
05. another broken heart
Simon que conhecia a casa mais do que conhecia a casa onde nasceu, fez seu caminho pelos corredores menos movimentados para não ter a chance de esbarrar em ninguém com seu mal humor exagerado e acabar por ser mais grosseiro do que tinha sido a noite inteira. Ele se escondeu na sala de estudos e se sentou bem ao lado do carrinho de bebidas, se apropriando de uma bela garrafa de conhaque.
O homem não tinha certeza se estava bebendo pelos aborrecimentos de todas as mães atrás dele tentando lhe arrumar um casamento ou se estava com raiva pela volta de Lilibeth e por ela parecer perfeita e linda como sempre, enquanto ele demorou semanas para simplesmente sair de casa. Virando o segundo copo, ele se serviu de mais um.
─── A essa altura de sua vida, vossa graça, eu já havia imaginado que o senhor saberia que não é de bom tom se embebedar em eventos como esse. ─── Uma voz aguda e impiedosa soou na porta da sala e Simon sabia exatamente de quem se tratava.
─── Isso não foi muito gentil de sua parte ─── ralhou ele enchendo apenas um terço do copo.
─── Não sou muito conhecida pela minha gentileza, nós dois sabemos disso. ─── Ela disse de forma dura mas estava sorrindo.
A mulher fechou a porta atrás de si e se encaminhou para mais fundo da sala, onde Simon estava sentado bebendo.
─── Vossa graça não parece estar muito contente. ─── A mulher disse se apoiando em sua bengala.
─── Céus! A senhora se tornou uma adivinha? ─── Simon ironizou tomando todo o conteúdo do copo.
─── Me tornei sim, Vossa graça! E posso ir muito mais além de seu semblante aparente. Ouso dizer que sua saída enfurecida foi devido a uma bela senhorita oriental por quem você pode tentar enganar fingindo que não a ama mas a minha o senhor nunca irá. ─── Ela sorriu vitoriosa.
─── A senhora nunca aprendeu a cuidar da própria vida, não é? ─── Simon indagou com frieza.
─── Nunca. E qual seria a graça? ─── Ele percebeu que ela queria evitar sorrir, mas não foi capaz.─── E quanto a você, meu rapaz ─── continuou ───, é um péssimo convidado. Era de esperar que fosse educado o suficiente para, a essa altura, já ter cumprimentado a anfitriã.
─── A senhora estava sempre cercada por seus admiradores para que eu sequer ousasse me aproximar. ─── Simon não fez esforço para disfarçar sua mentira descarada.
─── Que lisonjeiro. ─── disse ela afiada como sempre. ─── Você não pode se esconder para sempre, Simon.
─── Mas posso tentar. Pelo menos até que crie coragem o suficiente. ─── Ele balançou a garrafa de conhaque.
─── Você planeja se embebedar e depois confrontar a senhorita Chan?
─── Exatamente.
─── Melhor cancelar esse plano, os irmãos da moça estão grudados a ela a noite inteira. Duvido que tenha a chance de chegar perto dela. E seria melhor assim. ─── Ela aconselhou o olhando de forma rígida.
─── Não se preocupe, não tenho intenção de me aproximar dela tão cedo.
─── Você pode até pensar que decidiu isso, vossa graça ou que tenha mais ódio do que amor por ela. Mas eu te criei, meu rapaz e seu que seu coração bate por ela e você não tem coragem de me dizer ao contrário.
─── A senhora é tão cheia de si, não é mesmo?
─── E o senhor se acha tão esperto, não é?
─── Eu tento ser.
( ... )
No palanque acima do salão, Lady Featherington aproveitava a visão privilegiada para fofocar e comentar os rumores com outras duas senhoras.
─── Não é aquela jovem que foi vista com um homem no ano passado? No conservatório de Lady Mottram desacompanhada? ─── A loira apontou suavemente disfarçando com sua taça de champanhe para a jovem infeliz e o homem perto da mesa de limonada.
─── Ela tem sorte de um rapaz ter concordado em se casar depois de ela ir lá e se expor assim. Ela é uma rameira. ─── A ruiva destilou um pouco de seu veneno.
As três riram baixo, mas pararam assim que viram a família Chan entrando no salão, eles são um dos alvos de fofoca da tal Lady Whistledown, os Featheringtons e Bridgertons também eram, só não de maneira tão escandalosa quanto eles. Mas mesmo que seu nome esteja quase na lama, eles ainda tinham mais classe, elegância, beleza e delicadeza do que as filhas de Lady Featherington jamais poderão ter e era isso que a deixava irada e desejava que a família caísse o mais rápido possível. Por isso, não demorou para que ela trouxesse os rumores para seu grupo de amigas.
─── Na posição deles, eu nunca mais sairia de casa. Mudaria até de país. Onde já se viu uma dama em sã consciência deixar um Duque escapar e ainda por cima nem ter a decência de dizer isso na cara dele. ─── Ela disse olhando para Lilibeth com nojo mesmo que todos no salão a olhassem admirados.
─── Nem sempre podemos acreditar no que lemos. Se dermos créditos aos rumores dos Chan, devemos dar aos seus também.─── A morena respondeu com graça mas era nítida a alfinetada.
─── Ah vejam só, Penélope está sozinha! Com licença ─── A ruiva forçou um sorriso e com uma falsa delicadeza ainda maior se retirou.
No andar debaixo, a família Chan tentava cumprimentar o máximo de pessoas de uma vez assim não teriam que participar de muitos interrogatórios. Mas a principal missão é a anfitriã de língua afiada que sozinha poderia espalhar o que eles dissessem a ela mais rápido do que todo o baile junto. Mas, aparentemente ela havia saído para procurar alguém. Então a função diplomática de explicar a situação havia ficado para Emi e Edward, enquanto os três irmãos permaneciam praticamente grudados como trigêmeos. Embora, Eliott e Ren pareçam na verdade dois cães de guarda, não deixando que ninguém se aproximasse de Lilibeth.
─── Aqui, Lili! Para molhar a garganta ─── Eliott ofereceu à irmã um copo de limonada.
─── Minhas bochechas estão dormentes e meu pescoço doendo. Não aguento mais sorrir e acenar. ─── Lilibeth riu aceitando o copo.
─── Pelo menos estamos conseguindo evitar os cardumes de curiosos. ─── Ren riu logo fechando a cara quando um jovem Barão tentou se aproximar, logo o afastando.
─── Não é com os curiosos que me preocupo. ─── Lilibeth disse vagamente.
─── Nenhum sinal dele desde que chegamos! ─── Elliott tentou confortá-la.
─── Talvez nós deveríamos dar uma volta...─── Ren girou os pés parando em frente a irmã bloqueando sua visão.
─── O que há de errado, Ren?! ─── Ela finalizou sua limonada entregando o copo vazio a Elliott.
─── Simon está aqui. ─── Ele disse com cautela, mas o coração dela já batia mais forte só de saber que ele está na mesma sala que ela.
A última vez que Lilibeth havia visto Simon não tinha sido nem no dia que era para ter sido o lindo casamento. Ele o havia visto dois dias antes, quase quinze dias após a primeira e única noite de amor dos dois. Ela se lembrava perfeitamente de como ele estava: vestindo um bater roxo escuro, seus olhos brilhantes, seu sorriso contagiante, sua beleza inigualável e irradiando felicidade porque eles logo mais se tornariam marido e mulher.
Mas nesse momento, nesse salão, ela quase caiu para trás quando tudo o que viu nos olhos dele era raiva e mágoa. Ele não sorriu quando a viu como fazia antigamente. Ele não correu para estar perto dela ou muito menos gritou o seu nome para que todos soubessem que ela era dele. Ele apenas a olhou com frieza, como se de fato não a conhecesse.
( … )
─── Aí está você, Hastings! ─── Anthony gritou ao encontrar Simon no corredor. ─── Tenho lhe procurado à noite toda, por onde esteve? ─── Ele indagou conforme os dois caminhavam em direção ao salão.
─── Eu estive bebendo e você? ─── Simon indagou de mau humor.
─── Suportando minha mãe e as outras. Nada fora do normal. Mas também estive te procurando, não o via desde que Lilibeth chegou...
─── Será que todos que irão falar comigo hoje será apenas para falar dela? ─── Ele disse com raiva.
─── Ei ei ei, eu só vim ver como você está com tudo isso. ─── O Visconde se defendeu.
Anthony parou na frente de dois outros rapazes da família Bridgerton, com seus característicos cabelos castanhos, altura acima da média e excelente estrutura óssea.
─── Você se lembra dos meus irmãos? ─── perguntou Anthony. ─── Benedict e Colin. Tenho certeza que se recorda de Benedict, de Eton. Foi o que nos seguiu feito um cachorrinho por três meses assim que chegou.
─── Não é verdade! ─── disse Benedict com uma risada.
─── E não sei se já foi apresentado a Colin ─── continuou Anthony. ─── Acho que ele era jovem demais para ter cruzado seu caminho.
─── Muito prazer ─── cumprimentou o rapaz alegremente. Simon notou o brilho malicioso nos olhos verdes dele e não pôde evitar sorrir de volta.
─── Anthony disse coisas tão insultuosas a seu respeito ─── continuou Colin, com um sorriso travesso ─── que tenho certeza que seremos ótimos amigos.
O mais velho revirou os olhos.
─── É claro que você pode compreender por que minha mãe está convencida de que Colin será o primeiro dos Filhos que a levará à loucura.
─── Eu me orgulho disso, na verdade ─── comentou o rapaz.
─── Mamãe felizmente teve um breve descanso dos suaves encantos de seu filho mais novo ─── prosseguiu Anthony. ─── Ele acabou de voltar de uma longa viagem pela Europa.
─── Hoje mesmo ─── afirmou Colin com um sorriso infantil.
─── Mamãe? ─── chamou Anthony numa voz alegre enquanto a viscondessa e Lady Bridgerton passavam por perto as fazendo se aproximar. ─── Não a vi a noite toda!
Simon notou que os olhos azuis de Lady Bridgerton brilharam quando ela viu o filho a chamando. Ambiciosa ou não, era óbvio que aquela mãe amava seus rebentos.
─── Não seja dramático, meu querido! ─── Ela riu parando na frente deles juntamente com Daphne. ─── E quem é esse? ─── quis saber Lady Bridgerton, com os olhos se iluminando diante do amigo de seu filho.
─── O novo duque de Hastings ─── respondeu Anthony.─── A senhora deve se lembrar dele do meu tempo em Eton e em Oxford.
─── É claro que sim ─── disse ela com educação.
─── Não creio que tenha tido a oportunidade de conhecê-la antes de deixar o país, Lady Bridgerton ─── disse Simon com delicadeza ───, mas sinto grande prazer ao fazê-lo agora.
─── Igualmente.─── fez um sinal para Daphne.─── Minha filha Daphne.
Simon segurou a mão enluvada da jovem e deu um beijo educado e cheio de escrúpulos em seus dedos.
─── É uma honra conhecê-la oficialmente, Srta. Bridgerton.
─── Oficialmente? ─── questionou Lady Bridgerton.
─── Oh sim, permita-me explicar. Mais cedo enquanto eu tentava fugir de algumas senhoras insistentes e acredito que sua filha fugia de um homem também insistente, acabamos por nos esbarrar e eu não tive a chance de me desculpar.
Lady Bridgerton havia começado a tagarelar sobre o baile, sobre algumas senhoras exigentes e sem muita noção do ridículo, mas Simon não conseguiu prestar atenção, seus olhos haviam focado no que tinha de mais belo no salão, Lilibeth Chan, seu pequeno lírio chinês. Embora ela esteja linda sorrindo e faça o coração dele errar todas as batidas, ele ainda a odeia. E não conseguiu esconder tanta mágoa e raiva de seu olhar.
Com raiva e um pouco bêbado, Simon nem sequer pensou. Apenas deixou as palavras saírem de sua boca.
─── Srta. Bridgerton ─── chamou ele, virando-se para Daphne ───, gostaria de dançar?
É claro que o grosseirão arrogante nem sequer lhe dera a oportunidade de aceitar. Antes que Daphne pudesse dizer “Eu adoraria” ou apenas um simples “Sim” , ele já a havia levado para o meio do salão. A orquestra ainda estava ajustando os instrumentos para a próxima música, de modo que os dois foram obrigados a esperar um instante antes de efetivamente começarem a dançar.
─── Graças a Deus você não recusou
─── disse o duque em tom de gratidão.
─── E quando eu tive essa oportunidade? ─── Ele sorriu. Daphne respondeu com uma careta.
─── Isso quer dizer que eu devo convidá-la de novo?
─── Não, é claro que não ─── falou Daphne, revirando os olhos. ─── Isso seria infantil da minha parte, não acha? E, além disso, renderia uma cena terrível, que não creio que seja do desejo de nenhum de nós.
─── A senhorita está certa.
─── Mas, exijo saber o porquê da decisão repentina de me convidar para dançar.
─── Bem, eu tive uma conversa extensa com Lady Danbury e ela exigiu que eu dançasse pelo menos uma vez. Então, aqui estou.
Nesse momento, a orquestra encerrou o aquecimento dissonante e tocou as primeiras notas de uma valsa. Mas Simon não prestava muita atenção em seus pés, ou muito menos em sua parceira de dança. A cada volta que eles davam, ele se virava um pouco para a direita ou esquerda unicamente para ver o olhar triste de Lilibeth.
A senhorita Chan não podia estar mais do que triste e magoada. Tudo que ela fez até o dia de hoje tinha sido movido por amor e agora ela sentia seu coração se despedaçar mais uma vez. Simon não a amava e mostrava isso dançando com outra, isso porque ela sempre dizia que odiava dançar mas dançava porque Lilibeth amava. Com dor no coração e com uma imensa vontade de chorar, só bastou um rápido olhar para os irmãos e os três se encaminharam para uma das carruagens da família.
E ali, sentada entre seus dois irmãos recebendo abraços e ombros para se apoiar, Lilibeth chorou e se deixou ser levada pelo medo e ansiedade que a acompanhavam desde o dia que decidiu deixar Simon ir, mas que ela nunca havia se permitido sentir.
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