𝗧𝗛𝗥𝗘𝗘
WADE sugeriu que fossemos para o apartamento dele. Ele precisava de analgésicos e eu de recalcular rota. O lugar com toda certeza não era dos melhores, mas eu não sou ninguém para opinar. Já morei em lugares muito piores do que esse.
Assim que cruzamos a porta, Wilson ele se livrou das botas pretas do traje e se enfiou em um par de crocks rosa.
— Sério? – Ergui uma sobrancelha.
— Qual é? Eles são confortáveis para caralho – Ele se justificou. Depois se permitiu cair em uma poltrona surrada e gemeu como um velho com as juntas travadas.
— São pavorosos... – Fui cortada por alguém.
— De quem é essa voz? Trouxe outra prostituta, Wade? Não são nem quatro horas.
Uma velha surgiu vindo de algum cômodo atrás de nós. Ela era negra e usava óculos escuros. A cabeça era branca como neve, nenhum fio escapava.
— Como você sabe? Não pode ver as horas – Ele rebateu.
— E eu não sou prostituta – Acrescentei.
— Tem a voz de uma – A mulher disse.
Me virei para Wade, gesticulando com a boca "voz de prostituta?". Ele deu de ombros.
— Você se daria muito bem se fosse uma – Ele deu de ombros.
— Se não é prostituta então me apresenta a moça, seu escroto – A velha mandou.
— Aah, ta bom. Hazel, essa é a velha cega e viciada em drogas com quem eu divido meu palacete, Al Cega. Al, essa é Hazel Hogan, uma ex-presidiária, mas que logo deve voltar a ser atual presidiária.
Eu revirei os olhos e me encostei na parede. Acabei escorregando e me sentando no chão. Estava cansada, dolorida e meu braço estava sangrando devido ao corte que aquele monstro ridículo fez.
— Ex-presidiária? – Ela perguntou sobressaltada. – Quê tipo de gente você anda convidando pra vir aqui?
— Não muito diferente da laía dele – Eu resmunguei. Estava mexendo distraidamente naquela caixa que recuperei do acidente. Nenhum sinal de vida. Nenhuma luz piscando ou rachadura. Isso é tão esquisito.
— Relaxa, ela trabalha pra S.H.I.E.L.D – Ele disse por cima do ombro enquanto procurava alguma coisa em umas gavetas de uma cômoda ao lado da poltrona. – Ou trabalhava, né? Ooh... assunto sensível. Se bem que eu acho que agora não faz muita diferença.
— Você nunca para de falar? – Perguntei irritada. Certo, eu sei que falo demais e já irritei muita gente com isso, mas ele está conseguindo me irritar. Será que ele não dá a minima para a situação que estamos agora?
— Têm que ver quando ele se masturba. É bem pior – Al reclamou.
— E têm como ser pior que isso?
— Ei! – Wade exclamou por cima do ombro. – É da minha intimidade que estão falando.
— Eu sou cega, não surda! Mas sendo honesta, as vezes eu queria ser.
Ele não respondeu, apenas se sentou novamente e tomou alguns comprimidos de uma embalagem de remédios laranja que ele havia encontrado em uma das gavetas.
— Como está o... braço?
Perguntei, deixando a caixa de lado por um momento.
— Ah, de boa. Ele vai crescer outra vez. Essa é uma das vantagens da regeneração. Mas ainda dói pra caralho – Ele respondeu.
— Isso é maneiro... você sabe, conseguir se curar – Falei. Peguei a embalagem de remédios que ele deixou de lado e tomei dois. Os cortes e escoriações estavam doendo como o inferno.
— Eu ainda preferia a vida pré-projeto Arma-X. Não tinha regeneração, mas tinha dignidade.
Eu o encarei brevemente e percebi que ele não tinha tirado a máscara mesmo agora que estávamos na casa dele.
— Por que não tira isso? – Indiquei a máscara. – Vamos lá, mi casa es tu casa. Fica á vontade.
— Ah, você não vai querer vomitar seu café da manhã logo agora – Ele falou em tom de humor, mas eu percebi que só estava tentando se esquivar.
— Relaxa, Wade. Eu já devo ter visto coisas bem piores.
— Eu não teria tanta certeza.
— Tira logo a máscara!
Ele hesitou por alguns segundos, mas então pareceu se decidir. Wade puxou a máscara e revelou o rosto inteiramente marcado por cicatrizes. Não tinha cabelos ou sobrancelhas. A pele parecia ter tido uma briga com um cortador de grama e perdido feio.
— E então? – Ele perguntou soando levemente inseguro.
— É mesmo muito horrível, mas é com eu te disse. Já vi coisas bem piores – Falei e isso não é uma mentira só para fazê-lo se sentir melhor. Normalmente eu não dou a mínima para os sentimentos alheios.
Mas com ele está sendo diferente.
— Onde?
— Necrotério, eu acho.
Ele bufou e estava colocando a máscara novamente.
— Não, não precisa colocar de novo – Falei. – Tá de boa. Algumas pessoas são feias por dentro e outras por fora. Você não tem que se envergonhar disso.
Isso pode parecer cruel, mas é eu me esforçando de verdade para ser legal. Não sou muito boa nisso como podem ver.
— É fácil para você dizer. Você é gostosa.
Eu cruzei as pernas e olhei para o chão.
— Quando falei sobre algumas pessoas serem feias por dentro, eu estava falando sobre mim – Murmurei. – Já me disseram isso algumas vezes.
— Ooh... esse é o momento dramático do enredo? – Wade perguntou. – Sabe, aquela parte onde os heróis estão fodidos, então eles sentam para lamber as feridas e conversam sobre seus traumas?
— É, acho que sim. Fomos demitidos. Você perdeu metade do seu braço e não vai receber seu dinheiro. Eu vou ser presa. Acho que estamos mesmo fodidos.
— Ah, para mim deu. Você e a sua garota maluca podem ter o seu momento, eu vou tomar a coisa mais forte que eu achar e torcer pra morrer durante o sono.
Al Cega, que ainda estava no cômodo até então, começou a se afastar de volta para corredor de onde ela tinha vindo.
— Eu não sou maluca! – Exclamei para a velha enquanto ela se afastava. Meu tom subiu um pouco ficando quase estridente.
Me levantei do chão e me joguei no sofá ao lado da poltrona onde Wade estava. Soltei um suspiro. Ele estava me encarando.
— Foi mal... eu só odeio quando usam a palavra com "M" – Falei.
— Mulher? – Ele perguntou. Eu franzi as sobrancelhas.
— Não – Neguei. – Eu tava falando de maluca.
— Oh, que bom. Eu não quero ter que dizer isso, mas você estaria sendo meio misógina.
Revirei os olhos, mas não disse mais nada.
— Sou chamado de muitas coisas que eu não gosto também – Ele acrescentou. – Qual o problema com maluca?
— Meu pai sempre chamava minha mãe desse jeito. Eu me lembro que eles brigavam tanto... no começo eu era pequena e eu só me lembro dos berros – Eu ainda ouço as vozes. É como se estivesse ecoando na minha memória "maluca... sua maluca...". – Ela era borderline. Então quando eles brigavam e ele ia embora, ela me usava para trazer ele de volta. Quando não conseguia, ou depois quando estava mais velha e eu me recusava a fazer o que ela mandava...
Fiz uma pausa. Não porque era um assunto difícil de se falar, mas porque as memórias haviam tomado minha mente naquele momento e agora eu me encontrava na sala de casa. Tinha 6 anos de novo. Minha mãe gritando no telefone, dizendo que se mataria se ele não voltasse. Pior... dizendo que entraria em um carro comigo no banco de trás e nos jogariam em um rio. Meu pai não cedeu. Eu sabia que ele não tinha cedido porque ela ficou ainda mais exaltada quando se aproximou de mim com o telefone nas mãos.
"— Diga a ele, Haz... diga a ele que você sente saudade. Que não quer ficar sozinha. Diga que ele precisa voltar!"
Ela empurrava o telefone para mim, mas eu neguei. Eu não queria fazer isso. Não era por mim, e sim por ela. Ela rosnou furiosa e nem se deu ao trabalho de desligar o telefone antes de começar a me bater com o aparelho uma série de vezes bem na minha cabeça.
Dedos estalando diante dos meus olhos me arrancaram daquela maldita alucinação. Deadpool estava me fitando de muito perto com a cara feia à centímetros da minha.
— Quando você chegou tão perto? – Perguntei.
— Você estava tendo uma alucinação da sua infância não estava? – Wade perguntou, ignorando meu questionamento.
— Isso acontece as vezes – Confirmei desviando os olhos.
— Tudo bem. Comigo isso também acontece – Ele se afastou e se sentou na poltrona outra vez. – Meu pai era militar e um filho da puta bêbado. Qualquer coisa que eu dissesse ou que eu não dissesse era motivo para uma boa surra no final de um dia de bebedeira. Eu cheguei a desejar que olhos roxos virassem tendência de primavera uma época.
— Eu diria que sinto muito, mas essa merda não consola ninguém.
— Não mesmo – Ele deu de ombros. – Quando aceitei entrar no projeto Arma-X, eu pensava que nada pior do que a morte poderia acontecer depois da vida de merda. Eu seria curado ou morreria de câncer. Mas eles me mostraram que o inferno pode ser muito mais quente.
— E então você se tornou o Deadpool.
— Então eu me tornei o Deadpool – Ele confirmou. – E como você se tornou quem é agora?
— Acho que eu sempre estive destinada a estar no grupo dos caras maus – Comecei com desânimo. – Ninguém nunca esperou nada de bom vindo de mim. Nem meu pai.
— Daddy issues?
— Acho que podemos chamar assim. Qando minha mãe foi presa por tentar me matar e ele foi obrigado a ficar comigo, eu não era nada além de um fardo que ele não queria carregar e que lembrava o tempo todo de uma pessoa que ele odiava. Tudo o que ele fazia era me dizer o quanto eu me parecia com ela e o quanto queria se livrar logo de mim. Então eu fugi de casa aos 13 anos e comecei a me virar sozinha. Os roubos e os assassinatos por dinheiro vieram aos 16. Eu tinha talento, era o que as pessoas nas ruas diziam.
Fiquei de pé, de repente me sentindo desconfortável. Nunca falei sobre isso com ninguém. Wade também se levantou.
— Sabe, você não é assim tão feia por dentro como dizem – Ele falou. – Você evitou que o monstro engolisse minha cabeça. Claro que eu não morreria, mas eu ainda sinto dor. Ter a cabeça arrancada e mastigada é uma coisa que eu não quero ter que passar de novo.
— Aquilo não foi nada. Somos parceiros e eu não deixaria aquela coisa engolir sua cabeça mesmo que crescesse três no lugar.
Eu cruzei os braços e me encostei na parede.
— Além disso, não faz mais diferença. Eu vou voltar para alguma prisão do governo onde eles vão me trancar em uma solitária qualquer. Acho que eu deveria mesmo era começar a pensar em para onde eu posso fugir.
— Não vai precisar fugir se reconquistar seu emprego na S.H.I.E.L.D.
— Já via a agente Preston fula da vida muitas vezes, mas não tanto quanto hoje, Wade. Ela não vai nos recontratar nem fodendo.
— Ela vai – Ele afirmou. – Se lervamos até ela a pessoa que está programando as caixas.
Eu ergui uma sobrancelha.
— Continue – Incentivei.
— Você também percebeu, não foi? As caixas são acionadas remotamente. É como se estivessem sendo programadas para explodir, mas algumas falham. Tipo essa.
Ele indicou a caixa no chão. Eu me abaixei e a peguei rapidamente. Examinei ela melhor.
— E a da creche também. Alguém deve estar emitindo algum sinal – Murmurei. – Mesmo que defeituoso. se rastrearmos...
— Chegamos até o chupa rola que está fazendo esse estrago todo – Wade concluiu, parado ao meu lado. Quando ele chegou tão perto?
— E então arrastamos ele até a Preston. Vivo ou morto – Afirmei.
— Vivo ou morto – Ele repetiu minhas palavras. Alguns segundos se passaram e Wade murmurou: – Isso está te deixando tão excitada quanto a mim?
Virei minha cabeça para ele.
— É, está sim – Falei olhando-o.
— Essa é a hora que eu beijo você ou eu devo esperar algum sinal? Todo mundo fala desse sinal, mas como eu vou saber realmente? As vezes a linha entre o assédio e o flerte pode ser tão tênue...
— Cala a porra da boca, Wade – Falei. Estou surpresa. Essa é a primeira vez que eu preciso mandar alguém calar a boca.
Com uma mão na nuca dele e a outra na cintura, eu o virei e juntei nossos lábios. Wade se inclinou para trás, como uma donzela, e retribuiu o beijo. Seus lábios são ásperos, mas não acho isso ruim. Ele colocou a mão que ainda existia no meu rosto e a outra que era apenas o cotoco do antebraço ficou pendendo ao lado do corpo.
Endireitei meu corpo e me ergui novamente, Wade também ficou de pé.
— Atitude. Gostei – Ele disse.
— Então fala aí – Segurei a mão dele que aínda existia. – Onde é seu quarto?
Ele apontou com o cotoco para a direção certa e eu comecei a rebocá-lo.
— Pensei que tivesse dito no capítulo 1 que não íamos transar.
— Não consideraria muitas coisas que digo. Metade delas eu me esqueço pouco depois e a outra metade costuma ser alguma mentira – Falei. – Tipo quando eu disse que não era prostituta.
— Espera... o quê?!
— Além disso – Eu o empurrei para dentro do quarto. – Temos que fazer alguma coisa enquanto esperamos sua mão crescer de novo.
— Seus argumentos são irrefutáveis.
Fechei a porta quando passamos por ela e pulei em seu colo. Comecei a beijá-lo e Wade imediatamente retribuiu.
EI, SEUS pervertidos! Pensaram que iam ter uma boa cena quente agora, não foi? Pois é, como foi avisado lááá no início, não vai rolar isso por aqui. Apesar de sermos red deixamos o tube por conta de vocês. Mas se estiverem mesmo muito curiosos, eu posso adiantar que nossa performance fez com que a Al Cega resolvesse que também queria ser surda.
Voltando ao enredo...
Wade nos teleportou até uma base secreta no Canadá. Segundo ele, lá nós teríamos um computador foda que iria nos ajudar a rastrear de onde estava vindo o sinal que ativava as caixas.
— De quem é esse lugar? – Perguntei examinando o local com olhos curiosos.
— Era o antigo laboratório onde fizeram os experimentos da Arma-X – Wade respondeu e então chacoalhou o corpo. – Ainda tenho arrepios.
— Parece novo demais para ser um laboratório velho e abandonado.
— A S.H.I.E.L.D reformou, faz parte do esquema de base secreta deles agora.
— Então estamos invadindo uma base da S.H.I.E.L.D? – Ergui uma sobrancelha.
— É, parece que estamos.
Chegamos até os computadores. Isso aqui é tecnologia de ponta e com toda certeza vai nos ser muito útil.
— Ahn... você sabe como fazer isso, não sabe? – Wade perguntou ao parar do meu lado. – Eu não do tipo nerd, então...
— Relaxa, eu sei o que fazer – Falei. Estralei meus dedos e comecei a trabalhar.
Me concentrei naquilo que estava fazendo e, por incrível que pareça, eu estava muito queita e focada. Wade estava quase empoleirado encima de mim tentando ver por cima do meu ombro o que eu estava fazendo.
— Conseguiu?
Perguntou.
— Aínda não.
O som dos meus dedos nos teclados haviam dominando o laboratório silencioso. Isso e o som da respiração dele no pé do meu ouvido eram as únicas coisas que podiam ser ouvidas durante alguns instantes.
— E agora?
— Aínda nada.
Silêncio outra vez. Ouvi um barulho estranho atrás de mim e percebi que era Wade fazendo um som esquisito de impaciência com a boca.
— Têm mesmo que ficar fazendo isso? – Perguntei.
— Isso o quê?
Imitei o som que ele estava fazendo.
— Uh, que barulho irritante para de fazer isso – Ele disse.
— Qual é o seu problema? – Questionei. Antes que ele me desse qualquer resposta, ouvimos um apito vindo do computador. – Uhn... acho que encontramos alguma coisa.
Lancei os dados encontrados em um mapa dos Estados Unidos. O sistema começou a rastrear as coordenadas que foram emitidas depois que o sinal que a caixa recebia e enviava foi captado. As coordenadas começaram a nos levar para algum lugar...
— Chinatown – Wade apontou para a tela. – Esses caras estão acionando remotamente caixas-monstro de dentro de um restaurante Chines?
— Não sabemos se é um restaurante Chines. Pode ser alguma base secreta no sub... – Wade clicou encima do ponto vermelho e uma imagem aérea do local foi aberta. – É, é um restaurante Chines.
— Eu to mesmo cheio de fome. Não parece ser uma idéia ruim.
Arrumei as armas no meu cinto. Senti falta do DDA, aquela coisa ia ser bem útil agora.
— Não estamos indo comer lámen, estamos indo caçar terroristas e reconquistar nosso emprego.
Eu o repreendi.
— Eu posso fazer as duas coisas tranquilamente.
Wade esticou os braços e eu saltei em seu colo. No segundo seguinte nós estávamos na calçada dos fundos do restaurante. O cheiro naquele lugar é horrível. As latas de lixo abarrotadas fediam a peixe podre. Desejei ter uma máscara assim como Wade.
Seguimos para a porta dos fundos mesmo. Seria melhor para invadir. Não é como se tivéssemos realmente arquitetado um plano. Mas as portas do fundo parecem mesmo a melhor opção se queremos apanhar alguém de surpresa.
Chutei a porta com força e ela se abriu de uma vez. Quando entramos, percebemos que não era só uma porta dos fundos e sim a porta da cozinha. Assim que colocamos os pés para dentro pelo menos oito pessoas viraram a cabeça na nossa direção.
— Ooh... – Murmurei.
— Deixa, eu cuido disso – Wade tomou a dianteira e realmente começou a falar: – 鸡肉馅饼配酱油和姜。
Eu o olhei impressionada.
— Você fala chinês?
— Eu faço muitas coisas – Respondeu prepotente.
Os funcionários aínda estavam encarando a gente com diferentes expressões de incompreensão e confusão.
— Uhn... o que você disse para eles?
Perguntei.
— O motivo pelo qual estamos aqui.
— Que viemos atrás dos terroristas que estão enviando caixas-monstro por toda a cidade para detê-los e recuperar nossos empregos em uma agência global secreta de segurança?
— Ahn... sim! Isso mesmo. Foi exatamente isso que eu disse para eles.
De repente, o que pareciam ser inofensivos funcionários em situação ilegal no país e com carga horária abusiva, acabaram se mostrando um pouco mais. Um deles puxou uma faca do cinto e gritou alguma coisa em chines para os outros. Imediatamente todos estavam pegando alguma coisa para usar como arma.
— O que foi que ele disse? – Pergunto para Wade.
— Arroz com mariscos? Eu não faço a menor idéia.
— Como assim? Você disse que falava chines!
— Eu disse que falava, não que entendia.
Eles estavam se aproximando de nós agora.
— Devemos machucá-los? – Perguntei.
— O código de ética do herói diz que nenhum civil deve ser ferido. Não seria uma luta muito justa – Wade falava enquanto levava uma mão até o cinto e pegava uma das pistolas. – Mas por outro lado eles são do país do Karatê Kid então quem sabe o que eles podem fazer.
Deadpool apontou a arma para cima e disparou no teto. Uma nuvem de poeira e gesso se espalhou pelo lugar e junto com ela exclamações assustadas. Eles largaram as facas e espetos de churrasco que estavam segurando e se dispensaram pela cozinha apertada.
No meio do caos, Wade me puxou com ele até uma outra porta lateral nos fundos da cozinha. Eu não estava conseguindo enxergar direito por conta de toda aquela fumaça, mas ele tinha novamente a vantagem de máscara que protegia os olhos dele. A portinha era bem escondida e só alguém que fosse bem atento ou que por acaso estivesse procurando por aquilo iria encontrar. Passamos por ela e ele bateu a porta atrás de nós.
Estávamos no topo de uma escadaria.
Wade desceu na frente. Peguei uma das minhas pistolas e deixei pronta para o caso de precisar disparar. Estava tudo em absoluto silêncio e a luz por enquanto era muito baixa. Não somos nuito bons en chegar de fininho, com certeza você já percebeu isso, mas estávamos fazendo um ótimo trabalho agora.
Ao final da escada, tudo se abria em um laboratório meio oficina.
— E não é que tinha mesmo um laboratório subterrâneo – Wade disse impressionado.
Ainda estava muito silencioso. Não era um espaço muito grande e estava apinhado com tralhas e bugigangas. Os únicos ruidos que escutavamos eram das máquinas. Estavamos na metade do laboratório quando a porta encima da escada foi aberta com um estrondo e fez nós dois saltarmos de susto. Wade pulou no meu colo.
Havia pelo menos sete caras, o que não é nada que me preocuparia. Eles estavam armados e com certeza não eram chineses. Eu reconheci o símbolo da H.Y.D.R.A. na roupa. É claro que é a H.Y.D.R.A., né? Quem mais seria além dos caras que estão em todas as histórias da Marvel enchendo a porra do saco o tempo todo. Eu nem deveria estar surpresa, acho que se pensasse com um pouco mais de coerência não teria levado 3 capítulos para descobrir os imbecis que estavam por trás de tudo.
Joguei Wade no chão e ele resmungou um “Ai!” antes de se levantar e fazer expressão de durão.
— Então são os manos da H.Y.D.R.A? Deveria ter desconfiado – Ele disse para os homens que estavam descendo as escadas e apontavam armas para nós.
O que parecia ser o chefe estavam na frente. Ele apontou a arma para mim.
— Eu sei que nele isso não vai surtir efeito, mas em você com certeza vai – Ele me encarou nos olhos.
— Acha que essa vai ser a primeira vez que atiram em mim? – Perguntei. – Você pode até tentar, mas eu não sou muito fácil de matar.
Wade levou as mãos até as katanas nas costas.
— Onde conseguiram o meu DNA?
Ele perguntou. Eu o olhei sem entender muito bem o que ele estavam querendo dizer, mas o cara da H.Y.D.R.A entendeu.
— Temos um banco de dados muito grande – Falou com um sorriso cínico.
— Arrumaram com o cara dos cachorros, não foi? – Wade estava desembanhando as lâminas.
O homem fez uma pausa e deu de ombros.
— É, e com aquela coisa bizarra que ele inventou com a sua cabeça.
— Dick e Jane?
— Eles mesmos.
— O quê é isso? Um filme pornô? – Perguntei.
Antes que qualquer um dos dois dissesse qualquer outra coisa que a mim ou vocês aínda mais confusos do que já estavamos com toda aquela história sem pé nem cabeça, o cara atirou. E atirou em mim.
Deadpool foi muito mais rápido do que eu imaginei que ele conseguisse ser e terminou que puxar a katana. Ele acertou a bala com a lâmina e interceptou o tiro. Faíscas do contato da bala com o metal voaram perto do meu rosto e me fizeram recuar.
Encarei o atirador.
— Você atirou mesmo na minha cara? – Perguntei perplexa.
Tudo bem se fosse no peito. Sei lá, ele queria me matar. Falando como alguém que já mandou muita gente para o outro lado, um tiro no peito costuma ser bem efetivo. Mas um tiro na cara nunca é garantia de morte. Ele ia me deixar feia pelo resto da minha maldita vida?!
Sua reação foi atirar outra vez. Outro tiro que foi aparado pela lâmina da katana de Wade. Os agentes também começaram a atirar e sabendo que Deadpool não conseguiria segurar todos, eu me joguei atrás de uma mesa para usar como escudo e peguei minhas armas. Também comecei a atirar contra eles. Eu sou uma atiradora muito melhor, então é claro que eu acertei dois deles com apenas dois tiros. O primeiro foi na garganta, morte imediata, o outro no peito. Os dois caíram.
— Ta vendo? É assim que se mata alguém.
Gritei por cima do barulho das balas sendo disparadas.
Eles pararam de atirar, estavam sem munição. Saltei por cima da mesa e volto para perto de Wade que havia se defendido de todos os tiros com suas katanas.
— Qual o lance do DNA? – Perguntei enquanto substituía as armas pela lança.
— Eles usaram meu DNA para criar os monstros – Ele deu de ombros. – Eu deixo muitas partes minhas espalhadas por ai, nem é assim tão difícil de conseguir.
Os agentes que sobraram começaram a vir na nossa direção. Girei com agilidade e acertei minha lança na lateral do corpo de um deles, atingindo sua costela e o fazendo tropeçar até cair.
— Então eles são tipo seus filhos? – Perguntei.
— É uma boa colocação.
— Pensando melhor, acho que realmente havia alguma semelhança. Principalmente no Godzilla.
Deixando um pouco o bate-papo de lado, voltei a lutar contra os agentes que ainda estavam de pé. Deadpool também e se mantinha na minha retaguarda. Eu estava tão absorta na pancadaria que nem me dei conta de uma coisa extremamente óbvia.
Os sinais para as caixas-monstro eram emitidas desse laboratório. Eles podem estar emitindo sinais neste exato momento. Nem fazemos idéia de quantas daquelas caixas ainda podem estar espalhadas por aí ou de onde podem estar. Até onde consigo pensar, um asilo cheio de velhinhos ou um hospital com pacientes terminais pode estar recebendo uma visita nada agradável agora mesmo.
Parei de lutar e mudei meu foco para os computadores. Parece uma base improvisada. Bom, com toda certeza é uma base improvisada. Por que a H.Y.D.R.A armaria um plano como esse? Curtição? Sei lá, esses caras são malucos, não dá pra saber porque eles fazem as coisas que fazem.
— Hazel?
Deadpool me chamou, percebendo que eu estava parada.
— Continua batendo, eu tenho um plano para acabar com isso! – Exclamei ao sair correndo em direção as máquinas.
O plano era quebrar tudo, é claro.
Vamos pensar um pouco. Que tudo isso for transformado em sucata, o sinal vai ser cortado. Ou seja? Sucesso na certa.
Comecei a bater com a lança nos painéis, monitores e toda àquela parafernália espalhada por alí. Alarmes soando e luzes piscando avisando sobre erros no sistema eram como música para os meus ouvidos cansados.
— O que ela está fazendo? – Ouvi o chefe deles gritando. – Sua maluca do caralho...
Eu parei imediatamente o que estava fazendo. Foi como se todos os membros do meu corpo tivessem endurecido. As imagens que tomaram minha mente eram as do meu pai, me chamando exatamente assim.
— Ooh, cara... – Wade assobiou. – Agora você está mesmo muito fodido.
Eu me virei na direção dele. Era o único de pé. Wade tinha dado conta dos três que tinha sobrado.
— Não me chama de maluca, seu filho da puta! – Gritei furiosa. Na verdade, ele foi o azarado. Esse cara foi o terceiro que me chamou assim hoje, e agora eu vou ter o prazer de comer o cu dele e descontar pelos outros.
Eu corri em sua direção e finquei a ponta da lança no chão usando como uma vara de salto acrobático. Me lancei em sua direção e acertei seu peito com os meus dois pés. Ele não deve muito tempo para se segurar e foi arremessado para trás batendo contra uma parede. Puxei a lança do chão e me aproximei dele. Ele ainda tentou me acertar um soco, mas quando recebeu um chute no queixo e todos escutamos seu osso estalar, o mesmo desistiu na hora.
— Isso foi uma baita reação desproporcional – Wade apareceu atrás de mim aplaudindo. – Mas os golpes foram ótimos.
Com um último movimento, cravei a ponta da lança no tecido da camisa dele o prendendo na parede.
— Obrigada, eu prático muito – Agradeço.
Ouvimos som de passos nas escadas e nos viramos rapidamente na direção da entrada do laboratório.
— Agente Preston? – Perguntei surpresa ao ver a mulher descendo os degraus de metal. Atrás dela vinha um grupo de agentes e... – Capitão América?!
Preston chegou ao final das escadas e cruzou os braços enquanto nos encarava seriamente. Ao lado dela agora estava em toda a sua glória, azul, branco e vermelho, Capitão América.
Se isso fosse uma história em quadrinhos, vocês veriam corações nos meus olhos.
— Qual hidratante você acha que ele usa? – Wade cochichou para mim, me lembrando da existência dele.
— Wade Wilson e Hazel Hogan, que grande erro foi juntar vocês dois... – A agente começou a falar, nos fazendo ficar quietos. Ela fez uma pausa dramática pontuada por um suspiro. – E que erro maior foi dispensá-los.
Eu troquei olhares com o cara de vermelho do meu lado. O que ela queria dizer?
— Uhn... como nos encontrou aqui? – Perguntei.
— Colocamos um rastreador em você – Ela deu de ombros. – Além disso, detectamos um sinal de alerta enviado para a polícia. Eles receberam um chamado para um tiroteio acontecendo em um restaurante chinês. Tive o pressentimento de que estavam envolvidos.
Eu apontei para o Capitão que estava parado como uma estátua.
A estátua mais gostosa que eu já vi.
— E ele?
— Suspeitamos do envolvimento da H.Y.D.R.A – Ele respondeu e nos olhou por alguns instantes. – Vocês encontraram o esconderijo deles e fizeram um bom trabalho.
Ok, se isso fosse uma história em quadrinhos vocês veriam corações flutuando envolta da minha cabeça.
E muito provavelmente na de Wade também.
— Obrigada, Capitão – Agradeci com uma reverência.
Ele se afastou e foi na direção dos outros agentes da S.H.I.E.L.D que estavam tentando soltar aquele imbecil da parede. Ele teve sorte da lançar ter atravessado só a camisa.
Me voltei para Preston.
— Nós os pegamos – Falei. – E detonamos a maquina que acionava as caixas.
— E sem nenhuma morte – Wade disse orgulhoso. – Bom, quase nenhuma.
Ele acrescentou.
— Fomos até elogiados pelo Capitão América!
Continuei.
— Acho que isso implica em uma recompensa – Wade finalizou.
— Essa é uma grande idéia, Senhor Pool – Fiz sinal de positivo com os dedos e me virei para Preston.
A mulher pressionou os dedos nas têmporas.
— Certo, vocês estão recontratados, mas ouçam bem...
Ela acabou sendo interrompida por mim quando saltei encima dela para a abraçá-la. Ela não esperava por essa. Ela também não esperava que Wade fosse saltar por cima de nós também para abraçá-la.
— O que estão fazendo? Saíam já de cima de mim, imbecis!!
— Desculpe – Falei. – Você sabe, é que amo não estar na cadeia.
— E eu me deixei levar pelo momento.
Ela ficou de pé e espanou as roupas tentando ficar apresentável.
— Saibam que estão no meu radar, entenderam? – Ela apontou para nós. – Qualquer merda que fizerem, eu vou vir atrás de vocês como um cão farejador que vai morder as suas bundas.
— É como uma mãe preocupada – Wade suspirou ao meu lado.
— Entendido, chefe! – Eu levei uma mão até a cabeça, fazendo uma continência.
Ela olhou envolta, vendo a bagunça feita no laboratório, os computadores destruídos e os dois caras mortos. Os outros só estávamos machucados. Muito machucados.
— Eu não vou gostar da resposta, mas... – Ela indicou os corpos baleados no chão.
— Legítima defesa – Respondi.
— Vou aceitar essa sem questionar. Foi um dia longo e eu não preciso de outra crise de enxaqueca. Podem ir os dois, estão dispensados.
Com essas doces palavras, Preston se foi. Eu estava feliz, acima de tudo estava principalmente aliviada. Eu não voltaria para a prisão.
— Aí, o que acha que um rango agora?
Wade perguntou enquanto subiamos as escadas.
Chegamos na cozinha e ela estava vazia. Provavelmente foi evacuada pela S.H.I.E.L.D junto com o pessoal do salão.
— Acho que não vamos conseguir nada aqui – Falei decepcionada.
— Tem um mexicano na 5° com a Avenue – Ele sugeriu. Estávamos nos encaminhando para a porta.
— Eu amo chimichanga! – Exclamei empolgada.
— Tá brincando? Eu também!
Estendi o braço e fiz sinal para um táxi que estava perto. O motorista parou.
— Primeiro as damas – Falei abrindo a porta e dando espaço para Wade entrar.
— Finalmente alguém que me trata como eu mereço.
Ele disse antes de entrar. Saltei para dentro do carro e bati a porta.
O motorista que era um imigrante indiano não sabia falar nossa língua muito bem, mas entendia a palavra "burrito" então não foi tão difícil dizer a ele onde queriamos que nos levasse.
Se isso fosse uma fábula, agora nós estaríamos aprendendo algum ensinamento para a vida. Eu não sei que ensinamento você consegue tirar de todo esse lixo, mas podemos tentar.
Numero um: Não de granadas para crianças.
Número dois: Se você estiver em uma perseguição alucinante, tome cuidado com o jogador de teias surpresa.
Número três: Vou ficar devendo essa, não consegui pensar em mais nada, foi mal.
É isso aí, pelo visto agora eu faço parte da turma dos caras legais. Eu e o Wade.
Acho que agora os caras legais não são mais tão legais.
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