
|0.2| ROBERT LANGDON TÊM RESPOSTAS.
"No Inferno os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise." - A Divina Comédia, Dante Alighieri.
⊰⊱
ESTAVA no carro, impaciente e com calor. Dean dirigia sem parar até Cambridge, em Massachusetts, onde eu iria até Harvard falar com Robert. Durante todo o caminho eu fiquei exercitando minha memória, tentando recordar novos fatos. Sem dúvida, eu devo ser obcecada por Dante, pois as únicas coisas que eu conseguia me lembrar eram sobre ele. Todas as informações sobre Dante estavam cristalizadas em minha mente.
- Não tem idéia alguma da relação entre Cerca Trova e Dante?
Sam perguntou uma terceira vez.
- Não, nenhuma! - Respondi impaciente.- Eu estou tentando.
- Não precisa se exigir tanto - Ele falou, parecendo culpado.- Estou pesquisando algumas coisas sobre Dante. Ele foi exilado?
- Ele amava Florença, sua cidade natal. Quando houve uma virada de poder, escolheu o lado errado... o lado perdedor e foi expulso. Ele morreu longe da cidade e da mulher que amava.
Respondi. Novamente chocada com todo o conhecimento. Houve um momento de silêncio, onde novamente tentei comigo mesmo traçar um paralelo entre Dante e Vassari, mas não havia muita coisa.
- Você disse que ele foi ao inferno?
Dean perguntou, interessado.
- De acordo com o poema, sim.
- Como? Ele fez algum pacto?
Pensei um pouco, mas nada veio em minha mente, então supus quê a resposta fosse não.
- Acho que não. Muitos acreditam que ele enlouqueceu no exílio, ou que apenas era criativo demais.
Concluí. Dean pareceu aceitar resposta, pois não retrucou nada. Novamente o carro caiu no profundo silêncio.
As horas passavam e eu me sentia cada vez mais sufocada naquele carro. Continuei pensando em formas de juntar as pistas conquistadas até agora, mas nenhuma solução surgia. Então chegamos ao destino e ja estava escuro, e quando parei para pensar me dando conta de ja se passaram tantas horas desde que acordei sem memória naquele hospital, quase tive uma crise.
Chegamos ao campus e eu não sabia bem como encontrar o professor Robert. Acabei caminhando a esmo de um lado para o outro, mas quando meus olhos se focaran em um prédio específico, soube imediatamente que era alí.
O prédio era de História, caminhando pelos corredores que tornaram-se familiares para mim acabei parando em frente a uma porta com uma placa dourada que dizia "Historia da Arte/Simbologia".
- É aqui.
Sussurrei. Bati a porta e ela foi aberta por um homem alto, máximo quarenta anos e cabelos escuros. Ele usava um terno de tweed bonito e bem alinhado, mas o que realmente chamou minha atenção foi o relógio do Mickey em seu pulso.
- Professor - Falei, minha voz embargada. Um onda de comoção invadiu meu peito quando vi seu rosto e imediatamente me lançei contra seu peito, abraçando-o fortemente. Eu o reconhecia, mesmo que ainda não lembrasse como havia conhecido, eu sentia uma afeição imensa latejando dentro de mim.
- Luna - Falou, um grande alívio em sua voz. Ele me abraçou de volta.- Você está bem.
- Mais ou menos - Ri baixo.- Ainda não sei quem sou.
Ele olhou para os três atrás de mim franziu as sobrancelhas.
- Boa noite - Falou, e estendeu a mão na direção dos três, apertando a mão de um por um.- Sou o Professor Robert Langdon.
- Sam Winchester - Sam apresentou-se.- E esse é Dean, meu irmão e nosso amigo Castiel.
- Estão me ajudando - Falei. Robert assentiu com a cabeça.
- Entrem por favor, teremos mais privacidade.
A sala me trouxe uma certa sensação de aconchego se espalhou dentro de mim e me senti a vontade quando ocupei uma cadeira em frente a larga mesa de carvalho onde Robert sentou-se.
- Professor Langdon - Comecei, ansiosa.- Preciso que me conte tudo sobre mim, como prometeu que faria, e o motivo de eu conhecer tanto sobre Dante.
- Você sempre se interessou muito pela história dos artistas renascentistas. Esse foi o principal motivo para se inscrever nesta aula. Quando falei a primeira vez sobre Dante Alighieri e a Dívida Comédia em uma de minhas aulas há mais ou menos um ano e meio, você se fascinou totalmente, tornou-se uma especialista.
- Mas... eu falei sobre algo em específico que chamou minha atenção para ele? - Perguntei.- Por que... eu não entendo uma razão nisso tudo.
- Não precisa ter uma razão - Ele sorriu.- O amor pela história, pelos mistérios, ele não é racional. Você entendia isso.
Balancei a cabeça, concordando. Sentia minhas têmporas formigarem.
- Você consegue imaginar algum motivo para que alguém tentasse matar Luna?
Dean perguntou, preenchendo o silêncio.
- Não - Negou.- Claro que não. Luna, ela é uma ótima pessoa. Inteligente, sempre prestativa, criativa. Todos aqui a adoram. Eu fique extremamente chocado quando ela atendeu o telefone e me disse que levou um tiro.
- Então... o que diabos está acontecendo? - Perguntei, repetidamente irritada.- Por que me sinto uma estranha na minha própria pele?
Eu fiquei de pé e recuei, caminhando sem direção pelo cômodo. Sentia que poderia chorar a qualquer instante. Sam veio até mim e me abraçou, trazendo um alívio momentâneo.
- Ei, vai ficar tudo bem. Vamos descobrir o que está acontecendo. Não vou deixar que nada aconteça com você.
- Eu... eu só queria entender -Falei, respirando fundo. Me voltei para o professor.- Qual a ligação entre Vasari e Dante Alighieri?
Ele fez uma expressão confusa.
- Até onde sei... acredito que nenhuma. Por que exatamente?
Me afastei de Sam e voltei lentamente até a mesa dele.
- Quando cheguei ao hospital madrugada passada, eu estava murmurando "Cerca Trova", sem parar de acordo com o médico. Essa é a palavra pintada no quadro de Vasari, no Palazzo Vecchio. Significa "Busca e Encontrarás" - Falava sem parar.- O que eu estava buscando, Professor Langdon? O que eu deveria encontrar?
- Eu não sei - Ele falou depois de pensar um pouco.- Não tenho idéia alguma, Luna, eu lamento.
Minha respiração acelerou, de repente me senti hiperventilar. Era como se houvesse mais ar do que meus pulmões conseguem reter. A sala pareceu encolher e recuei, tentando encontrar a porta, mas acabei caindo pois minhas pernas pareciam feitas de gelatina.
Toda a minha visão foi totalmente ofuscada, não conseguia ver nada alem de uma luz muito forte. Depois de um ou dois minutos a luz diminuiu e eu me vi em um lugar totalmente diferente do que me encontrava a pouco.
As ruas eram de pedra rústica, quando olhei em volta fiquei sem ar, mas era devido a beleza do lugar a qual me via. As casas, construções elegantes de pedra com telhados vermelhos, todas do mesmo tamanho. Entre as ruas e vielas haviam pessoas de todo os tipos, como mulheres carregando flores, e homens trabalhando em quadros ou vendendo coisas. Mas não era nada perto das grandes construções que se via um pouco além. Enormes torres, talvez catedrais, eu não sei. Arcos de pedra e Duomos. Então eu reconheci, é a Cidade Velha, é a Florença de Dante Alighieri, a que ele tanto amava.
Caminhei por entre as pessoas, mas era como se não me vissem. Meus pés quase não tocavam o chão, eu sentia como se estivesse flutuando pelas ruas.
Definitivamente tenho uma ligação muito forte com essa cidade, alguma coisa me arrasta para ela, alguma coisa além da compreensão.
- Beatriz?
Uma voz soou extremamente baixa, próximo ao meu ouvido. Virei a cabeça para ver quem falava, mas não havia ninguém.
- Quem é Beatriz?
Pergunto, ainda procurando quem me chamou.
- Beatriz!
Dessa vez foi mais longe. Continuei procurando, era uma voz dolorida e cansada. De alguem que ja viveu muito e agora só quer... descansar.
- Eu não me chamo Beatriz.
Falei, caminhando pelas ruas que começará a se encher. De onde vinha tantas pessoas? A voz ficou mais longe, ainda chamando por Beatriz, e de certa forma eu sentia que era comigo e que precisava encontrar quem chamava.
- Não vá! Por favor... quem é Beatriz??
Eu estava correndo, muito, muito rápido. O vento batia forte contra meu rosto e a rua estava cada vez mais cheia, quase não havia por onde passar.
- Espera!
Gritei mais alto, pois era claro que a pessoa ja estava longe. As vielas ficavam cada vez menores e mais estreitas, meus membros doiam, meu coração estava disparado. De repente, com um solavanco, tudo sumiu como fumaça.
- Espera!!
Gritei novamente para o vazio.
Eu estava outra vez na sala do Professor Langdon. O peito subindo e descendo rapidamente, havia suor escorrendo por todo o meu rosto. Sam, Dean, Castiel e Robert me encaram preocupados.
- O que aconteceu? - Eu perguntei. Eles me fitaram.
- Acho que nós devíamos fazer essa pergunta - Castiel disse.- Você... esta bem?
- Você desmaiou de repente - Sam falou, segurando minha mão.- Achamos que pudesse ser algo relacionado ao ferimento na cabeça.
- Quem precisa esperar o que? - Dean soltou.
- Ela precisa de espaço - Robert falou, sensato. Ele me ajudou a ficar de pé e me sentar na cadeira.
Respirei lentamente e encarei um por um.
- Não sei o que deu em mim - Falei. Decidi guardar para mim o acontecido.-Não me lembro.
- Tudo bem, querida - Robert falou, tocando meu ombro.- Escute...
Ouvimos passos no corredor e todos nos voltamos para a porta. Seguido os passos também vieram sons de latidos.
- Cães?
Eu perguntei. A expressão no rosto dos rapazes me causou um frio na espinha.
- Tira ela daqui, rápido!! - Dean mandou enquanto tirava uma arma do cós da calça. Sam agarrou minha mão e chamou Robert para vir conosco, corremos em disparada para a porta dos fundos da sala e Sam me rebocou por vários corredores.
Corríamos sem parar, sem tempo para perguntas. Em alguns momentos eu sentia como se tivesse alguém nos alcançado. Chegamos até uma área de saída de incêndio, estava vazio, assim como todo o resto.
- Sam, que merda está acontecendo? Tem cães atrás de mim?
- Cães Infernais - Respondeu.- Devem estar farejando você.
- O que você disse? - Robert ofegou.
- Tem demônios me perseguindo - Respondi.- Eles querem alguma coisa de mim e eu não sei o que é porque algum imbecil teve a idéia de me dar um tiro!
- Olha, Robert, vá para casa e coloque sal nas portas e janelas. Eles não sabem quem você é e não vão te achar, mas você tem que ir rápido- Sam instruiu enquanto checava a porta. Robert se voltou para mim.
- Conte comigo, tudo bem, Luna? - Ele falou segurando minhas mãos.- Se as coisas piorarem e não souber quem procurar, quando tudo parecer perdido... eu estou aqui.
Ele beijou minha testa e terminou de se despedir, em seguida foi embora.
- Essa relação de Professor e aluna é bem esquisita...
Sam comentou, eu o fitei.
- Que? - Perguntei.- Não... pelo menos eu acho que não.
- Você não se lembra de nada, as vezes ele não quis dizer na nossa frente.
- Você acha?
Tomei um susto quando algo esmurrou a porta, latidos altos e rosnados apavorantes se fizeram ouvir. Recuei com Sam e a porta tremeu novamente. Inconscientemente me agarrei a Sam, abraçando-o forte, sentindo meu corpo tremer.
- Vai ficar tudo bem - Falou.- Vai ficar tudo bem...
Ele puxou uma faca, haviam algumas inscrições estranhas nela e a empunhou contra a porta que foi arrombada logo em seguida. Não havia nada.
- O que...
Comecei a falar, mas um rosnado cortou o ar e senti um forte impacto contra meu peito. Fui arremessada para trás, alguma coisa muito grande e invisível estava encima de mim. Um bafo quente de cachorro soprou em meu rosto. Eu paralisei, não conseguia me mover, o ar estava travado em minha garganta.
- Luna, fica calma - Sam pediu.- Não faça nenhum movimento brusco.
- Me ajuda...
Foi a única coisa que consegui dizer. Fechei os olhos e apenas rezei, as lágrimas lavando meu rosto.
O som de tiros me fez abrir os olhos de súbito. Sam havia atirado na coisa que tombou para o lado e se afastou.
Rapidamente me arrastei para longe e Sam foi na direção que a fera estava, guiado pelas manchas de sangue no chão e o golpeou uma sequência de vezes com a faca.
Nesse momento Dean e Castiel surgiram na porta.
- Um escapou...
Eles viram a cena e meu estado.
- ... E você acabou com ele - O loiro concluiu.
- Vamos embora antes que apareçam mais.
Sam falou. Ele não fazia ideia de como isso soou ótimo para mim.
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