━━━━〔 𝘤𝘩𝘢𝘱𝘵𝘦𝘳 𝘰𝘯𝘦 〕
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BURNING DESIRE
POINT OF VIEW
Savannah Boswell
Los Angeles.
Suas mãos ágeis alcançaram o gloss labial no porta-luvas, e passou-o em seus lábios. Observou-se mais uma vez no retrovisor, o vento atingindo seu rosto, jogando suas tranças para frente e para trás, um sorriso maroto surgiu no canto de sua boca.
Sem dúvida as noites de sábado em Los Angeles eram as mais esperadas. Já que os jovens passavam a semana estudando e frequentando apenas algumas sociais a noite, mas nada muito animador. Considerando que a verdadeira farra acontecia nos sábados, quando os melhores pilotos de rachas de: Santa Barbara, os boêmios de Las Vegas e até mesmo de Miami, resolviam aparecer por lá.
Savannah contava os dias para aquelas noites, no qual podia se drogar, correr e esquecer de seus problemas.
Quando avistou uma certa multidão, rapidamente estacionou o seu mustang branco na fileira de carros conversíveis ali, desceu e observou algumas garotas debocharem de seu carro, porém as ignorou.
— Savy! — chamou uma voz masculina, espremendo-se entre as pessoas para chegar até a jovem — Pensei que não vinhesse, irmãzinha.
— Foi complicado convencer minha mãe. Tinha que ver o drama que ela fez, Cabeça.
Ele passou o braço em seus ombros e deu algumas batidinhas.
— Digamos que você não tem muita moral para falar da coroa né, Savy? O lance da erva foi vacilo seu.
Respirou fundo para não lhe xingar, ainda que soubesse que a culpa fosse inteiramente sua, entretanto detestava a forma como jogavam aquilo tão expressamente.
— Não quero me estressar com esse assunto de novo, Cabeça. Até onde eu sei estamos aqui para curtir.
O garoto deu de ombros e puxou-a para o local que estava momentos antes:
— Tem alguns riquinhos de Beverly Hills se achando por aqui — disse sentando-se sobre o capô de um carro qualquer — E o próximo racha é com aquele lá. — apontou para um rapaz alto, de cabelo loiro e uma carranca arrogante.
— Tudo bem então, vamos correr — respondeu Savy dando passos largos até o organizador do evento, Boone. Porém Cabeça foi mais rápido e puxou um dos seus braços, virando-a:
— Você tá dura, como vai apostar?
— Cabeça, você já devia saber que caras como aquele não se importam com dinheiro, o paizinho deles já tem demais. Para desafiá-los para um racha é só tocar em um ponto bem delicado de alguns de vocês...
— O cérebro? — sugeriu.
— A masculinidade.
Savy deu passos firmes até o rapaz que estava encostado em um Porsche de forma relaxada, enquanto sua mão descansava na bunda de uma garota.
— Perdeu alguma coisa, princesa? — quis saber a olhando de cima a baixo.
— Belo carro — elogiou Savy e notou o sorriso malicioso do garoto surgir.
— É sim. — sua mão deslizou pelo capô e a olhou — Quer dar uma voltinha? Por dentro é bem confortável.
— Claro. Eu adoro carros confortáveis. — o sorriso do garoto abriu-se tão rapidamente que Savy poderia vê-lo mesmo se estivesse atrás deste.
— Entra ai — convidou enxotando a outra garota dali, e abrindo a porta.
Savy jogou um olhar debochado para Cabeça que estava à alguns metros dali.
— Vamos correr primeiro, tenho que me divertir bastante para ter que aguentar o seu tipo.
O sorriso que outrora era convencido, murchou. E algumas pessoas em volta pareceram notar a tensão ali entre os dois.
— Acha que eu vou correr com você?
— Vamos lá, docinho. Se você ganhar eu posso dar uma voltinha no seu Porsche aconchegado — brincou Savy, escutando alguns risinhos das garotas em volta.
— Eu não vou correr com uma mulher. É humilhante até para você vir aqui e me desafiar — caçoou recebendo algumas batidinhas nas costas de seus amigos, o incentivando — Faz o seguinte, amor, pega o seu corpinho gostosinho e se manda daqui antes que eu comece a ficar com raiva.
O seu interior estremecia de indignação com as palavras ofensivas do rapaz, porém Savy colocou o sorriso mais caçoador no rosto e ergueu a voz:
— Tá com medo de perder? — zombou o observando girar os calcanhares e a encarar furioso.
O resto da plateia que aglomerou-se para observar a troca de farpas ali soltou urros de euforia e incentivos.
— Quando eu atravessar aquela linha de chegada — começou apontando em direção a pista, enquanto Savy o olhava sutilmente — Aguente as consequências.
— Então vamos correr — murmurou de volta e deu-lhe as costas indo em direção ao seu carro com Cabeça e algumas pessoas em seu encalço.
— Você não tem um pingo de juízo, Savannah. Prometeu a sua mãe que não correria!
A garota aconchegou-se no banco e verificou se tudo estava em ordem por ali, tentando afastar a voz do amigo de sua cabeça. Sabia que havia prometido que não correria mais e de que ficaria longe de problemas. Mas não havia nada mais excitante do que correr e fazer um babaca quebrar a cara.
— Cabeça, a promessa pode começar a valer quando eu te encontrar na linha de chegada. Até lá, faça as apostas na multidão para comermos algo mais tarde — argumentou dando-lhe uma piscadela, e recebendo um aceno com a cabeça.
Ela colocou a chave na ignição e deu partida no carro lentamente em direção a marca da largada, ainda escutando alguns risos e frases debochadas proferidas ao seu automóvel. Quando o posicionou a linha, seu rosto virou para encarar o riquinho:
— O Buick da minha vó é melhor do que essa droga — ironizou pisando no acelerador, produzindo um alto ronco do motor fazendo a multidão gritar eufórica.
— E esse Porsche da mamãe? — retorquiu divertida, observando a cor do seu rosto mudar.
— Vamos logo, meu chapa! Quero calar a boca da merdinha aí — gritou com Boone, o organizador do racha, este que ignorou-o e olhou para Savannah, como se perguntasse se estava tudo bem, ela acenou com a cabeça sutilmente e focou seu olhar na pista.
— Vem chegando, galera! Hoje temos o Ken de Beverly Hills contra a Susie daqui de West Hollywood. O negócio é o seguinte: O carro que conseguir chegar primeiro até a construção daquela boate na rua da Sunset, ganha o que vocês decidiram.
O olhar ameaçador do garoto alcançou Savannah, que sorria sutilmente.
— Eu vou tirar esse sorrisinho da tua cara — urrou cuspindo para fora e voltando o olhar para a pista.
Boone os olhou uma última vez, como se pedisse permissão e ambos assentiram.
— Um. — gritou Boone.
— Dois. — encorajou outra garota.
— Três — murmurou Savy, enfiando o pé no acelerador.
— E CORRAM! — disse Boone por fim entre os carros que arrancaram em alta velocidade.
Assim que Savannah acelerou com seu Mustang, observou pelo retrovisor o Porsche amarelo alcançá-la assim como o resto da multidão, que buscavam seus automóveis e davam a volta para aguardar os competidores na linha de chegada.
O vento cortava seu rosto tão intensamente, bem como os ruídos estridentes em seu ouvido; como se a noite conversasse com ela. E era exatamente aquela sensação que procurava todos os dias, a adrenalina trazia-lhe um sentimento inexplicável para si, dava prazer, vontade de viver...
Assim que avistou a primeira curva para a esquerda que teriam que dar, tratou de preparar-se para desacelerar mais o carro, pois lembrava que a rua que entrariam era um pouco mais estreita, assim quando entrasse nesta rapidamente conseguiria retomar o ritmo veloz de outrora.
Sua audição captou os xingamentos do garoto de Beverly Hills e apenas deu-lhe o dedo do meio, sem tirar os olhos da curva que se aproximava; sabia que este não tinha o menor conhecimento de corrida, apostaria seu próprio Mustang que ele era do tipo que se importava apenas com a velocidade e nunca com as técnicas.
No instante que chegou a curva, tratou de desacelerar o carro, girar o volante e controlar as rodas dianteiras, escutando o pneu cantar estridentemente; assim que saiu desta, olhou pelo retrovisor o Porsche amarelo entrar com toda velocidade na rua, e colidir-se contra um muro.
— Segura essa, imbecil — gritou para a noite.
Prontamente avistou mais a frente a construção da boate e uma grande multidão aglomerada ali, com som tocando e com gritos de incentivo. Geralmente não gostava de apostar dinheiro ou carros, sempre pedia para quem perdesse que colocasse gasolina ou que lhe pagasse um lanche, entretanto à medida que chegava da largada e lembrava dos insultos do tal garoto de Beverly Hills, sentia que não deveria ter aliviado tanto para este.
Quando estava prestes a atravessar um dos sinais interditados - devido a construção; sentiu algo colidir contra seu carro profundamente, a pressão do lado contrário foi tão forte que sentiu o estômago afundar quando notou que o carro capotava. E o mundo fora do Mustang pareceu desacelerar e passar em câmera lenta pelos seus olhos... Os gritos, o barulho da sirene... Até mesmo a música.
— Filho da puta trapaceiro — urrou olhando o garoto de Beverly Hills saindo do Porsche, de cabeça para baixo.
❏ ❐ ❑ ❒
O policial Rodriguez sem dúvidas eram um dos poucos homens com postura paternal que lhe dava conselhos. Da primeira vez que foi pega em um racha, ele a liberou depois de passar horas e horas dando sermão, da segunda vez enviou-a para um grupo de apoio de pessoas deficientes que sofreram acidentes de trânsito, e a terceira vez... Ele estava ali, rodando as algemas em seus dedos, enquanto o vídeo do racha passava na pequena televisão.
— Se puder me arranjar a cópia desse vídeo — murmurou Savy observando a cena da curva.
O policial a olhou como se tivesse proferido um palavrão, e deu pausa no vídeo.
— Acha que isso é brincadeira? O Ken ali vai sair sem nenhum arranhão — disse apontando para fora da sala, onde estava o garoto de Beverly Hills conversando com uma mulher bem vestida —Sabe por que? A família dele manda muito por aqui, mas gosto de pessoas como você, Savannah, porque tenho certeza de que vai ser condenada, e não se considere desavisada.
Savannah poderia considerar que o homem estivesse blefando já que em outras ocasiões ele havia pegado-a fazendo coisas piores e havia deixado passar.
— Tudo bem — deu de ombros debochado — Cadê meu carro?
— Eu esmaguei ele. — retorquiu sutilmente.
Savy empurrou a cadeira e o peitou:
— Você o quê? — urrou e sentiu as mãos de uma policial lhe segurarem de volta na cadeira.
— Acabou! É o seu fim antes mesmo dos dezoito, agora senta aí — ordenou pressionando o ombro desta.
Savy sentiu a cabeça latejar com aquela situação. Estava toda arrebentada do acidente, mas ainda sim o que lhe preocupava mais era o seu carro. Quando a porta da sala de interrogatório fora aberta, mostrando a figura de sua mãe ali, tivera a certeza de que não era blefe algum.
Savy afundou na cadeira e passou a mão pelo rosto.
— Savannah! — exclamou puxando o queixo da garota e observando os arranhões no rosto desta — Você me prometeu. — a voz de sua mãe saiu mais decepcionada do que brava, e aquilo atingiu-a.
O policial Rodriguez bufou alto chamando a atenção das duas, que viraram seus rostos prontamente.
— Senhora Boswell, por favor sente-se. — pediu gentilmente.
A mulher contornou a pequena mesa e acomodou-se em uma das cadeiras rente a de Savannah.
— É senhorita — deu ênfase na frase, observando o sorriso do policial — O que podemos fazer, Rodriguez?
— O estado é rígido, você sabe, eu já aliviei bastante para Savannah, mas dessa vez... É quase certeza de que seja condenada — a garota e sua mãe suspiraram pesadamente em sincronia — Vai ter sorte se não for julgada como adulta — concluiu olhando para Savy.
Ela pôs as mãos na cabeça, parecia que tudo estava desabando! Podia sentir a decepção estampada no rosto de sua mãe.
— Tem que haver outro jeito, Rodriguez. — a mulher implorou, e Savannah ergueu o olhar para observá-los, não deixando escapar a feição pensativa do policial.
A garota esperou impaciente no corredor, equanto sua mãe e o policial conversavam na sala de interrogatório. Suas mãos trêmulas batucavam as coxas, ansiando saber o que ficaria decidido. Se nada pudesse ser feito, seria presa, e aquele pensamento lhe dava calafrios, ainda mais ao colocar-se no lugar de sua mãe.
— Idiota — xingou-se baixo.
E rapidamente os passos da mulher e do policial foram escutados, ambos se despediram simplesmente e sua mãe voltou a atenção para si:
— O que ficou decidido? — quis saber exasperada.
A mulher sorriu sem emoção e apenas afagou-lhe as mãos.
— Você precisa fazer suas malas, querida — respondeu sutilmente.
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