Capítulo 9.1
Jade Evans
Atualmente| Los Angeles
— Como você some durante a noite inteira? — questiono Anna, que entrou pela porta com a mesma roupa de ontem. Analiso-a e vejo seus olhos borrados com resquícios de maquiagem e várias sacolas na mão. Ela caminha dando leves pulinhos até o sofá onde eu estava tomando café.
— Se eu te contar — a vejo sorrir e erguer as sacolas com o logo do bar de ontem. — Sabe o bar? Tem um espaço no andar de cima. Estava lá o tempo todo.
— Sacanagem, poderia ter mandado pelo menos uma mensagem. — Ayla pergunta, sentando-se em outro sofá com uma xícara de café nas mãos. Ela parece ter uma cara de sono, com os cabelos pretos em um coque alto e as olheiras profundas, indicando que está de ressaca.
Anna joga as sacolas no chão e se afunda no sofá, como se finalmente tivesse encontrado descanso depois de uma longa noite. Ela cruza as pernas e pega uma das almofadas, apertando-a contra si antes de continuar:
— Eu juro que ia mandar mensagem, mas foi tudo tão rápido. Alexandre me levou para o espaço em cima do bar e conversamos, nos beijamos, bebemos. Foi tão gostoso. Só teria sido melhor se tivéssemos transado.
— Não transaram? — Ayla arqueia uma sobrancelha, claramente tentando lutar contra a sonolência enquanto toma um gole de café.
— Não. Infelizmente, só ficamos nos beijos e, para dizer que não houve nada, ele me deu uma mão amiga. — Anna sorri maliciosamente, piscando para mim e Ayla. — Mas não deixou de ser gostoso. Ele tem uns dedos divinos e um bom papo. Sabia que ele é o dono do bar?
— Agora faz sentido. — Comento, meio incrédula, ainda tentando juntar as peças. — Mas você ainda devia ter avisado. Ficamos preocupadas, você quase nunca passa a noite fora.
Ayla apenas murmura algo entre um gole de café e o bocejo, claramente mais interessada em sobreviver à ressaca do que em discutir.
— Tá, tá, desculpa. Da próxima vez eu mando um sinal de fumaça ou algo assim. — Anna dá uma risada, enquanto começa a mexer nas sacolas, revelando algumas garrafas e petiscos. — Mas, para compensar, eu trouxe nosso café da manhã. Vamos curar essa ressaca direito, certo?
Ayla finalmente sorri, quase em aprovação, e se acomoda mais no sofá, enquanto Anna começa a distribuir as sacolas.
— Você é doida, Anna. — Digo, sorrindo e aceitando a sacola que ela me entrega. — Como você passou a noite com um estranho e ainda faz o cara te dar café da manhã?
— Ah, vocês se surpreender — diz Anna, enquanto se acomoda no sofá, jogando os cabelos para trás com um gesto despreocupado. O olhar dela percorre o ambiente, como se saboreasse cada palavra que estava prestes a dizer. — Primeiro conversamos bastante, e foi aí que descobri que ele era o dono do restaurante. Fez gastronomia e, gente, o cara é um chef renomado!
— Caralho, aí você estourou! — exclamou Ayla, soltando uma risada debochada enquanto se ajeitava no sofá ao lado. Eu não aguentei e caí na gargalhada também. Ayla tinha uma pontaria certeira para ironias, e a história de Anna parecia até inusitada demais para ser verdade. Quer dizer, Anna sempre teve uma tendência a atrair os tipos mais improváveis — e nem sempre por boas razões.
— Cala a boca, Ayla — rebateu Anna, revirando os olhos. — Você, que fica fazendo cu doce, vem falar das minhas escolhas?
Eu observava a troca entre as duas, já um tanto acostumada com esse tipo de alfinetada. Ayla lançou um olhar de desprezo, mas Anna, como de costume, fingiu não se importar. Elas tinham esse tipo de amizade onde as provocações eram a forma mais comum de carinho. Dei de ombros, focando no meu hambúrguer e tomando uma mordida, o gosto suculento contrastando com a tensão suave no ar.
— Continuando, né? — Anna ignorou a interrupção e prosseguiu com a sua narrativa. — Ele foi super simpático e, para minha surpresa, disse que se interessou por mim. A gente conversou sobre tanta coisa, sabe? E aí... bom, acabamos nos pegando. Mas ele não quis transar, só me deu uma mãozinha.
Ayla arqueou uma sobrancelha, intrigada, mas visivelmente cansada demais para investir no assunto. Já eu não consegui esconder a curiosidade.
— Ele disse por que não quis transar? — perguntei, inclinando-me ligeiramente para frente. Algo naquela história me parecia fora do comum, mas, como já havia aprendido, situações inusitadas não eram raras para Anna.
— Sim, disse que a gente precisa sair pelo menos três vezes antes disso. E que gostou de mim, de verdade. — Anna explica com entusiasmo, seus olhos brilhando como se ela já estivesse fantasiando com as próximas saídas. — A gente trocou números, redes sociais, descobrimos que temos muita coisa em comum. Então... vamos sair de novo!
Ela parecia genuinamente animada, e eu não pude deixar de pensar que, desta vez, talvez as coisas pudessem dar certo. Mas Ayla, sempre mais cética, se manifestou, já quase tombando de sono na poltrona.
— Se eu fosse você, tomava cuidado. Ele foi meio direto, não acha? — murmurou Ayla, os olhos semicerrados enquanto bocejava. Sua fadiga parecia estar vencendo, mas a opinião ácida permanecia intacta.
— Fica na sua, amargurada — Anna respondeu de imediato, com um sorriso maroto. Ela não deixaria Ayla estragar o brilho da sua noite.
Eu continuei a comer meu hambúrguer, observando as duas trocarem farpas. Era quase uma rotina, mas, no fundo, havia algo reconfortante naquela dinâmica. O silêncio caiu sobre nós por alguns segundos, apenas o som leve de mastigar do meu hambúrguer preenchendo o ambiente. Ayla, já praticamente de olhos fechados, murmurou algo inaudível enquanto tentava encontrar uma posição mais confortável na poltrona. Anna, por outro lado, mexia no celular, provavelmente stalkeando o perfil do chef, com um sorriso bobo estampado no rosto.
— Vocês acham que ele tá sendo sincero? — Anna perguntou de repente, levantando o olhar para mim. Parecia mais um pensamento em voz alta, mas senti a leve dúvida na sua voz. — Quer dizer, ele é diferente dos caras com quem eu costumo sair, sabe? Um pouco mais... direto, como a Ayla disse. Mas também muito atencioso.
Mastiguei a última mordida do meu hambúrguer com calma, pensando na resposta. Anna, apesar de não admitir, tinha uma tendência a se envolver rápido demais, idealizando as pessoas antes de conhecê-las de verdade. E, bom, o histórico dela não era dos melhores. Mas quem era eu para julgar?
— Sincero ele pode até ser — respondi, pegando meu copo de café e tomando um gole antes de continuar. — Mas é bom você ir com calma. Ele parece diferente? Ótimo. Mas não custa nada prestar atenção, né? E outra, três encontros antes de transar? Isso pode ser bom, te dá tempo para conhecê-lo melhor sem se jogar de cabeça.
Anna me olhou com um sorriso torto, como quem sabe que estou certa, mas prefere não admitir.
— Bom, eu vou tomar um banho e ir dormir, estou cansada demais. — Anna diz por fim, levantando-se e subindo as escadas.
— Boa noite, Anninha — respondi, observando-a desaparecer no topo da escada. O silêncio tomou conta da sala assim que ela saiu, e o barulho leve de seus passos foi a última coisa que ouvi antes da porta do quarto se fechar suavemente.
Suspirei, deixando-me afundar no sofá enquanto terminava de comer. Olho para Ayla, que parece estar no segundo sono. As biritas de ontem fizeram efeito.
O interfone tocou, quebrando o silêncio da tarde tranquila. Levanto-me lentamente, ainda surpresa pelo som repentino, já que não estava esperando por ninguém, muito menos uma visita.
— Olá, pois não? — pergunto, com uma ponta de curiosidade e hesitação na voz.
— Boa tarde, Sr. Evans — a voz do porteiro do outro lado da linha parecia mais cautelosa do que o habitual. — Tem um homem aqui embaixo, que se chama Leandro. Ele está pedindo para subir e falar com a senhora Ayla.
— O Leandro? — questiono com uma mistura de surpresa e confusão. Minha resposta sai quase automática, com um tom de falsa normalidade:
— Claro, pode mandar ele subir.
Desligo o interfone, mas o peso da situação ainda paira no ar. Olho novamente para Ayla, morta, ainda no sofá, como se esperasse que ela me dissesse o que fazer a seguir.
— Ayla, Ayla — sacudo-a e ela me olha confusa. — O Leandro está aqui, ele quer falar com você.
Ela levanta a cabeça e me olha surpresa.
— Caralho, eu vou me trocar. — Ela se levanta em supetão e começa a subir as escadas.
Arrumo meus cabelos e começo a organizar as almofadas, as sacolas que estavam no chão e o carpete felpudo. A companhia toca e eu caminho até a porta, giro a chave e a abro.
— Olá, Leandro — digo ao vê-lo. Leandro é um homem muito bonito, com a pele bronzeada, cabelos pretos, alto, ombros largos, barba rala e olhos castanhos. Não entendo por que Ayla o nega.
— Olá, Jade, tudo bem? Quanto tempo não te vejo. — Sua voz sai animada e ele me abraça. — A Ayla está? Tenho uma coisa para ela.
— Estou bem e você? — abro um sorriso retribuindo o abraço. — Está sim, avisei que estava subindo, ela já deve descer.
— Estou bem também — desfaço o abraço e sorrio para ele. — Certo, posso esperar ela aqui?
— Claro, vem senta ali no sofá, quer uma água? — falo, guiando-o para se sentar no sofá.
— Não precisa, mas agradeço, Jade. — Ele se senta no sofá, ajeitando-se de forma confortável, enquanto eu fico de pé por um instante, observando-o.
Antes que eu pudesse pensar mais sobre isso, Ayla surge no topo da escada, com uma saia preta justa e uma blusa comprida, mas com um decote, seus cabelos amarrados em um rabo de cavalo, as olheiras sumidas e com uma maquiagem saudável, como se estivesse acabando de acordar.
— Oi, Leandro, o que te traz aqui? — Ela desce rapidamente, com um sorriso minimalista, como se fosse uma grande surpresa ao ver a visita inesperada. Mordo os lábios contendo um sorriso e Leandro se levanta e a observa com cuidado, como se captasse cada detalhe dela.
— Uau... quer dizer, oi Ayla, você está bem? — Seu sorriso se abre e eu olho para Ayla, que mantém a postura reta. Me sento no sofá e cruzo minhas pernas, observando os dois.
— Tudo sim e com você? — responde Ayla e vejo-a dar um leve sorriso.
— Também estou bem. Desculpe por aparecer sem aviso, mas precisei da sua assinatura para enviar esses arquivos ao departamento de pesquisa do hospital. — Ele estende os papéis.
— Claro. — Ayla assina rapidamente.
— Além disso, temos aquela discussão sobre a palestra dos estudantes para organizar. Você está disponível para almoçar e conversar sobre isso? — Leandro pergunta, tentando esconder o nervosismo em sua voz. Ele dá um leve sorriso, que parece forçado, como se tentasse compensar a insegurança que sente em relação à conversa.
— Com certeza. Só vou pegar minha bolsa e já volto. — Ela responde com um tom de voz amigável e decidido. Em seguida, começa a subir as escadas com passos firmes e rápidos, sua postura demonstrando uma confiança que contrasta com o hesitante sorriso de Leandro.
Observo Leandro enquanto ele a vê subir, notando a surpresa em seu rosto. Ele parecia não esperar que ela aceitasse o convite com tanta prontidão. O sorriso que ele tentou manter agora dá lugar a um olhar pensativo, talvez questionando se a reunião sobre a palestra tomará um rumo mais produtivo do que imaginava.
Ayla desceu as escadas com sua bolsa à tiracolo, seus passos ecoando no corredor silencioso.
— Vamos? — perguntou, enquanto caminhava até a porta e a abria com um gesto elegante.
Leandro, ainda com um sorriso no rosto, se voltou para mim e disse:
— Tchau, Jade. Foi realmente bom te ver hoje.
Retribuo o sorriso e respondo com um tom caloroso:
— Também foi ótimo te ver, Leandro. Tchauzinho!
Vejo a porta se fechar lentamente e sinto um bocejo involuntário escapar dos meus lábios. A noite cansativa me deixou com uma sensação de exaustão, e um cochilo parece a solução ideal. Com um suspiro de alívio, subo as escadas até meu quarto, os passos ecoando suavemente no corredor silencioso. Ao entrar no quarto, a cama parecia especialmente convidativa, e rapidamente me preparei para um merecido descanso. Deito-me na minha cama e agarro meus lençóis brancos; eu amo minha cama.
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