
𝟬𝟭𝟴 ، LIKE FATHER LIKE DAUGHTER.
ㅤㅤ
▎ TAL PAI, TAL FILHA . . .
❪ black out days ━ act two ❫
⌗ ، os pestinhas fizeram de novo. ༉‧₊˚
▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤ
ㅤㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤ
O PEQUENO GRUPO HAVIA ENTRADO NA CASA DE DUSTIN APÓS UMA ORDEM ── cheia de preocupação ── vinda de Steve, fazendo Andrea imaginar que ele provavelmente fosse continuar daquele jeito até que Dart fosse capturado ou morto.
A Hopper agora se encontrava no banheiro da residência, enrolando a bolsa de academia ── que o Harrington lhe emprestou ── para guardá-la em sua mochila, seu rosto se torcendo em uma careta pelo odor de suor que conseguia captar; não era a melhor opção, mas estava ficando sem tempo. Enquanto isso, os três rapazes estavam na sala, discutindo sobre o que iriam comer e esperando a morena retornar e explicar melhor a idéia que dizia ter.
─── Então... só um taco e uma pistola não vão ser suficientes se a gente for mesmo atrás dele. ─── ela falou enquanto adentrava o cômodo; eles se calaram, a fitando em busca de uma explicação melhor. ─── Obviamente não funcionou da última vez e com certeza não vai funcionar agora, não importa o quão menor esteja. E também tem o fato de que tá crescendo cada vez mais e ficando com fome, então vamos imaginar que ao invés de matar uma gatinha fofa, ele decida que uma criança não é grande o suficiente pro apetite dele.
─── Tem certeza disso? ─── Steve questionou hesitante, cruzando os braços. ─── Quero dizer, na última vez todo mundo foi pego de surpresa, mas agora já temos conhecimento sobre isso...
─── A Andy tem razão, na verdade. Se aqueles caras do laboratório, que tavam bem armados, não conseguiram matar o demogorgon, imagina vocês dois só com... isso.
─── Pois é... sem contar que eu quase morri junto com eles e não foi uma experiência divertida, então é melhor não arriscar de novo, Harrington, até porque ainda tem crianças envolvidas e quanto menor risco pra eles, melhor. ─── a Hopper apontou, concordando com Dustin.
─── Tudo bem, então... qual o plano, Andy? ─── Jeff questionou, observando sua irmã sentar no sofá e procurar algo na mochila. ─── Você pensou mesmo em algo ou só disse aquilo pra acalmar a gente?
─── É claro que eu tenho um plano, Jeff, mas vamos por partes primeiro, ok? Eu e o Harrington vamos resolver essa questão das armas, vocês dois vão ficar aqui e ter-
─── Ah, qual é, Andy! Eu quem chamei vocês! ─── o Henderson rapidamente a interrompeu, reclamando do rumo que a idéia dela parecia estar seguindo. ─── Também quero ajudar!
─── Você pode esperar eu terminar de falar? Jesus Cristo... ─── ela resmungou, vendo Steve bater a mão no braço do mais novo pelo canto do olho. Ela retirou seu mapa da bolsa. ─── Vocês ficam aqui, terminando de preparar as iscas, e assim que amanhecer, ─── Andy abriu o papel, que mostrava toda a cidade. ─── a gente vai sair e tentar atrair ele pra algum lugar afastado do centro...
─── Que tal o ferro-velho? ─── o Montgomery sugeriu, apontando para aquele lugar específico no mapa. ─── Não acho que vá ter muitas pessoas lá amanhã. É domingo.
─── Nunca tem, o lugar foi abandonado... na verdade, acho que nunca teve movimento lá. ─── Steve apontou, os braços cruzados enquanto se inclinava para observar melhor o mapa. ─── Bom, além dos arruaceiros e traficantes, óbvio. ─── sussurrou, se endireitando.
─── Sabe que ele pode estar bem longe até amanhã de manhã, né? Ou pior ainda, atacar alguém. Você mesma disse.
Ela soltou lentamente o ar, acenando para o Henderson. ─── Dustin, já passou das dez horas da noite. Às únicas lojas que devem estar abertas nesse horário são a pizzaria e talvez a farmácia... e também é sábado. ─── deu de ombros como se aquilo fosse óbvio, pegando uma caneta e analisando o caminho que irão percorrer no dia seguinte.
─── E o que tem isso? ─── o loiro questionou, olhando entre os dois mais novos em busca de uma explicação já que ele não havia entendido nada do que ela estava dizendo.
─── Amanhã é dia de igreja, Harrington, e começa super cedo se eu lembro bem. Caso os fiéis queiram ter uma boa noite de sono antes de passar uma hora sentados, ouvindo o padre falar, não podem se dar o luxo de ir dormir tarde demais... ou beber demais. Ou, melhor ainda, ficar passeando pelas ruas da cidade no meio da noite. E uma coisa que eu sei com certeza é que praticamente ninguém perde a missa de domingo... eles devem achar que esse pequeno sacrifício no fim de semana vai levar todos para o céu. ─── ela resmungou baixo a última parte, o fitando do sofá; tendo uma mãe religiosa, ela sabia bem daquilo. ─── Ainda tem riscos, sim, mas não acho que o... Dart? Não acho que ele vá muito longe. ─── deu de ombros, confiante. ─── Provavelmente vai ficar pela floresta e, se não conseguir caçar nada, é melhor ainda... vai estar faminto e vai seguir as iscas até nossa armadilha. ─── ela respirou fundo com tal pensamento, esperando muito estar certa sobre aquilo.
Inconscientemente, sua mão tocou a cicatriz no braço, sentindo arrepios só de lembrar do que aquela criatura havia feito.
─── Aquele maior ─── ela prosseguiu, limpando a garganta. ───, do ano passado, ele ficou pelos arredores do laboratório, só indo pra longe quando sentia o cheiro do sangue e ele fazia isso através dos portais, então imagino que ele vá fazer o mesmo... sem os portais, óbvio. Deve ser como os assassinos em série, sabe? Eles ficam nas regiões que conhecem bem por segurança, e, se tivermos sorte, ele vai ficar pela floresta até amanhã... agora, se vamos fazer isso, vão precisar seguir tudo que eu disser, entendido?
Dustin fitou Jeffrey, como se ele, por ser irmão dela, soubesse detectar se aquela era ou não uma idéia boa; o Montgomery deu de ombros, sem ter muita certeza. Steve, que se moveu para ficar ao lado da Hopper, limpou a garganta e ergueu as sobrancelhas, esperando por uma resposta dos dois; a mais velha parecia saber o que fazer e isso era suficiente para ele lhe apoiar.
─── Tá bem... se não vão me obedecer por ser mais velha que todos vocês, que tal por eu ter a arma, ser à única a saber usar e ainda tem um plano viável em mente, hm? Isso parece bom o suficiente pra mim. ─── ela questionou após alguns segundos em silêncio, inclinando a cabeça para o lado; seu tom de voz beirava à sarcasmo.
Dustin revirou os olhos mas acenou positivamente, sendo seguido do Montgomery, que parecia mais obedecer a liderança do amigo do que da irmã, o que certamente a surpreendeu. Andy esperava que aquilo não fosse por ele ainda estar bravo pela pequena discussão que ocorreu no dia anterior.
─── Ótimo! Steve, pega as chaves, e vocês, sejam bons açougueiros e não estraguem nada, ok? A gente volta logo.
Ela sorriu, batendo levemente no ombro do Henderson, que bufou em tédio, mas se levantou para obedecer a ordem que ela lhe deu, sem ter outras opções no momento.
─── Espera. Andy, ─── Jeffrey chamou, vendo a irmã guardar o mapa e a caneta em sua bolsa. ─── eu tô com fome.
Ela se levantou rapidamente, tocando os bolsos do macacão em busca de sua carteira para dar alguns dólares para o mais novo comprar algo, mas Steve foi mais rápido, entregando duas notas de 20.
─── Aqui. Compra uma pizza. ─── ele disse, guardando a carteira. ─── Mas nada daquelas besteiras que eles inventam aqui, entendeu? As que são cheias de porcaria. ── reclamou, se virando para a Hopper, como se ela fosse entender do que ele dizia. ─── Sinceramente, parece até que eles não sabem fazer uma pizza decente nessa cidade.
─── Desde quando você é tão exigente com pizza, Harrington? ─── ela questionou com um riso fraco, surpreendida com a reclamação do mais alto.
Ele deu de ombros, com a mão na cintura.
─── Meus avós são italianos, Andy. É difícil não ser exigente com comida quando se é de família. ─── a respondeu simplista, guardando a carteira.
─── Ah, você é italiano, sério? ─── zombou, imitando os gestos de mão que ele fazia o tempo todo, o que arrancou uma careta descontente do mesmo. ─── Nunca percebi. ─── sussurrou, sacudindo a cabeça.
─── Valeu, Steve. ─── o Montgomery respondeu baixo, os ignorando. Ele achava a dupla estúpida.
Steve revirou os olhos para a imitação da Hopper, se virando para Jeff e apenas sorrindo fraco, jogando as chaves do carro pra cima. A morena ergueu as sobrancelhas com a atitude do loiro e virou-se para Jeffrey, apertando levemente seus lábios em um sorriso quando viu um riso escapar do mais novo. Fechando a bolsa após checar uma última vez se tudo que precisaria estava ali, a mesma se virou para Mickey, ordenando que ele ficasse. Andrea com certeza estaria mais tranquila se tivesse alguém de guarda ali com os dois mais novos enquanto resolvia seu outro problema.
A Hopper seguiu Steve até o carro, vestindo seu casaco novamente após entrar, enquanto ele dirigia para fora da garagem dos Henderson.
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤㅤ
ㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤㅤ
ㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
STEVE DIRIGIA EM SILÊNCIO COM SEUS DEDOS BATENDO NO VOLANTE, esperando pelo momento em que Andrea explicasse melhor o que eles estavam indo fazer no centro da cidade em um horário daqueles após a bizarra explicação sobre os religiosos e igreja, explicação que ele ainda tentava entender após minutos, assim como metade das coisas que ela costumava falar ── ou inventar, visto que ela era muito boa nisso.
O som produzido estava deixando ela cada vez mais irritada, mas a morena conseguia ver que ele queria saber mais do plano e ela temia que o loiro desistisse assim que ouvisse as palavras saindo de sua boca; Andy não poderia arriscar aquilo, então permaneceu quieta, abraçando a bolsa enquanto o outro braço estava apoiado contra a porta.
Ele bufou alto, o que a fez abrir os olhos e desviar sua atenção para a janela, que estava abaixada e fazia o vento jogar seus fios para trás. Às vezes ela se arrependia de não usar liga de cabelo.
─── Andre-
─── Não.
─── Você não pode mesmo tá achando que eu vou te levar até lá sem pedir por uma explicação. ─── ele pediu com insistência. Vendo que não teria uma resposta, Steve estacionou o carro na beira da estrada e o desligou, olhando para ela.
A Hopper se assustou com a parada repentina, apertando a bolsa contra o peito inconscientemente. Virando-se para fitar o rosto alheio, ela via a boca do mais novo se mexer ── provavelmente um dos diversos monólogos que ele guardava para situações em que estava perdido e fora do controle ── mas ela simplesmente não conseguia processar nenhuma das palavras ditas, mais preocupada em reafirmar para si mesma que não estava em Ohio, que aquele não era Walter e que não estava sonhando de novo.
Era apenas Steve, o que não parecia nada melhor considerando o histórico de inimizade entre os dois, mas ainda era Steve.
Em Hawkins.
─── Se... será que dá pra- pode voltar a dirigir, por favor? ─── ela pediu, desviando o olhar para a estrada. Sua voz estava baixa para esconder o tremor, que ele ainda captou mas imaginou ser por causa do frio que fazia. ─── Dirige a droga do carro, Harrington! ─── ela ordenou mais firme, batendo o punho no assento e evitando o olhar dele.
Ele a obedeceu, estranhando a súbita mudança de atitude da mais velha; ela parecia mais nervosa, o que era diferente do sarcasmo recorrente entre os dois. Steve sabia que as alfinetadas direcionadas à ele não costumava ter aquele nível de agressividade e por isso o loiro soube que Andy estava mesmo falando sério.
O que quer que fosse, ela simplesmente não queria estar ali.
O resto do caminho foi quieto entre os dois, com Steve evitando fitá-la, sem querendo piorar ainda mais o clima, e Andy apertando uma mão na outra, se arrependendo de não ter levado seu walkman para se distrair do fiasco que aquela noite já estava se tornando.
Era engraçado porque Andrea realmente achava que iria conseguir trabalhar com o Harrington sem se irritar nas primeiras horas, mesmo quando imaginava ter maior parte da culpa por não saber controlar suas próprias emoções. Steve era um babaca, mas ele não era Walter e ela não sabia porquê relacionar os dois havia sido a primeira coisa que sua mente fez.
Ela só estava em um carro com um cara... não era a mesma coisa.
Steve estacionou em frente à uma loja, a tirando de seus devaneios. O loiro olhou para a fachada com tremenda confusão, tentando entender o que diabos a Hopper queria fazer em uma loja fechada.
─── É o suficiente pra me contar agora? ─── ele questionou baixo, desligando o motor e se virando para ela, que estava distraída com algo do outro lado da rua, que ele ainda não tinha notado.
Ele inclinou um pouco a cabeça para tentar ver, suas sobrancelhas se franzindo em desconfiança ao perceber que estavam em frente à delegacia da cidade.
─── Achei que seu pai ainda tava desaparecido...
─── E tá, mas eu não vim por isso. ─── ela sussurrou sem o fitar enquanto tirava o cinto, sua voz estando bem mais calma que antes, o que com certeza preocupou o Harrington.
─── Não, não, não, espera aí. ─── ele pediu, coçando os olhos em cansaço; o Harrington mal poderia esperar pelo momento em que encerrariam o dia e ele pudesse ir dormir. ─── Será que dá pra ser direta de uma vez e me dizer o que tá rolando? Se a gente não veio por causa disso, então o quê? Achei que você queria resolver a questão das-
Ela inclinou a cabeça enquanto ele processava a informação descoberta, vendo Andrea apertar seus lábios em uma linha enquanto dava de ombros, buscando seu chaveiro no bolso e mostrando uma pequena chave erguida, notando a palavra 'arsenal' escrita com uma tinta azul que estava se apagando.
─── A gente vai roubar a delegacia? ─── ele sussurrou com nervosismo, inclinando para se aproximar dela; tinha medo de que algum policial ou alguma outra pessoa por perto o ouvisse, mesmo que seu carro estivesse estacionado do outro lado da delegacia e que o número de pedestres passando por eles fosse pequeno.
─── Uhm, claro que não, Harrington... eu vou. Você fica aqui, preparado pra dirigir. ─── Andrea disse em tom neutro, se endireitando. Ela saiu do carro, jogando a bolsa por cima do ombro mas logo dando meia volta para se inclinar na janela. ─── Mas, sério, fica preparado pra dirigir. Eu meio que não tenho planos reservas e tudo vai depender de quantos policiais têm lá dentro.
─── Todos os possíveis, eu imagino? ─── ele devolveu com sarcasmo, ainda sem acreditar que havia confiado tanto nela para, no fim, acontecer aquilo. ─── Vai fazer o quê, nocautear todos eles?
─── É, Steve, porque meu plano definitivamente envolve me meter em uma briga com um monte de policiais treinados e armados dentro da delegacia em que meu pai é xerife! ─── ela arregalou levemente os olhos, balançando a cabeça em negação enquanto se endireitava e respirava fundo, olhando ao redor da rua para se certificar de que não haviam muitas pessoas ali.
Ela havia mentido para Dustin e Jeffrey à respeito do pessoal fora de casa; era sábado, o que significava que praticamente toda a cidade ── principalmente os adolescentes ── iriam sair e se divertir, seja no cinema ou nos restaurantes do centro, mas, como ela imaginava, a quantidade de pessoas naquele bloco era menor, visto que as lojas e outros departamentos abertos em um horário daqueles ficavam em outras ruas.
No fim, ela não estava completamente errada, mesmo que o Harrington pudesse pensar diferente.
Andrea tentava a todo custo não ficar irritada com ele naquele momento, afinal, ela estava praticamente fazendo o mesmo que Jim Hopper fez no dia anterior: executando um plano sem contar para os outros e, consequentemente, os ferrando. A diferença era que ela era um pouco mais responsável que o xerife ── ou era isso o que ela gostava de pensar para se acalmar.
Inclinando-se novamente, ela suspirou, sentindo uma pontada de culpa e preocupação ao lembrar do xerife.
─── Ok... eu- olha, eu poderia passar a noite inteira te explicando passo-a-passo do que eu pretendo fazer ali dentro mas acontece que não temos todo esse tempo, Harrington... ou pelo menos a paciência, então, se importa de se calar e ficar pronto pra dirigir quando eu sair de lá? Por favor?
Ele a fitou com semblante sério, estalando a língua no céu da boca em desaprovação mas acabou acenando em concordância, desviando o olhar.
─── Eu espero muito que isso funcione, Andy. ─── ele disse com um resmungo, checando os espelhos.
─── Eu também. ─── Andrea sussurrou, o que não o deixou nem um pouco mais tranquilo à respeito daquilo mas antes que pudesse protestar, ela se afastou do carro.
Atravessando a rua devagar enquanto abria o canivete de seu chaveiro, ela se aproximou de uma das viaturas e furou os dois pneus traseiros, se apressando para repetir o ato no outro veículo estacionado ali, respirando aliviada por nenhum policial ── ou cidadão metido à herói ── aparecer.
A Hopper olhou para trás, vendo que Steve observava toda a ação com uma mistura de desaprovação e estranheza, fechando os olhos quando ela ergueu o polegar de forma positiva. Ela sorriu para si mesma ao ver que ainda era capaz de perturbar o mais novo mesmo quando ambos estavam à um passo de ter um ataque de ansiedade, se virando para a entrada da delegacia enquanto ligava o cronômetro de seu relógio.
Desde o ano anterior, o xerife havia decidido aumentar as patrulhas à noite, o que consistia em um bando de policiais dirigindo por aí e confirmando que nada de anormal estava rolando pela cidade, o que era engraçado já que a definição de anormal deles era bem diferente do que o Hopper esperava. Aquilo havia sido ruim para os traficantes que vadiam por aí no anoitecer, mas também significava que a delegacia ficava quase sem policiais durante aquele horário.
Ela não arriscaria fazer o que tinha em mente se o lugar estivesse lotado.
A mesa que Florence costumava ocupar estava vazia e a área central em que normalmente estava cheia de policiais andando pra lá e pra cá continha apenas dois, o que fez a morena respirar aliviada pelo sumiço do xerife não ter mudado as ordens recebidas.
Para sua decepção ── ou quem sabe, para sua conveniência ──, os policiais presentes ali eram Callahan e Powell.
Um deles dormia em sua cadeira, as pernas em cima da mesa e o chapéu cobrindo o rosto enquanto o outro apenas assistia televisão, distraído enquanto bebia algo de uma xícara, que ela chutou ser café.
A Hopper precisava ser rápida se não quisesse que mais nenhum policial chegasse e para sua sorte, o único inteligente o suficiente dos dois e que poderia desconfiar de suas próximas ações era o que dormia, o que a fez comemorar internamente.
Ela limpou a garganta, o que fez com que Callahan se virasse rapidamente ao ouvir a presença de alguém, observando a morena dar um sorriso simpático para ele.
─── Ah, ei, Andy. ─── ele cumprimentou, pondo a xícara na mesa e limpando os lábios. ─── Como você tá?
Ela franziu os olhos com a pergunta, sabendo muito bem que uma resposta honesta assustaria ── não apenas ele ── e decidiu apenas ir direto ao assunto, querendo sair dali o mais rápido possível. Ela estava nervosa e ainda se recuperando do pequeno incidente de minutos antes, com Steve.
─── Ah, eu tô bem. Bom, na verd-
─── Ei, você sabe onde seu pai se meteu? A gente tá tentando falar com ele desde... sexta-feira foi ontem, né? ─── ele murmurou confuso, coçando a nuca e olhando em um calendário que ficava à exposição na parede. ─── É, desde ontem.
─── Ele... saiu... da cidade! ─── a Hopper inventou de repente, sem imaginar que sua presença ali obviamente fosse trazer à tona questionamentos sobre a localização do xerife. ─── É, ele teve que resolver algumas coisas, sabe... não é nada demais, mas ele teve que- ele teve que ir na cidade ao lado. Acho que na próxima semana ele volta... talvez, não sei... mas, uhm, eu te deixo atualizado, não se preocupa.
─── Tá bem... ─── ele deu de ombros, estranhando ela estar tão amigável mas sem reclamar; não era sempre que Andrea entrava ali sem atirar facas pelos olhos. ─── O que você ia dizer mesmo?
Ela ergueu as sobrancelhas enquanto pescava uma chave específica no bolso, relembrando o motivo inicial de estar ali.
─── É, isso... eu acho que vi os pneus das viaturas secos e eu tenho 100% de certeza de que vi o Tommy Hagan e aquele, uhm... qual o nome dele... Billy Hargrove? ─── ela fingiu confusão. ─── É, acho que é isso... é, eu vi eles entrando no carro do Billy e indo na direção da casa do Tommy. ─── ela deu de ombros, seus lábios pressionados em uma linha. Billy havia espalhado mentiras pela escola, o mínimo que ela poderia fazer era ferrar ele com a polícia.
Callahan arregalou os olhos com a informação recebida, pegando seu chapéu e cinto antes de passar por ela enquanto amaldiçoava os rapazes, correndo até lá fora. Ele não pode conter os xingamentos que escaparam de seus lábios ao saber que aquilo estava acontecendo de novo.
O Harrington, que estava do outro lado da rua, mastigando suas unhas em antecipação, se assustou ao ver a porta da delegacia abrir de repente e um policial sair, imaginando que o homem fardado havia descoberto o que Andrea fez e estava atrás do Harrington para prendê-lo também, mas o policial apenas continuou em frente aos veículos, chutando os pneus da viatura em um acesso de raiva que poderia chegar a ser engraçado se seu coração não batesse tão forte ao ponto de ouvir o sangue bombeando em seus ouvidos.
A Hopper, aproveitando da distração, se aproximou no segundo em que Callahan passou por ela, indo até o armário de armas, que ficava na parede próxima à televisão, ao lado de uma prateleira de arquivos. Abrindo o cadeado o mais silenciosamente possível usando a chave que roubou do xerife, Andrea pôde visualizar todas as armas que a delegacia de Hawkins tinha em posse atualmente, parecendo verdadeiramente deslumbrada com o conteúdo, mas não permitindo-se distrair demais com aquilo. Seus olhos caíram para as metralhadoras de mão, descartando tal idéia imediatamente já que os agentes do governo também havia usado antes e ela não tinha em mente cometer o mesmo erro.
A morena rapidamente tirou, de sua mochila, a bolsa que pegou de Steve, abrindo-a e jogando uma espingarda lá dentro após verificar que estava travada, junto de algumas caixas de munição que ela implorava para não precisar usar, checando rapidamente que Powell ainda dormia e Callahan continuava lá fora.
Tendo certeza de que havia pego tudo que precisava, ela logo tratou de fechar o arsenal, trancando o cadeado e fechando a bolsa, pondo o chaveiro no bolso do macacão novamente. A morena soltou o ar lentamente pela boca enquanto levantava por conta do peso da arma, tentando ir para a porta o mais rápido possível quando ouviu seu nome ser chamado, parando no meio do caminho.
─── Andrea? ─── Powell murmurou, ainda com sono, enquanto coçava os olhos. ─── O que você tá fazendo aqui?
Ela se virou, abrindo um estranho sorriso aberto enquanto colocava a bolsa com a arma em pé e escondia atrás do corpo para evitar que ele notasse, suas mãos tremendo ao redor do cabo quando ouviu a porta da frente se abrir, quase se jogando na parede para evitar que Callahan também visse a bolsa e fizesse perguntas.
Andrea sentia que poderia morrer bem ali porquê jurava que seu coração estava parando.
─── Powell, você não vai acreditar nisso... os pestinhas fizeram de novo! ─── ele gritou enquanto se aproximava do parceiro e ignorava a presença da Hopper, que dava largos passos para trás afim de sair dali o mais rápido possível.
O Harrington observou Andrea correr para atravessar a rua e abrir a porta traseira de seu carro, colocando ali sua bolsa e tentando não imaginar o que poderia estar dentro ── pelo menos não naquele instante, Steve estava nervoso demais para formar qualquer pergunta coerente. A Hopper entrou logo em seguida, colocando o cinto de segurança enquanto ele dirigia para fora dali, ambos sentindo a adrenalina de ter cometido um delito ── ainda que fosse de formas e intensidades diferentes.
A morena olhou para seu relógio de pulso, parando o cronômetro e vendo que haviam se passado apenas dois minutos e vinte e oito segundos; pelo estresse que ela havia passado, ela chutaria, no mínimo, dez minutos.
Provavelmente por causa da adrenalina, a única coisa lhe impedindo de surtar naquele momento.
Ela olhou pelo espelho retrovisor, apenas para confirmar o que ela já sabia: os policiais não havia desconfiado, ela e Steve ficariam bem. Com tal pensamento em mente, Andy respirou fundo algumas vezes, soltando lentamente o ar pela boca em uma tentativa de acalmar seus batimentos acelerados, passando as mãos suadas nas laterais do macacão, retirando o casaco.
Olhando para o lado, ela viu que Steve ainda parecia nervoso, dividido sua atenção entre a estrada e o retrovisor, a fazendo se sentir culpada por não ter explicado melhor o que pretendia fazer ali e apenas jogar ele naquela confusão sem aviso prévio. Ela havia sido um tanto irresponsável, o mínimo que poderia fazer então era tentar amenizar os danos.
─── Uhm... não se preocupa, Harrington. ─── a morena murmurou, afim de distrair o mais novo. ─── Se eu ainda for presa no final disso tudo, não vou dizer pra eles que você foi meu motorista de fuga... ─── brincou, sendo rápida em adicionar uma risada. ─── Deus me livre de ser a culpada pela mancha no seu histórico chique.
─── Que histórico chique?
─── Pra faculdade, idiota. Até onde eu saiba, as chances de entrar em uma são menores se tiver ficha criminal. Bom, pelo menos nas mais importantes, eu acho... sei lá, vi em algum lugar.
─── Ah... ─── resmungou, dando de ombros e apoiando o braço na janela, respirando fundo. ─── Também não importa muito... eu não apliquei pra esse ano.
Aquilo pegou Andrea de surpresa, que virou a cabeça para olhar o loiro. ─── Sério?
─── É. ─── respondeu simplista, a fitando de volta.
─── Hum... pelo visto, seremos dois presos aqui. ─── ela riu, voltando sua atenção para a estrada.
Steve franziu as sobrancelhas, desviando sua atenção para a morena por um segundo. ─── Você também não vai? Isso sim é surpreendente... Por que?
Andy suspirou baixo, balançando a cabeça em negação. Steve às vezes não parecia ter a mesma noção de privacidade que a Hopper, mesmo que ela tivesse iniciado aquele assunto.
─── Jeff. ─── deu de ombros, limpando a garganta. ─── Alguém precisa tomar conta dele e essa é minha responsabilidade, então...
─── Achei que ele fosse ficar aqui só por um tempo.
Steve havia ouvido os boatos, principalmente vindos de Nancy, à respeito da Hopper e a súbita mudança de seu meio-irmão para Hawkins, mas parecia que ninguém sabia exatamente o motivo já que os irmãos faziam um bom trabalho em manter aquilo em segredo. Nem mesmo os atuais amigos de Jeffrey sabiam, o que fez o Harrington ficar ainda mais curioso.
─── Seria se os pais dele não fossem tão... ─── ela apertou os lábios, contendo a velha necessidade impertinente de xingar Allison; Andrea era uma adulta agora, não poderia continuar com atitudes infantis como aquela.
Ela ainda era sua mãe, afinal. Mesmo que não gostasse do título.
─── Allison, não é? ─── o Harrington questionou ao parar em um sinal, vendo a morena concordar levemente com uma careta, sem saber como ele poderia ter adivinhado, levando alguns segundos para raciocinar. ─── É, eu lembro dela, de quando-
─── Ah! ─── uma lâmpada pareceu se acender, fazendo-a relembrar de memórias que gostaria de ter mantido esquecidas. ─── Antes de você decidir que minha amizade não era tão importante assim e passou a seguir o Tommy como um cachorrinho sem dono? ─── ela o interrompeu com amargor na garganta; a conversa leve que estavam tendo foi oficialmente encerrada. ─── É, Harrington, muita coisa mudou desde então.
Ele a fitou com certa culpa, voltando a dirigir quando o sinal foi aberto novamente, segundos depois. Era estranho pensar que Steve e Andrea era uma dupla que se via bastante por aí em 1973, mas dois anos pareciam ser suficientes para crescer uma discórdia entre a Hopper e o Harrington.
─── Eu não me afastei porque quis, sabia? ─── o loiro apontou, querendo explicar seu ponto de vista; Steve não queria que Andrea simplesmente pensasse que ele não sentia falta da amizade deles, mesmo que tivesse sido mais curta do que gostaria. ─── Meu pai e o do Tommy eram próximos, eles praticamente forçaram nossa amizade, ok? Eu fiquei sem escolha.
─── Ah, vai me dizer que eles também te forçaram a virar um bully? Sabe, o pior é que não foi só comigo, Harrington, mas também com o Jonathan e outros diversos alunos da escola... eu fiquei sabendo sobre a câmera destruída no ano passado. Sua briga com ele, sobre o que você disse. ─── ela ergueu a sobrancelha, sem saber porquê queria tanto machucar ele. ─── Ou do que você falou sobre sua própria namorada quan-
─── Eu já me desculpei com eles! ─── Steve interrompeu com irritação por ela mencionar aqueles momentos específicos, sacudindo a cabeça. ─── E eu tô tentando mudar, tá?
Andrea deu uma risada fraca, revirando os olhos. Ela queria poder jogar na cara dele que o mesmo nunca tentou pedir perdão para ela, mas Steve tinha ── ao menos tentado ── no halloween, mas considerando que a Hopper lembrava mais da briga com o Hargrove do que a conversa com o Harrington, não era de se estranhar que ela estivesse irritada com aquele ponto em específico. Além do mais, ela não chamaria aquilo de desculpa.
─── Imagina a surpresa que você vai ter quando descobrir que um rostinho bonito e pedido de desculpas não apaga tudo que você e seus amigos fizeram. ─── zombou, torcendo o nariz.
─── Ex-amigos. ─── ele falou, sentindo essa forte necessidade de corrigir a morena.
─── Tanto faz. ─── resmungou com um revirar de olhos, vendo que finalmente estavam de volta à casa de Dustin. ─── Nós só estamos trabalhando juntos nisso por causa dos meninos, não significa que vamos colocar a fofoca em dia e passar a usar pulseiras da amizade... quando isso terminar, vamos voltar ao que éramos antes: nada.
Ela pegou a bolsa do banco de trás antes de sair, deixando Steve sozinho no veículo.
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤ
ㅤㅤㅤ
ㅤㅤ
[ então, só queria explicar que a atitude grosseira da andy no final teve mais a ver com ela relacionando o steve ao walter depois da parada brusca no carro, então ela basicamente só queria ferir ele emocionalmente como mecanismo de defesa ( a mesma coisa que ela fez com o billy na festa, falando da mãe dele ). o subconsciente dela associou o harrington como perigo e ela reagiu assim e se prestarem atenção, é como ela age com qualquer homem que é minimamente arrogante com ela ( exemplo: lonnie no enterro ). enfim, espero que tenham gostado e perdão pelo resumao psicológico, é que eu gosto muito de pôr essas coisas no livro e às vezes tenho medo de ninguém notar também ]
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro