𝟎𝟎𝟏 - 𝐂𝗈𝗆𝖾𝖼̧𝗈, 𝗈𝗎 𝖿𝗂𝗆?
KANG JIHYE
Jihye sabia que a vida nunca seria justa, mas nunca imaginou que seria tão cruel. Sempre foi uma garota feliz e sonhadora, com um brilho no olhar que parecia iluminar qualquer lugar por onde passava. A caçula da família Kang, cresceu cercada por três irmãs mais velhas e um irmão com quem sempre teve um vínculo especial. Dae-ho era seu melhor amigo, o confidente de todas as horas.
Há dois anos, Jihye estudava Direito, determinada a construir um futuro sólido, enquanto seu irmão seguia uma carreira promissora na marinha, dedicando-se ao que parecia ser sua grande paixão. A vida tinha um ritmo certo, cada um trilhando seu próprio caminho, mas sempre com a certeza de que poderiam contar um com o outro. Porém, de lá para cá, tudo mudou. O brilho nos olhos de Jihye se tornou mais opaco, e os sonhos de ambos pareceram se desviar do que antes pareciam certezas. Agora, eles dividem um pequeno apartamento, uma rotina de contas apertadas e um passado que insistia em assombrá-los.
Também há dois anos, Jihye conheceu um homem que acreditou ser o amor da sua vida, mesmo que seus encontros fossem raros e envoltos em mistério. Hwang In-ho era uma incógnita. Ela não sabia o que ele fazia, com o que trabalhava, nem sequer se tinha uma família. Tudo o que sabia era seu nome, o timbre grave de sua voz e que ele era bem mais velho do que ela. Mas isso não importava.
Quando estava ao lado dele, mesmo que por poucas horas, sentia como se o mundo parasse. Havia algo no jeito como ele a olhava, como se enxergasse partes dela que ninguém mais conseguia ver. Apesar de não conhecer os detalhes de sua vida, ela não se incomodava. Se sentia segura, viva e, de certa forma, especial ao lado dele. In-ho era seu segredo, um mistério que ela escolheu não desvendar, apenas viver. Mesmo que fossem momentos fugazes, eles preenchiam um vazio que ela nunca soube que existia.
Mas, como nada que parecia bom em sua vida durava, o que ela teve com Hwang In-ho também não durou. Um dia, ele simplesmente não voltou e, até hoje, a jovem o espera, com o coração apertado e a mente cheia de incertezas, embora soubesse que havia uma grande chance de nunca mais vê-lo.
Nesse período em que In-ho desapareceu, Jihye começou a enfrentar seus próprios demônios. Foi durante esse tempo de solidão que ela descobriu que estava doente, uma doença rara e misteriosa chamada "porfiria". No início, os sintomas eram sutis: fadiga constante, dor abdominal intensa, vômitos frequentes e uma sensibilidade exacerbada à luz. Seus amigos e seu irmão notaram que ela parecia mais pálida, com uma pele que parecia brilhar sob a luz intensa. As idas ao hospital se tornaram mais frequentes e, com o tempo, ela foi sendo diagnosticada.
Com a porfiria, seus sintomas só pioraram. Jihye começou a sofrer com fraqueza muscular, tremores incontroláveis e dores nas articulações. Ela também notou que, com o passar dos meses, sua urina ficava mais escura e que ela se sentia extremamente ansiosa, como se seu corpo estivesse, aos poucos, se desligando de tudo. Os remédios e o tratamento que precisava fizeram com que ela precisasse deixar a faculdade, além das dívidas de milhões que seu irmão tinha. Tudo parecia estar desmoronando de uma só vez e agora, ela não tinha mais sonhos; só queria conseguir aguentar e sobreviver. Porém, no fundo, sabia que estava morrendo.
Nos últimos meses, percebeu que seu corpo estava se desgastando de uma maneira que não conseguia mais ignorar. As idas ao hospital tornaram-se ainda mais frequentes, e ela começou a entender, de forma clara e dolorosa, que estava perdendo a batalha contra sua doença. Não falava sobre isso com ninguém, mas sabia. Cada sintoma que se agravava, cada crise, a deixava mais ciente de que o tempo que restava estava diminuindo.
Havia momentos em que ela se perguntava se seria melhor, se seria mais fácil simplesmente se entregar àquilo, mas sempre havia algo, uma chama interna que se recusava a se apagar, que a fazia continuar lutando, mesmo sabendo que talvez a vitória nunca chegasse.
Jihye tentava viver o que restava de sua vida da melhor maneira possível. Passava tempo com seu irmão, que era a única pessoa com quem compartilhava a carga que carregava. Ele a amava, mas talvez não soubesse o quanto ela estava perdendo a batalha, o quanto seu corpo estava fraquejando.
Ela não queria que ele visse a dor que a consumia por dentro, mas não podia evitar. As noites em que acordava suada, com a sensação de que não conseguiria respirar, eram mais frequentes, e os momentos de fraqueza também. A doença estava tomando conta de cada célula, e o peso do tratamento caro e difícil de manter, mais a falta de perspectiva, eram fatores que a deixavam sem forças.
Mas, no fundo, algo ainda a mantinha firme. Era o amor por seu irmão, por tudo o que tinha vivido até ali, por tudo o que ainda queria fazer, mesmo sabendo que seus dias estavam contados. Ela apenas não sabia quanto tempo teria, e isso era o que mais a aterrorizava.
Tudo o que ela queria agora era encontrar algum tipo de paz antes do fim, mas como fazer isso quando nem o próprio futuro se apresentava de forma clara? Quando tudo o que ela tinha havia se tornado tão incerto e volúvel?
Jihye estava ali, prestes a sair e com a mente cheia de reflexões. A noite estava fria, e ela gostava daquela sensação. Era como se o clima refletisse o que sentia por dentro, uma calmaria antes de mais uma tempestade. O tempo parecia desacelerar, e a cada segundo que passava, a realidade de sua condição se tornava mais nítida. Ela sabia o que estava por vir, mas continuava tentando lutar.
Quando saiu do quarto, Dae-ho estava chegando de uma de suas saídas. Ele passava a mão pelo rosto, tentando aliviar a tensão do dia, mas congelou assim que a viu.
— Aonde vai? — perguntou, sentando-se no sofá e olhando com um semblante preocupado.
— Ao hospital. Esqueceu? Eu mencionei mais cedo... — respondeu, tentando manter a calma, apesar de tudo o que se passava em sua mente.
— Ah, é verdade! — Ele coçou a nuca, sem saber bem como lidar com a situação. — Quer que eu vá com você?
— Não precisa, eu vou sozinha. — passou a mão pelos próprios braços, buscando um pouco de conforto naquela casa que começava a parecer distante. — Qualquer coisa, eu te ligo.
Dae-ho a observou preocupado, mas ela se aproximou e lhe deu um beijo suave na bochecha, como sempre fazia quando ia sair. Não podia fazer mais do que isso.
Jihye saiu apressada de casa, fechando a porta atrás de si com um leve estrondo. O ar frio da noite a envolveu, fazendo-a apertar um pouco mais o casaco contra o corpo. O clima estava ameno, com a sensação de chuva no ar, mas ela não se importava com o tempo. Precisava chegar logo ao hospital, o mais rápido possível.
Ela respirou fundo e caminhou rapidamente pelas ruas vazias, seus passos ecoando nas calçadas silenciosas. A estação de metrô não estava muito distante, mas, a cada movimento, sentia seu corpo mais cansado. A fraqueza vinha aos poucos, como uma pressão constante no peito, mas ela não podia pensar nisso agora. Não queria, de verdade. O hospital era a única coisa que importava.
Ao chegar à estação, o som dos trilhos a aguardava, um zumbido baixo que preenchia o espaço. A mulher desceu rapidamente as escadas e, logo que chegou à plataforma, o metrô chegou com um estrondo. As portas se abriram e ela entrou, sentindo um alívio por estar mais próxima do destino. A sensação de estar rodeada de estranhos não a incomodava, mas seu corpo, que parecia cada vez mais lento, fazia tudo parecer um pouco mais distante.
O vagão estava relativamente vazio, com alguns passageiros com as cabeças baixas, absortos em seus próprios mundos. Jihye se apoiou na barra de metal, segurando-se com força enquanto tentava controlar a respiração, que estava mais ofegante do que o normal. Os sintomas, ela sabia, estavam se agravando, e aquilo a incomodava, mas era impossível parar. Ela se obrigava a manter o foco. O que havia entre ela e o hospital agora era uma corrida contra o tempo, não contra sua saúde.
A viagem parecia demorar mais do que o normal. Cada estação que passava trazia um passo mais perto de seu objetivo, mas, ao mesmo tempo, a sensação de cansaço aumentava. Ela fechou os olhos por um momento, tentando ignorar a fraqueza que começava a tomar conta, tentando manter a compostura. Não havia como fugir do que estava acontecendo, mas ela se recusava a pensar nisso. Não agora.
Quando o metrô finalmente chegou à sua estação, desceu e subiu as escadas com um esforço visível. As portas do hospital estavam logo à frente. O cheiro familiar de desinfetante e álcool invadiu suas narinas enquanto ela se aproximava da recepção. O ritmo de seu coração estava mais acelerado do que o normal, mas ela se forçou a caminhar com passos firmes.
Uma enfermeira a cumprimentou com um olhar cansado, como se já soubesse quem ela era. Forçou um sorriso fraco, mas suas palavras saíram sem emoção.
— Eu... Eu tenho uma consulta — disse, e se sentou em uma cadeira do lado da recepção, esperando. Estava exausta, com os ombros caídos e a mente distante.
Ela sabia que mais exames estavam por vir, mas não conseguia afastar o sentimento de que estava apenas adiando o inevitável. As respostas que ela procurava não a tranquilizava; ela sabia disso.
De repente, a porta da sala de espera se abriu com um estrondo. Um homem entrou apressado; seus olhos vasculharam a sala como se estivesse à procura de algo — ou alguém. Quando seus olhos finalmente se encontraram com os dela, o impacto foi imediato. Ela o reconheceu na hora: Jun-ho, ex-namorado de uma amiga, mas o que realmente a fazia ficar inquieta era o fato de ele ser irmão de In-ho.
Instintivamente, ela desviou o olhar, fingindo não tê-lo visto. Mas o homem não parecia disposto a deixá-la em paz. Caminhou até ela e se sentou ao seu lado, sem pedir permissão.
— Oi, Jihye, né? Você é a amiga da Suyeon.
— É, sou eu... — respondeu, tentando manter a calma, mas sua voz saiu mais fria do que imaginava. — Precisa de alguma coisa?
Hwang Jun-ho parecia não se importar com o tom dela, já partindo direto para o ponto que queria. O silêncio entre eles era desconfortável.
— Você conheceu Hwang In-ho, não conheceu?
As palavras dele soaram como uma provocação, mesmo não sendo exatamente isso, e, sem conseguir evitar, Jihye se sentiu incomodada. Ela tentou não mostrar que o nome dele ainda a afetava.
— E quem quer saber? — respondeu, tentando manter a fachada. — Conhecer é uma palavra forte para quem só transou e sabe o nome dele.
Jun-ho a observava, com um sorriso de canto que ela não sabia interpretar.
— Quando foi a última vez que se viram?
Ela estava prestes a retrucar, mas foi interrompida por uma voz vinda de um canto da sala. A médica apareceu com uma ficha nas mãos, chamando por seu nome.
— Kang Jihye!
Jihye respirou fundo, aliviada por finalmente sair da conversa desconfortável. Ela se levantou, olhando para o homem com um olhar breve, mas sem expressar nada.
— Eu preciso ir... — disse, mais para si mesma, sem nem esperar que ele respondesse.
Jihye sempre soube pouco sobre In-ho. Sabia seu nome e mais nada. Ele era um mistério, tão distante quanto os ecos de algo que ela preferia não ouvir. Mas o que ela sabia sobre ele vinha principalmente de sua amiga Suyeon, que namorou Hwang Jun-ho, o ex-policial, irmão do homem que ela amava.
Lembrava-se bem de quando sua amiga contou sobre o dia em que Jun-ho deixou tudo para trás. Ele partiu para tentar encontrar o irmão desaparecido, com aquela obsessão que só alguém em busca de uma verdade perdida poderia ter.
Mas o que mais chocou-a foi quando ele também sumiu. Foi só depois de muito tempo que ele apareceu novamente, mas não como se fosse um retorno triunfante. Jun-ho foi encontrado inconsciente. Ele ficou em coma por semanas, e o mistério nunca foi resolvido. Ainda procurava o irmão, ainda se negava a acreditar que as respostas haviam sumido com ele.
A jovem sempre quis saber o que de fato aconteceu. Havia algo de errado nisso tudo, algo que ela não conseguia entender. Por que o ex policial, depois de tudo o que aconteceu, ainda estava em busca de In-ho? O que eles escondiam? Ela não sabia, mas algo dentro dela a fazia continuar a se questionar.
Entrou na sala de consulta, com os pensamentos ainda ecoando sobre In-ho e seu irmão, mas tentou afastá-los. Sentou-se frente à doutora, com a cadeira rangendo sob seu peso, enquanto o silêncio da sala pairava. A médica olhou para ela com atenção, seus olhos focados em cada detalhe.
— O quadro está se agravando, Jihye. — A voz da doutora não tinha pressa, mas havia um tom de preocupação que ela não pôde ignorar. — Os sintomas estão mais evidentes e, se continuar nesse ritmo, pode ser difícil controlar.
Jihye mordeu o lábio, sentindo o peso daquelas palavras. Ela não queria ouvir, mas sabia que a verdade era inegável.
— Há quanto tempo você está sem tomar os remédios? — perguntou a médica, fazendo anotações rápidas no prontuário.
Ela sabia a resposta, mas não queria dizê-la. Fechou os olhos por um momento, tentando encontrar uma forma de justificar sua omissão.
— Não é sempre que consigo comprar — respondeu, com a voz baixa, quase inaudível. — São muito caros, doutora.
A médica suspirou, fechando a prancheta antes de olhar diretamente para ela.
— Eu entendo, mas isso não pode continuar. Você vai precisar de heme sintético para estabilizar seu quadro. É essencial para o tratamento agora, mais do que nunca.
Respirou fundo, o peso de tudo caindo sobre ela. O remédio era caro, mais uma dívida, mais um obstáculo. Ela estava começando a perceber que seu corpo e sua vida estavam em um jogo que ela não podia mais controlar.
— Como você tem se sentido agora? — perguntou a doutora, suavizando a voz, como se tentasse fazer com que Jihye se sentisse confortável para falar.
Demorou alguns segundos para responder, focando na sensação de cansaço que sempre a acompanhava. Era difícil expressar tudo o que sentia, especialmente porque muitas vezes ela tentava se enganar, se convencer de que estava bem.
— Cansada... — ela começou, a voz arrastada. — Sempre cansa. Às vezes, parece que meu corpo não responde como deveria, sabe? E o resto... a dor.
A médica fez um aceno com a cabeça, como se já soubesse o que viria a seguir. Ela havia visto esse quadro antes, mas nunca era fácil ouvir a descrição de alguém que se via imersa em uma batalha que parecia não ter fim.
— E a dor, em que intensidade tem sido? — a doutora perguntou, pegando uma caneta e anotando rapidamente.
A jovem pensou por um momento, tentando ordenar suas palavras.
— Mais forte nos últimos dias. Parece que a cada semana fica pior. Às vezes, sinto como se minha pele estivesse queimando por dentro. E a fadiga... eu tento fazer as coisas, mas parece que meu corpo não aguenta.
A médica a olhou por um instante, com empatia, mas a seriedade em sua expressão não se desfez.
— É importante que você não ignore esses sinais, Jihye. A porfiria pode ser traiçoeira, e a falta dos medicamentos pode agravar rapidamente o quadro. O heme sintético pode ajudar, mas também precisamos monitorar outros aspectos. Vou pedir alguns exames para acompanhar melhor sua condição.
O diagnóstico, os exames e as conversas se sucederam, e quando Jihye finalmente saiu da sala de consulta, a sensação de cansaço era quase palpável. Ela já estava tão acostumada com aquele processo que parecia algo automático, mas o peso do que a médica havia dito ainda estava ali, pairando sobre ela. Com um suspiro profundo, ela pegou sua bolsa e se dirigiu à porta do hospital, o ar gelado de fora a recebeu como uma bofetada.
Ao abrir a porta, o som da chuva batendo nas calçadas foi o primeiro a alcançá-la, e logo as primeiras gotas começaram a molhá-la. Deu um passo rápido, apressando-se para chegar à estação. As ruas estavam vazias, e o vento fazia com que ela se encolhesse, mas a sensação de cansaço ainda pesava mais do que qualquer coisa. Ela estava tão acostumada à dor e ao desgaste que até a chuva parecia algo que ela deveria ignorar, algo apenas a mais para enfrentar.
A corrida até o metrô foi quase automática, seu corpo respondeu sem pensar muito. Cada gota da chuva a fazia encolher ainda mais, mas ela sabia que não tinha escolha. Só queria chegar em casa para poder descansar um pouco e esperar que o amanhã fosse um pouco mais fácil.
O vagão que entrou estava silencioso, quase vazio, e Jihye sentou-se com um suspiro, procurando um pouco de alívio no espaço que o transporte público lhe oferecia. Ela puxou uma pequena embalagem do bolso e, com cuidado, acendeu discretamente um cigarro de maconha. A fumaça subia lentamente, envolvendo seu rosto enquanto ela dava uma tragada profunda. A brisa do metrô, misturada ao aroma da erva, ajudava a clarear seus pensamentos, ainda afligidos pelas palavras da médica. Ela tentava se concentrar no momento presente, distanciando-se um pouco da realidade pesada que a aguardava quando saísse dali.
Ela sabia que o que fazia não era legal, mas, ao menos, era uma das poucas coisas que a faziam sentir algum controle sobre sua própria vida. Discreta, ela guardava o cigarro entre os dedos, virando ligeiramente a cabeça para exalar a fumaça para o lado, evitando ser notada. Era um reflexo de quem sabia os riscos, mas se permitia um pequeno escape.
Foi nesse exato momento que um homem entrou apressado, com uma maleta na mão. Ele parecia estar à procura de algo ou alguém, até que seus olhos se fixaram nos dela. Jihye tentou não prestar atenção, mas o homem se aproximou e se sentou ao seu lado, sem pedir licença. Ela deu mais uma tragada no cigarro e, com um movimento sutil, o apagou antes de guardá-lo novamente, como se fosse uma rotina já bem ensaiada.
O homem, notando a leve tensão no ar, não parecia se importar. Ele sorriu, descontraído, e, em vez de fazer qualquer tipo de comentário sobre a fumaça, se inclinou para conversar.
— Posso te oferecer uma oportunidade? — disse ele, a voz calma, mas carregada de uma certa tensão.
— Eu não sou fã de coisas fáceis. E não estou interessada em comprar nada. — respondeu, com um sorriso sem humor.
O homem parecia não se intimidar. Ele deu um passo mais perto e, então, abriu a pasta. Dentro, havia muito dinheiro.
— Isso não é só sobre comprar ou vender. — Ele sorriu levemente, como se já soubesse que estava chamando a atenção dele. — É sobre o jogo, Ddakiji. A cada rodada que você ganhar, leva 100 mil wons. Simples assim. Se eu ganhar, você paga.
— E o que você quer de mim, exatamente? — perguntou, desconfiada. Ela não tinha dinheiro para esse tipo de jogo.
Ele sorriu, como se esperasse essa reação.
— Não se preocupe com o dinheiro. Se você não puder pagar, há outra forma de acertar. — Ele fez uma pausa, olhando para ela com um ar de mistério, antes de completar. — Mas não pense que é o que está imaginando. Não é nada tão... direto.
Sentiu o desconforto subir pelo corpo, mas sua curiosidade, misturada à desconfiança, a manteve ali. A noite ainda estava longa, e ela sabia que precisava de algo para distrair sua mente.
— Tá, mas eu começo! — Jihye se levantou, pegando um dos cartões com o homem, enquanto o outro ainda estava no chão. Ela tinha que virar.
— Por favor! — Ele fez um gesto com a mão, esperando que ela começasse.
A mulher não perdeu tempo e virou o cartão rapidamente, ganhando a primeira rodada.
— Eu ganhei? Uau! — ela exclamou, surpresa com a vitória.
— Parabéns! — O homem sorriu e, com um movimento, pegou uma pilha de notas de cem mil wons da maleta e entregou-a para ela. — Agora é a minha vez.
Com um sorriso travesso, ele fez sua jogada. Virou o cartão de forma rápida, como um truque, e disse:
— Eu ganhei!
Antes que ela pudesse reagir, ele desferiu um tapa no rosto dela.
Jihye levou a mão até a bochecha, sentindo o ardor do tapa, completamente surpresa. Ela olhou para ele, confusa.
— O que é isso?
— Sempre que eu ganhar, você paga assim: um tapa na cara. — ele falou com calma, quase como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Ela não sabia o que pensar, mas continuou a jogar, sem demonstrar fraqueza. O jogo prosseguiu, e Jihye ganhou mais vezes do que ele. No final, ela olhou para as notas em sua mão, somando tudo. Ela tinha quinhentos mil wons.
— Dá para ganhar um bom dinheiro com isso... por uns dias, pelo menos — ele comentou, já começando a arrumar a maleta. Quando estava pronto para sair, entregou um cartão para ela.
— Só ligar se tiver interesse — ele disse, dando um sorriso de canto, antes de sair.
Jihye ficou ali, com uma quantia considerável em mãos e o cartão. O que começara como um jogo estava se tornando algo muito mais complicado do que ela imaginava. Ela sabia que havia algo mais por trás daquela oferta, mas o que exatamente ela não conseguia entender ainda.
Seguiu sua viagem de volta para casa enquanto a chuva diminuía gradativamente, transformando-se apenas em pequenas gotas que escorriam pelas ruas. Quando chegou, abriu a porta e encontrou Dae-ho sentado no sofá, rodeado por sacolas. Uma delas estava cheia de caixas de remédios.
— O que é isso, Dae-ho? — perguntou, fechando a porta e sentando-se ao lado dele.
— Ué, não tá vendo não? São seus remédios.
— Mas como conseguiu comprar? Você não tem dinheiro; usou o que tinha pra pagar as contas. — arregalou os olhos, surpresa.
Ele suspirou, tentando desconversar. — Pode só me agradecer ao invés de ficar fazendo perguntas difíceis? Consegui esse dinheiro fazendo uns trabalhos, simples assim.
Ela franziu o cenho, desconfiada. O tom dele parecia esconder algo, e imediatamente sua mente voltou ao homem do metrô. "Será que ele também jogou?", pensou, mas decidiu não pressioná-lo. Por enquanto.
— Obrigada, Dae-ho. Eu te amo, senhor marinheiro! — Com um sorriso leve, ela se inclinou e o abraçou.
— Também te amo, senhorita teimosa!
Quando a jovem se levantou para ir ao quarto, a voz de Dae-ho a chamou novamente.
— Jihye!
— O que foi? — ela parou na porta e o encarou.
— Você sabe que é ilegal usar essas coisas, né? Se te pegarem, você tá ferrada.
— Que coisas, Dae-ho?
— Não adianta mentir. Eu senti o cheiro. — Ele cruzou os braços, sério.
Ela soltou um suspiro, tentando conter um sorriso.
— Ui, tá bom, senhor certinho!
— Tô falando sério, Jihye!
— Tá, tá, tudo bem, eu não vou mais usar. Feliz? — disse, revirando os olhos antes de entrar no quarto.
Lá dentro, ela jogou a bolsa em um canto qualquer e caiu sentada na cama. Pegou o celular e o cartão do homem do metrô. O papel parecia pesado em suas mãos, como se carregasse um peso muito maior do que deveria.
Ela hesitou. O que exatamente estava prestes a fazer?
Mas, antes que sua racionalidade pudesse impedi-la, discou o número.
— Alô? — uma voz atendeu do outro lado da linha.
Jihye respirou fundo, tentando manter a compostura.
— Eu quero participar do jogo.
A voz do outro lado não demonstrou surpresa, apenas respondeu com um tom profissional:
— Por favor, informe seu nome completo e data de nascimento.
— Kang Jihye. 16 de janeiro de 2000.
Depois de ouvir as instruções sobre o local e o horário em que uma van iria buscá-la, a ligação foi encerrada abruptamente. Jihye abaixou o celular lentamente, sentindo o peso daquela decisão. Por um momento, ficou parada, tentando processar o que acabara de fazer.
𑁍̸Oi, amores! Como vocês estão? Espero que estejam bem!
𑁍̸ Finalmente o capítulo saiu, e eu espero que gostem. Decidi começar antes dos jogos para que vocês conhecessem melhor a Jihye e se conectassem com ela.
𑁍̸ Peço que deixem seus comentários e votos, pois isso me deixa muito feliz e me motiva a continuar escrevendo. Ah, e não se esqueçam de compartilhar suas teorias comigo! Adoro saber o que vocês estão pensando sobre a história.
𑁍̸ Beijos e até o próximo capítulo!
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