕
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OBLIVION
POINT OF VIEW
Savannah Boswell
Assim que a garota colocou os pés novamente na escola uma onda de nostalgia tomou conta de seu corpo, era quase difícil de acreditar que havia conseguido sobreviver o primeiro período do ano letivo, mas sentia-se grata e aliviada por ter tido a sorte de conhecer Neela, Reiko e Twinkie, — ainda que este não fosse tão presente nos exatos cinco dias da semana. Com a ajuda deles conseguira se adaptar bem ao colégio, as regras e principalmente ao outros alunos. O seu japonês havia melhorado um pouco mais, e surpreendentemente não fora tão mal nas últimas avaliações levando em consideração em como os colégios por ali possuíam matérias bem avançadas e aplicadas.
Às aulas haviam retornado enfim. Os jovens contavam animadamente sobre suas férias de verão, como tinham se divertido ou para onde viajaram; Savy notou que as pessoas dali pareciam endeusar bastante aquela estação, levando em conta o quanto comentavam tão veementemente e lamentavam por já ter acabado. Ela não os julgava... Aquele verão japonês ainda que fosse seu primeiro fora inesquecível; podia mencionar o festival de verão, a ida ao litoral, as festas... Porém às aulas haviam retornado e um murmurinho nos corredores surgiu de que os alunos do terceiro ano precisariam ficar um pouco mais tarde para lavar a quadra de esportes, o que fez Twinkie bufar alto e juntar-se a mesa em que Savannah e Reiko estavam lanchando, com uma carranca estressada.
— Vocês e esse maldito sistema educacional que funciona tão bem... — resmungou o garoto balançando a cabeça.
Savannah desligou o celular no qual assistia um vídeo qualquer no YouTube e encarou o garoto divertida:
— Qual o problema?
Ele gesticulou com as mãos e ergueu as sobrancelhas como se não fosse óbvio.
— Vamos ter que ficar depois da aula para limpar a quadra. Não sei você, mas eu preciso cuidar da minha vida, irmãzinha... Estou expandindo meu negócio e tornando-o em algo mais profissional.
— Precisa parar de vender mercadoria falsa e contrabandeada para isso. — comentou Reiko afastando sua bandeja com alguns restos de comida para o lado.
— Agora não, gatinha — Twinkie desviou o olhar da japonesa e se virou para Savannah — Você não deveria treinar nas docas após a aula? A corrida é daqui a uma semana, ah não... Quer dizer as duas corridas — corrigiu-se dando um tapinha na testa ironicamente.
Savannah torceu a boca.
— Não começa, tá?
— Duas corridas? Pensei que fosse disputar apenas contra o Koiji — a voz de Reiko quebrou o contato visual dos outros dois.
— Bom... digamos que a espertinha aí decidiu desafiar o Morimoto e ainda por cima apostou o carro do Han sem ao menos falar com ele.
— Ok... Você tá fazendo muito drama, Twinkie... — disparou Reiko levantando os ombros.
— Mas tá conseguindo tirar minha paciência com essa história — Savannah atirou em resposta — Eu já disse que vou falar com o Han quando ele chegar de viagem. Não sei porquê você tá pirando desse jeito, cara.
— Porque eu me importo com você, tá legal? E eu sei exatamente o que você tá querendo fazer com esse esquema de desafiar aqueles babacas que correm com o DK. Você vence eles... Um a um até ficar no encalço do cara que manda no Drift por aqui — deduziu ele exasperado.
— Eu não tava pensando em nada disso, mas obrigada pela a ideia — mentiu Savannah dirigindo-lhe um sorriso.
Twinkie crispou os lábios e balançou a cabeça negativamente como se segurasse para não dar um chilique.
— Não brinca, Savannah. E também não esquece quem ele é e com o que ele é envolvido.
— Você fala como se ele fosse colocar uma arma na minha cabeça e...
— Ele é bem capaz de fazer isso se você continuar tirando uma com a cara dele, e eu vou te dar um conselho... Se ele tentar algo parecido, nós não podemos ao menos pensar em te defender. — Reiko se calou e fingiu mexer no celular, Savannah continuou encarando o rosto de Twinkie, ele parecia realmente mexido com aquele assunto — Então pensa um pouco mais sobre suas atitudes, porque elas afetam cada um de nós.
As palavras fizeram a se calar no mesmo instante, e Savannah agradeceu o toque da sineta indicando o fim do intervalo. Ela buscou a bolsa, colocou as nas costas e acenou com a cabeça para um Twinkie que parecia tentar formular alguma desculpa e Reiko que observava o garoto com uma feição fechada, como se esperasse Savannah sair dali para passar passar uma bronca nele.
Sua próxima e última aula era economia doméstica, porém não conseguira se concentrar em absolutamente nada no que a professora explicava, ao menos reagia aos cutucões discretos que sua parceira de bancada lhe dava para que prestasse atenção nas instruções na lousa. Olhou rapidamente no caderno a grande palavra "Empreendedorismo" estampada no cabeçalho, abaixo deste havia alguns outros tópicos sem nada copiado ao lado. A breve discussão com Twinkie ainda estava fresca em sua mente, em como ele desabafou aquilo e jogou contra si como se estivesse engolindo há tempos, sabia que aquela confissão não era por conta de estresse algum. Conhecia-o bem. Até mesmo para disseminar ódio e chateação ele cobraria.
A sineta tocou anunciando o fim da aula e Savannah recolheu os pertences, caminhou até o estacionamento e buscou o celular na mochila enquanto aguardava Reiko chegar para pegar uma carona com a mesma. Sabendo bem ela não ficaria após a aula, precisava cuidar da mãe, e Savannah não sentiria falta de que alguns pontos fossem tirados de si por não ajudar na atividade extracurricular.
Visualizou a barra de notificações e uma mensagem de texto nova surgiu no mesmo tempo em que rolava o feed de notícias de uma de suas redes sociais:
81 (011-382-7464)
"Esperando o transporte escolar?"
As sobrancelhas da garota se uniram em uma confusão só com a mensagem, no instante que clicou na mesma para perguntar quem era, um ronco de motor chamou sua atenção e a de alguns estudantes presentes ali:
Na frente do local um Skyline R35 estava parado com o motor ligado fazendo um burburinho emergir de algumas pessoas. Savannah bufou baixo ao que sorriu timidamente, atravessou o pátio do estacionamento e caminhou até o carro, por um instante recordou-se de meses atrás quando uma situação como aquela havia acontecido.
A janela do lado do banco carona desceu lentamente e ela inclinou-se um pouco para frente colocando as mãos dentro do carro e fitou Han virar o rosto para olhá-la:
— Chegou atrasado, cowboy... O horário de aula terminou. — brincou ela arrancando um sorriso de Han.
— Piada sobre eu ser aluno? Não tinha outra melhorzinha, não? — retorquiu ele.
Savannah olhou para o lado observando algumas garotas passarem e admirarem o carro do homem.
— Na verdade tinha uma ótima sobre você estar esperando a namorada líder de torcida, mas esse tipo de estereótipo parece ser exclusivo dos americanos.
Ele riu em concordância e acenou com a cabeça em direção da garota.
— Tem algum compromisso agora?
— Iríamos para as docas... Mas acho que não tem mais clima para isso hoje — pensou rapidamente em Twinkie e na discussão de mais cedo, foi no instante em que recordou-se sobre a corrida contra Morimoto, e que tinha um assunto a tratar com Han.
— Então entra aí, eu te deixo em casa. — sugeriu sutilmente.
Savannah assentiu silenciosamente e entrou no carro se acomodando no banco. Assim que Han arrancou com o automóvel para longe do colégio, a mente dela já trabalhava disparadamente em como contaria sobre o desafio.
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A lanchonete possuía um ar animado e descontraído, algumas placas piscavam incessantemente indicando que aquele dia era o da lagosta. Havia algumas máquinas de refrigerante e salgadinhos do lado oposto da mesa onde Han e Savannah estavam sentados, e a garota se surpreendeu ao observar o homem ignorar completamente a existência das máquinas e pedir um prato de Tsukemen, já ela optou apenas por um suco.
— Você come comida de verdade? — Savannah sorriu de canto ao que observou Han mastigar silenciosamente. Ela não quis fazer uma observação embasada de um breve comentário brincalhão para deixar a atmosfera mais leve, de que ele parecia abatido. Seu rosto exalava cansaço e embaixo de seus olhos bolsas arroxeadas surgiam discretamente. O que tivesse acontecido em Cingapura não fora tão agradável assim, pensou ligeiramente e aquilo a deixou com um pé atrás. Quando trabalhava para Han há alguns meses e o acompanhava até certo ponto em clubes ou áreas de domínio Yakuza, sempre observava-o adaptar-se ou lidar com facilidade com os assuntos e negócios da máfia, mas comparando-o com a figura atual do homem em sua frente parecia quase outra pessoa, até mesmo um certo tipo de preocupação parecia atravessar seu rosto, o que era atípico para ele que sempre exalava despreocupação e sossego — Como foi em Cingapura? — não conseguira segurar a língua, afinal sutileza não era uma qualidade sua.
Han ergueu os olhos da refeição e voltou-os para a garota a sua frente:
— Foi ótimo. — murmurou mexendo no macarrão sem emoção.
Savannah estalou a língua e o encarou:
— Conta outra.
Han suspirou fundo e encostou-se na cadeira.
— Você sabe bem como foi, Savannah. Não é porque agora estamos mais próximos que eu vou deixar você a par de tudo o que faço. Sempre deixei claro que não queria que você se envolvesse com isso. — vociferou em um tom incrivelmente baixo.
Ela piscou alguma vezes absorvendo tudo o que o homem havia dito.
— Essa merda toda é contagiosa, e eu não quero que te aconteça nada — concluiu ele se inclinando para a garota.
As palavras eram sinceras e estavam carregadas de preocupação, Savannah não deixou aquilo passar despercebido.
— Você pode me contar qualquer coisa. — disse ela observando-o compreensiva.
Ele assentiu com a cabeça.
— Eu só preciso que você não faça mais perguntas. Quanto menos você souber, melhor.
— Certo. Então, vamos mudar de assunto — ele sorriu sarcasticamente de canto e voltou sua atenção para seu macarrão — Desafiei o Morimoto para uma corrida, e no calor do momento apostei seu carro.
Han ergueu os olhos silenciosamente e mexeu no cabelo, voltando a se encostar na cadeira:
— Como é? — quis saber pausadamente.
— Foi o que você escutou — o homem abriu a boca pronto para vociferar uma série de desaforos pelo o que Savannah deduziu ao analisar sua postura, porém ela foi mais rápida e o interrompeu: — E não precisa dizer o quanto eu fui idiota em fazer tal coisa, o seu advogado Twinkie já fez o favor de se posicionar em relação a isso.
— Savannah...
Ela o interrompeu:
— Eu não vou deixar ele ganhar o seu carro.
Ele juntou as sobrancelhas e disse:
— Acha que eu estou preocupado com o carro?
A garota levantou os ombros timidamente e continuou olhando a expressão no rosto do homem.
— Deixa eu ver... Ele te disse as mesmas merdas de sempre e você achou que uma corrida talvez fizesse com que ele parasse? — cuspiu com desprezo e ironia. O modo como aquelas palavras escaparam de seus lábios fora como um banho de água fria sobre Savannah — Você precisa aprender a não entrar na pilha do Morimoto, Savannah — ele a encarou um pouco mais sério e concluiu: — E também a segurar a língua.
Ela bufou baixo e mordeu o interior da bochecha.
— Não pensei que uma simples fagulha fosse causar esse incêndio todo — reflexionou Savannah.
Han abriu um sorriso de canto e a olhou irônico.
— Você nunca pensa — disse sucinto.
Savannah lhe dirigiu um olhar semicerrado não aprovando o comentário.
— Então o que você sugere que eu faça? — a garota cruzou os braços na altura do peito e o encarou com um sorriso desafiador.
O homem adotou sua carranca tranquila e reservada, como se a surpresa do assunto do seu carro e Morimoto nunca tivesse acontecido.
— Eu não sugiro nada. Você apostou com aquele idiota, você se resolve com ele. Contanto que fique claro que eu não estou envolvido na corrida dos dois.
— Não se preocupe, vou consertar essa confusão toda — prometeu ela umedecendo os lábios.
Han suspirou baixo e acenou com a cabeça.
— Só estou dizendo isso para o seu bem, Savannah, não vale a pena ficar comprando briga com ele. É uma grande perda de tempo. — disse em um tom reflexivo. Aquela altura Han mexia o macarrão com desinteresse e aparentemente sem apetite algum.
— Por que será que eu acho que quando você diz isso não está se referindo ao Morimoto? — hipotetizou moderadamente observando a expressão cansada de Han para com aquele assunto estampar-se em sua face.
— Porque eu sei que ele é apenas um peão nesse seu joguinho com o Takashi — vociferou ele.
Savannah o olhou quietamente e após um longo instante Han disse por fim:
— As corridas, apostas, as pessoas... São apenas peças. — ele argumentou firmando os lábios — Você o odeia tanto e está se tornando exatamente como ele.
Ela balançou a cabeça em negação.
— Você está errado.
Han abriu parcialmente os lábios e disparou:
— Estou? O que você realmente pretendia com essa corrida contra o Morimoto? — Savannah fechou a boca no mesmo instante, havia perdido qualquer chance de explicação ali, sabia que nenhuma frase ou argumento lhe ajudaria. — Aí está sua resposta — finalizou soltando um suspiro baixo.
Ele alcançou a mão da garota fazendo o toque acalmá-la um pouco mais.
— Você não precisa provar nada a ninguém, Savannah. — a voz de Han era baixa e rouca — Seu caráter vale muito mais do que qualquer título.
As palavras reverberaram em sua cabeça como um aviso sincero e sólido. A garota piscou os olhos e confortou-o com um sorriso sem emoção. Ainda tinha que pensar bastante sobre o que faria em relação a corrida, porém aquele conselho de Han já havia dado o pontapé inicial.
— Você tá bem? — ele proferiu com um olhar empático.
Savannah acenou com a cabeça sutilmente antes de responder:
— Eu só preciso ir pra casa e dormir um pouco.
Ele assentiu e os dois saíram da lanchonete após pagar a conta, porém não antes de Han ir até máquina de salgadinhos e buscar uma embalagem de mini pretzels doce.
A volta para casa foi silenciosa. O carro era uma profunda e desolada quietude, enquanto do lado de fora uma neblina começava fazendo com que as primeiras gotas de chuva deslizassem sobre o vidro e tomarem pequenas formas. Savannah procurou por qualquer coisa para ocupar sua mente naquele trajeto de volta para casa, qualquer coisa que a deixasse de boca fechada na tentativa evitar mais uma discussão com Han.
— Se você precisar de alguma coisa, liga para esse último número que eu te enviei mensagem. — disse Han fazendo Savannah erguer o olhar e notar que ele já estava com o carro estacionado a alguns metros de sua casa.
— Não vai precisar chegar a esse ponto — disse ela sarcástica vendo Han rolar os olhos com a resposta — Eu tô bem, sério! Só preciso de um tempo pra pensar um pouco.
Ele assentiu com a cabeça antes de puxar o queixo de Savannah gentilmente para um beijo. As mãos dela se enterraram timidamente nas madeixas macias do homem, ao que ele se inclinava um pouco mais no banco para aprofundar o beijo, enquanto sua outra mão serpenteava pelo quadril dela com desejo, porém ela interrompeu a ação se afastando lentamente de Han.
— Eu realmente preciso ir. — murmurou desanimada próximo dos lábios dele.
— Tudo bem, eu também — retorquiu suavemente.
Ela desceu do carro e deu um rápido aceno com a mão observando um sorriso atravessar o rosto de Han, em forma de cumprimento.
Quando afastou-se do veículo, sua mente voltou a se ocupar com a conversa dos dois de horas antes. Ela não sentia raiva, decepção ou algo parecido, pois ele estava certo. Em cada palavra que ele dissera, estava carregada de verdade, e de alguma forma era exatamente aquilo que lhe mais doía. "As corridas, apostas, as pessoas..." a voz de Han soava em sua cabeça. Em qual momento ela havia ido tão longe? Não acreditava que tinha jogado tão baixo para alimentar um pouco mais seu ego e se sentir bem.
A verdade doía, mas a dor é só um detalhe quando você realmente aceita ela e quer mudar.
Savannah escutou o carro se afastar e sair cantando pneu no asfalto. Porém ela não se virou para observá-lo indo embora.
˚·*'' to be continued ༻
NOTA DA AUTORA:
Olá! Como vocês estão?
Esse capítulo ele tem um paralelo interessante com o capítulo seis (detalhe: que parece que foi postado há anos rs) quando vc compara o ínicio da relação do han com a savy e como eles estão agora. e essa conversa dos dois vai ser essencial para a evolução dela.
a partir desse capítulo eu vou colocar algumas músicas no ínicio dele, e um pouco mais pra frente eu vou criar a playlist no spotify.
então, babes é isto! até a próxima att e mto obrigada pelos comentários, votos e principalmente o carinho de vcs com a fic. <3 <3 <3
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