𝖢𝖧𝖠𝖯𝖳𝖤𝖱 𝖳𝖶𝖤𝖭𝖳𝖸 𝖥𝖨𝖵𝖤 𓂃˙♡
┋𝖢𝖧𝖠𝖯𝖳𝖤𝖱 𝖳𝖶𝖤𝖭𝖳𝖸 𝖥𝖨𝖵𝖤 —— O Começo do Fim
𝟐𝟒𝟎 𝐃𝐈𝐀𝐒 𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒
𝗔𝗦 𝗨́𝗟𝗧𝗜𝗠𝗔𝗦 semanas agiram como um sonho para mim. Lembro-me da pequena Sophie que ficava perambulando pelo CCD, fazendo de tudo para agradar o pai, mapeando o movimento dos fedorentos ao lado de fora da instalação: tendo uma rotina incrivelmente chata e monótona.
Minha rotina nas últimas semanas foi como um sonho — desejo nunca ter acordado —. Carl, Lily e eu fazíamos nossa pequena reunião todas as manhãs pela floresta. Reunimos algumas boas HQ'S, petiscos roubados da despensa e qualquer coisa que consideramos meramente importante.
Assim passamos todas as manhãs por três semanas consecutivas. Com a cabeça encostada meio no peitoral meio no braço de Carl, eu adicionava mais uma leitura do Homem-Aranha para a minha lista mental de quantas vezes já tinha lido aquela HQ. Carl lia uma do Capitão América, e Lily estava perambulando pela floresta procurando cogumelos. Ela tinha encontrado um livro sobre espécies de cogumelos e agora não parava de procurá-los.
Além de ser abraçada por Carl, eu me sentia reconfortada na segurança de todos aqueles pinheiros que nos cercavam. Às vezes ouvia uma família de esquilos na árvore sobre nós, passarinhos maravilhando a natureza com seus cantos e os galhos se tocando ao passar do vento.
Eram raras as vezes que fedorentos chegavam para nos atazanar. Tínhamos nosso próprio cantinho, onde nenhum zumbi nos perseguia. Éramos apenas nós três. Como sempre desejei.
━━━ Cadê a Lily? ━━ perguntei, arrancando os olhos do gibi.
━━━ Deve ter encontrado um cogumelo Ametista Enganador ━━ sugeriu ele, deixando uma risada sair do nariz.
Abri a boca em um perfeito "O" e me soltei de seus braços, me acomodando em sua frente. Levei uma das mãos ao peito, fazendo uma atuação completa de indignação.
━━━ Como ousa, Carl Grimes? O nome é Laccaria amethystina ━━ pronunciei o nome usando um sotaque meio francês meio britânico. ━━━ Se a Lily te ouvir chamando os bebês dela de meros "Ametistas Enganadores", ela te mata.
Carl riu, jogando a cabeça para trás como uma criancinha. Eu sempre me sentia especial quando fazia Carl rir, queria ouvir a risada dele pelo resto da minha vida. Passei os últimos anos pensando que era apenas uma questão de tempo até todos que eu amasse irem embora, mas agora só consigo pensar que quero aproveitar cada minuto de Carl. Não deixarei passar nada.
Meus olhos fugiram de Carl por um instante, tempo o suficiente para que eu pudesse salvar nós dois. Agarrei o pulso dele e o puxei comigo. Tentei correr da forma mais silenciosa que podia, procurando por um esconderijo. Uma árvore com o tronco oco e aberto me convidou. Me enfiei ali, puxando Carl comigo. Estávamos a apenas alguns centímetros de distância. Essa proximidade não deveria mais me deixar nervosa, mas deixava. Acredito que nunca iria me acostumar.
Carl tocou o dorso da minha mão com seu dedo indicador e senti o corpo receber milhares de eletrochoques. Deixei os lábios se curvarem em um tênue sorrisinho, esperando que o pequeno bando de zumbis seguissem seu caminho ao lado de fora. Ficamos alguns minutos ali, o suficiente para os fedorentos irem embora.
Dividi o olhar entre os olhos azuis de Carl e os lábios rosados dele, deixando que meu corpo fizesse o trabalho por si mesmo, me impulsionando para frente. Estava a muito menos de um centímetro de beijá-lo.
━━━ Deixem de melação! Se eu soubesse que seriam assim, nunca teria apoiado Carphie ━━ resmunga Lily, deixando a voz sair arrastada.
Carl e eu nos entreolhamos e rimos ao mesmo tempo. Me espremi entre o tronco, fugindo de lá. Corri por um instante, apenas para alcançar Lily e sua bolsa com cogumelos dentro. Espiei os fungos aglomerados na bolsa, tentando adivinhar quais ela coletou hoje.
━━━ O que você pegou hoje, Lillyane? ━━ perguntei, sentando-me logo ao lado dela no chão.
━━━ Nada de mais. Só os normais. Vou levar para Carol fazer uma sopa ou sei lá. ━━ Deu de ombros e fechou o zíper da bolsa.
𝟐𝟐𝟓 𝐃𝐈𝐀𝐒 𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒
Foi tudo muito rápido. Eu sabia que aquilo aconteceria eventualmente, mas não tão brusco.
Completaria cinco dias desde que um projeto na pedreira deu errado, causando a concentração de milhares de fedorentos em volta dos muros de Alexandria. Andar pelas ruas da comunidade significava ser assombrado pelo som de seus grunhidos. A cada dia os muros ficavam mais franzinos. Até que despencaram.
Vi a torre de vigia inclinando-se até atingir o chão, liberando a passagem para todos os zumbis famintos. A destruição levantou poeira, embaçando nossa vista. Em meio à poeira, a silhueta dos fedorentos se agravou. Rick gritava para que fôssemos embora, sua voz misturava-se com o estouro dos tiros.
Puxei Lily e Carl pelo braço, correndo com eles para o lado oposto. Senti meu corpo inteiro gelar e os músculos ficarem rígidos quando um corpo atirou-se para cima de mim.
━━━ Venham! ━━ grita Merly, nos puxando com ela para dentro de casa.
Merly fechou a porta, usando o corpo para segurar a porta atrás de si. Michonne, Gabriel, Jessie e Ron já estavam ali dentro. Judith chorava no canto da sala. Por um minuto senti-me fora do corpo, voltei a ele quando afirmei a mim mesma que não era o momento para aquilo.
Carl e eu ajudamos Michonne a empurrar o sofá para frente da porta. Rick berrava ao lado de fora, pedindo para entrar. Tivemos que puxar o sofá novamente. Ele entrou, uma gota de suor descia pelo seu maxilar tenso enquanto segurava Deanna em seus braços.
Ron desceu para a garagem, consegui ver suas lágrimas concentrando-se no meio da linha d'água. O segui. Quando cheguei na garagem, sentindo o cheiro diferente do restante da casa, observei Ron apoiando a própria testa na parede. As lágrimas que segurava finalmente desceram pelas bochechas.
━━━ Ron? ━━ Encostei a porta atrás de mim. Me aproximei aos poucos. ━━━ Você está bem?
━━━ Estamos todos mortos ━━ diz ele, sem dar o trabalho de me olhar. ━━━ Carl vai ser o primeiro a morrer. ━━ Virou-se a mim, as lágrimas molharam suas bochechas completamente.
Senti o peito estufar com fúria. Meu maxilar tornou-se rígido. Tenho certeza que Ron notou que estava furiosa, já que pareceu assustado por um momento.
━━━ Toque no nome dele mais uma vez, e eu acabo com você ━━ cerrei os dentes, empurrando meu indicador contra o peitoral dele.
Ron engoliu seco, encarou o chão. Sua mão remexeu no bolso da frente da calça, puxando uma chave de lá. Ele caminhou até a porta, enfiou a chave na fechadura, a girou e então virou-se para mim. Algo em sua postura me dizia para fugir ou atacar. Eu estava certa.
━━━ Nós todos vamos morrer ━━ falou, puxando uma pistola do bolso.
O arremessei contra a porta, usando meu joelho para empurrar a pistola para longe. Ron me empurrou de volta. Arrastei minha perna pelo chão, o impedindo de pegar a arma de volta. Ouvi o som do corpo dele chocando contra o chão e soube que era o momento para agarrar a chave do outro lado da garagem.
Rick e Jessie batiam na porta trancada da garagem, exigindo que fosse aberta. Bem, era o que eu estava tentando fazer. Eu teria conseguido se Ron não tivesse agarrado minhas pernas e levantado uma pá para mim. Rolei para o lado, a pá acertou o chão. Me levantei, agarrei o cabo da ferramenta que ele segurava, tentando arrancar dele.
Ron me empurrou contra o portão, levantou a pá por cima da cabeça. Me abaixei, ele acertou a janela atrás de mim. Os cacos de vidro se desvencilharam no chão, um deles arranhou a pele da minha bochecha.
━━━ Seu idiota! ━━ exclamei, espiando a janela atrás de mim. Os zumbis já estavam mudando o caminho, começando a se aglomerar no portão.
Joguei um armário para segurar o portão, mas já ouvia Rick arrombando a fechadura. O armário não serviu de muita ajuda, mas a porta escancarada, sim. Empurrei Ron para longe, pensando em me salvar primeiro. Me atirei para fora da garagem, Ron me seguiu alguns segundos depois. Ouvi os fedorentos batendo na porta, fizemos de tudo para segura-lá.
Rick jogou um sofá contra a porta, torcendo para que segurasse. Segurou até um certo período de tempo. Não o suficiente. Os zumbis invadiram como uma enchente, dominando o andar de baixo inteiro.
Michonne puxou o sofá — que já não era mais útil —, o usando para bloquear a passagem dos fedorentos ao andar de cima. Rick usou a faca para matar dois deles, os puxando pelo pequeno espaço estreito que tinha entre o sofá e a parede.
Antes que eu me desse conta, estava vestindo um lençol coberto com vísceras de zumbi. O cheiro era repugnante, mas iria garantir a passagem livre pelos zumbis. Tudo que precisaríamos fazer era não chamar atenção e fechar a boca.
Deixamos a casa. Encarar todo aquele mar de zumbis me fazia embrulhar o estômago. Carl segurou minha mão, segurei a de Lily, Lily segurou a de Ron e assim todos formaram uma corrente humana.
Desviamos de todos. Eu apertava a mão de Carl, ele apertava a minha. Nos separamos. Gabriel colocou Judith debaixo do lençol que vestia e seguiu para o caminho contrário.
A noite caiu, deixando nossa visão mais vaga do que antes. Ron estava aterrorizado, o acompanhei ficar cada vez mais. Seu corpo inteiro paralisou. Jessie sussurrou para que ele continuasse andando, mas era como se ele não a escutasse. E então, simples assim, Ron estava sendo devorado pelos fedorentos, depois Jessie.
Estouro de tiros ecoaram atrás de nós. O fogo dos disparos iluminava o dono da arma. Douglas Monroe, filho de Deanna, atirava sem um alvo certeiro nos fedorentos. De fato acertou alguns, mas sua falta de experiência não iria salvá-lo. Os fedorentos começaram a encurralá-lo, os tiros cresciam mais.
Senti Carl soltar minha mão aos poucos. Virei o rosto. Experienciei a sensação de ter todos os órgãos do corpo pararem de funcionar.
━━━ Pai? ━━ disse Carl antes de desvencilhar-se no chão, seu olho direito dominado por sangue e carne viva.
De um lado, Douglas era devorado, de outro, Rick segurava Carl em seus braços, à frente, Michonne liberava o caminho para a enfermaria — usava a katana para cortar os fedorentos em pedacinhos. Corri atrás deles.
Dentro da enfermaria, senti o corpo congelar e todos os músculos ficarem rígidos. Assistia Rick deitar Carl na maca. Não conseguia me mexer. Meus pensamentos se dividiam em "Por favor, não esteja morto" e "Por favor, não morra".
𝟐𝟐𝟒 𝐃𝐈𝐀𝐒 𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒
Dormi na enfermaria na noite em que Carl levou o tiro. De início não queria dormir, mas Lily me convenceu quando disse que iria me dopar se eu não fizesse.
Quando acordei, já não era mais madrugada. A luz do sol entrava vagamente pelas persianas, acertando diretamente meus olhos. Vi Rick deixar o quarto em que Carl estava, ele me olhou, uma pontinha de esperança marcava seu rosto.
━━━ Ele está acordado ━━ confirmou, deixando seus lábios curvarem-se em um sorrisinho melancólico.
Saltei da poltrona, me joguei para dentro do quarto e, com cuidado, o abracei. Senti a pele nua do peitoral dele tocar meus braços, ele estava gelado, me perguntei se realmente não estava morto.
Comecei a chorar. Minhas lágrimas caíram em sua pele. Ele riu, e então tossiu. Não me importei em secar as lágrimas antes de beijá-lo. Com os lábios separados, segurei seu rosto com uma das mãos.
━━━ Pare de ficar levando tiros. Algum dia irá me matar do coração, Carl ━━ disse, usando o ombro para secar as lágrimas propensas a gotejar na pele dele mais uma vez.
━━━ Não está no meu controle, Grace. ━━ Sorriu. Mesmo com os lábios pálidos e com uma faixa cobrindo um dos olhos, eu o achava belo.
Depois daquele dia, disse a mim mesma que nunca permitiria que algo de ruim acontecesse com Carl Grimes mais uma vez. Ele estava sob os meus cuidados agora e nada, nem ninguém, o tiraria de mim.
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