𝗢𝗡𝗘
USA. NY.
BASE OPERACIONAL
DA S.H.I.E.L.D.
EU NUNCA estou esperando por um chamado. Eu não sou a primeira opção que a maior agência de segurança global pensa quando uma catástrofe está acontecendo na vizinhança. Vocês sabem, coisas do tipo invasões alienígenas ou uma nova ordem mundial controlada por um robo megalomaníaco. Não. Quando essas coisas acontecem a S.H.I.E.L.D vai chamar os Vingadores, e não Hazel Hogan.
É por isso que sempre quando me chamam eu sei que a coisa está por baixo dos panos. Alguma cagada acontecendo que precisa ser abafada da maneira mais rápida possível. Ou quando todas as melhores opções estão ocupadas. É, eu sei que é deprimente. Eu sei.
Então, quando eu recebi aquela mensagenzinha naquela manhã, eu soube que o dia seria... especial.
Ao descer do quinjet, me aproximei com passos largos na direção da mulher parada alguns metros de distância da pista de pouso. A agente Preston parecia impaciente e não estava disfarçando nem um pouco. É só o jeitinho dela, eu sei que não é pessoal, afinal, ela está sempre mau-humorada.
— Uau, grande dia! – Falo ao chegar diante dela. – Você está incrível, Em. Fez alguma coisa no rosto? Botox ou...
— Não – Ela negou sem uma mínima alteração de sua expressão rabugenta. Eu apertaria suas bochechas fofas para aliviar o clima, mas eu não tenho certeza quanto a ela tentar me morder se eu chegar mais perto. – Por que diabos você demorou tanto, Hogan?
Preston logo me deu as costas e começou a caminhar para o interior do prédio. Esse é o seu sinal de "sigam-me os bons", então eu obviamente a sigo.
— Dia de lavar o cabelo, você sabe como é – Falei caminhando ao lado dela. – Quando a mensagem chegou eu estava com shampoo por toda parte, quero dizer... todas mesmo.
— Demorou duas horas para chegar até aqui porque estava lavando o cabelo? - Sua voz era afiada como uma faca, mas não é como se eu temesse que ela fizesse alguma outra coisa além de me olhar com aquela expressão reprovadora da mamãe.
— Ossos do ofício, Em - Digo. - Agora pode mandar. Qual é a crise?
A mulher continuou seguindo até chegarmos em sua sala.
— Temos um trabalho que, temo muito em ter que dizer isso, achamos que só pode ser feito por alguém como você.
Eu cruzei os braços e me encostei na porta.
— Hoo... gosto disso! Sempre me fazendo sentir especial. É por isso que eu te amo!
— Vai com calma, eu ainda nem comecei – Ela suspirou e apertou um botão em sua mesa, várias telas se projetaram diante de nós. – Essas são imagens de novas câmeras de vigilância da S.H.I.E.L.D que foram recém instaladas em diversos pontos em todo o estado de Nova York...
— É um fetiche interessante.
Ela fez uma pausa e respirou fundo.
— São novas medidas de proteção contra ataques terroristas. Nossos agentes do departamento antiterrorismo detectaram uma ameaça nesta madrugada. Descobrimos que pacotes contendo caixas feitas de algum material aínda não identificado estão sendo enviados pelos correios, enquanto outros estão sendo deixados em locais públicos.
— Bombas? – Certo, agora faz sentido Preston ter me chamado. Explodir coisas faz parte da minha longa lista de habilidades. Vêm logo depois de crochê.
— Essa é a questão, agente Hogan. Não sabemos se são realmente bombas. Pode ser qualquer coisa. Desde um dispositivo eletrônico espião até uma ameaça biológica como um vírus mortal ou gás tóxico. O que nós sabemos é: essas caixas não podem ser abertas.
— Mas se forem abertas vamos descobrir o que tem dentro, não é?
— Queremos fazer isso, mas em um ambiente controlado e depois examinar o conteúdo. Sem saber o que tem dentro delas, isso se torna uma ameaça nível 10.
— Wow! – Exclamei. – um 10? É tipo algo que vocês chamariam os Vingadores!
— Entendeu agora porque você está aqui?
— Na verdade não.
Preston revirou os olhos.
— Precisamos que faça qualquer coisa que puder para encontrar cada uma dessas caixas. Isso pode acabar virando uma bagunça. A S.H.I.E.L.D não pode ser vinculada de maneira nenhuma. Então você fará o trabalho e será nossa testa de ferro.
Pensei por alguns instantes no que ela disse.
— Ta dizendo que eu vou fazer o trabalho duro e levar a culpa caso de merda? – Perguntei me afastando da porta e me sentando na cadeira de frente para sua mesa.
— Isso mesmo.
— E por que eu aceitaria isso?
Cruzei as pernas e levando o dedo indicador ao lábio, formando uma expressão pensativa.
— Quer receber o pagamento, não quer?
— Claro.
— E quer que continuemos mantendo uma boa relação entre você e seu agente de condicional, não é?
— É, você tem um bom ponto - Dei de ombros. – Não é como se isso fosse sujar minha imagem na praça. Eu topo.
Preston concordou com a cabeça.
— Ótimo, só tem mais uma coisa...
No meio de sua frase, ela foi interrompida pela porta que foi aberta com um estrondo.
— Deadpool se apresentando para o serviço!
Fitei o homem de uniforme vermelho que fazia uma continência. Ergui uma sobrancelha para ele e depois fitei a Preston.
— Espero que o final da sua frase não seja isso que estou pensando que é – Falei.
Trabalhar com ele.
— Infelizmente é sim – Preston confirmou. Sua expressão era como se ela quisesse pedir demissão. Com certeza lidar comigo e com Deadpool juntos não estava na sua lista de desejos para o papai Noel.
Eu me levantei com um salto da cadeira.
— Ei, ei... você não disse nada sobre "trabalho em equipe"! – Protestei. – A última equipe com a qual trabalhei aínda está tentando me matar.
Deadpool colocou as mãos nos quadris.
— Espera um pouquinho ai - Ele chamou nossa atenção. O cara de vermelho encarava Preston com expressão de traição. Sim, eu sei que ele está usando máscara, não me pergunte como eu sei qual cara ele está fazendo por trás dela. - Você disse que esse trabalho só poderia ser feito por alguém como eu!
Minha cabeça se virou rapidamente na direção dela. Eu a olhei chocada e exclamei mais chocada ainda:
— Disse isso pra ele também?! - Perguntei. – Ah, não mesmo. Como eu me sinto agora? Praticamente um marido traído.
— Chega vocês dois! - Ela colocou ordem no instante em que Deadpool estava pronto para abrir a boca outra vez. – Vocês são praticamente a mesma pessoa. Infelizmente esse trabalho não pode ser feito por um só, então estamos correndo um tremendo risco e colocando vocês dois para trabalhar juntos nessa missão.
— Não é que eu esteja pretendendo ser algum tipo de sabichão ou coisa parecida – Deadpool se apoiou contra a parede enquanto falava. – Mas me parece pouco astuto dessa grande e magnífica agência como S.H.I.E.L.D...
— Vá logo ao ponto, Wade!
Preston mandou.
— É uma burrice do caralho colocar nós dois na mesma missão.
— Infelizmente ele tem razão – Concordei. – É muita burrice mesmo.
Preston controlou um suspiro e apoiou as mãos na mesa.
— Ouçam – Ela começou. – Sabemos dos riscos. Acham que ninguém levantou a questão de o quão errado isso pode dar? Aliás, caso estejam se perguntando, fui eu quem levantou. Mas não temos escolhas. Dezenas, talvez centenas e até milhares de vidas podem estar em perigo nisso. Não temos tempo e nem opções. Só temos vocês.
Olhei para trás, esperando cruzar meus olhares com o dele. Mas Deadpool estava olhando para outro lugar.
— Para de olhar para a minha bunda! – Mandei.
— Desculpe! - Ele balançou a cabeça e encarou a agente Preston. - Do que você estava falando mesmo?
A mulher esfregou o rosto com as mãos.
- Nessa mala tem tudo o que precisam. Peguem ela e sumam agora da minha frente.
Esse é com certeza a nossa deixa para sair antes que o próximo movimento dela seja atirar em nós. Apanhei a mala e deixei a sala, sendo seguida de perto por Deadpool.
Na verdade, perto até demais.
— Se você encostar em mim, eu corto você ao meio.
— Espaço pessoal. Entendido!
Escutei ele dizendo atrás de mim antes de senti-lo realmente se afastando.
WADE WILSON.
Esse é o nome dele. Um ex-mercenário que agora é um mutante e anda para cima e para baixo apertado dentro de laicra vermelha fazendo merda atrás de merda por onde passa.
A propósito, meu comentário sobre a laicra não é negativo. Ele pode ser um cuzão, mas tem um corpo...
Depois de estarmos longe o bastante da base da S.H.I.E.L.D., eu carregando aquela maleta nos braços, nós paramos para trocar uma idéia.
— Tudo bem, se estamos nessa juntos então vamos fazer essa merda direito – Falei. Estavamos no Central Park agora e o clima está amêno. Típico dessa época do ano. Nos sentamos em um dos bancos de madeira pintados de branco.
— Eu sempre faço.
— As coisas direito? – Indaguei.
— Merda – Ele respondeu.
Abri a maleta revelando duas coisas. Encarei o conteúdo levemente decepcionada. Eu realmente esperava mais vindo de uma maleta tão legal como aquela.
— Uma arma e uma carta? - Wade questionou. - Porra... a Preston realmente confia em nós. Isso me deixa até emocionado.
Ele pegou a arma e começou a examinar. Eu peguei a carta e quando abri, descobri que não era bem uma carta e sim uma lista.
— São os lugares para onde temos que ir para interceptar cada pacote - Falei em voz alta. - Só não entendo a arma. Ela acha que precisamos de uma?
— Não é uma arma comum, já tive um encontro com essa belezinha.
— Um encontro? – Ergui uma sobrancelha.
— É, mas não do tipo que tem vinho e termina em sexo, tipo o que podemos ter mais tarde caso role um clima e consentimento – Ele deu de ombros. – Já cacei filhotinhos de cachorro com isso e essa coisa quase me matou.
— Primeiro: não vou fazer sexo com você. Segundo: acho que preciso de mais informações, Wade.
— Muita história, pouco tempo. O fato é que essa coisa tem potencial para desintegrar absolutamente qualquer coisa. Se chama DDA, é tipo uma adaptação de outra arma chamada nanocatalizador.
Concordei com a cabeça e apanhei a arma das mãos dele, examinando-a por alguns instantes. É branca, não é pesada e também é fácil de segurar. Se parece muito com uma glock então não é nada muito diferente do que já estou acostumada a usar.
— Aproveitando esse doce momento que estamos compartilhando... - Wade chamou minha atenção. – Preston não nos apresentou adequadamente. Então o que acha de fazermos isso antes de partimos para uma missão possivelmente suicida?
— Eu já conheço você, Wade. Todos sabem quem você é.
— Isso significa que eu sou famoso? – Ele perguntou colocando as mãos no rosto. Sua máscara se esticou, como se ele estivesse com a boca aberta.
— Acho que sim. Só não pelos motivos legais, tipo o Capitão América ou...
— Oh, eu sabia, eu sabia! Meus dias de glória chegaram.
Ele falava como se mal tivesse me escutado. Estalei os dedos na frente de seu rosto.
— Desculpe – Ele disse. – Acho que perdi o foco. Agora me fale sobre você.
— Sobre mim? Boom... - Apoiei meus cotovelos na maleta em meu colo e pensei no que dizer. – Não tem muita coisa que precise saber. Eu era uma vilã. Matava pessoas por dinheiros, explodia coisas por prazer e roubava coisas bonitas porque eram... você sabe, bonitas.
— Compreensível.
Wade estava com as pernas cruzadas e o queixo apoiado nas mãos.
— Então um dia eles me pegaram e eu fui presa. Pelos meus crimes poderia até ter pegado perpétua, mas a S.H.I.E.L.D. e o governo Americano decidiram me dar uma "nova chance" – Fiz uma expressão de escárnio. – Com isso eu quero dizer que eles me obrigam a trabalhar pra eles e mantém na linha através de chantagem.
— O jeitinho que só a S.H.I.E.L.D poderia ter – Wade balança as mãos no alto e então salta do banco ficando de pé na minha frente. Ele começou a se alongar e eu conseguia ouvir cada parte de seu corpo estralar. – Bom, acho que é isso.
Eu também me levantei, deixei a maleta no banco e coloquei a arma branca no coldre em meu ombro.
— Primeira parada... Wallmart - Falei pegando a lista que Preston nos deu. – em Nova Jersey.
— Beleza – Ele finalizou estralando o dedo mindinho e então esticou os braços. – Sobe no meu colo.
— Eu não vou subir no seu colo.
— É serio, eu posso nos levar muito mais rápido até lá. Sobe.
— Você voa?
— Não.
— Você tem uma teia que pode te levar de prédio em prédio?
— Também não.
— Você pula super alto?
— Uhn... menos.
— Você...
— Eu tenho um teleportador no meu sinto – Ele me interrompeu antes que isso se estendesse. Aliás, acho que não mencionei que eu sou um pouquinho tagarela. Então esse assunto realmente iria se estender.
— E eu preciso mesmo subir no seu colo? Não posso só... sei lá, segurar sua mão estilo super-gêmeos?
— E qual seria a graça disso? - Ele pergunta. Eu quase posso ver sua sobrancelha erguendo atrás da máscara.
— Ah, tanto faz.
Subo em seu colo. Deadpool ergue o queixo e olha para frente com o peito estufado.
— Ao infinito e... espera, acho que a frase não é essa...
De repente ouço um estalo alto e então no segundo seguinte nós estávamos ao lado de um prédio comercial. Nova Jersey não tem tantos quanto Nova York. Aliás, eu odeio Nova Jersey. É tudo tão family friendly.
Desci do colo dele e olhei para o outro lado da rua. Lá estava o nosso Wallmart.
— Algum plano? – Ele me pergunta também fitando o lugar.
— Entrar lá e encontrar a caixa.
— É, é um ótimo plano.
Nós atravessamos a rua e entramos no prédio. Deadpool pega um carrinho e começa a me acompanhar.
— O que está fazendo? – Pergunto me referindo ao carrinho.
— É só pra gente se misturar. Não queremos ninguém olhando para nós e pensando "veja só esses dois idiotas sem um carrinho, onde eles vão colocar as compras?".
— Bem observado – Me afastei dele e quando voltei estava carregando uma caixa com uma daquelas fritadeiras elétricas. Coloquei no carrinho. – Iriamos parecer aínda mais idiotas carregando um carrinho vazio.
— Com certeza, aliás, eu sempre quis uma dessas – Ele apontou a fritadeira. – É tão útil.
— Sim. Quem diria que uma coisinha dessas pode fazer tantas receitas?
Nós atravessamos pelo menos uns três corredores. Esse lugar é mesmo enorme. Deadpool estava carregando um forno elétrico para o carrinho e nós estavamos discutindo sobre a real utilidade daquilo, afinal já tinhamos a fritadeira. Foi quando eu me lembrei daquilo que estavamos lá pra fazer.
— Câmeras de segurança - Estalei os dedos.
— Para que precisamos de câmeras de segurança?
Eu revirei os olhos.
— As do Wallmart, imbecil – Falei. – Podemos usá-las para encontrar o pacote.
— Ooh, sim - Ele bateu na própria testa. – Por que não pensei nisso antes?
Deixamos tudo lá e corremos até a sala de segurança do Wallmart. Wade abriu a porta com um estrondo tão alto que o cara dormindo em frente as câmeras acordou com um salto. Ele nos encarou com a boca aberta de susto.
— Mas que p...?!
— Sério? Alguém pode ter posto uma bomba no predio e você estava dormindo enquanto lia uma revista pornô? – Perguntei apontando para a revista que tinha caido do colo dele.
— Eu entendo você, cara. Também estou tendo um dia sem graça no trabalho... a propósito boa escolha, essa garota de junho... – Wade deu leves tapinhas nas costas do homem. – Mas agora vamos precisar de privacidade então, com licença.
Antes que o homem pudesse dizer qualquer coisa, Wade deu um empurrão na cadeira de rodinha onde o cara estava e ele foi disparado para fora da sala de segurança. Fechei a porta, girando a chave quando ele passou e depois fui até os monitores.
Comecei a procurar nas câmeras, voltando um pouco as filmagens para tentar encontrar onde o tal pacote foi deixado e por quem. Inicialmente não encontro nada nas câmeras dos setores de laticínios, automotivo e ferragens.
Sim, esse mercado é coisa de louco.
— Encontrou alguma coisa de útil?
Perguntei para Deadpool.
— Uhn... nada. Sabe aqueles reality's onde nada a acontece? É. É tipo isso.
Eu não estava exatamente surpresa por ele não ter visto nada nos monitores. Ele passou metado do tempo folheando a revista que tinha pegado do chão.
— Talvez Preston tenha se enganado e não tem nada aqui – Comentei.
— É, não seria a primeira vez que ela se enganaria – Ele deu de ombros e então começou realmente a procurar. – Ainda nada... ainda nada... uma criança fazendo escândalo para a mãe comprar um pacote extra grande de Doritos... a mãe pegou o Doritos. Boa garoto!
Comecei a prestar atenção na mesma tela que ele. Estava acompanhando a saga do garoto, da mãe e o pacote de Doritos. Então percebi uma coisa:
— Ei, ei... Wade, olha aquilo!
Apontei para a prateleira onde estavam os salgadinhos. Tinha um coisa.
— Parece uma caixa. Uns 25 centímetros, bem escondida...
— Encontramos o nosso pacote.
— E está piscando.
Arregalei os olhos. Piscando?
— Porra! Vamos – Exclamei enquanto deixava a sala correndo. Ao sair, acabei atropelando o segurança que estava espancando a porta do lado de fora querendo entrar desde que o trancamos do lado de fora.
Calma. Eu não esqueci de mencioná-lo. Ele só não é relevante.
Estávamos agora naquelas típicas corridas contra o tempo. Eu, em disparada na frente. Correndo em direção as escadas que levavam de volta ao mercado. Wade logo atrás de mim, correndo quase tão rápido. Atrás de nós... o segurança que gritava alguma coisa, mas que eu não consigo e nem quero compreender.
Alcancei as escadas, saltei no corrimão e deslizei por ele em direção ao final dos degraus. Wade saltou por eles e alcançamos o chão ao mesmo tempo.
— Isso foi do caralho! – Exclamou. – Para os salgadinhos!
Continuamos correndo depois disso. Esse mercado é gigantesco. É como se nunca alcancassemos o maldito corredor dos salgadinhos. No percurso acabamos atropelando e passando por cima de muitos obstáculos. Com "obstáculos" eu quero dizer desde carrinhos cheios de compras até pessoas.
— Ali! – Gritei avistando o corredor. O garoto do Doritos e a mãe aínda estavam ali. A mãe parecia estar tentando negociar enquanto balançava o pacote enfrente ao rosto do moleque já vermelho de tanto forçar o choro.
Wade saltou por cima de uma velhinha que estava empurrando um carrinho contendo o que parecia ser o maior saco de ração de gato que já vi na vida, e então pousou bem entre a mãe e o garoto. A mulher gritou e puxou o filho pela mão, derrubando o pacote de salgadinho no chão.
Quando os alcancei, ela já estava se afastando.
— Sem pânico, senhora. Somos a ajuda – Falei fazendo sinal de positivo com os polegares. Não a tranquilizou. Dei de ombros e apanhei a caixa na prateleira.
Comecei a examinar a caixa, ela ainda estava piscando, mas diferente do que eu achei, ela não piscava porque estava prestes a explodir. Enquanto examinava a caixa mais de perto, comecei a ouvir um som irritante de mastigação.
— O que...?
Murmurei e então olhei por cima do ombro.
Wade estava com a parte inferior da máscara erguida até o nariz. Isso deixava expota quase metade do rosto dele. Me lembrei de tudo o que ouvi sobre Deadpool, principalmente sobre sua aparência. A pele parece ter sido queimada e depois esfolada. Esta em carne viva. Os lábios são uma linha fina que agora estão manchados pelo Doritos que ele está mastigando.
— Adoro essa coisa. Aceita?
Ele disse lambendo os dedos laranjas.
Encarei-o por alguns instantes.
— Por que não? – Dei de ombros e apanhei um punhado com a mão.
Antes de eu pudesse saborear meu petisco, a caixa saltou da minha mão para o chão.
Sim, ela literalmente saltou da minha mão. Como se estivesse viva.
— Oh... – Murmurei. A caixa começou a se mexer no chão. Como se estivesse convulsionando. – Me diga que não sou só eu quem está vendo essa coisa se mexendo sozinha...?
— Por que a pergunta?
— Eu tenho tendência de alucinar as vezes – Dei de ombros meio envergonhada. A verdade é que uma infância traumática onde minha mãe borderline me dava repentinas surras e pancadas na cabeça resultaram em alguém com uma percepção pouco confiável da realidade. Nunca recebi um diagnóstico, mas vamos deixar aberto a interpretação caso alguém por aí queira me dar um.
— Você alucina? – Wade indagou empolgado. Ele apontou o dedo para si mesmo. – Eu também!
— Sério? – Perguntei.
— O tempo todo! Agora mesmo. Na minha cabeça estamos em uma quadra de basquete cercados de torcedores eufóricos batendo os pés no chão no ritmo de "We Will Rock You".
— Ah, meu deus... eu também estou ouvindo! Estamos dentro da mesma alucinação? – Perguntei eufórica. O som parecia cada vez mais alto. Eu quase conseguia ouvir os gritos da torcida.
— Nunca dividi uma alucinação com ninguém antes. Isso é estranhamente pessoal. Acho que temos uma ligação agora.
O som ficou cada vez mais alto. As prateleiras começaram a despencar. Foi quando eu percebi que aquilo não era uma alucinação, nem minha e nem do Wade. Era real. Olhei para a caixa e ela estava batendo ainda mais, estava rachando.
— Deadpool, isso não é uma alucinação. É a merda da caixa!
Nós dois recuamos alguns passos e observamos enquanto a caixa no chão ainda rachava. Uma luz estava emanando de dentro dela. Tudo apontava para uma explosão eminente.
— Eu cuido disso!
Wade gritou antes de se jogar encima da caixa e abraçá-la com o próprio corpo. É claro, ele não morreria. Deadpool é praticamente imortal com seu fator de regeneração. Então não preciso me preocupar com sua morte.
Quando a luz se tornou forte demais para continuar encarando, eu fechei os olhos e coloquei as mãos em frente ao rosto. Esperei pela explosão que nunca veio, no entanto o som se coisas quebrando e desabando sim. Abri os olhos abaixei os braços, fitei confusa a cena formada diante dos meus olhos.
Wade estava praticamente montando encima de um monstro. Literalmente como em um maldito rodeio. O mostro lembrava bastante uma versão muito mais bizarra do Sully de Monstros SA. Só que ele era laranja e com manchas vermelhas. Sem o tom azul algodão-doce. As presas são duas vezes maiores e as garras parecem mármore. Wade estava se segurando nos pelos da coisa, se mantendo firme em seu lombo como um bom cowboy.
— Cê tá de brincadeira... – Murmurei. – Que porra é essa?!
— Descobrimos o que tem nas caixas! – Wade comemorou, gritando de lá de cima. – É DNA de monstro.
— É, eu já percebi! – Gritei de volta, fazendo concha com as mãos envolta da boca.
O Wallmart havia virado um completo caos. As pessoas estavam correndo desesperadas de um lado para o outro, tentando fungir a todo custo. O monstro grunhia e se debatia, tentando arrancar Deadpool de cima de si. O mercenário se agarrava com força. Como se estivesse mesmo em um rodeio de verdade, ele até gritou:
— IRRAAA!
Quando ele soltou uma mão para segurar o chapéu imaginário em sua cabeça, o monstro teve a vantagem que precisava. Ele sacudiu todo o corpo e se chocou contra uma prateleira. Quando se afastou, Deadpool estava praticamente amassado entre o metal.
Ótimo. Agora é minha vez.
Saltei em direção a uma das enormes estantes e bati o pé em uma das prateleiras. Isso me impulsionou para o alto e com um mortal muito bem elaborado, na minha opinião isso aqui valeu uma nota 10, eu pousei na cabeça dele, bem entre os chifres.
— Calma aí, amigão! – Exclamei, segurando nos chifres e puxando para trás como se fossem arreios. – Você está bem, Pool?
O homem vestindo de vermelho esmagado atrás de mim gritou:
— Pra caralho!
— Ótimo!
Puxei novamente os chifres como se o estivesse conduzindo. O monstro tropeçou e bateu contra mais algumas prateleiras. Ele percebeu minha posição em sua cabeça e, assim como fez com Wade, pareceu concentrar toda sua massa cinzenta em me arrancar dali a qualquer custo. A criatura começou a correr através do mercado, se chocando contra qualquer coisa que estivesse na sua frente.
Quando eu falo qualquer coisa eu quero dizer QUALQUER COISA. Parede? Sim. Prateleiras! Sim. Pessoas? Também. Uma série de TV's de 60 polegadas? Com dor no coração, a resposta é sim.
Agora o bicho estava muito, muito puto mesmo. Não que já não estivesse antes com Wade montado em suas costas e puxando seus pelos, mas acho que mexer com os chifres acabou fazendo com que ele levasse ainda mais para o pessoal.
Ele arrastou as garras no chão, deixando marcas profundas no piso e bufou como um touro muito bravo. O Sully do Mal mirou na direção de uma parede e então começou a correr em alta velocidade naquela rota. Iríamos colidir e com certeza eu seria esmagada entre a cabeça dele e a parede, ou acabaria sendo empalada por um de seus grandes chifres brancos.
Tentei puxar os chifres e mudar a direção de sua corrida, talvez nos chocar contra uma prateleira cheia de pneus seja menos mortal. Percebi que esse plano não daria certo no momento em que dei o primeiro puxão e tentei empurra-lo para a esquerda. A criatura bufou alto, quase soltando fumaça e acelerou a corrida. Sem muita escolha, saltei do barco.
O barulho da colisão foi semelhante ao de uma bola de demolição esmagado uma casa. Oa chifres ficaram presos por alguns instantes na parede, quando ele conseguiu se afastar acabou deixando dois buracos gigantes no concreto.
Wade surgiu atrás de mim.
— Boa estratégia. Saltar no último segundo deu o toque certo de drama.
— Que bom que gostou, mas que tal colocar esse saco de estrume que você tem acoplado ao pescoço para pensar em um jeito de matar àquela maldita coisa?!
Quando cheguei ao final da frase eu já estava gritando.
— Que tal usar o DDA?
Ele indicou a arma branca no meu coldre.
— Oh, é mesmo – Peguei a arma. – Wade, você é genial!
Apontei a arma para o monstro e apertei o gatilho, no entanto, nada aconteceu. O bicho estava nos encarando como um touro feroz. Quase consigo ver as fumacinhas saindo de seu focinho. É até fofo. Admito.
— Acho que essa coisa está quebrada.
Falei.
Wade pegou das minhas mãos e examinou a arma por poucos segundos.
— Não, só não foi acionada ainda – Ele bufou e a guardou no próprio coldre. – Essa porcaria tem um detector de biomaterial genético de monstro. Para "evitar acidentes" e isso nas palavras da Preston, a arma só fica pronta para disparar quando detecta algum material modificado por perto.
— E o monstro imenso com chifres?
— É, ele ta bem alí, mas não fui eu quem construiu essa droga.
Bufei e peguei minha outra arma. De cara é só um pedaço de metal, mas ao acionar um botão no punho, ele se expande, tornando-se uma longa lança, praticamente um espinho gigante. Eu gosto das pistolas, mas nada pode substituir o prazer de apunhalar alguém bem no estômago.
O monstro já havia se recuperado do baque. Agora estava mais uma vez se preparando para vir em nossa direção. Também me preparei, ficando na mesma posição que ele. Ombros para trás e a cabeça projetada para frente. O monstro começou a correr, vindo em minha direção furiosamente. Eu não hesitei, também disparei em sua direção. Quando estavamos frente a frente, dei um salto e bati o pé no focinho dele, isso me fez ir para cima e pousar encima dele, um pé em cada ombro. Não perdi tempo e desci a ponta afiada da lança em direção ao pescoço, atravessando-o e cravando a arma ali.
O bicho estremeceu embaixo de mim. Cambaleou e então despencou. Eu sorri e arranquei a arma.
— Tá vendo? Quem precisa desse tal de nano....
— Abaixa!
Deadpool gritou. Não perguntei o motivo, apenas fui para o chão. Ele segurava o DDA e agora diferente de antes tinha uma luz piscante na ponta. Wade disparou e ao olhar por cima do ombro, percebi que o monstro não estava morto como parecia. Na verdade, ele estava muito vivo, sua garra vinha sorrateiramente na minha direção.
O DDA o atingiu com um jato. Logo envolveu toda forma monstruosa e em poucos minutos o que antes era um monstro, agora era apenas uma grande poça de meleca rosa.
Eu me levantei.
— Uau...
Murmurei. – Isso foi bem legal.
— Foi mesmo, hein? – Ele perguntou. – Acho que podemos concordar que fizermos um bom trabalho aqui.
— Com certeza. Veja só. O monstro virou meleca e o prédio ainda está de pé.
— Preston vai se orgulhar de nós.
É claro que estávamos apenas ignorando todo o estrago gerado em todo o lugar. Estantes caídas, paredes derrubadas, pessoas pisoteadas por outras pessoas enquanto tentava fugir
desesperadamente da criatura laranja gigante.
— Oh se vai!
Concordei animada.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro