07| O QUE VOCÊ QUER?
QUANDO ACORDEI não dediquei muito tempo decidindo o que faria após aquela noite conturbada com um sonho específico. Imediatamente eu optei por fingir que nada aconteceu. Foi só um sonho, é claro que ele não pode me abalar tanto assim. E daí se eu estava voltando a fantasiar com Nega? Podia ser literalmente qualquer outra cara gostoso alí. Empurrei aquelas cenas de cinema porno de baixo orçamento para o local mais profundo da minha mente, decidido deixá-lo lá juntando poeira e não pensar mais no assunto.
Consegui seguir até o horário do almoço. Enquanto estava lendo alguns artigos, a secretária de Rick bateu em minha porta e avisou que o diretor queria falar comigo. Obviamente meu coração decidiu começar a bater perto da boca e todo o meu esforço matinal em trancar aquele maldito sonho em meu inconsciente foi por água abaixo. Não consegui me impedir de reproduzir todo o sonho da noite passada enquanto fazia todo o trajeto até o escritório do diretor.
Quando parei diante da sala de Rick, já estava em um estado em que todo o meu corpo estava formigando. Cada sensação estava retornando, inflamando meu corpo e me deixando com calor como o inferno. Respirei fundo e me forcei um a me controlar. Assim que bati na porta e escutei a voz que me mandou entrar, senti uma onda de alívio. Era a voz de Rick. Claro que era voz dele, de quem mais seria? É a sua sala e Negan não é dono do colégio, ele não pode invadí-la simplesmente e transformar em uma masmorra sexual.
Entrei na sala e fechei a porta. Apesar do alívio que estava sentindo por ser Rick alí, eu estaria tentando me enganar se negasse a pontada de decepção em meu íntimo. Com íntimo eu estou me referindo a minha boceta rebelde que estava vibrando desde a noite passada e que estava emocionada com a possibilidade de qualquer realização dele. Eu posso controlar minha mente, mas infelizmente meu corpo insiste em ter suas reações próprias.
— Boa tarde, Kira. Você pode se sentar.
O diretor me cumprimentou assim que eu entrei e fechei a porta. Ele indicou a cadeira em frente a mesa e eu prontamente fui até ela e me sentei.
Felizmente ele não havia percebido nada de diferente no meu comportamento. Isso significa que estou me saíndo bem. Ou que talvez ele seja muito distraído para perceber qualquer coisa de estranha.
— Me disseram que queria falar comigo.
Eu comecei e ele balançou a cabeça.
— Sim, mas não precisa ficar preocupada, não vai levar uma detenção – Ele riu da própria piada e eu tentei rir também, mas acabou que não saiu muito natural. Péssima escolha de palavras, Grimes.
— Fico bem aliviada.
Eu falei tentando disfarçar. Rick prosseguiu:
— Na verdade eu queria saber como estava sendo sua primeira semana - Ele falou, aquele seu tom atencioso tomando conta da voz. – Eu sei que alguns professores não foram... receptivos com você.
Eu sabia exatamente de quem ele estava falando.
— Nada com o que eu não possa lidar – Eu falei, dando de ombros. – Eu estou muito bem, na verdade... a maioria dos professores estão sendo ótimos e eles sempre parecem precisar de algum aconselhamento, tem sido muito bom para a minha pesquisa.
Ele balançou a cabeça satisfeito.
— Ótimo, fico feliz em saber disso.
Rick continuou falando sobre todos os feedbacks que vinha recebendo, e também me propôs iniciar algo sobre aconselhamentos com os próprios alunos, principalmente com os do último ano que ainda não decidiram o que querem fazer após o ensino médio. Passamos algum tempo ali apenas conversando, e no fim Rick se desculpou por me "alugar" por tanto tempo. Eu ri e disse que àquilo não era um problema, eu gosto de conversar com ele.
Ele é tranquilo e passa segurança quando fala. Eu me lembro das visitas que ele fazia em minha casa, durante os jantares e os jogos de futebol que ele e meu pai assistiam juntos. Rick não era do tipo que ignorava os mais jovens como a maioria dos adultos fazia. A impressão que eu tinha era que ele sempre sentava-se comigo e conversava como se fosse de igual para igual. Hoje é exatamente a mesma coisa. Ele faz com que eu me sinta à vontade.
Quando deixei a sala dele, os corredores já estavam vazios, pois o sinal havia tocado há alguns minutos. Eu fechei a porta e comecei a caminhar de volta para a minha sala quando percebi que alguém estava andando bem perto de mim.
— Então vocês são melhores amigos de merda agora?
Eu continuei andando, não me dando ao trabalho de olha-lo.
— Boa tarde para você também, Negan – Comecei, não escondendo o cinismo em meu tom de voz. Em seguida, acrescentei: – Rick e eu sempre fomos amigos. Isso não deveria ser uma novidade.
Ele riu e eu revirei os olhos.
— Não deveria estar dando alguma aula agora ou sei lá? – Questionei.
— Só no último período – Respondeu. – O que é? Agora pensa que manda em mim também como todos os outros porras por aqui?
Parei de andar e me virei lentamente para ele. Ele estava me seguindo como uma sombra pelos corredores, fazendo inquisições e eu não gosto nada disso.
— O que é que você quer comigo?
Fiz a pergunta que eu deveria ter feito desde o início.
— Como é?
Ele ergueu uma sobrancelha. Negan também parou de andar e agora estávamos literalmente nos confrontando no corredor vazio.
— Você foi um babaca comigo no primeiro dia, nada receptivo. Foi um grosso no dia da bolada. Fora que nem se dá ao trabalho de aparecer nas reuniões. E agora você está aqui, decidiu que quer falar comigo, mas ao mesmo tempo tudo o que você diz são ofensas. Então, eu vou repetir a minha pergunta para você, Negan: O que é que você quer comigo?
Estavamos parados praticamente em frente a minha sala. Negan não respondeu imediatamente. Ele coçou sua barba despretensiosamente e então cruzou os braços exatamente como eu estava fazendo. Por uma segundo eu me lembrei do meu primeiro beijo... que foi com ele. O beijo que eu roubei dele, mas que ele retribuiu pelo menos no começo. A sensação daquela barba no meu rosto foi uma coisa que eu mantive esquecida e trancada por muito tempo, mas agora ela parecia tão vivida que poderia me arrancar o fôlego.
— Você se transformou em uma garota feroz, me desafiando desse jeito...
Eu joguei os braços para cima em um claro e imenso sinal de frustração e soltei um gemido de irritação. Negan se manteve me encarando e então continuou, apesar da minha interrupção:
— Me perguntei sobre quem aquela garotinha poderia ter se tornado – Ele deu de ombros. – Então pensei em descobrir.
Me apoiei contra a parede por alguns instantes. Então é isso. Ele está instigado. Curioso, no mínimo. Quer se aproximar e saber mais sobre quem me tornei.
— E descobriu?
Perguntei, ele negou com a cabeça.
— Não, ainda não.
Eu balancei a cabeça e suspirei.
— Pode acabar se decepcionando – Falei. – Se acha que ainda tem alguma chance de reencontrar aquela garota.
Eu queria que ficasse claro para ele. Quero que Negan entenda que eu não sou mais aquela pessoa. A garota que queria agradá-lo o tempo todo. A que vivia sonhando acordada que em algum momento ele iria me notar e então me convidar para sair.
Eu deixei de ser romântica há algum tempo e, apesar de claramente ainda sentir atração física por ele, eu não vou dizer que estou tendo uma queda por Negan novamente. Ele é gostoso, mas eu não sou mais uma adolescente virgen de 17 anos com baixa auto-estima, eu sei que posso simplesmente ir até um bar e encontrar caras mais bonitos e então simplesmente transar com eles.
— É, talvez.
Ele confirma.
Eu coloco a mão na maçaneta da porta e a empurro devagar.
— É bom que você saiba - Eu falei antes de entrar na sala. – Você não é o único que pode ter se decepcionado com quem reencontrou depois desses anos.
Eu fechei a porta e o deixei do lado de fora. Voltei para minha mesa e me sentei bastante distraída. Ele só esta curioso, só isso. Com certeza a novidade de alguém aparecendo aqui chamaria sua atenção, mas é apenas isso. Eu também não preciso mais perder meu tempo pensando sobre isso, afinal, agora que eu sei o que o incentivou a vir falar comigo do nada, não preciso mais ficar criando razões na minha cabeça.
Fim da história.
🌙
MAIS TARDE, Rose me falou que alguns professores estariam reunidos em um bar bem famosinho na saída da cidade. Durante os dias de eventos esportivos como jogos de futebol, basquete e baseball, e até em torneios de luta, o lugar fica lotado. Quando não tem nenhum tipo de campeonato ou outra coisa do tipo, o lugar ainda enchia.
Além de que, Tyra também trabalha lá.
Eu aceitei o convite, já que era sexta-feira e eu não tinha absolutamente nada o que fazer. Todos iriam direto do trabalho, mas eu não queria ir com a roupa com qual costumo trabalhar. Elas são sóbrias demais, e suéter deixou de ser meu estilo favorito há pelo menos quatro anos. Avisei que passaria em casa primeiro para trocar de roupa e Rose riu fazendo um comentário sobre os jovens que eu não entendi muito bem o sentido.
Provavelmente sou jovem demais para entender.
Com toda a mudança de país e a preparação para o novo trabalho, eu não tive tempo para sair ou ao menos me divertir. Quando cheguei em casa comecei um tour por todas as minhas roupas, procurando algo que servisse para ir ao bar.
Meu estilo de roupas teve uma mudança quase brutal ao longo dos anos. Os suéters, casacos e moletons foram substituídos por roupas mais curtas, as vezes leves e soltas, as vezes coladas e justas. No entanto, nesse momento nenhuma das opções me pareciam agradáveis.
Bem, eu não vou estar no meu local de trabalho. É um bar longe da escola e provavelmente estarão lá dois ou três outros professores juntamente com Rose. Não é nenhum bicho de sete cabeças, fora que eu realmente preciso de uma bebida e de alguns flertes depois dessa última semana. Ainda mais depois do sonho de ontem. Estou começando a pensar que talvez eu precise de um pouco de sexo para me ajudar a relaxar.
Escolhi um vestido cor de creme quase branco. O tecido dele era leve, o que é ótimo já que com o calor que tem feito eu não poderia querer algo melhor. Coloquei uma bota também e enquanto fechava o zíper dela já estava com o celular no ouvido ligando para Rose e avisando que estava indo, saíndo de casa em seguida.
🌙
ASSIM QUE cheguei, percebi que o bar estava mais cheio do que eu havia imaginado que estaria. Rose disse pelo telefone que eles estariam em uma mesa próximo ao balcão então atravessei os vários grupos de pessoas, procurando por eles. Rose me viu antes que eu conseguisse localizá-los e quando a percebi, ela estava acenando para mim. Eu sorri e me aproximei da mesa.
— Achei que você nem viria mais.
Ela riu. Eu também ri.
— Desculpe o atraso. Sentiram minha falta?
Perguntei, deixando minha bolsa encima da mesa.
— Sempre, gracinha - Simon piscou para mim e Rose bateu em seu ombro.
— Ei, Rick, olha quem chegou! - Rose falou e eu franzi as sobrancelhas. Virei a cabeça olhando por cima do ombro e vi o próprio se aproximando com algumas garras de cerveja nas mãos.
Ele colocou elas na mesa.
— Quando disseram que você viria eu não acreditei muito – Ele sorriu e empurrou uma para mim. – Pode ficar com a minha.
Eu continuei o olhando, ainda meio confusa por sua presença.
— Eu que não estou acreditando que você está aqui – Falei rindo baixo e aceitando a cerveja. – O diretor em um bar?
Ele balançou a cabeça.
— Eles insistem que eu preciso relaxar.
Rick revirou os olhos.
Eu continuei o olhando, ainda processando a informação de que ele estava alí e aparentemente sozinho. Pelo que eu me lembro, Rick não ia a lugar algum sem sua esposa. Foi então que eu percebi seu dedo. Estava sem sua aliança.
— É, algumas coisas aconteceram.
Ele comentou brevemente, chamando minha atenção de volta para seu rosto. Ele percebeu meu olhar em sua mão. – Eu me divorciei.
— Eu lamento – Comentei, dando um gole na bebida para disfarçar o fato de eu estava sem graça por ter ficado o encarando como se ele fosse um alienígena apenas por estar em um bar com os colegas.
— Não, tudo bem – Ele riu baixo. – Foi um corte limpo.
Outro professor, um de química que assim como eu também é novo no colégio, e que não consigo me lembrar de como se chama, voltou do balcão com mais algumas bebidas nesse momento e acabou interrompendo aquela conversa embaraçosa.
Eu não pensei nem por um momento em todos esses dias que Rick poderia ter se separado da esposa. Ele parecia o mesmo Rick certinho e doméstico de sempre, mas aqui... em um ambiente tão diferente do qual eu sou acostumada a vê-lo ele parece outra pessoa.
Nós estávamos conversando, todos na roda pareciam animados e os que estavam bebendo antes de mim já pareciam até meio altos. Eu sou bem tolerante para álcool, herança dos anos na faculdade. Então eu ainda estava muito bem apesar da quarta ou quinta cerveja. Fui até o balcão procurar por minha prima pela e pela terceira vez não a encontrei. Onde ela se meteu essa noite?
No lugar dela, era outra garota alí. Ela parecia menos ocupada do que das outras vezes que me aproximei do balcão, então decidi perguntar a ela sobre Tyra.
— Ei – Chamei sua atenção. – Boa noite, você sabe onde a Tyra pode estar?
A garota se virou para mim e então parou por alguns segundos. Ela inclinou a cabeça com as sobrancelhas
— Kira? – Ela perguntou e riu. Eu balancei a cabeça levemente, não compreendendo muito bem a reação dela.
— Uhn... sim... – Respondi. – Sou eu. Nós nos conhecemos de algum lugar?
Ela deixou o copo e a garrafa que estava segurando de lado.
— Se nos conhecemos? Não se lembra de mim, certo? Eu também não gostaria de me lembrar – Ela riu de novo e seu sorriso era tão familiar que foi impossível não reconhecê-la.
— Jenny? – Falei e ela balançou a cabeça positivamente. Ela continuava muito bonita, mas estava ruiva... tipo, muito ruiva. Eu não perceberia que era a mesma pessoa se não prestasse muita atenção, já que o cabelo loiro era a "marca" dela.
— Tyra me falou que você tinha voltado – Ela disse. – Fico feliz por ver você novamente.
Eu balancei a cabeça.
— É, eu... – Comecei, mas dizer que estava feliz em revê-la seria forçar a barra. A verdade é que eu não pensava nela há anos e esse encontro está sendo totalmente aleatório. Eu nem ao menos sei como me sinto.
— Sem magoas, certo?
Me perguntou.
— O quê? Claro! – Eu confirmei. – O ensino médio foi há tanto tempo.
Falei. Claro que ela fez minha vida no colégio um inferno completo, me causou dores emocionais e físicas, além de ter sido responsável por me provocar sérios problemas na autoestima, mas qual é...? Isso foi no passado.
Certo, talvez eu ainda não vá muito com a cara dela, não seremos melhores amigas, mas eu não vou manter uma raiva de coisas que aconteceram anos atrás.
— Você sabe que eu não te odiava realmente, não é? – Ela perguntou e eu ergui uma sobrancelha.
— Não, mas acho que você fingia muito bem então.
— Eu acabei exagerando – Ela mordeu o lábio e balançou a cabeça. Era mesmo uma reação de constrangimento? – Eu... bom, você sabe que todo mundo tinha uma queda pelo treinador, e principalmente eu, mas ele não dava a mínima pra gente... só pra você. Eu tinha ciúmes da atenção que ele dava pra você, então acabava passando dos limites.
Eu estava ainda mais perplexa.
— Espera, mas... vocês ficavam, certo?
Ela riu e negou.
— Claro que não. Eu espalhei àquele boato só porque eu queria atingir você. Eu sabia que você gostava dele e você sabe como é o ensino médio, não foi difícil convencer todo mundo. Além de que... Negan nunca transaria comigo, ele não iria querer ser preso, né?
Ela parecia achar muita graça naquilo, mas eu estava confusa. Se era invenção dela, então por que Negan nunca desmentiu? Ele nunca... quero dizer, na verdade se eu for relembrar como tudo aconteceu, é capaz que ele nem soubesse desses boatos.
Naquele momento, Tyra finalmente decidiu aparecer e já se aproximou chamando meu nome. Jenny pediu licença, disse que precisava trabalhar. Eu sorri amigavelmente para ela e então me virei para minha prima.
— Onde você se meteu esse tempo todo? Eu cheguei há quase 40 minutos.
— Lá nos fundos. Deu uma merda com o reservatório de chopp e eu estava até agora limpando aquele lugar – Ela fez uma expressão de nojo. – Mas eu não sabia que você estava vindo.
— Os professor vieram e me convidaram – Expliquei. – Ei, você sabia que Rick havia se separado?
Perguntei, mais para desviar meus pensamentos da conversa esquisita com Jenny.
— Claro, todo mundo sabe – Ela riu. – Quero dizer... a cidade não é assim tão grande, e aqui no bar nós ficamos sabendo de muita coisa. Parece que a esposa o traiu.
Eu estava apoiada com os braços no balcão e levemente inclinada para cima dele. Me mexi discretamente e olhei por cima do ombro, vendo Rick sentados conversando tranquilamente. É um grande contraste, considerando o lugar agitado onde estamos.
- Sério?
Eu perguntei, ainda olhando-o. Ela parecia gostar dele pelo que me lembro e Rick não é nada feio, na verdade ele sempre foi um cara muito bonito e isso não mudou mesmo com a idade.
— Seríssimo – Tyra confirmou.
Lancei outro olhar para a mesa e dessa vez vi Rose que estava acenando para mim, ela parecia estar me chamando de volta para a mesa. Eu gesticulei sinalizando que já estava indo e me voltei para Tyra.
— A mesa dos adultos está me chamando, mas antes eu vou precisar de uma dose de whisky – Falei. Ela riu e se afastou para preparar a bebida quando voltou, indicou a entrada do bar com um movimento de cabeça.
— A festa começou a ficar ainda mais animada.
Eu franzi as sobrancelhas e virei a cabeça para olhar na mesma direção que ela, foi quando vi Negan parado na entrada do bar.
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