bônus: the meet cute
PRIMAVERA DE 1811,
O ANO NOVO CHINES
O Conde de Clyvedon não sabia dizer com certeza o porquê de estar descendo da carruagem e se direcionando à entrada lateral da mansão da família Chan. Talvez seja porque o velho amigo, o primogênito da família o tenha convencido e sem nenhuma delicadeza o intimado a comparecer para celebrar o ano novo chines. Ren Chan havia explicado para o amigo que desde que ele nasceu, seus pais traziam elementos da cultura milenar da China para que eles nunca esquecessem de onde Emi havia vindo.
E um dos elementos que Simon ficou mais confuso era saber o porquê de estarem comemorando o ano novo na primavera. O conde estava cheio de dúvidas já que o amigo lhe deu pouquíssimas informações, apenas que comparecesse até a residência esta noite e que seguisse as lanternas vermelhas. O conde que estava fugindo de desagradável jantar com o pai, aceitou sem nem entender no que estava entrando.
O Conde parou algumas vezes no caminho de pedrinhas que levavam até a enorme estufa dos Chan que mais parecia uma casa de tão grande. Lá dentro, além das belíssimas flores inglesas havia uma pequena porção de flores vindas diretamente da China e diversas lanternas vermelhas e a pequena seleção de convidados aproveitavam a bela passagem do ano novo chines. Definitivamente não era o lugar dele.
Como ninguém o havia visto, ele decidiu ir embora e dizer que não poderia comparecer ao evento. O homem deu meia volta e se pôs a fazer seu caminho para o salão mais próximo.
─── Com licença, Senhor? ─── Uma voz doce e feminina fez o duque girar nos calcanhares.
O homem se virou para a posição que estava originalmente quando se decidiu que iria embora. Com grande confusão ele intercalava seu olhar em todos os cantos possíveis à procura de quem o havia chamado. Sem sucesso ele se virou mais uma vez para ir embora, pensando estar ouvindo coisas.
─── Senhor, me perdoe! Aqui em cima! ─── A doce voz exclamou mais uma vez.
O conde parou novamente, desta vez olhando mais alto, mirando a copa de algumas árvores pequenas que contornavam o caminho. No topo de uma pequena árvore, na escuridão da noite o Conde conseguiu enxergar apenas um tule esvoaçante azul, como uma mancha nas folhagens verdes.
─── Senhorita? ─── Simon indagou ainda sem acreditar no que via.
─── Por favor, meu senhor... ─── A mulher pediu por ajuda.
Simon não conseguiu não rir ao se aproximar da pequena árvore e ver que realmente havia uma jovem senhorita presa entre os galhos.
─── A senhorita se importa se eu perguntar o porquê de estar na árvore? ─── Ele indagou com os braços atrás do corpo.
─── Se o senhor conseguir me tirar daqui, ficarei feliz em lhe responder todas as suas perguntas, meu senhor! ─── Ela respondeu ofegante.
─── Tudo bem, deixe-me ver...───
Simon rodeava a árvore tentando chegar a uma conclusão do quão presa ela estava na árvore. ─── A senhorita está machucada ou muito enrolada em algum galho?
─── Não, meu senhor! Apenas tenho muito medo de altura e não consigo olhar para baixo. ─── Ela disse com a respiração levemente descompensada.
─── Então, não deve ser difícil de lhe tirar daí ─── O Conde sorriu.
Depois de analisar por alguns minutos, Simon decidiu que a melhor forma de tirar a senhorita da árvore seria pelo quadril, já que se ele puxasse as pernas muito provavelmente seu vestido iria se rasgar ou ele acabaria por colocá-la em uma situação pouco respeitável.
─── Posso colocar as mãos em seus quadris? Com todo respeito. ─── Ele pediu como um cavalheiro.
Simon não conseguia ver, mas ela estava vermelha.
─── Sim...─── Ela respondeu baixo e de forma suave.
Com delicadeza e muito respeito, Simon encostou na árvore entrando no meio dela onde seria mais fácil de liberar a senhorita. Subindo as mãos o mais alto do corpo dela e o mais respeitavelmente possível, ele segurou nos quadris dela e a ergueu de cima do tronco a fazendo fechar os olhos com força. Ele a segurou com firmeza e só a colocou no chão depois de dar alguns passos longe da árvore para que ela não se machucasse de forma alguma.
A mulher estava de costas para ele tentando acertar a respiração e arrumar de alguma forma os cabelos desgrenhados. Ela não sabia quem era esse senhor e muito menos sua posição social e não queria estragar a imagem de sua família. Após achar que estava minimamente apresentável, ela se virou.
─── Muito obrigada por me salvar, Milorde! ─── Ela o reverenciou baixando a cabeça o fazendo não conseguir vê-la.
─── Espero que esteja bem, Milady! ─── Ele sorriu a olhando com curiosidade.
Quando ela levantou o rosto, Simon sabia exatamente de quem se tratava. Nenhuma outra senhorita em toda a região contava com lindos olhos meio puxados. O homem vem ouvindo a muito tempo sobre a beleza e o carisma da irmã mais nova do famoso e sério Ren Chan mas estando agora de frente para ela, Simon só conseguia ter uma única certeza. A palavra bonita não é poderosa o suficiente para descrever uma beleza tão fora do comum como a dela.
─── A senhorita é a Lilibeth Chan, estou certo?
─── Meus olhos disseram por mim, não é? ─── Ela indagou tentando limpar com as mãos algumas folhas presas no seu vestido.
─── Creio que sua beleza oriental lhe procede, madame...─── Ele disse sorrindo e ela parou de espalmar o vestido, ficando completamente vermelha de novo. ─── Posso lhe perguntar porque estava na árvore?
─── Ah sim, claro! ─── Ela riu com uma das mãos no rosto. ─── Como a tradição do ano novo...
─── Espere, antes disso a senhorita poderia me explicar o que é isso?
─── Perdão, estou totalmente fora de mim hoje. Me diga seu nome, por favor!
─── Me chamo Simon.
─── Bem, Simon! Acredito que deva ser um dos amigos de meu irmão a quem ele não tem a mínima vontade de explicar nada. ─── Ela riu apontando para um banco debaixo da cerejeira. ─── O Ano-Novo chinês segue um calendário lunar e há muitas diferenças em seguir o calendário baseado no sol, que é bem mais rápido do que a lua. Não sei explicar ao senhor os termos científicos, me perdoe!
─── Não se preocupe, já sei mais do que o seu irmão me falou. ─── Ele riu ao lado dela.
─── Creio que não deva fazer muita diferença aqui na Inglaterra. Ninguém acredita que pelas festividades que estamos fazendo na nossa noite de ano novo iremos abençoar as colheitas e afastar o grande monstro Nian. Mas é importante para a minha mãe.
─── E por que a senhorita estava na árvore?
─── Há uma tradição que se chama o Festival das Lanternas, nós soltamos no céu pequenas lanternas que nós mesmos fazemos e nela escrevemos um desenho ou uma afirmação e quando ela chega ao céu, se realiza. Mas, só deve acontecer no décimo quinto dia após o ano novo e minha mãe gosta de seguir a tradição e eu....
─── Tentou lançar uma lanterna e acabou presa na árvore...─── Ele riu a olhando ficar vermelha mais uma vez.
─── Exatamente...─── Ela afirmou sorrindo.─── Fiquei presa na árvore e não consegui lançar a lanterna.
─── O que você pediu na lanterna?! ─── Ele indagou curioso.
─── O senhor vai me achar uma boba...
─── Eu jamais pensaria isso da senhorita.
─── Eu pedi para viver um grande amor.
E ela viveu.
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