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28-Voltei?

𝙳𝚒𝚊𝚜 𝚍𝚎𝚙𝚘𝚒𝚜.

Abrindo as pálpebras que mais remetiam a chumbo - sentiu cheiro de petricor e musgo, ventanias sopraram seus cachos bagunçados e sujos.

Ergueu a mão para o alto e a examinou completamente perdido, confuso. Como se uma carroça tivesse lhe atropelado.

- Bem-vindo novamente, humano inútil. - Sibilou a voz antiga horripilante sob o santuário, Tito gritou como nunca na vida, porém o som agudo não surgiu.

Imediatamente ficou ainda mais desesperado.

Aquele corpo não parecia dele, os ossos pareciam mais fortes era verdade, contudo não se sentia o humano que foi morto, o humano raptado de sua aldeia atrás da muralha.

- Você está fedendo criança, deixe-me ajudá-lo. - O odor era realmente insuportável como uma disse a voz do ancião tão velho que chegava a ter a envergadura curvada.

Tito levantou do piso num sobressalto eufórico, mal conseguia falar.

As batidas do coração comparavam aos tambores do karpara.

Aquele lugar era frio, tinha a amargura bizarra da morte, do ressuscitamento.

O homem de barba abaixo do queixo bem fina, não parecia uma criatura cruel que o faria mal caso corresse dali. Talvez fosse esta a armadilha...

Tito tocou os braços, pernas, verificando se estavam iguais a quando foi morto. De repente a tontura exaustiva chegou o fazendo cambalear e cair sentado para trás.

O guardião dos ventos sentou sob o piso e cruzou as pernas como se estivesse iniciando um ritual sagrado.

- Escuta aqui seu velho maluco, o que fez comigo! - Questionou Tito examinando se permanecia o mesmo, novamente. Sentia-se mais vivo do que nunca, revigorado, nascido novamente sob forças não humanas... seu pior pesadelos o engoliu... havia virado titã?

O velho esbanjou um sorriso sonolento e fechou as pálpebras preguiçosamente, despreocupado com o pânico da rapaz.

- Onde está Amenade? Por que estou aqui? Que diabos fez tu comigo seu leviano! - A fúria tomou conta do atrevido jovem, aquela altura nem temia mais ter algum órgão arrancado por tamanha audácia contra titãs e as criaturas mágicas daquelas terras, não valia sua preocupação após ter tido o pescoço rasgado por uma lâmina.

- Cale a boca seu boçal, estou tentando me concentrar e ouvir os espíritos. - O velho amarelado mostrou a língua para ele num ato infantil.

- Engula estas drogas de espíritos! Estou pouco me lascando para o que quer que seja isto! Está me ouvido estúpido? Responda! - Exigiu Tito, avançando na direção do velho tranquilo, que fingia nem escutar ele -, contudo, quando fez tal coisa, os pés foram parados por uma barreira invisível que não o permitiu avançar nenhum passo mais, magia.

- Vocês seres humanos são tão selvagens que os animais se tornam criaturas admiráveis em quesito de inteligência. - Disse a voz antiga e sombria, mal olhando para o humano. Cheiro de queimado misturado a capim invadiu seu nariz, havia grama espalhada por seu corpo, sangue também, garras invisíveis arranhavam as barreiras da sua mente.

- Olá, Tito. - Aquela voz familiar ecoou.

Neste exato momento ele virou-se.

- Você. - O timbre saiu carregado de rancor, frieza, ódio e injustiça.

Amenade não ficou cabisbaixa em escutar a palavra tão cortante, apenas o encarou analisando cada centímetro do corpo dele, parecia buscar algo.

Tito sentia-se horrível, violado, fora da realidade, ferido principalmente - apalpou o próprio pescoço agitado, buscando sentir o corte que dilacerou sua pele frágil. Não havia nada, nenhum ferimento que podia ser sentido.

Seu crânio parecia ter sido apedrejado inúmeras vezes, os joelhos mantinham-se firmes, porém ainda bambos.

Ânsia invadiu a garganta seca e Tito despejou sangue espesso pela boca, ficando ainda mais enojado com aquela situação.

Amenade manteve a inexpressividade gelada no belo rosto.

- Irei levá-lo daqui, gratidão ao senhor, guardião dos ventos. - Agradeceu a rainha que vestia um conjunto de veludo azul-escuro revestido por pedras preciosas nos ombros descendo até a clavícula e preenchendo o tecido ali.

Tito suspirou incrédulo, irado por vê-la apenas agradecer e nem sequer perguntar sobre o estado dele, ou dar explicações plausíveis para sua ressuscitação -, o que ele achava disto não significava nada? Por que sempre decisões assim eram tomadas sem nenhum aviso antecipado ou uma confirmação do próprio protagonista da situação? Injusto no mínimo.

- Só isso? Vai apenas ignorar o fato de que fui morto, voltei a vida, e não faço ideia do método sujo que deve ter sido usado para me trazer de volta! - Tito protestou gesticulando ao vazio.

Nad apenas suspirou preguiçosa e assentiu com a cabeça.

- Tem direito de saber sim, mas agora não. - Foi um aviso para que partissem dali, o rapaz desnutrido que não se sentia mais fraco como antes, bateu o pé no chão em um gesto revoltado e pirracento.

Neste instante, uma abertura atingiu o piso o fazendo ser dividido em diversos pedaços de cimento espalhados, aquilo foi efeito do bater de pé dele.

Não fez um som muito alto, portanto Tito que já estava perdendo a audição de tanta raiva, mal percebeu. Amenade ignorou, pois, provavelmente era uma magia colateral que fora transmitida do ser que matou para trazê-lo de volta -, passageira.

Teimoso e persistente, o rapaz que ainda se considerava humano por mais tendencioso que isto pudesse parecer - manteve a pose estática e estufada.

- Não seja imaturo, não me aborreça Tito. - Amenade pediu com impaciência, mesmo assim manteve a calma sob a voz angelical. A tensão do rosto dela parecia estar presente por outros motivos que não deveriam ser discutidos naquele lugar, tampouco naquele momento inapropriado.

O guardião sumiu, simplesmente sumiu. Sem nenhuma magia, ou amostra de feitiços.

Bile subiu a laringe dele, o estômago ferveu e a cabeça mais uma vez foi arranhada por garras invisíveis.

- É incrível o quanto é injusta e egocêntrica Amenade. - Murmurou revoltado, com desprezo por ela.

Nad lançou um olhar mortífero e ofendido a Tito, em seguida uma explosão escura silenciou tudo.

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