EIGHTY, istorii sankt'ya
OITO, istorii sankt'ya
ANTES DOS QUINZE ANOS, Nikolai havia jurado para si mesmo que faria as coisas certas dessa vez. Ele iria conseguir influência e ajudaria Dominik e a família. No entanto, sendo o segundo filho do rei, isso era um pouco mais difícil, então ele decidiu apelar para o charme. Nikolai começou com seus pais, agradou sua mãe e seus amigos com presentes e fofocas. Seu pai havia visto um menino diferente desta vez enquanto conversava com Nikolai sobre caças, além de ganhar elogios e conversas espirituosas. Nikolai escreveu aos comandantes, apareceu no gabinete real, elogiou-os pela arte de governo de seu país. E Nikolai nunca esqueceu o nome de ninguém. Meses se passaram e ele se tornou visível e importante. Então teve uma influência considerável.
Nikolai queria resgatar seu país da miséria. Queria salvá-lo das garras de sua própria família.
Ksenya e Nikolai foram chamados para servir no mesmo ano. O príncipe não concordou em servir como oficial nas forças armadas como Vasily fez, ele escolheu servir como um soldado ravkano comum e se juntou à infantaria em Poliznaya, onde Dominik também serviu. Ksenya foi enviada com outros Grishas para Sirkurzoi.
Nikolai sempre foi ambicioso e decidiu conversar com sua amiga sobre seu futuro um dia antes de partir. Mesmo que não fosse garantido voltar vivo, ele tinha grandes esperanças.
─ Estou construindo um navio, e quando eu voltar de Poliznaya esperarei você voltar de Sirkurzoi, quero que você vá comigo. Porque no momento em que eu voltar e reivindicar este país, é você que quero ter como minha rainha.
E nada era mais claro do que isso.
Segurando as duas mãos de Ksenya, ele finalmente perguntou ─ Você vai comigo?
Ksenya não sabia se voltaria de Sirkurzoi. Nikolai tinha um milhão de ambições, ele se tornaria rei e ela não tinha dúvidas. E havia praticamente se declarado para ela. Ksenya tinha seus amigos, tinha Natalya e tinha sua missão. Depois de tudo isso ela iria querer desaparecer com Nikolai em um navio e voltar para se tornar rainha?
Eles se despediram e não existiu um dia onde Ksenya não pensasse em Nikolai e se perguntava se estava arrependida por tê-lo rejeitado.
Mas quando Nikolai foi atingido pela sua primeira bala, Dominik estava lá, que jamais deixou de falar sobre Ksenya e seus conselhos eram como: ─ Quando ela ver esta sua cicatriz, vai pensar em como poderia ter te perdido e irá querer ser sua rainha. Então, relaxe.
E Nikolai também estava lá quando Dominik caiu, a única diferença é que ele jamais pôde levantar novamente. Naquele campo podre e sangrento de batalha, Dominik o fez prometer que não deixaria sua mãe ou seus irmãos, que os faria saber que não morreu em vão. E, antes que sua vida fosse ceifada, ele tirou um relógio de bolso e o entregou às mãos manchadas de sangue de Nikolai.
─ Não desista dela, irmão. E não desista de seu país.
─ Eu não vou desistir, ─ de nenhum dos dois ─ farei melhor, eu prometo.
Soldados não choravam. E Nikolai chorou como nunca. Desde então eram os campos de batalha e a sua promessa que o assombravam em seus pesadelos.
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Depois de cinco anos, rever Ksenya era a calmaria que ele precisava depois de toda sua tempestade. Ela era a parte boa de seus dias. Mas depois de tudo o que lhe aconteceu ela sempre dava um jeito de fugir e Nikolai não conseguia acompanha-la nesse ritmo mesmo que desejasse imensamente isto.
Mas agora quem estava fugindo parecia ser ele.
Nikolai não olhou para Ksenya durante mais de um minuto. A sala de anatomia dos Corporalki parecia vazia com todo o silêncio dos dois. O príncipe reviu e sentiu toda a imagem da podridão, da fumaça e do cheiro da morte dos campos onde batalhou cara a cara com a guerra.
Mas apesar de tudo ele devia isso à Ksenya. Dominik foi seu amigo e devia isso à ele também. Ela merecia saber.
Nikolai respirou fundo, colocou uma mão no bolso e tirou de lá o relógio. ─ Eu sempre carrego comigo ─ disse ele, deixando a relíquia na maca.
Ksenya podia não ser uma curandeira, mas ela desejou aliviar tudo o que fez Nikolai sentir por causa de suas perguntas. Ela olhou para o relógio, depois desviou o olhar para o príncipe.
─ Eu gritei por um medik, chorei para que viessem ajuda-lo, mas nada poderia mais fazer isto. Eu era só um soldado, não um príncipe. E haviam tantas pessoas machucadas e mortas, não sei porque imaginei que Dominik e eu sairíamos os dois vivos.
─ Nikolai, eu sinto tanto...
─ Ele falou sobre você ─ Nikolai queria completar sua frase: disse que eu nunca devia desistir. ─ Você era sua melhor amiga também. Ele pensou em nós quando estava morrendo.
Ksenya não queria ser tão covarde ao ponto de não consolar Nikolai quando isso era o que ele mais fazia por ela. Então obrigou-se a caminhar e pegou o relógio. Em seguida segurou-o na mão de Nikolai e entrelaçou suas mãos, levando-as ao peito dele quando se abraçaram.
─ Eu não quero ficar longe de você, Nikolai.
Nikolai não sabia exatamente o que significava essa frase. Mas não desejou fazer perguntas para que ela se afastasse, ele queria abraça-la pelo restante da noite. Faria qualquer coisa para continuar sentindo Ksenya em seus braços.
E sabia que mesmo se ela não estivesse usando seus poderes para alivia-lo, ele ficaria calmo de qualquer maneira.
─ Natalya morreu tentando me salvar...
─ Você não precisa me falar isso agora, ─ ele a interrompeu, a abraçando mais forte para que ela não fosse embora.
─ Eu quero ─ disse Ksenya, encostando a cabeça no peito de Nikolai, sua voz abafada pelo abraço, percebendo o desejo que ele tinha para que ela não se negasse. ─ Quando descobri que o Darkling havia mentido sobre seu plano, tentei fugir, um volcra veio na minha direção e eu estaria morta se não tivesse pulado do esquife, por isso a cicatriz, afinal ele ainda conseguiu me ferir...
O príncipe fechou os olhos, imaginando toda a cena que fazia seu coração arder.
─ Natalya e eu já estávamos quase fora quando... uma garra a atravessou. Ela me mandou para longe, tentei salva-la, mas... não consegui. Ela morreu tentando me salvar e eu fiz o que ela mandou, corri como uma covarde. Eu sabia que algo estava errado e doía muito, mas só percebi que estava sangrando depois que cai e desmaiei na areia fora da dobra e a adrenalina passou. Então eu roubei para me manter viva. Mas nunca cicatrizou, e eu acho que não vai.
Mesmo que o assunto de sua conversa fosse literalmente sobre as piores perdas que já ocorreu em suas vidas, abraçar Nikolai era como a sua recompensa no final de uma batalha. Ela não queria deixá-lo, não queria ficar longe dele. Mas enquanto tivessem cada um a sua ambição, precisariam ser apenas amigos.
A ideia de Nikolai casar-se com Alina jamais seria aceita por Ksenya, mas se isso fosse ajudar o seu país a se reerguer e manter uma revolta entre o povo otkazat'sya e os grishas fora de questão, ela fingiria que daria seu apoio.
Mas tudo o que Ksenya mais queria era levar esse abraço adiante. Queria beijar Nikolai e lhe mostrar fisicamente tudo o que sentia. Deixá-lo sentir toda a paixão reclusa até que ambos não aguentassem mais e transbordassem. E depois fariam tudo de novo.
Claro que eles poderiam trancar aquela sala naquele momento. Mas seus sentimentos e seus desejos não valiam uma revolta ou o fim de suas ambições. Os Ravkanos amavam a sua Conjuradora do Sol, não aceitariam Ksenya. Ela própria não sabia se conseguiria desempenhar este papel caso lhe fosse dado.
─ Eu sinto tanto por isso, Ky ─ Nikolai disse, tão baixo que só foi possível escuta-lo pela mínima distância. ─ Sinto muito por saber que passou por tudo isso sozinha.
Ksenya não queria ficar longe de Nikolai, não queria perde-lo também, era uma ideia que ela não suportava. Mas nem todos os seus desejos eram atendidos e ela aprendeu isso cedo.
─ Precisamos sair agora ─ disse, tentando se desvencilhar dos braços de Nikolai mesmo que isso fosse a coisa que menos queria. ─ Temos uma reunião.
─ Espera ─ disse ele, ainda não a deixando se livrar do abraço ─ só mais um pouco.
Dessa vez ela atendeu seu pedido, aceitando o seu aperto agradável. Ksenya ansiava por se perder nos braços de Nikolai quando sentiu os lábios dele beijar a sua testa.
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Se Alina tivesse permitido, ao chegar na manhã cedo após o ataque dos Drüskelle, Tolya teria enforcado Maly sem piedade. Até mesmo Ksenya sentiu uma pitada de dó do rastreador ao ser esmagado contra a parede pelo Shu. Mas ele cheirava a sangue e a bebida barata e era perceptível onde havia passado a sua noite depois de fugir do dever da vigia.
Então, mais tarde quando estavam todos na reunião, Maly havia tomado um longo banho e feito a barba. Ele se sentou quieto ao lado de Ksenya, que trocaram um simples cumprimento acenado com a cabeça. Tolya ainda estava irritado o suficiente por todos. Tamar e Zoya estavam sentadas lado a lado. Sergei estava de pé, inclinado sobre a cadeira onde Ksenya sentava.
Kaz Brekker não se sentou, ficou de costas para a parede onde conseguia a visão privilegiava de todos presentes na sala. Inej Ghafa já estava no local quando Ksenya chegou, e sentava ao lado de Alina enquanto a olhava e a ouvia atentamente falar sobre seus planos. Jesper Fahey, o atirador, tinha as pernas sobre a mesa enquanto rolava uma pistola bloqueada nos dedos. Nina Zenik havia agradecido quando Galena chegou com um prato de biscoitos feitos para ela por Paja, que agora comia enquanto ouvia e dava palpites.
Alina não sabia de certeza, assim como todos naquela sala de guerra, se o nome pelo qual os peregrinos a chamaram tinha algo a ver com o Pássaro de Fogo que queriam capturar para usa-lo de amplificador. Dva Stolba, o que significava Dois Moinhos. Enquanto virava as paginas do atlas, a Conjuradora explicava a sua ideia, em cada lado da estrada do sudoeste, para onde ela apontava, existia um eixo fino de pedras.
Ksenya entendeu de cara o que Alina queria dizer e pediu para que Nina se esticasse e pegasse o Istorii Sankt'ya na estante. O abriu no conto de Sankt Ilya. A Sangradora colocou o livro acima da página do atlas e ela e Alina se entreolharam.
─ Não sei se meu intelecto não é nada comparado ao de vocês, mas eu realmente não vejo nada demais ─ disse Jesper, guardando o revólver e se inclinando junto com os outros.
─ Olhe só isso ─ Alina virou o Istorii Sankt'ya, mantendo a imagem de Sankt Ilya em cima do atlas, de modo que mostrava e comparava as duas paisagens, ambas com montanhas e um aparente arco no fundo da paisagem; além de no livro existir o desenho dos três amplificadores, dois dos quais Alina já possuía. Em seguida ela apontou para o mapa. ─ São ruínas antigas. O vale é chamado de Dois Moinhos, mas quem sabe por quanto tempo estiveram ali? Podem ter sido parte de um portão, de um canal... ou de um arco.
─ Posso não acreditar totalmente que estamos certos ─ disse Nikolai, olhando com atenção as imagens ─ mas enviarei batedores.
─ Não, eu irei, precisa ser eu ─ Alina recusou. ─ A pessoa a matar o pássaro de fogo tem de ser eu.
Ksenya revirou os olhos quando uma pequena confusão deu início.
Porém, ficou decidido que Maly iria liderar uma viagem até o local. Mesmo que quisesse ir sozinho era arriscado demais e provavelmente, caso encontrasse o pássaro de fogo, não podia trazê-lo sozinho sem mata-lo.
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Era estranho ter pessoas novas rondando pelo Pequeno Palácio, mais estranho ainda era Ksenya não desconfiar de cada novos passos que começava a reconhecer agora. E muito mais estranho era não se importar de nunca ouvir uma deles se aproximar.
Inej era silenciosa como um fantasma. Era impossível ouvi-la se ela não quisesse. Isso fazia Ksenya gostar um pouco mais dela.
Jesper era uma boa companhia, principalmente para o humor. E Kaz era, bem... Kaz. Ksenya nunca havia falado com ele por mais de um minuto.
E descobrir que Inej fez uma promessa a Alina, de que estaria presente caso ela precisasse, era reconfortante. Eles tinham mais pessoas do seu lado, e precisavam disso.
Mas Ksenya nunca parou de pensar em qual era o preço de favores de pessoas estranhas. Ela estaria preparada quando chegasse a hora de pagar.
SKYLANTSOV | 2022
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