𝟬𝟭𝟬 ، A COLLECTION OF BROKEN HEARTS.
CAPÍTULO DEZ :
UMA COLEÇÃO DE
CORAÇÕES PARTIDOS.
ANDREA DORMIU POR DEZ HORAS SEGUIDAS, um tempo recorde naquela semana, diante de tantas novidades. Ela abriu os olhos devagar por causa da claridade que invadia o quarto, olhando ao redor para tentar se situar. Não demorou muito para entender que estava em um hospital.
A cama em que estava deitada era confortável, nem um pouco parecida com a que tinha, enquanto a que tinha ao lado estava vazia, a deixando sozinha no cômodo. Sentindo uma leve pressão em sua mão direita, ela abaixou lentamente o olhar, vendo que se tratava de uma agulha conectada ao acesso intravenoso. Andrea respirou fundo, tentando não se incomodar com a sensação; levando devagar a mão esquerda ao pescoço, a adolescente soltou um fraco gemido quando pressionou levemente o local dolorido, fechando os olhos.
Tentando repassar os últimos acontecimentos antes de desmaiar, ela franziu a testa. Sua memória ainda estava um pouco bagunçada e seu ouvido esquerdo zumbia por causa do monstro gritando perto de seu rosto, mas ela lembrava vagamente dele a atacando e Eleven o destruindo logo em seguida.
Quieta naquele quarto, apenas ouvindo o barulho das máquinas e dos médicos e enfermeiras correndo do lado de fora, ela se perguntava onde poderia estar a garota. Se Nancy, Jonathan e os meninos estavam bem, se seu pai e Joyce haviam encontrado Will...
Ela esperava que sim.
Andrea ficou naquele quarto por sete exatos minutos desde que acordou, sentindo uma estranha sensação de tranquilidade pela primeira vez na vida. Ela não precisava se preocupar em cuidar de seu irmão, seus preocupar com seus pais ou se esforçar para parecer bem para seus amigos. Não havia ninguém ali. Levou algum tempo para ela entender que aquilo provavelmente era efeito dos analgésicos recebidos e ela se descobriu gostando daquilo.
A porta se abriu de repente e a Hopper virou a cabeça devagar, vendo que uma enfermeira entrar com um sorriso simpático nos lábios. Pela cor de seu uniforme, ela imaginou ser uma enfermeira pediátrica ── era estranho pensar na palavra quando já se tinha dezessete anos.
─── Espero que tenha conseguido descansar bem, Andrea. ─── ela falou, sem receber uma resposta da adolescente, que sentia a garganta doer para dizer qualquer coisa que não fosse importante. ─── Bom... vamos precisar fazer mais alguns exames hoje, mas se tudo sair limpo, você pode ir para casa amanhã cedo.
Isso fez a Hopper franzir as sobrancelhas, achando ter entendido algo errado. ─── Amanhã? Mas meu braço...
─── Ah, não se preocupe. Apesar do que parece, o ferimento não foi tão grave assim. Claro, ainda vai precisar ter alguns cuidados para não piorar, mas fora isso, você vai ficar bem.
A adolescente desviou o olhar para o chão, ainda sem entender o que estava sendo dito. Ela não sabia exatamente quanto sangue havia perdido na noite anterior, mas havia visto a poça um pouco antes de desmaiar e parecia impossível ela estar bem logo após um ferimento daqueles. Ela sentia que tinha algo de errado consigo ou com o hospital, talvez, mas não conseguia prester atenção o suficiente para raciocinar e descobrir.
─── Você tá sentindo alguma dor, precisando de alguma coisa?
─── Meu tornozelo. ─── a morena murmurou, apertando os olhos com força para tentar despertar daquela névoa. ─── Eu torci ele essa semana e tava bem feio ontem...
A enfermaria largou a prancheta que tinha em mãos e se aproximou da ponta da cama, erguendo o lençol para analisar o pé da garota. Andrea observou as ações da mulher, estranhando quando notou o local, antes machucado, em sua cor natural.
─── Os dois parecem normais, você tem certeza de que machucou?
A Hopper abriu levemente a boca em choque, fechando os olhos por alguns segundos enquanto apertava os lábios em um sorriso fraco. O que quer que estivesse acontecendo, aquele hospital não iria conseguir lhe ajudar ── nem mesmo ela sabia o que estava rolando.
─── É, mas- não deve ter sido tão grave, acho que exagerei um pouco. O meu pai tá aqui?
─── O delegado? Ainda não, mas às visitas começam em uma hora, tenho certeza de que ele vai chegar.
Ela acenou levemente, desviando o olhar antes de voltar para a mulher novamente. ─── E o Will Byers? Você sabe me dizer se ele tá bem?
A mulher a olhou confusa, afinal, a Hopper estava desmaiada desde o dia anterior, como poderia saber do retorno do garoto Byers?
─── Alguns ferimentos e desidratação, mas ele vai ficar bem. ─── ela disse lentamente, dando um sorriso para a garota enquanto se endireitava. ─── Eu volto daqui a pouco pra levar você aos exames e depois um médico vem falar com você.
A morena concordou com um aceno, sem saber muito bem porquê um médico falaria com ela se tudo estava aparentemente bem. Andrea esperou calmamente a enfermeira sair do quarto para poder tirar o acesso intravenoso da mão e erguer a manga do vestido hospitalar que usava, sem se importar com o pequeno rastro de sangue que saía das costas da mão e manchava o lençol da cama.
Por cima do ferimento causado pelo monstro, havia uma bandagem branca por cima da gaze enrolada em seu braço, que ela tirou aos poucos por causa da ardência; era difícil retirar um curativo com uma mão só e ainda tendo a medicação em seu organismo. O local machucado estava avermelhado e extremamente sensível, apenas a visão das suturas a fazia querer vomitar, mas ela respirou fundo, tentando se acalmar. Apesar de uma pontada de dor que sentia quando tentava dobrar ou esticar o braço, não havia nada de anormal e Andrea se sentia estranhamente bem.
Bem até demais.
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EXISTIA ALGUM TIPO DE CONFORTO EM SENTAR em uma cadeira de frente para o lago, enrolada em um cobertor, as pernas esticadas e um cigarro preso entre os lábios. Andrea havia experimentado uma vez em Ohio e, não poderia dizer que gostava da sensação ou até mesmo da fumaça, mas era relaxante manter sua boca ocupada, caso contrário, suas unhas estariam em um pior estado.
Suas aulas haviam sido canceladas com a reforma na escola e ela decidiu que não havia problema em passar os últimos dias de folga descansando ── o que parecia incoerente para alguém que insistia tanto estar bem como ela fazia desde que havia falado com um psiquiatra no hospital.
Os policiais ── Callahan, mais especificamente ── haviam encontrado as pílulas que Andy havia pego alguns dias antes e, juntando aquilo com a arma roubada de seu pai, eram bons motivos para se preocuparem com a adolescente. Pelo que parecia, a única solução óbvia que os médicos daquele hospital tinham em mente era internar a Hopper em alguma clínica fora da cidade, mas ser atacada por um monstro horrendo que saiu do laboratório que era controlado pelo governo parecia ser o tipo de coisa que lhe dá imunidade em certos aspectos.
Haviam se passado sete dias desde o ataque na escola e cinco que ela estava de volta em casa e Andrea ainda não conseguia ter uma boa noite de sono, suas diversas tentativas sendo interrompidas por pesadelos envolvendo aquele monstro sem rosto ── que Dustin carinhosamente apelidou de Demogorgon, por causa de uma das criaturas do jogo que ela ainda se recusava firmemente a jogar.
Seu pai também não estava passando tanto tempo em casa, normalmente trabalhando nos turnos da noite ou dormindo na delegacia, o que tornou mais fácil para a adolescente apenas fingir que os seus terrores noturnos não eram um grande problema e que tudo ficaria bem em breve ── aquilo não estava incomodando ninguém ao seu redor, então por quê falaria sobre para alguém? Ela preferia apenas enterrava aquilo bem no fundo de sua mente até o anoitecer, onde se deitava abraçada ao travesseiro e aguardava pelo momento em que acordaria gritando e suando frio.
Havia se tornado praticamente uma rotina. Uma rotina dolorosa e que a deixava tão assustada que ela tinha medo de ficar sozinha no quarto escuro e acabava sentada no sofá às duas da manhã para ver televisão com as luzes da sala ligada, onde o barulho do aparelho a fazia cochilar e acordar algumas horas mais tarde com o telefone tocando, anunciando que Jim Hopper estava de pé e procurava por notícias dela.
Eram poucas às vezes que o delegado largava a estação de polícia para ir até o trailer, sempre preferindo um telefonema; ainda havia coisas relacionadas ao laboratório que ele precisava resolver. Andrea não reclama, era mais fácil mentir pelo telefone, onde não precisava o encarar. Sempre que ela ouvia o som da caminhonete chegando, sabia que deveria ser algo bem sério ── fosse seu uniforme sujo ou um banho.
Ela imaginou que deveria ser uma daquelas razões quando olhou por cima do ombro e notou o carro se aproximando do trailer. Soltando a fumaça pela boca, Andrea apenas voltou sua atenção para o lago, ouvindo ele se aproximar. Ela gostava de achar que, se focasse sua atenção demais em um ponto, ele não a veria.
─── Você não deveria estar fumando. ─── ele falou enquanto se aproximava, sentindo o cheiro do cigarro.
─── Você vai me prender ou algo assim?
Ele balançou a cabeça, pegando uma cadeira dobrável e sentando ao lado dela. Não havia como impor algo contra ela, seria apenas tempo perdido. ─── Ainda tem algum?
─── Isso é alguma tentativa de dar uma lição de moral? ─── questionou rouca, entregando o cigarro para ele. ─── Se for, sinto muito em te decepcionar, porque eu realmente não me importo.
O homem apenas balançou a cabeça, tirando um isqueiro do bolso e acendendo.
─── Por que não atendeu as ligações?
─── É estranho ver você se importando. ─── murmurou baixo, assoprando a fumaça. Quando não notou nenhum sinal dele ter ouvido, ela limpou a garganta, desconfortável. ─── Eu não queria levantar, aqui tá confortável.
Ele respirou fundo, se arrumando na cadeira.
─── Sabe se mais alguém ligou?
─── Quem mais ligaria quando sabem muito bem que podem te encontrar na estação? ─── questionou com tédio, o fitando. O mais velho deu de ombros, o que fez ela semicerrar os olhos ao tentar descobrir o que se passava na cabeça dele.
Ela não conseguia pensar em ninguém que morasse ali e se importaria demais para telefonar; seus amigos, aparentemente, achavam mais interessante passar e ver como ela estava ── especialmente Nancy. A Wheeler parecia sentir algum tipo de culpa por deixar sua outra melhor amiga sozinha e quase ser morta horas depois de descobrirem sobre a morte de Barb, mesmo que Andrea tenha dito milhares de vezes que estava bem, apesar de seu braço sensível.
Não havia ninguém que o Hopper se importaria em saber se ligou ou não, apenas... sua ex-mulher, Allison.
─── O que você fez? ─── sussurrou, apertando o braço da cadeira inconscientemente, os olhos apertados de forma acusatória. ─── Você- você ligou pra ela, não foi?
Ele desviou o olhar para o lago, soltando a fumaça pela boca. ─── Apenas mencionei que você estava no hospital.
A morena balançou levemente a cabeça, voltando seu olhar para a água com os lábios tensos apertados em uma linha. Ao mesmo tempo em que não queria fazer mais perguntas sobre aquele assunto, ela não conseguia segurar a curiosidade que atravessava seu corpo para ter notícias sobre a Montgomery. Talvez Allison tivesse mudado durante aqueles meses em que Andy esteve fora.
Talvez.
─── Ok... e o que ela disse? ─── questionou da forma mais calma que pôde, mordendo a parte interna da bochecha. Ele ficou em silêncio por um instante, pensando se valia a pena contar a verdade. Apenas um instante; foi o suficiente para Andrea raciocinar e se desapontar, seu pequeno sorriso morrendo aos poucos. ─── Aposto que ela desligou na sua cara. ─── ela murmurou com uma risada para esconder sua tristeza, levando o cigarro aos lábios. ─── Eu pagaria pra ver.
Ele balançou a cabeça, como se ainda não acreditasse na atitude da mulher mais velha ao telefone alguns dias atrás. ─── Ela não era assim quando você era mais nova, sabe? Ela se importava com você... eu não sei o que aconteceu.
Andrea soltou uma risada engasgada, talvez a primeira naquelas últimas semanas. O que aconteceu?, ela pensou, lembrando de cada pequeno detalhe que poderia ter levado eles aquela situação. Ela se perguntava porquê ele parecia tentar defender Allison, como se a mudança de comportamento da Montgomery fosse algo que Andy pudesse controlar.
─── Bom... ─── ela começou, um pouco incerta do que dizer. ─── ...você se separou dela, daí se casou com uma mulher bonita, teve uma outra filha e foi embora dessa cidade esquecida por Deus com a sua nova família e deixando sua filha mais velha esquisita pra trás! Sabe, pai, eu acho que também ficaria amargurada caso isso acontecesse comigo, não dá pra por a culpar unicamente ela.
Apesar do rancor e da suave agressividade em seu tom, ela não mentiu em momento nenhum. Ele sim se casou com uma outra mulher e foi embora, enquanto deixava sua velha família para trás, sua filha, o que acabou levando Allison a se casar com alguém financeiramente estável para não ser despejada do trailer em que moravam.
Andy queria poder culpar ele por todas as coisas que deram errado em sua medíocre vida em Ohio, como Allison costumava fazer sempre que bebia demais. Como quando ela tinha doze anos e sua mãe a deixou no carro enquanto trabalhava e a garota precisou ser internada com um caso leve de insolação e, quando voltou para casa, precisou ouviu o longo discurso de Gabriel e Allison sobre como eles teriam problemas financeiros naquele mês por causa da conta do hospital.
Ou como em todas as vezes em que ela precisou roubar dinheiro da bolsa de sua mãe para comprar roupas novas porquê sua mãe dizia ser desnecessário jogar fora o que ela usava desde que tinha oito anos com a desculpa de que ela não havia crescido demais.
Pelo canto do olho, ela notou o pai ficar tenso com o que foi dito. Balançando levemente a cabeça, ela teve que respirar fundo para que não falar mais nenhuma estupidez. Aquilo era como sua mãe agia, a forma passiva-agressiva de confrontar os outros e os fazer se sentir mal por coisas fora do controle. Aquilo era Allison e ela não era Allison. Elas poderiam compartilhar o mesmo sangue, mas Andrea nunca iria ser como a mãe e se fosse, ela iria preferir a morte.
─── Posso fazer uma pergunta? ─── ela falou depois de alguns segundos em silêncio, sem ter muita certeza de que iria gostar da resposta que teria. ─── Por que você se separou dela? A maioria das pessoas ficariam juntas por causa dos filhos, mas você não. Eu sei o quão insuportável ela pode ser, mas... sabe?
Ele passou a mão pela barba, batendo levemente o cigarro no braço da cadeira. Havia diversas maneiras de responder aquela pergunta; o delegado poderia mentir e deixar que a adolescente seguisse sua vida normalmente, mas ele sentia que falar a verdade poderia ser mais fácil para os dois, mais fácil para ele. Afinal, Andrea já tinha dezessete anos, merecia saber a verdade.
─── Algumas noites antes de ser despachado para o Vietnã, sua mãe e eu tivemos uma briga feia porquê ela não queria que eu retornasse pra lá. Era o tipo de briga em que a maioria das pessoas dizem coisas que não queriam dizer. Eu acabei falando que a gente só se casou por sua causa e aí... ela contou que era uma pena eu me sentir daquele jeito porque você poderia não ser minha filha. ─── sua voz saiu baixa e calma, em uma tentativa de não estressar ela. ─── O divórcio saiu um pouco depois disso.
Andrea o fitou calada por alguns segundos antes de desviar o olhar, com o lábio tremendo e uma dor no peito, diferente das outras vezes ── ela conhecia essa; era a dor da decepção, mas não apenas isso. Era uma raiva, não apenas pela mentira, mas também porque, de repente, tudo fazia sentido para ela ── mesmo que suas conclusões estivessem, em grande parte, erradas. As ligações ignoradas, os aniversários esquecidos... não eram por causa da morte de Sara, era porquê ele simplesmente não se importava com ela.
─── Você foi embora por causa de uma suspeita. ─── murmurou ainda incrédula. ─── Uau, delegado. Isso é... isso é algo que eu realmente não esperava vindo de alguém como você. Por que me trouxe pra cá, então? ─── ela questionou ao se levantar e jogar o cobertor de volta na cadeira, tentando ao máximo não deixar a dor se fazer presente em sua voz. ─── Porque seu nome tá em um pedaço de papel ou foi um ato de caridade por eu quase ter morrido na floresta? Talvez seja os dois, não é? Porque você sempre tem que ser o herói, sempre tem que salvar todos. Essa merda é tão... decepcionante.
─── Andy- ─── ele pediu enquanto ficava de pé, em uma tentativa de fazer com que ela se acalmasse, mas a morena o interrompeu com raiva.
─── NÃO! ─── ela falou alto, fechando a mão em punho. ─── Aproveitando que estamos falando sobre o passado, eu passei a minha vida inteira te admirando, sabia disso? Querendo ser boa e gentil pra você não ter se preocupar comigo depois que a Sara se foi e no fim... no fim, você nem mesmo se importa! Eu sempre fui compreensiva com você, sempre. Antes mesmo dela morrer, eu sempre entendia quando você dizia não poder me visitar por causa do trabalho ou quando passava só alguns segundos no telefone comigo. Eu- ─── ela limpou a garganta quando sua voz falhou por um momento, sentindo como se uma bola estivesse presa em sua garganta. ─── Eu nunca te julguei por ir embora porquê eu também iria se tivesse essa oportunidade, você sabe como aquela mulher é louca! ─── as primeiras lágrimas caíram por seu rosto ela desviou o olhar, bufando; ela não conseguia parar, não quando tinha tanta coisa pra dizer. ─── Você tem idéia de quantas vezes ela me bateu ou me deixou de castigo porque eu queria ficar acordada até tarde pra poder falar com você em Nova York? Quantas vezes eu tive que ouvir o marido dela falando merda sobre mim ou você quando bebia demais? Agora você vem aqui, com essa de preocupado, ligando todos os dias, vindo ver como eu tô, só pra dizer que pode não ser meu pai? ─── ela soltou uma risada sem graça, balançando a cabeça em negação enquanto respirava fundo, passando a mão pela bochecha para limpar as lágrimas.
A conversa com o médico ainda pairava em sua cabeça e, mesmo que não quisesse admitir em voz alta, ela estava com medo de como seus próximos anos seriam. Se em algum ponto, ela se tornaria uma alcoólatra como seu padrasto ou uma viciada em remédios para dormir como Allison e Jim. Andrea tinha a impressão de que não se importariam caso aquilo acontecesse ── ninguém se importava antes. Então ver o esforço do homem durante toda aquela semana para ver se ela estava bem, a faz se sentir querida por um momento, mas no fim, apenas mostrou que ela era um fardo, afinal de contas. Como se o delegado só se importasse porquê a adolescente havia se machucado diante de sua supervisão, diante de algo que ele estava envolvido, como se as descobertas dela fossem insignificantes.
─── Eu passei pelo inferno morando com a Allison e você nem mesmo ligava pra ver como eu tava, era sempre a Diane. Sempre. Ela se importava mais comigo do que você... não acha isso engraçado? Eu não ligo se você é meu pai ou não, naquela época, você era tudo que eu tinha... ─── Andy deu de ombros, mordendo o lábio para conter um soluço.
Os dois ficaram em silêncio por quase um minuto, sem saber o que dizer em seguida. O Hopper não tinha idéia de como a garota se sentia e, em parte, a culpa era sua por não ter sido mais atencioso quando ela era menor; mesmo que no fim ele pudesse não ser seu pai, Jim ainda tinha uma responsabilidade. Ele achava que seria mais fácil para ela se ficasse afastado; eventualmente, Andrea poderia encontrar em Gabriel tudo aquilo que ela merecia, mas ele estava enganado.
Olhando para a adolescente que estava se remoendo com a culpa pelas coisas que disse, ele não conseguia ficar irritado, apenas triste. Ele queria ajudar e tudo que fez foi piorar uma ferida causada quando se divorciou de Allison.
─── Se você tá aqui porque se sente culpado por eu ter me machucado na escola ou por causa da porcaria dos remédios, não precisa mais. Eu sei me virar, ok? Então faça um favor por nós dois e para de fingir simpatia por mim, Jim Hopper. Como você mesmo disse, existe a possibilidade de você não ser meu pai, então... então só continua assim, tá? É melhor pra todo mundo.
Ela jogou o cigarro no chão irritada e pisou em cima antes de se virar para pegar o cobertor, apoiando o braço direito na cadeira. Uma onda de dor subiu até seu ombro, fazendo-a apertar a mandíbula e ficar parada no lugar por alguns segundos ao que esperava aquela sensação passar. Era como se estivesse acontecendo tudo novamente. A escola, os guardas, o monstro pulando em cima dela...
─── Esse maldito braço... ─── sussurrou entre os dentes, levando a outra mão para cima do ferimento e soltando lentamente o ar pela boca enquanto tentava não chorar.
─── Você tá bem? ─── ela o ouviu questionar baixo, balançando a cabeça.
─── Nunca estive melhor. ─── respondeu rouca, jogando o cobertor por cima do ombro dolorido de qualquer jeito e caminhando devagar até o trailer com o braço abraçado ao corpo, tentando não demonstrar tanto a dor que sentia; parando no meio do caminho, Andy ergueu os olhos para o céu azul. ─── Sabe, se te faz se sentir melhor, em breve eu faço dezoito e paro de ser responsabilidade sua.
Olhando por trás, ela forçou um sorriso para o mais velho antes de continuar seu caminho para o trailer, sentindo como se seu coração tivesse sido partido em pedacinhos. Ela sabia que havia ultrapassado dos limites ao mencionar Diane e Sara, e ainda que uma parte sua estivesse se punindo por ter aberto a boca, Andy não se arrependia de o ter machucado, não quando ela mesma passou tanto tempo ferida.
Talvez, no fim, ela fosse mesmo como sua mãe.
Sentindo uma estranha onda de calor diante do frio que fazia naquela manhã, ela caminhou em direção ao banheiro e fechou a porta atrás de si, ligando a torneira para molhar o rosto aos poucos em uma tentativa de se refrescar; os poucos passos dados até o trailer fizeram suor se acumular em seu rosto e axilas, uma situação que estava se tornando recorrente desde que saiu do hospital.
A ardência que sentia em seu braço sumiu as poucos, sendo substituído por uma leve pressão no peito que a deixou tonta por alguns segundos. A Hopper fechou os olhos e respirou fundo enquanto tentava se acalmar, esperando que aquilo se passasse logo ── era apenas mais uma crise, nada demais. Abrindo os olhos devagar alguns minutos depois quando achou seguro, ela se fitou no espelho e franziu a testa quando as luzes do cômodo piscaram algumas vezes antes de voltarem ao normal. Um fino rastro de sangue saía de seu nariz e contornava seu labio, fazendo-a erguer a mão para limpar; ela abaixou o rosto com as sobrancelhas franzidas, olhando para a mancha avermelhada em seu dedo indicador.
Sangramentos nasais não era muito comuns em seu dia-a-dia. Ela tinha noção de que a maioria era causado pela pressão do ar ou da mudança de temperatura ── ou quando se explode cabeças usando a mente, como Eleven. E até onde sabia, se Andrea tivesse algum poder, com certeza não envolvia erguer coisas com a mente; ela sabia disso, havia tentado.
Sentindo uma brisa balançar levemente seus fios ── o que a intrigou porque a janela do banheiro era impossível de abrir e a porta estava fechada ── ela ergueu o olhar, notando uma figura alta coberta pelas sombras atrás dela, próximo da parede. Andrea se virou e tropeçou para trás assustada enquanto olhava ao redor. Vendo que havia desaparecido, a morena apertou a mão ao redor da maçaneta e saiu do cômodo ofegante, levando a mão ao braço que voltou a doer enquanto tentava descobrir se aquilo era real ou apenas coisa da sua cabeça.
Ela esperava que fosse apenas algum tipo de alucinação porquê aquela figura era muito parecida com o demogorgon.
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❛ 𝗻𝗼𝘁𝗲𝘀. ㅤ ۪ ׂ ִֶָ ㅤ ᵎᵎ
e com isso terminamos o
primeiro ato! mas ainda tem
bastante pela frente, então
não desistam.
em caso de curiosidade, a
andrea tem poder de cura
e premonição, então os
desenhos, os "arrepios"
era isso. algumas coisas
provavelmente vão ser
alteradas quando eu for
revisar porquê sinto que
alguns plots saíram diferente
do planejado e isso me deixa
meio pra baixo, mas é a vida.
espero que estejam gostando
da história <3 caso tenham
alguma pergunta, podem fazer
aqui ou no meu privado!
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