𝟬𝟬𝟲 ، THE MONSTER.
CAPÍTULO SEIS :
O MONSTRO.
FOLHETOS DE DIVERSOS JORNAIS PEGOS DA BIBLIOTECA estavam jogados em cima da mesa de centro de Joyce, que estava na cozinha conversando com o delegado e deixando Andy sozinha na sala, que estava focada nos recortes ── poderia ter se passado minutos, até mesmo horas, e ela não teria notado.
Os dois mais velhos queriam ter uma conversa privada e a adolescente aproveitou daquele momento para tentar conectar os pontos soltos da história, vez ou outra desviando seu olhar para a parede, quase como se esperasse que a criatura aparecesse novamente.
Mesmo que eles dois se esforçassem para manter o tom de voz baixo, ela ainda havia sido hábil em captar algumas partes soltas, principalmente sobre o que seu pai havia visto no laboratório antes de ser apagado.
─── ...na noite em que Benny morreu, Earl disse que viu uma criança de cabeça raspada com Benny. ─── Jim falou, sentando ao lado de Andy no sofá enquanto procurava algo no meio das folhas. ─── Eu botei pressão e ele disse que poderia ser o Will, mas talvez...
─── Espera... talvez, não era?
─── Do que vocês tão falando? ─── Andy sussurrou, olhando para os dois adultos sem entender o que se passava.
─── Essa mulher, Terry Ives, diz que perdeu a filha, Jane. Ela processou Brenner, o governo... os processos não deram em nada, mas e se... e se todo o tempo em que eu procuro pelo Will, eu estive atrás de outra criança?
O trio olhou para o folheto que continha a matéria, intrigados; Andrea franziu a sobrancelha com a pergunta que martelava em sua cabeça.
─── Vocês acham que aconteceu alguma coisa com ela? ─── questionou, olhando para o pai. ─── Com a Terry?
─── Como assim? ─── Joyce questionou.
Ela deu de ombros, olhando para uma foto do doutor Brenner antes de se levantar, inquieta. ─── Se eles estivessem mesmo com a garota, a Jane, não acham que ela continuaria procurando pela garota? Tá, o processo não deu em nada, eu entendi, mas isso impediria mesmo uma mãe de ir atrás da filha sequestrada? Se o governo estiver mesmo por trás disso tudo, eu aposto que eles provavelmente deram "um jeito" nela, assim como fizeram com meu pai. Sei lá, é estranho não ter mais nenhuma notícia sobre isso.
─── É... duvido que tenham pegado leve com ela como fizeram comigo. ─── o delegado resmungou, levando o cigarro à boca.
─── E, não é querendo ser paranoica... ─── ela continuou, erguendo os dedos em contagem. ─── ...mas a garota sequestrada quando bebê tá por aí, tem um buraco esquisito no laboratório, eu não entendi bem essa parte ainda, Will e Barb estão desaparecidos, tem uma criatura nojenta saindo da parede e algum órgão do governo querendo manter isso quieto... não sei, parece tudo muito suspeito. Duvido que a morte do Benny tenha sido suicídio.
─── Ela tem razão, Hop. ─── Joyce murmurou. ─── Temos que tomar cuidado.
Com um pequeno sorriso orgulhoso, Andy inclinou a cabeça ao ver que aquele poderia ser o momento perfeito para expor suas descobertas aos dois adultos. Respirando fundo antes de tirar o papel do bolso, ela ainda não sabia bem como explicaria para eles; ter seu pai na sala deixava as coisas um pouco mais complicadas.
─── Eu acho que posso ter uma pista. Não sobre Terry Ives ou o laboratório, mas deve ser algo... eu não- não tenho certeza, sabe, não deve ser tão importante quanto o que vocês descobriram com os jornais e tudo, mas eu só queria falar- contar pra vocês... se estiver tudo bem! ─── sua voz saiu apressada e ela apertou levemente as mãos.
─── O que foi, Andy? ─── Joyce questionou, notando o papel que ela tinha em mãos.
─── Acho que é mais fácil se eu explicar tudo do início, antes de jogar a grande bomba no colo de vocês. Não que seja uma bomba, mas... enfim... ─── ela apertou os olhos ao notar que estava começando a falar demais, sentando no espaço que havia entre eles na mesa. ─── Terça-feira à noite Barb desapareceu e todo mundo insiste em dizer que ela fugiu de casa, o que é a maior idiotice que alguém poderia falar sobre ela porque é a Barb, sabe? Ela dificilmente faz algo sem chamar Nancy ou eu pra fazer companhia, o que é algo que eu acho legal porque ela realmente me considera como amiga... De qualquer forma, durante as aulas da terça, antes da gente ir pra casa do Steve, eu...
Ela passou a mão pelos olhos, sentindo-se extremamente envergonhada com a confissão; era como se tivesse uma pedra em sua garganta, a impedindo de continuar a explicação sem acabar chorando. Ela também tinha medo que eles acabassem a ignorando, achando que aquilo era alguma besteira adolescente e voltassem para o assunto do laboratório.
─── Terça-feira eu fiz isso aqui... ─── falou baixo, mostrando o papel para os dois.
─── Ok... o que é isso? ─── o pai dela questionou, analisando o desenho com Joyce.
─── A casa do Steve Harrington. Aparentemente...
─── Você tem certeza? ─── Joyce falou. ─── Parece um pouco...
─── Estranha, nojenta, eu sei, também achei. No início eu nem pude reconhecer direito, levei um bom tempo, mas... vai parecer loucura, mas... eu tenho quase 100% de certeza que foi onde a Barb desapareceu. ─── ela se endireitou, notando o olhar confuso dos dois. ─── Joyce, você lembra de como Will descreveu onde ele tá?
A Byers olhou para Jim antes de fitar a adolescente novamente. ─── Ele disse que era como em casa, mas é frio e vazio. Andy, eu não sei se tô entendendo...
─── Quando eu fui embora da casa do Steve, as luzes ficaram piscando, exatamente como aconteceu quando a criatura saiu da parede e como você disse que aconteceu nas outras vezes que o Will tentou se comunicar. ─── ela levantou novamente, passando a mão pelo cabelo. ─── Existe muitas coisas parecidas no desaparecimento do Will e da Barb, certo? Eles sumiram do nada, sem qualquer pista de quem pegou eles ou pra onde foram... tudo que temos são umas luzes que piscam a criatura nojenta que sai de dentro da parede e um bando de guardas querendo que essa história acabe logo.
─── Andy, apenas... se acalma, tá bem? ─── Jim pediu ao ver a agitação dela. ─── Eu entendi o que você tá querendo dizer, mas esse desenho não faz sentido-
─── Como você espera que eu me acalme com a minha melhor amiga desaparecida, um monstro nojento pra caralho e esses desenhos idiotas? ─── ela jogou a outra folha em cima da mesa, já no limite da paciência. ─── Você sempre tem uma boa justificativa pra tudo, delegado, então por favor, me explica como eu fiz um desenho do monstro horas antes de ver ele pela primeira vez?!
Joyce pegou a folha que a adolescente havia jogado, o fitando com as sobrancelhas franzidas. ─── Como isso é possível?
Andy respirou fundo, sentindo seu coração acelerado por conta do nervosismo; ela tinha quase certeza de que expor sua opinião para os outros era o seu pesadelo secreto ( comparando com o de outros, que normalmente era ir para a escola nu, ela sentia que estava bem ). Andrea estava estressada com tudo que vinha acontecendo recentemente e estar na casa que a jogou de cara naquela bagunça não era muito reconfortante ── principalmente sem saber se a criatura apareceria ou não.
─── Eu não sei! ─── ela sentiu um nó se formar em sua garganta e ela fez o melhor que pôde para não gaguejar na frente dos dois. ─── Eu só... eu apenas fiz. Não é a primeira vez que acontece, mas eu também nunca me importei com isso antes porque não era algo que me afetava diretamente. É tão louco achar que esse maldito desenho possa estar conectado com o sumiço da Barb? Diante de tudo que tá acontecendo, com tudo que você descobriu no laboratório e com os guardas estaduais praticamente tomando conta desse caso? A Barbara tá em perigo, o Will tá em perigo e eles estão tentando abafar isso exatamente como fizeram com a Terry Ives e com você!
Jim respirou fundo, se levantando do sofá e pondo uma mão no ombro dela. ─── Andy, não é que eu não acredite, mas tudo isso... um desenho feito à lápis da casa dos Harrington? Mesmo que a Barb tenha sumido como o Will, por que lá?
─── Eu não sei, tá bem?! ─── ela gritou, gesticulando. ─── O que sei é que se eu tivesse ficado dois minutos à mais naquela casa, eu também estaria desaparecida! O que você ia fazer, acreditar que eu fugi de casa com a Barb ou em uma outra besteira que eles pudessem inventar?!
Ela mordeu o lábio, ficando em silêncio por um momento, o arrependimento por erguer a voz batendo quase que imediatamente. Balançando levemente a cabeça em derrota, ela forçou um sorriso pequeno antes de sair do cômodo e ir para o banheiro, fechando a porta e abafando o som dos sussurros vindos da sala.
─── Idiota... ─── ela sussurrou para si mesma, batendo a palma da mão na testa.
Andy ligou a torneira, jogando água no rosto e dissipando um pouco do sono que sentia ── havia escurecido há algumas horas e apesar de não ter o sono muito regulado, ela se sentia estranhamente exausta. Olhando para a frente, ela se observou no espelho, notando sua pele em um claro tom avermelhado, assim como seus olhos; dando o seu máximo para não ceder à pressão e derramar as lágrimas que segurava, ela desviou o olhar para o teto enquanto respirava lentamente.
Aquilo tudo estava começando a ser demais pra ela. Não era apenas o fato de seu próprio pai duvidar de tudo que ela falava, o problema era que ninguém nunca a levava à sério. Todos sempre pareciam achar que ela fazia aquilo por atenção, uma conclusão que ela já havia notado antes, mas não queria acreditar porquê negar parecia ser uma opção mais simples de lidar, pelo menos durante um tempo. Sua própria mãe costumava minimizar suas as dores e problemas, normalmente dizendo que era apenas exagero ou que ela havia entendido de maneira errada.
Ver seu pai não lhe conceder o benefício da dúvida a fez entender que sua mãe estava certa, afinal de contas ── qual a surpresa, afinal, ela sempre estava. Mesmo sabendo disso, ela ainda odiava a insuficiência que sentia diante de situações como essas. A menos que fosse para concordar com Allison, o melhor para Andy era ficar calada, quieta, absorvendo o ambiente e se remoendo com as palavras não ditas; quem se importaria com o que uma garota como ela tinha para dizer? Andy só tem dezessete anos, a única coisa que precisava se preocupar era em terminar a escola e nada mais.
Soltando lentamente o ar pela boca, ela fechou os olhos e se permitiu chorar, mordendo o lábio para conter qualquer som que pudesse fazer ocasionalmente. A Hopper sentia falta de Barbara, de Nancy ── mesmo tendo visto ela algumas horas antes ──, de seu irmãozinho, de como sua vida era suportável, mesmo não sendo tranquila ou normal como a de seus amigos. Era estranho pensar que ela havia perdido tudo por conta de uma má decisão feita durante um momento de medo e coação.
Sua ida para Hawkins havia sido uma grande mudança, algo que ela ainda tentava processar mesmo depois de três meses ali. Ter suas amigas ao seu lado havia lhe ajudado durante um tempo, mas chegar em casa toda noite e lidar com um pai que parecia não se importar se ela ficava fora até tarde ou uma mãe que se recusava à atender suas ligações não parecia ser algo que ela poderia facilmente compartilhar com as duas garotas, não quando elas tinham os pais perfeitos. E ainda tinha seu irmão ── o único parente que Andy sabia que gostava mesmo dela e ouvia seu problemas mesmo quando não entendia nada deles ── sendo jogado aos lobos em Ohio, morando com os pais. A conversa que ela teve com Jeff no outro dia rolava na cabeça de Andy de vez em quando e era impossível não pensar em como a relação dela com o garotinho seria afetada caso Gabriel se mudasse mesmo ── ou como ele seria afetado.
Limpando o rosto com a manga do sobretudo ao ouvir batidas na porta, Andrea fez o possível para parecer apresentável antes de sair do banheiro, sem perceber que havia passado mais de dez minutos ali dentro. Poderia ser seu péssimo senso de tempo, mas ela jurava que não foram mais de dois minutos.
─── Ei, Andy... ─── Joyce falou com o melhor sorriso que pode dar diante das circunstâncias, notando os olhos avermelhados da adolescente. ─── Se sentindo melhor?
Encolhendo levemente os ombros, ela não sabia muito bem o que dizer caso tivesse que ser sincera com Joyce. A mentira saía tão naturalmente muitas vezes que ela nem pensava demais quando ouvia a pergunta ── viver rodeada de pessoas que não se importam acabou fazendo isso.
─── Sim, eu-eu tô bem melhor.
─── Seu pai não quis ser rude, ele-
─── Eu sei, Joyce, tá tudo bem. Ele tá certo, na verdade. Os desenhos podem ter sido só uma coincidência estranha e a Barb... não sei. ─── sussurrou, abaixando o olhar para as mãos. ───Sinceramente, eu acho que preciso dormir um pouco. Tem problema se eu passar o resto da noite aqui? Eu acho que não seja seguro ir pra casa e tá escuro demais pra ir até a casa da Nancy...
─── Claro que não tem problema! ─── a mais velha disse quase que imediatamente, afagando o ombro dela com um ar preocupado. ─── Você pode ficar no quarto do Jonathan, eu não sei se ele ainda vem pra casa hoje...
Dando um pequeno sorriso simpático para a Byers, Andrea seguiu no corredor até o quarto de Jonathan, fechando a porta ao entrar no cômodo. A adolescente não se importou muito em reparar na decoração, mais preocupada em estar ali; ficar no quarto dos outros quando eles não estavam não era uma das coisas favoritas dela ── ou dormir fora de casa ── mas a situação atual não parecia estar ao seu favor.
Sentando-se na ponta da cama, ela tirou os sapatos e o sobretudo antes de deitar, cruzando os braços e fitando o teto. Parecia mais complicado pegar no sono deitada ali e, mesmo que a idéia arriscada de pegar os comprimidos no bolso fosse tentadora, ela não o fez, intimidada pelo delegado no cômodo ao lado.
Balançando levemente os pés, ela ficou de olhos fechados durante alguns minutos, esperando que pudesse cair no sono assim.
O relógio marcava 2:33h da madrugada quando ela finalmente conseguiu dormir.
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QUANDO ANDREA ACORDOU ALGUMAS HORAS MAIS tarde, ela notou que a casa estava em completo silêncio; virando-se para o lado, o relógio da mesa de Jonathan marcava 7:46h. Ela se levantou devagar, esticando o corpo e calçando novamente os sapatos antes saindo do quarto, parando na entrada da sala e encostando-se a mão na parede enquanto ainda tentava despertar.
O dedo indicador da Hopper cutucou um pedaço de tinta solta ali inconscientemente enquanto fitava um ponto específico na parede, levando a outra mão ao pescoço quando sentiu uma estranha pressão em sua garganta, a deixando sem ar por alguns segundos.
Fechando os olhos e respirando fundo quando a sensação sumiu, ela franziu as sobrancelhas, sem entender o que estava acontecendo; erguendo rapidamente a cabeça quando ouviu um barulho na cozinha, ela mancou até lá hesitante, encontrando seu pai tomando uma xícara de café sozinho e com um cigarro na boca enquanto lia um dos jornais que havia pego no dia anterior.
Ela ainda estava confusa com a falta de ar repentina segundos atrás, mas a ausência de alguém naquele cômodo a fez esquecer do assunto por um momento. ─── Onde tá a Joyce? ─── ela perguntou preocupada, limpando a garganta quando sua voz saiu um pouco mais baixa que o esperado.
Ele ergueu a cabeça diante da pergunta, só então notar a presença dela ali. ─── Trocando de roupa, a gente vai até a casa da Terry Ives e eu quero que você espere por nós pra delegacia. ─── pediu, pondo a xícara na pia.
─── Tá bem. ─── respondeu simplória, se aproximando lentamente da mesa e colocando um pouco de café em uma xícara.
─── Olha, sobre ontem... ─── ele começou, incerto, apagando a chama do cigarro.
─── Não fazia sentido mesmo, você tava certo. Eu já tirei a idéia da cabeça, não vou dizer nem fazer nada estúpido. Pode não parecer, mas às vezes eu consigo ser bem inteligente.
─── Eu não sei de quem você puxou isso... ─── brincou, em uma falha tentativa de a fazer rir. ─── ...mas, uhm... você sabe que não é com isso que me preocupo.
─── É, eu sei. ─── sussurrou, tomando um gole da bebida e evitando o olhar do pai. Ela odiava quando ele partia para as conversas sérias; além de estranho, era um pouco vergonhoso.
─── Tudo isso é perigoso demais pra você, Andy. Eles não ligam pra quem tá no caminho, eles só querem acobertar essa história e se souberem que você pode ter alguma idéia do que tá acontecendo...
Ela balançou levemente a cabeça, entendendo o ponto dele. Um corpo foi encontrado pela polícia estadual na pedreira, onde Will supostamente morreu, para evitar que as buscas continuassem e assim, todos ── especialmente os Byers ── pudessem seguir em frente com aquele assunto. A mesma coisa estava acontecendo com Barbara: ninguém tem a menor idéia de onde ela possa estar, mas, de acordo com a polícia estadual, ela fugiu, já que foram eles que encontraram seu carro na rodoviária.
Alguém parecia estar levando aquilo à sério demais, considerando todos os pequenos detalhes.
Andrea vestiu o sobretudo enquanto caminhava até a bicicleta caída e observava eles indo até o carro. Ela iria obedecer Jim naquele momento ── ficar na delegacia, rodeada de policiais que trabalhavam para seu pai, o chefe de polícia, parecia uma boa jogada... considerando que ficar sozinha na casa de Joyce era a sua provável alternativa e ela ainda não se via pronta para ficar ali sozinha.
─── Ei, Andy, espera. ─── Jim chamou antes de entrar no veículo, fazendo a adolescente parar; apesar de se preocupar, ele não sabia como lidar com ela. ─── Toma cuidado, tá? Não faz nenhuma besteira. E se...
─── Se alguém perguntar onde você foi, eu vou inventar uma desculpa qualquer, não precisa se distrair pensando nisso. ─── ela falou baixo, apertando os lábios em um fraco sorriso antes de subir na bicicleta e começar a pedalar.
Durante o caminho, ela tentou não pensar em como poderia estar sendo deixada de lado ── um pensamento infantil, mas complicado de se controlar. O homem que não respirava sem seu revólver na cintura e que perdeu a filha mais nova anos atrás estava indo atrás de uma mulher que teve a filha sequestrada pelo governo ao lado de sua ex-colega de classe que havia perdido o filho recentemente e o governo tentava abafar o caso enquanto Andrea, uma adolescente sem filhos e solteira se aventurava até a delegacia sozinha em sua bicicleta. Tinha que ter alguma ironia nessa confusão.
O trajeto não havia sido tão ruim como ela esperava. Claro, ela ainda temia que uma criatura pálida que atravessa paredes se mostrasse no meio do caminho, mas ela tinha que admitir: ter o peso de uma arma no bolso a deixava um pouco mais segura e confiante, mesmo que soubesse que suas chances contra o animal fossem extremamente baixas.
Chegando no centro comercial já bem conhecido, ela passou pela biblioteca, o fliperama e o cinema, vendo um pequeno grupo de adolescentes passeando ali. Ela não se importou muito em parar para ver se era alguém conhecido e cumprimentar ── além dela não conhecer muitas que iriam para o cinema naquele sábado, ela estava agoniada demais para perder tempo com aquilo. Andy queria chegar na delegacia o mais rápido possível, a busca por segurança se tornando uma necessidade básica depois de ouvir o pequeno monólogo de seu pai. Havia sido curto, mas eficiente o bastante para assustar ela com a ideia.
Estacionando a bicicleta perto da entrada, a Hopper limpou as mãos suadas na calça, entrando na estação e indo até a mesa de Flo, que não se encontrava no momento. Isabella e Derek, dois policiais que ela havia conhecido logo quando se mudou, estavam em suas mesas, parecendo ocupados demais com alguns papéis para notar a presença dela. A Hopper adentrou o espaço, indo até a mesa do outro lado da sala ao ver que ainda haviam donuts. Ela não havia comido nada desde o enterro no dia anterior e aquele passeio de bicicleta havia aberto seu apetite.
─── Bom dia, Andy. ─── ela ouviu Phil Callahan falar atrás dela, fazendo-a respirar fundo antes de se virar com um meio sorriso nos lábios.
─── Bom dia, Phil. ─── ela cumprimento, vendo-o sentar na mesa com alguns papéis nas mãos.
─── Onde tá seu pai? Ele não vem hoje?
Ela franziu a sobrancelha, se virando novamente e pondo um pouco de café em uma xícara antes de se mover pela sala para sentar na cadeira vazia de algum policial ausente e deslizar pelo espaço.
─── Ele não tava em casa quando saí hoje cedo, pensei que ele estivesse aqui. ─── ela falou em um tom neutro, dando uma última mordida no donut em sua mão. Mentir poderia não ser uma das suas melhores características, mas ela fazia como uma profissional quando precisava.
─── Mas por quê você veio pra cá?
Ela se levantou, encolhendo levemente os ombros. ─── Ele me botou de castigo de novo. ─── resmungou.
Ele balançou levemente a cabeça, nem um pouco surpreso com aquilo; já era quase rotina. Deixando os papéis de lado, ele se inclinou na cadeira, a fitando com curiosidade. ─── Ei, eu posso fazer uma pergunta? É sobre uma mulher que eu tô saindo e eu queria muito sua opi-
─── Não. ─── disse rapidamente, saindo do cômodo. ─── Eu vou esperar no escritório dele.
Fechando a porta logo que entrou, a morena se jogou no pequeno sofá que havia ali, pegando uma revista qualquer e cobrindo o rosto antes de tirar uma curta soneca. Não durou muito e ela logo acordou com os barulhos vindo do lado de fora da sala. Observando a mesa, ela se levantou e deu a volta para se sentar na cadeira de couro, ficando ali por algum tempo, apenas girando e tentando se manter positiva em relação ao passeio que Joyce e o delegado estavam fazendo.
Respirando fundo enquanto analisava o cômodo, seus olhos aos poucos caíram para uma gaveta próxima do alcance de sua mão. Seu pai nunca fez nenhum pedido explícito para que ela não mexesse em sua sala ── mas não é como se ela se importasse, visto que havia furtado uma arma do quarto dele no dia anterior e, sinceramente, ela realmente achava que não conseguia ficar pior que isso.
Abrindo a primeira gaveta e vendo alguns papéis, ela os ergueu tediosamente, procurando por algo que chamasse sua atenção no fundo, mas não encontrando nada, a morena logo pulou para a gaveta seguinte. Não havia muitas coisas ali também, mas no meio de algumas pastas, havia uma foto virada de cabeça para baixo.
A adolescente a pegou, segurando-a com as duas mãos e analisando as três figuras sorridentes na fotografia: seu pai, Diane e Sara. Ela imaginou ser de alguns anos antes de sua meia-irmã ficar doente, já que todos os três pareciam mais novos que o normal ── principalmente Diane. Andy havia visto a mulher apenas algumas vezes e se arrependia de não ter passado mais tempo com eles quando teve chance; ela havia sido uma figura materna breve, mas muito importante, para Andy.
Passando levemente o dedo pela figura da garotinha na foto, ela suspirou baixo, ouvindo uma comoção vindo do corredor. Com pressa, ela jogou a foto onde estava antes, acabando por bater o dedo na quinta da mesa. Ela pressionou a mão contra o peito por causa da dor, xingando baixo e se levantando, parando seus movimentos quando avistou uma chave bem no fundo da gaveta, meio coberto por uma pasta amarelada.
─── Arsenal...
Ela ergueu levemente as sobrancelhas, considerando suas ações seguintes. Ela sabia que o delegado tinha uma cópia em seu molho de chaves e, na melhor das hipóteses, ele faria uma nova usando a chave de algum dos outros policiais. Na pior... bom, ela seria presa por furto, talvez. Respirando fundo, ela guardou a chave no bolso da calça e fechou a gaveta, deixando tudo como estava antes de ir até a porta.
Ela avistou Florence em sua mesa ao telefone, anotando algo em um papel. A Hopper, curiosa com o que ela fazia, se sentou em uma das cadeiras de espera, fitando a mulher com os olhos levemente arregalados e um sorriso nos lábios. Era tão engraçado ver o susto que as pessoas tomavam com as caretas que Andy fazia.
─── Alguém já lhe disse que é irritante quando faz isso?
A garota riu, se acomodando na cadeira. ─── Várias vezes, mas, você sabe, é hilário... mas e aí, alguma novidade por aqui?
─── Nada importante, só alguns arruaceiros pichando a entrada do cinema.
Andrea franziu levemente as sobrancelhas, pensando se havia sido o mesmo grupo que havia visto mais cedo. De qualquer forma, ela estava mais preocupada com o pai. Pelo tempo em que eles estavam fora, ela imaginava que haviam conseguido o endereço de Terry; Andy apenas queria que não fosse uma viagem perdida, não com tantas coisas em jogo.
─── Eu ouvi sobre sua amiga, Barb. ─── a Hopper ouviu Flo falar, fazendo-a erguer a cabeça. ─── Eu sinto muito.
A adolescente forçou um pequeno sorriso, concordando levemente. ─── É... mas eu tenho certeza de que ela vai voltar logo, é só questão de tempo.
─── Espero que sim.
Andrea travou o maxilar, desconfortável com o assunto, e desviou o olhar para as mãos, analisando o hematoma roxo em seu pulso, fazendo-a lembrar da queda alguns dias atrás. Estava começando a ter um tom amarelado e ainda que doesse, ela quase não conseguia notar. Não era possível dizer o mesmo de seu tornozelo, que parecia querer rasgar sempre que ela tentava manter um ritmo normal ao andar. O pior de tudo é que Andy sabia que teria que ir ao hospital quando tudo se resolvesse, o que era um pesadelo já que ela odiava hospitais.
A porta de entrada da delegacia foi aberta e ela franziu as sobrancelhas ao ver Callahan, Powell, Jonathan e Nancy entrando. O nariz de Phil sangrava, assim como a mão do Byers, e a Hopper não conseguia parar de se perguntar o que diabos eles haviam feito.
─── Ei. ─── Andy falou ao se levantar, abraçando Nancy. ─── O que aconteceu, tá tudo bem?
─── Jonathan e Steve brigaram e depois o Jonathan acertou o policial sem querer... ─── a Wheeler respondeu, passando a mão pelo rosto. Ela estava um pouco pálida, o que deixando Andrea assustada.
─── Nance, você tá bem?
─── Uhum... é só nervosismo, eu acho. Tá tudo bem.
A Hopper, mesmo não acreditando, concordou levemente, dando um pequeno sorriso para a amiga, e ainda que estivesse morrendo de voltade de questionar ela sobre o que tava acontecendo, também sabia que o momento não era ideal para ninguém.
Ela apenas observava enquanto Powell algemava Jonathan em uma mesa e Nancy ia buscar gelo ao lado de Flo. Ela sentia que tinha algo de diferente com a Wheeler, principalmente porque ela estava ali com Jonathan e não com Steve, o seu atual namorado. Não havia qualquer motivo para eles dois interagirem; diferentes grupos sociais na escola, diferentes classes sociais fora dela. A única coisa que poderia, provavelmente, os conectar era...
─── Barb e Will... ─── murmurou, fitando Nancy.
Era meio óbvio, na verdade. O único possível elo que faria Nancy e Jonathan trabalharem juntos era o desaparecimento de Will e Barb e, se Andy estivesse certa ── até agora era 99% de certeza ── tinha alguma coisa a ver com o monstro que saiu da parede. Depois de tudo que rolou, não restava mais nenhuma dúvida.
Não faça nenhuma besteira, seu pai disse mais cedo. Andy não queria desobedecer mais uma regra do delegado, não naquele momento, mas se ela tivesse que se juntar com Nancy Wheeler e Jonathan Byers para trazer sua amiga e o Byers mais novo para casa à salvo, então... bom, ela aguentava mais uma semana de castigo.
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❛ 𝗻𝗼𝘁𝗲𝘀. ㅤ ۪ ׂ ִֶָ ㅤ ᵎᵎ
perdão qualquer erro de escrita!
faltam 2/3 capítulos pro primeiro
ato acabar!!! espero que tenham
gostado :) e muito obrigada pelos
5k de leituras <3 amo vocês!
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