𝗧𝗪𝗢
NÃO FICAMOS mais nem um minuto no Wallmart de Nova Jersey depois que a situação com o monstro de Cheetos gigante foi resolvida. Logo as notícias do que aconteceu vão se espalhar, com isso as autoridades locais devem aparecer. Isso significa que sem dúvidas a S.H.I.E.L.D também deve seguir o rastro. Wade e eu concordamos que o melhor momento para topar com eles é depois de encerrar o trabalho, ou pelo menos quando tivermos alguma caixa para eles investigarem no laboratório.
Com seu teleportador, Wade nos levou ao próximo endereço. O lugar não era nada menos que uma creche localizada o condado de Westchester, Nova York. Se você é uma daquelas pessoas que sabe das coisas, sem dúvidas está pensando:
"Onde diabos eu já ouvi esse nome?"
Se colocar essa cabeça para funcionar, vai se lembrar que essa é a area dos mutantes. O Instituto Charles Xavier não é tão longe daqui, e eu tenho certeza que algumas das das celebridades mais conhecidas entre os X-Men devem estar aproveitando a tarde ensolarada na piscina enquanto alguns de nós estão aqui fazendo o trabalho duro.
Tanto faz. Não vamos precisar de reforços!
— Uma creche? Mas que merda – Xinguei. – Por que sempre tem que ter crianças no meio?
Saltei de seu colo para o chão e comecei a ajeitar meu traje. Odeio vincos.
— É o clichê de super-heróis – Ele deu de ombros. – Salvar criancinhas em perigo é tipo aquela coisa que têm em todo enredo desde os quadrinhos até as grandes franquias.
— Isso quer dizer que agora nós somos super-heróis? – Questionei. Wade colocou a mão em meu ombro, dizendo em tom solene:
— Aqui na América todos podemos ser heróis. Heróis da nossa pátria.
Afastei a mão dele do meu ombro com um tapa.
— Vamos rápido encontrar o pacote antes que ele decida bancar a caixinha de surpresas no berçário.
Nós atravessamos a rua e saltamos a grade sem dificuldades.
— Tô me sentindo naquele filme, sabe? Um tira no Jardim de Infância.
Wade falou com voz repleta de excitação.
Fomos até uma das janelas. Nos deparamos com a sala de brincadeiras. Haviam pelo menos 25 crianças de no máximo 5 anos alí. Ou talvez fosse menos. Ou até mais. Uh! Sou péssima com crianças.
— Procure por uma caixa piscando...
Murmurei para Deadpool. Meus olhos vasculharam todos os cantos da sala em busca de algo parecido com a caixa que vimos no Wallmart, mas não encontrei absolutamente nada.
— Não está nessa sala, pelo menos eu não consigo ver em lugar nenhum. Vamos ter que entrar e procurar pelo prédio.
— Tem razão, vamos!
Demos a volta. As portas da frente e dos fundos estavam trancadas, faz sentido, considerando que uma criança pode sair ou um doido qualquer pode entrar. Mas logo me decepcionei com as medidas de segurança, já que tinha uma janela aberta que dava exatamente no refeitório. Entramos por ela.
— Nos separamos? – Perguntei.
— É uma boa.
Indiquei a esquerda para ele seguir enquanto eu ia pelo outro lado. Seguimos nas direções distintas. Eu estava atenta quanto a qualquer barulho, consegui me esquivar a tempo de evitar uma funcionária apressada. Percebi que estava indo na direção dos fundos da creche, uma área mais administrativa onde provavelmente fica a sala das cuidadoras ou sei lá.
Estava indo cada vez mais fundo no corredor quando escutei um estalo alto e uma criança gritando do outro lado. O lado para o qual Wade havia seguido.
Dei a volta no mesmo segundo e comecei a correr. Peguei o bastão do protetor no cinto e o acionei, com isso a lança se expandiu. O plano é chegar preparada. Quando alcancei a sala de recreação, encontrei uma garotinha chorando com o brinquedo esmagado no chão e Wade com um pé erguido. Ele me olhou e encolheu os ombros.
— Eu... pisei sem querer no caminhão dela e...
Abaixe a lança e suspirei de alívio.
— Porra...! Eu pensei que alguma coisa tinha devorado uma criança. Ouviu o grito que essa garota deu?
— Bom... talvez o grito tenha sido meu – Ele respondeu no tom que me parecia o mais próximo do constrangimento que eu já vi sair da boca ressecada dele.
Ergui uma sobrancelha para ele. Ok...
— Tá, tanto faz. Você achou alguma coisa?
Ele abaixou o pé e esmagou o que tinha sobrado do brinquedo da menina que berrou ainda mais enquanto chorava depois de ver aquilo.
— Nadica de nada.
Nesse momento, uma mulher entrou na sala. Muito provavelmente estava sendo atraída pelo choro que não parava da pobre garotinha. Assim que passou pela porta, a mulher olhou para a garota por três segundos e depois se virou na nossa direção. O que veio em seguida foi um grito muito alto e desnecessário.
— Quem são vocês?
Ela gritou para nós e então se aproximou rapidamente da menina chorando, passando a examiná-la, checando se ela não estava ferida.
— Somos anjos da lei, minha senhora – Wade explicou. Eu cruzei os braços e revirei os olhos. Besteira. Essa mulher não precisa saber quem somos. Ela só precisa calar a maldita boca e nos deixar trabalhar.
Desviei os olhos dela e fitei a janela do outro lado da sala, meus olhos desceram para um grupo de crianças brincando em um tapetinho colorido como o arco-íris e então eu o vi. Estava na boca babada de um garotinho de 2 anos.
Onde esse filhinho de uma mãe conseguiu isso?
Cutuquei Wade com o cotovelo.
— Achei.
Ele virou a cabeça na mesma direção que eu estava olhando e bateu o pé no chão.
— Puta merda! Ooh garotinho...
Começamos a andar na direção da criança, mas a mulher se levantou e, em um gesto heróico, se colocou diante de nós, impedindo que nos aproximassemos do moleque.
— Vocês não vão chegar perto de nenhuma criança! Saíam daqui! Saíam agora!
Eu e Deadpool trocamos olhares.
— Senhora, você não está entendendo... queremos a caixa - Ele apontou para o nosso objetivo na boca da criança. Ainda estava apagado. Pelo menos isso.
— Eu já disse! Vocês não vão chegar perto deles! – Ela repetiu, aparentemente estava irredutível.
Soltei um suspiro e aproximei dela. Coloquei minhas mãos em seus ombros.
— Por mais louvável que seja a sua atitude, ela não deixa de ser profundamente imbecil considerando o contexto – Falei. – Agora saí da nossa frente!
Empurrei ela pra fora do caminho. Acabei fazendo isso forte demais, a mulher bateu em uma estante e vários livros caíram encima dela. Eu poderia fazer um comentário espirituoso do tipo "isso sim é uma surra de conhecimento", mas não temos tempo para isso. Desse jeito, eu me aproximei a passos largos do garoto que ergueu os olhinhos para mim assim que me abaixei diante dele.
— Ei, bonitinho, o que acha de entregar essa caixa bonita pra titia aqui?
Perguntei oferecendo meu melhor sorriso. A criança se agarrou mais na caixa e negou com a cabeça. Eu ri forçadamente. – Não seja um egoista de merda, garotinho. Sua mãe não te ensinou a dividir?
Nada ainda. Ele se recusa a me entregar. Acho que mencionei o fato de ser péssima com crianças, não mencionei?
— Olha aqui, seu catarrento...
— Certo, tudo bem, tudo bem – Wade se intrometeu. Ele me afastou da criança e se colocou na minha frente. Eu cruzei os braços e bufei aborrecida me pondo a observar o que ele iria fazer. – E ai, bro? Que brinquedo maneiro esse ai hein? Mas eu tenho um aqui muito mais legal do que essa coisa.
Ele tirou uma granada do cinto e mostrou para o menino. Imediatamente os olhos da criança se iluminaram.
— Legal, né? Você não quer trocar?
O garotinho pareceu pensativo. Ele olhou para ambos os objetos. Como se estivesse decidindo qual dos dois era divertidamente mais mortal e então largou a caixa no chão, em seguida estendeu as mãozinhas gorduchas na direção da granada.
— Esse é dos meus – Falei sentindo uma onda de afeição pelo menino que pegou a granada e passou a admirá-la como se fosse ouro.
Me abaixei e apanhei a caixa do chão. Ela estava perfeitamente imóvel.
— Vamos antes que essa coisa decida acordar da siesta.
Nos viramos para as crianças. As maiores nos encaravam, algumas com medo e outras com curiosidade. As menores estavam apenas babando e eu tenho certeza de que não fazem a menor idéia do que está acontecendo.
— Nós já estamos indo embora, criançada - Wade falou em voz alta. – Fiquem na escola e não usem drogas.
— O que são drogas?
Uma garotinha de uns 5 anos perguntou.
— É uma coisa que provavelmente o seu papai usa para ficar tranquilão e suportar a mamãe – Ele colocou o indicador em frente aos lábios e fez um sinal de segredo. - Mas isso é só entre nós.
— É, agora é mesmo hora de irmos embora – Falei agarrando seu braço e o puxando para fora.
NOS AFASTAMOS da creche carregando a caixa e aliviados por àquela coisa não ter simplesmente explodido ali dentro em um monstro gigante e furioso. Também estávamos satisfeitos pelo trabalho relativamente simples que ela nos deu em comparação a anterior. Nenhuma criança em perigo. É assim que se faz.
— Devemos entregar isso a S.H.I.E.L.D, eles vão querer avaliar.
Falei erguendo a caixa.
Wade estendeu os braços e eu subi em seu colo. Já nem questionava mais. No segundo seguinte e com um estalo audível, estavamos na sala da Preston. Estava vazia, a agente não estava lá. Alguma coisa me diz que nossa incursão no Wallmart já chegou até ela.
Deixamos a caixa encima da mesa e um bilhetinho carinhoso assinado por nós dois. É claro que isso manteria o coração dela aquecido até nosso próximo encontro.
Em seguida, Wade nos levou para o próximo ponto na lista.
Brooklyn.
Estávamos no alto de um prédio e de frente para uma avenida. Diante de nós tinha uma agência dos Correios.
— Temos três delas bem aqui - Falei indicando o prédio. – Pelo menos é o que diz na lista da Preston.
— Deve ter um arsenal de pacotes lá dentro. Nem fodendo teremos tempo de procurar até que algum deles decida explodir.
— Uhn... vamos ver isso – Murmurei e então baixei meus óculos. Eles ficam presos encima da minha cabeça. É bem parecido com aqueles óculos protetores de paraquedistas, mas além disso eles também são raio-x.
Ao colocá-los, consegui ver o interior do prédio. Haviam vários escritórios e um centro de distribuição que ficava localizado em um enorme galpão bem atrás. Havia mesmo um arsenal de pacotes lá dentro, mas felizmente eu podia ver dentro deles. Ajustei os óculos.
— Consigo ver os pacotes daqui, só preciso encontrar nossas caixas-monstro... – Avisei um pacote com um vibrador enorme dentro. Dei uma risada. – Alguém vai se divertir bastante essa noite.
— Consegue mesmo ver daqui?
— Os visores são raio-x. Eles também ajustam a distância. Eu costumava usá-los quando era paga para alguns... trabalhos. Nunca errei um tiro.
— Maneiro - Wade comenta ao meu lado. Ele também estava debruçado no parapeito junto comigo. - Já usou pra ver alguém pelado?
— Já, uma vez. Foi uma decepção.
Respondi sem desviar os olhos do interior do galpão.
— Quem?
— Conhece Clint Barton?
— Gavião Arqueiro?
— É. Nos cruzamos na S.H.I.E.L.D algumas vezes. Não tinha muito o que ver.
Mordi meu lábio inferior enquanto me concentrava mais, passando de pacote para pacote. De repente Wade se mexeu desconfortável ao meu lado.
— Pensa em usar isso em mim?
Ele perguntou.
— Vai fazer algum comentário babaca sobre o tamanho do seu pau? – Questionei aínda sem olhar seu rosto. Eu poderia mesmo fazer isso, mas no momento estava mais ocupada procurando nossas caixas-monstro.
— Na verdade não, mas já que mencionou...
— Shiii... – Murmurei para que ele calasse a boca. – Acho que vi algo.
Com sorte, avistei as caixas no interior de um pacote endereçado ao Queens. Elas estavam em uma esteira seguindo em direção a um caminhão de entregas ainda estacionado. Não conseguia ver através do material que revestia as caixas, mas isso não é a prioridade agora. A prioridade é pegá-las antes que tudo vá para a puta que pariu.
— Achei!
Quase rosnei de satisfação. Levantei os óculos e os coloquei de volta no alto da cabeça.
— Precisamos ser rápidos, estão sendo mandadas para o Queens.
— Espera... – Ele apontou para um caminhão que tinha acabado de sair por uma das garagens. - Alí?
Abaixei o óculos de novo e encarei o caminhão.
Porra, como essa merda é rapida!
— Puta que pariu! – Xinguei. – É, aquele mesmo. Rápido!
Recuei alguns passos e então disparei em uma corrida para conseguir impulso. Saltei do prédio e utilizando as escadas de incêndio consegui mesclar com algumas acrobacias e chegar ao chão. Deadpool veio logo atrás de mim. Nós corremos velozmente e logo estávamos em meio ao trânsito agitado da hora do rush. Nunca alcançariamos o caminhão se continuassemos apenas correndo. Foi quando resolvi parar e pegar uma moto estacionada em frente a uma sorveteria. O dono dela estava com a namorada. Ooh... que romântico.
O clima de romance teen só não vai continuar depois que ele perceber que a moto dele sumiu.
Subi e gritei para Wade:
— Sobe!
Felizmente ele entendeu a necessidade daquilo e saltou na garupa. Wade ficou em pé atrás se mim e puxou uma das katanas das costas apontando para frente, gritando:
— Siga aquele caminhão!
Não demorei nem dez segundos para fazer a moto funcionar. Acelerei o motor em direção a avenida que logo se abriu em três pistas diante de nós. O caminhão estava bem mais adiante, mas não demoraria para alcançá-lo conforme vou acelerando cada vez mais. Principalmente se considerarmos que nem eu e nem Wade tem a menor inclinação para respeitar limites de velocidade, sinais de trânsito ou faixas de pedestres.
Acelerei ainda mais a moto, costurando entre os carros, avançando sem nenhum impedimento. Ainda assim estávamos quase perdendo o caminhão de vista. Isso não pode acontecer.
Pisei mais fundo, não me preocupando com os xingamentos obscenos dos outros motoristas quando passava na frente deles. Um Toyota freiou tão bruscamente que consegui ouvir o som das batidas sucessivas seguido pelo som de buzinas e gritos. Continuei acelerando sem desviar o olhar do caminho.
— Foi muito ruim? – Perguntei para Wade. Tentei falar mais alto do que o barulho do vento.
— Pra caralho! – Respondeu no mesmo tom. – Mas pelo menos nada explodiu.
— Já é o suficiente. Se segura!
Wade obedeceu e apertou minha cintura com os braços, mas eu duvido que seja para se proteger. Acredito muito mais que ele só esteja se aproveitando da situação para me acariciar. Vi uma oportunidade de sair por cima.
Literalmente.
Avistei uma rampa de manutenção no meio fio. Abri um sorriso que muitos chamariam de perigoso e dei uma virada brusca com a moto em direção a rampa. A moto passou a toda velocidade pela rampa e se lançou em direção ao céu.
Isso sim. Que momento! Me sinto em uma daquelas cenas congeladas de filmes de ação. A moto em pleno ar, a parte da frente estava empinada para cima, eu estava me segurando firme nos guidões sem tirar os meus olhos do alvo. Wade logo atrás de mim, brandindo a katana.
Cara, que falta faz uma explosão de fundo uma hora dessas.
Mas a falta de uma explosão não é um problema. Acho que mencionei sobre as alucinações, certo? Pois bem... tenho quase certeza que mencionei.
Minha mente está fazendo um ótimo trabalho em produzir uma explosão atrás de nós digna de um filme protagonizado pelo The Rock.
Como se a cena tivesse descongelado, senti o impacto do pneu traseiro quando a moto pousou encima de um caminhão de carga. O motorista deve ter se assustado pelo barulho, pois ele freiou abruptamente. Não parei para respirar e acelerei novamente. Agora estávamos indo por cima do trânsito, saltando de caminhão para caminhão. Nosso objetivo estava cada vez mais perto.
É claro que estou totalmente consciente de tudo atrás de mim. As batidas atrás de batidas. Os motoristas param imediatamente assim que a moto pousa encima de seus caminhões. O barulho deve ser como uma o de uma bomba. É como dizem por ai... os fins justificam os meios.
Será que é assim mesmo que se fala?
— Aí, Hazel! – Wade cutucou meu ombro.
— O que foi? – Perguntei eufórica. Estávamos tão perto.
— Temos companhia!
Isso me fez olhar. Virei o rosto e o vi. Vermelho, azul e preto. Estava se lançando de prédio em prédio e vindo exatamente na nossa direção.
— Reforços? – Perguntei.
— Dúvido! - Deadpool respondeu.
Felizmente ele foi rápido o bastante para arremessar sua katana na direção do caminhão. Estamos perto o suficiente para a lâmina atingir o pneu traseiro e perfurá-lo no hora. A katana se cravou alí e isso fez com que o veículo capotasse. Não tivemos muito tempo para articular nossa próxima ação. A moto foi atingida por alguma coisa branca, grudenta e gosmenta.
Qual é... eu sei o que estão pensando, mas não é disso que estou falando!
Eram teias.
O Homem-Aranha arremessou suas teias em nós. Ele envolveu a nós dois e a moto com a teia, como uma cesta. Depois nos deixou suspensos presos em um poste.
Tudo aconteceu muito rápido. Quando olhamos para a avenida, conseguimos captar o momento em que o caminhão do correio estava acabando de parar, depois de capotar por talvez uns 15 metros. A avenida inteira estava parada. A sucessão de acidentes provocadas anteriormente já havia fechado a via, mas esse definitivamente encerrou o expediente.
— Qual é o problema de vocês dois?!
Arregalei os olhos quando o Homem-Aranha gritou isso conosco. Olhei para Wade também preso.
— Estavamos em uma perseguição, Cabeça de Teia! - Ele retrucou.
— Perseguição? Vocês causaram mais de 10 batidas de carro pela avenida!
— Têm monstros naquele caminhão! – Justifiquei e tentei apontar com o queixo para o caminhão capotado. Tentei me desvencilhar das teias, mas é bem difícil. Acho que terei que cortá-las.
— Monstros? – Ele perguntou com descrença e olhou na direção apontada por mim. O fato de que não havia nada além de muito caos e gente gritando depois de bater seus carros não significou muita ajuda para nós.
— Sim! É por isso que estamos aqui – Wade confirmou.
— Não acredito em vocês.
— E por que não? – Perguntei indignada.
— Ele alucina – Ele respondeu indicando Wade com o polegar. – E você é maluca.
Eu rosnei.
— Se me chamar assim de novo...
Fui impedida de terminar minha frase. Naquele momento a parte de trás do caminhão explodiu. Da explosão, emergiram duas criaturas. Não sei se fico aliviada por não serem três ou extremamente puta por ainda estar presa nessa maldita teia e não poder fazer nada!
— Ainda acha que é alucinação?! – Wade questionou.
Homem-Aranha nos ignorou. Saltou imediatamente em direção a diversão e nos deixou ali, amarrados e impotentes.
— Filho da... – Wade começou a falar.
— Certo, vamos sair daqui - Falei o interrompendo. – Tenho uma faca no meu cinto. Não vou conseguir pegar, minhas mãos estão presas. Você consegue?
— É, consigo – Ele confirmou e então desligou sua mão entre nós dois. - Peguei!
— Esse aí é o meu peito! – Exclamei. – Mais para baixo.
Ele desceu mais a mão.
— Não! Aí não! mais para cima! – Mandei rapidamente quando a mão dele tocou outra parte ainda mais pessoal. Sua mão envolveu o cabo da faca e ele a puxou.
Depois que conseguimos nos livrar das teias, nós despencamos na avenida. Wade empurrou a moto para longe e assim que estavamos livres, corremos na direção dos Monstros. Homem-Aranha estava acertando teias aqui e alí, mas definitivamente lhe falta estilo.
O primeiro monstro era tipo um Godzilla, mas provavelmente do tipo que se compra no eBay. Claro que ele é gigante, mas não do tramando do Empire State. Eu sei, isso é decepcionante. O outro é mais parecido com um híbrido de sei lá o que com cachorro.
Bizarro até para os meus padrões.
Avancei primeiro contra o Godzilla da shopee. Puxei minha lança e comecei a atacá-lo do rabo para cima. O rabo é uma de suas defesas. Ele arrasta para todo lado ameaçadoramente, derrubando tudo e todos que passe por perto. As garras vieram em minha direção e ele conseguiu cortar meu antebraço. Isso me irritou o suficiente para decepar uma das patas. O sangue reptiliano respingou em mim, mas não me abalou. Não é como se eu já não estivesse acostumada com sangue.
Continuei correndo pelas escamas, subindo pelas costas, causando sempre o maior dano possível utilizando minha lança. Foi nessa hora que percebi a pata decepada ressurgir magicamente.
Ele se regenera.
Por isso o outro monstro não morreu quando o atravessei com a lança. O único jeito de acabar com eles é definitivamente com DDA. E está com o Wade. Não perdi tempo e cortei sua outra pata para atrasá-lo.
Deadpool e seu amigo - ou o que quer que a relação desses dois seja denominada - Aranha estavam tentando conter o outro monstro. Vi a luz piscante do DDA no coldre de Wade.
— Pool, a arma! - Gritei para ele. Ele entendeu rapidamente e enquanto usava suas katanas conseguiu arremessar o DDA para mim. Percebi que a arma foi para o lado oposto ao meu, então precisei correr, ainda escalando o monstro, e saltar para agarrá-la no ar.
— Puta mira de merda, hein?! – Gritei ofegante depois que rolei no chão e parei de joelhos segurando a arma com força nas mãos. Wade não respondeu, mas quando ouvi os sons de engasgo entendi o motivo. O monstro estava com a cabeça dele na boca enquanto Homem-Aranha saltitava envolta tentando salvá-lo.
Antes de tudo ir de vez para a puta que pariu, consegui mirar no Godzilla de Chernobyl e atirar nele. Imediatamente o largatão foi reduzido a gosma. Com o nanocatalizador aparentemente não corremos risco de regeneração. Me virei na direção de Wade e ajeitei minhas tranças antes de correr para salvar ele e o Soltador de Teias.
— Me ajuda a subir! – Gritei para o Homem-Aranha. Eu precisava chegar na cabeça da criatura. Ele não hesitou e nem perguntou sobre o meu plano, apenas desceu, pegou-me no colo e me puxou para cima logo em seguida.
— Onde? – Ele me perguntou.
— Na cabeça.
Homem-Aranha assentiu e me deixou onde pedi. Daquele lugar eu conseguia ouvir a sequência de maldições e profanidades que Wade soltava. Felizmente a coisa aínda não tinha engolido sua cabeça. A luz no DDA ainda não tinha reacendido, precisava de alguns instantes para estar pronto para disparar outra vez. Guardei a arma e apanhei minha lança.
Para não acabar machucando ou decepando algum membro de Deadpool por acidente, comecei a bater no monstro usando a parte que não era afiada.
— Seu... monstrengo... malvado...! – Xinguei com pausas, pois estava ofegante enquanto golpeava a cabeça dele. Acertei seu olho e ele finalmente abriu a boca. Um Deadpool todo babado despencou para o chão.
Esse era maior que o outro, muito maior. Ele começou a sacudir a cabeça para se livrar de mim e o vento forte não ajudava. A lança vôou da minha mão e foi parar no asfalto. Eu estava quase me desequilibrando do alto da cabeça dele e despencando em direção a avenida. Tentei me segurar em alguma coisa, mas não tinha nada na cabeçona que servisse de apoio.
Tentei me segurar nas orelhas, mas com um movimento repentino da cabeça não consegui me prender a tempo e fui arremessada. Olhei de um lado para o outro, procurando alguma coisa que conseguisse me agarrar...
— Peguei você!
Acho que nunca estive tão aliviada na minha vida por encontrar esse Cabeça de Teia. Ele me levou até o chão.
— Acho que é hora de usar isso aí – Ele indicou o DDA que finalmente estava piscando no coldre. Apanhei a arma e apontei para o monstro. O disparo foi único e preciso. Logo não restava nada além de gosma.
Guardei a arma e caminhei até onde minha lança estava abandonada no chão. Me abaixei para pegá-la e avistei a terceira caixa que estava no caminhão, mas que por alguma razão não explodiu como as outras. Eu a peguei também, mas antes que tivesse tempo de examiná-la melhor, Wade se aproximou.
— O que houve com a sua mão? – Perguntei. Não havia mais mão, na verdade. Só restará o antebraço.
— Acredita que aquele lambe bolas desgraçado engoliu? Acho que estava com fome – Ele respondeu.
— Se eu fosse um monstro preso em uma caixa também estaria – Dei de ombros e apoiei a lança no ombro. A parte boa é que cresce novamente.
Ouvimos o som suave dos quinjets da S.H.I.E.L.D enquanto eles se aproximavam pelo ar. Quando pousou, vimos a agente Preston descer e caminhar duramente em nossa direção. Ela não parecia feliz, mas como já devo ter mencionado antes... ela nunca parece feliz.
— Que porra vocês fizeram?
Ela deve ter se controlado muito para não gritar, mas eu consigo ver suas veias saltarem no pescoço.
— Nós vencemos! – Wade ergueu as mãos em comemoração. Quero dizer... a mão.
— Venceram? Venceram?? - Seu autocontrole parece ter sumido. – Uma avenida inteira com mais de 3km interditada. 17 batidas de carros. Nós ainda nem contamos os mortos. Vocês fazem ideia do que fizeram?
Registrei rapidamente o fato de que Homem-Aranha não estava mais conosco. O safado sumiu antes que a barra sujasse para nós. Provavelmente está bancando o herói da vizinhança ajudando as vítimas do acidente. Coisa que eu estaria fazendo caso não estivesse levando essa bronca bem agora.
— Nós estávamos em uma perseguição, Em – Wade justificou. – Tinha o caminhão e as caixas, uma moto e depois...
— Chega! – Ela rosnou e isso o silenciou. – Eu sabia que essa coisa toda era um erro. Não devia ter pagado para ver como iria termina. Vocês dois juntos? Que grande merda.
— Qual é, Preston? – Perguntei. – Não podemos ser assim tão ruim.
— Qual de vocês deu uma granada para uma criança de 2 anos? – Ela questionou entredentes.
— Foi ele – Apontei meu polegar para Wade sem pensar nem por um segundo.
— Ei! – Ele exclamou em protesto. – Cadê a camaradagem?
Eu encolhi os ombros como se dissesse que sentia muito por tê-lo dedurado. A verdade é que eu não sentia.
— É isso. Acabou! – Preston continuou. Pela primeira vez em muito tempo eu sentia que ela falava sério. Tipo... sério mesmo! Ela nos fitava com tanta frustração e decepção que eu não sabia como reagir. – Toda essa bagunça que vamos ter que resolver...
— Mas foi por isso que você nos chamou – Wade interrompeu. – Você sabia que fariamos desse jeito. A S.H.I.E.L.D não vai ser responsabilizada, nós seremos.
— Existem consequências, Wade! – Ela rosnou. – Eu sei que nenhum de vocês dois da a mínima, mas elas existem. Mesmo sem a associação com a S.H.I.E.L.D, de quem vocês acham que o governo cobrará uma posição?
Nós não respondemos. Talvez seja a queda de adrenalina, mas estou começando a me sentir dolorida. Principalmente na cabeça. Então tudo o que Preston está falando tem soado meio flutuante. Acontece que as palavras seguintes dela foram o suficiente para me arrastar de volta para a realidade.
— Você dois estão demitidos.
Demorei meio segundo até absorver as palavras dela. O queixo de Wade quase despencou, acho que a máscara o manteve no lugar.
— Demitidos tipo... demitidos da missão, certo? – Ele perguntou. – Como um castigo?
— Demitidos do tipo demitidos. Vocês não fazem mais parte do quadro de agentes da S.H.I.E.L.D – Ela afirmou e então se voltou para mim, estendendo sua mão. – O DDA.
— Preston... – Eu comecei, mas fui interrompida por ela.
— Agora, Hogan – Ela ordenou.
Comecei a tirar a arma do coldre.
— Mas... se estou sendo demitida da S.H.I.E.L.D significa que vou voltar para a...
— A arma, agente Hogan. Agora! – Ela me cortou novamente, parecendo inabalável e irredutível. Eu engoli em seco e entreguei a arma para ela. É maluco como uma mulher pequena e franzina daquele jeito é capaz de fazer alguém como eu calar a boca.
Ela pegou a arma cuidadosamente e deu as costas para nós, seguindo em silêncio de volta ao quinjet. Quando os transportes da S.H.I.E.L.D desapareceram no céu, eu e Wade nos viramos um para o outro.
— Fomos mesmo demitidos – Murmurei.
— Eu nem sabia que isso acontecia.
— E agora, Wade? – Perguntei, sentindo um peso no estômago.
— Vamos embora daqui – Ele resmungou, balançando o cotoco do braço decepado. – Essa porra está doendo e eu preciso de drogas.
Concordei com a cabeça e apoiei minha lança no ombro. Cabisbaixos e sem qualquer ânimo, nós atravessamos a avenida caótica deixando o local.
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