𝖢𝖧𝖠𝖯𝖳𝖤𝖱 𝖳𝖧𝖱𝖤𝖤 𓂃˙♡
┋ 𝖢𝖧𝖠𝖯𝖳𝖤𝖱 𝖳𝖧𝖱𝖤𝖤 ━━ Grand Canyon
𝗘𝗨 𝗡𝗨𝗡𝗖𝗔 imaginei que seria tão desafiador viver sem meu pai. Eu poderia contar nos dedos os momentos bons que tive com ele. Eu não lembrava com tanta clareza, mas o mais marcante foi o dia que ele me levou para tomar sorvete depois da escola, antes que eu começasse a estudar em casa, é claro. Foi um dia bom até que eu estraguei tudo e meu pai brigou comigo no caminho de volta. Acabei me animando tanto que sujei a camisa dele com sorvete de chocomenta. Até os dias de hoje fico me remoendo pensando que, se eu não fosse tão escandalosa, eu poderia ter finalizado aquele dia perfeitamente. Mas acho que esses tipos de cena não atuam para pessoas como eu.
Eu estava com um grupo de desconhecidos agora. Como meu pai pôde confiar a minha vida e segurança a um grupo de sobreviventes que nem conhecíamos direito? Não vou exagerar, eles não eram de todo o mal. Na verdade, eu me sentia muito confortável perto do Carl. Me sentia confortável perto de todos, mas principalmente do Carl. A única exceção era o Shane. Ele me dava arrepios. Ainda não havia esquecido do que tinha visto na primeira noite deles no CCD. Ainda me assombrava.
Nós estávamos indo para Fort Benning, para a felicidade de Shane e pela falta de opção do restante do grupo. Eu tinha impressão de que Rick sabia — ou já imaginava — que Fort Benning estaria como o restante dos lugares: destruído e infestado por 'fedorentos.
Eu não opinava a respeito, afinal, eu era apenas uma criança e… não estava falando mais que três sílabas já faziam alguns dias. Estava de luto, mas, principalmente, estava com raiva. Muita raiva. Mas, como sempre fiz, guardei para mim. Eu já sabia que em algum dia da minha vida iria acabar explodindo tudo que guardei para mim.
Via a estrada sendo deixada para trás à medida em que o veículo se movia com rapidez adiante. Tinha a impressão que as árvores estavam se movendo, não o contrário. As contemplava com obsessão a fim de me distrair dos pensamentos que me faziam ficar deprimida sem nem perceber.
A luz do Sol batia suavemente no meu rosto, deixando minhas bochechas ruborizadas e quentinhas. Não pude deixar de notar os olhares de Carl me fuzilando o tempo todo. Ele estava preocupado. Estava perguntando todos os dias se eu estava bem, e eu apenas respondia com um simples "aham", evitando o encarar. Um dia eu simplesmente o disse que não havia necessidade em me perguntar todos os dias, então, agora, ele só fica me olhando disfarçadamente — ele acha que está disfarçando —, tendo a certeza de que não estou prestes a me jogar do carro.
━━━ Estou pensando na nossa viagem para o Grande Canyon com Carl. ━━ Lori comentou, virando-se para admirar o rosto de seu marido que, automaticamente, formou um sorriso nostálgico nos lábios finos.
━━━ Eu não lembro. ━━ contrariou Carl, inclinando-se para frente levemente.
━━━ E nem lembraria. Você era bebê. ━━ Lori confirmou, olhando para o garoto por cima do ombro. ━━━ Além disso, nem chegamos a passar de Fort Worth.
━━━ Não, você passou mal. ━━ Rick interviu, animado para adicionar detalhes na história ━━━ Nunca pensei que um bebê pudesse vomitar tanto.
━━━ Pois é. ━━ concordou Lori enquanto trocava algumas risadas nostálgicas com seu marido.
━━━ Eca ━━ Carl falou com repugnância, assumindo uma careta em seu rosto.
━━━ O médico do Texas disse que você ia sobreviver, então fizemos o retorno e voltamos pra casa. ━━ Continuando a história, Lori sorria enquanto sentia o vento atravessar a janela escancarada do carro e rebater em seu rosto.
━━━ Que chato. ━━ voltando com suas costas no assento, Carl pareceu frustrado.
━━━ Não. Foi uma viagem ótima. ━━ corrigiu Lori. ━━━ A melhor.
━━━ Podemos ir ver? O Grand Canyon? Eu gostaria.
Senti pena do Carl quando ouvi aquilo. Claro, em circunstâncias melhores eles poderiam visitar o Grand Canyon, mas, agora, não teriam chances daquilo acontecer. Provavelmente estaria infestado de fedorentos andando de lá para cá em meio às pedras.
━━━ Eu também. ━━ Sophia falou com a voz infantil natural dela. ━━━ Podemos ir?
━━━ Não iríamos sem você e a sua mãe. ━━ Rick afirmou, olhando para a dupla por cima do ombro rapidamente. Senti o olhar dele parar em mim por um segundo antes de voltar a atenção à estrada também. ━━━ Não iríamos sem você também, Grace. ━━ completou ele, me observando pelo reflexo do retrovisor interno.
Meu olhar foi desviado para o retrovisor, após horas encarando árvores inacabáveis, formando um sorriso fechado nos lábios como resposta. Me esforçava para esboçar qualquer expressão, por mais simples que fosse.
━━━ Prometo. ━━ completou o Grimes mais velho.
Sophia encostou sua cabeça no ombro da sua mãe com um sorriso alegre e reconfortado nos lábios. A invejava por não poder fazer o mesmo com a minha mãe. Naquele momento, tudo que eu podia tirar proveito eram das árvores e das pernas de Carl espremidas às minhas já que o assento de trás só tinha três lugares e estávamos em quatro.
━━━ Nós vamos ver o Grand Canyon um dia. ━━ Carl cochichou para mim, me fazendo levar toda a minha atenção a ele.
Comprimi meus lábios, me segurando para não dizer que aquele era um plano impossível, e balancei a cabeça minimamente em concordância, formando um sorriso amarelo nos lábios.
Notei que o veículo estava diminuindo sua velocidade. Rick desviou de alguns carros abandonados com as portas escancaradas no meio da estrada. Imaginei que os carros pertenciam às pessoas que tentaram — ou conseguiram — fugir dos mortos.
Além de carros abandonados, pessoas mortas dentro dos veículos também chamavam nossa atenção. O cheiro de carne podre entrava por minhas narinas perfeitamente. Naquele momento, desejei estar gripada ou não ter olfato para não ter que sentir aquele cheiro repugnante.
Através do parabrisa, pude ver o trailer de Dale parando um pouco mais à frente do nosso carro. Lori e Rick saíram imediatamente do veículo, indo ao encontro do mais velho. Saindo do trailer, Dale era acompanhado de Shane e Glenn.
Minha mão pequena fechava na de Carol enquanto ela caminhava comigo e Sophia lado a lado. Eu conseguia ouvir a conversa de Shane e Dale de longe. Não conseguia ouvir com muita nitidez, apenas ouvia alguns burburinhos.
━━━ Se não achar uma mangueira de radiador aqui… Tem um monte de coisa pra achar ━━ afirmou Daryl, vasculhando o capô de um dos carros.
━━━ Eu posso pegar combustível desses carros. ━━ T-Dog ofereceu, aproximando-se do carro em que Daryl vasculhava.
━━━ Talvez água? Ou comida? ━━ Carol abraçou Sophia e eu com um pouco mais de firmeza.
━━━ Isto é um cemitério ━━ afirmou Lori ━━━ Não sei o que pensar disso.
Notei que o comentário da mulher atraiu algumas trocas de olhares entre os integrantes do grupo. Daryl parecia julgador, mas não se importava o suficiente.
Após alguns curtos segundos — que pareceram anos — de silêncio, Shane pigarreou para iniciar sua frase:
━━━ Vamos, pessoal. Vamos dar uma olhada. Peguem o que puderem.
Andando atrás de Lori e Carl, eu e a dupla Peletier andávamos de mãos dadas enquanto passeávamos com os olhares na rodovia infestada de carros abandonados.
━━━ Não olhem, crianças. ━━ Carol pediu após colocar a cabeça para dentro de um carro e ver a imagem de um morto.
Sophia obedeceu ao pedido de Carol, mas eu e Carl aproveitamos para dar uma boa olhada dentro do veículo. O corpo estava descansando sobre o banco do passageiro. Tinha um cheiro péssimo.
Lori e Carol remexiam nas malas dos carros, procurando por algo que fosse útil a elas e ao restante do grupo. Eu estava sentada sobre o capô de um dos carros, sem dar muita importância para a poeira que estava sendo acumulada na parte de trás da minha calça. Meus pés balançavam levemente, sem conseguir alcançar o chão. Eu os observava com atenção, mantendo toda a minha concentração neles.
━━━ Carl, fique sempre onde posso ver, certo? ━━ Lori pediu, simbolizando vigia com seus dedos.
━━━ Vocês também, meninas. ━━ Carol adicionou, chamando nossa atenção.
Nós três balançamos a cabeça em concordância, atendendo ao pedido das mulheres.
Carol me lembrava bastante da minha mãe. A sutileza das duas era muito semelhante; o cheiro e até a forma em que as palavras saiam delicadamente dos lábios. Era como se a mamãe tivesse reencarnado na Carol. Embora eu saiba que isso não era possível.
━━━ Como você lutaria contra os zumbis, Grace? ━━ Carl perguntou, aproximando-se de mim.
Era óbvio que ele tentava criar algum tipo de assunto para me distrair dos pensamentos do meu pai. Nem que fosse a pergunta mais estúpida possível naquele momento, como aquela.
━━━ Eu… ━━ meu olhos se arregalaram tanto que quase pularam para fora. A alguns metros à nossa frente, um mar de fedorentos se aproximavam. ━━━ se abaixa! ━━ falei em um tom baixo, quase inaudível, puxando o garoto pelo pulso.
Senti o asfalto quente contra a minha pele enquanto me arrastava para baixo do carro, que antes estava sentada sobre o capô. Carl não teve tempo de olhar para o que havia me deixado atônita, pois não o deixei fazer tal ato.
Deitados lado a lado, meus olhos — que antes encaravam todo o encanamento do carro sobre mim — desviaram para o garoto deitado ao lado. Pude ver o rosto dele com mais detalhes do que já havia visto antes. Pude notar algumas sardas espalhadas pelo rosto dele que caminhavam até a área das têmporas. Claro que já havia notado as sardas claras no rosto pálido dele, mas nunca as vi com tanta proximidade.
Soltei o ar — que nem sabia que havia prendido — pela boca, deixando que as nossas respirações ofegantes e assustadas se misturassem.
Só me lembrei do porquê estávamos ali quando ouvi os passos arrastados dos fedorentos ao nosso lado. Eles grunhiam conforme andavam e seu cheiro era terrível.
Carl se recolheu mais para dentro do carro, se colando mais para perto de mim. Nossas mãos se encontraram involuntariamente, e acabamos por apertar uma a outra, a fim de demonstrarmos apoio.
No carro ao lado, Rick olhava para nós com tensão. O homem fez um sinal com sua mão, sinalizando para ficarmos calmos — o que era quase, se não completamente, impossível.
No outro carro, Sophia apertava sua boneca contra o corpo enquanto assumia uma careta assustada em seu rosto. As lágrimas desciam silenciosamente pelas bochechas rosadas dela.
Tudo que conseguíamos ver eram os pés dos fedorentos. Alguns com sapato, outros sem e outros apenas com um calçado no pé. Às vezes alguns nem tinham um dos pés.
Dezenas passaram por nós até que mais nenhum pé podre foi visto.
Carl e eu percebemos que os zumbis pararam de perambular pela estrada ao mesmo tempo. Como se nossos cérebros trabalhassem ao mesmo tempo; como se colocássemos a última peça do quebra cabeça juntos.
O garoto sorriu para mim, aliviado em não ter que controlar a própria respiração por medo de algum andarilho o perseguir. Fiz o mesmo, deixando o ar sair pela minha boca intensamente. Fiquei alguns segundos deitada com a cabeça no chão, processando aquele momento. Era a primeira vez que havia visto algo daquele jeito. Quero dizer… eu já havia visto um grupo de fedidos como aquele andar em frente ao CCD, mas nunca realmente presenciei. Era assustador.
Meu alívio foi embora assim que ouvi o choro de Sophia se intensificar. Minha cabeça virou com tanta rapidez que podia jurar que ouvira um osso do pescoço estralar. A garota loira formava uma expressão de espanto em seu rosto, fugindo de um dos únicos zumbis restantes na rodovia. Ele se arrastava no chão, tentando alcançá-la debaixo do carro. Os gritos agudos chamariam a atenção de mais fedorentos e aquilo não era nem um pouco bom.
Em um estralar de dedos, Sophia já se encontrava indo em direção ao mato. A garota sumiu em meio às árvores, deixando Carol mais nervosa do que já estava. Rick correu atrás da garota e dos zumbis — que agora eram dois — segurando um rifle.
━━━ Lori, tem dois zumbis atrás da minha filha! ━━ exclamou Carol, assim que saiu debaixo do carro. Sua voz estava chorosa e arrastada.
Lori a abraçou por trás, colocando uma de suas mãos sobre a boca da mais velha, a impedindo de causar alarde. A Peletier fora obrigada a chorar em silêncio, por mais que o desespero estivesse a consumindo viva.
━━━ Ela vai ficar bem? ━━ Carl indagou, puxando levemente a barra da camisa de Lori para baixo.
━━━ Sim, querido. Seu pai vai salvá-la e tudo vai ficar bem. ━━ ela afirmou, por mais que estivesse insegura sobre o que dizia, puxando o garoto para perto. Seu braço livre abraçava o corpo de Carl com firmeza.
Após cerca de meia hora, Rick não retornou com Sophia. Retornou apenas com sua própria presença e uma veia nervosa em sua testa. Grimes levou Daryl, Shane e Glenn para o ajudarem na busca pela garota. Eu esperava que ela voltasse, mas sabia que as chances eram poucas.
000) Oiê! Espero que tenham gostado desse capítulo.
001) Interajam nos comentários, isso motiva demais.
002) Lembrem de deixar seus votos, isso é muito importante.
003) Me sigam no tiktok. Posto edits sobre minhas histórias por lá. User: walkthdead AVISO! PODE CONTER SPOILERS!
004) Obrigada por estar lendo até aqui ♡
┋ 𝖶𝖠𝖫𝖪𝖳𝖧𝖣𝖤𝖠𝖣, 𝖫𝖠𝖱𝖸 © 2023
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro