seis; os ecos do passado.
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𝕾unoo observou a porta pela qual Sunghoon havia saído, sentindo uma mistura de frustração e curiosidade. Algo naquele garoto o intrigava de uma forma que ele não sabia explicar. Era como se carregasse um peso invisível que o mundo inteiro escolhia ignorar.
Naquele dia, Sunoo decidiu que não desistiria de entender o que estava acontecendo. Ele tinha visto nos olhos de Sunghoon uma angústia que ninguém parecia enxergar.
Se ninguém mais se importava, ele se importaria.
Do outro lado da cidade, Sunghoon caminhava sem destino definido. Ele havia pulado o muro da escola após "discutir" com o Sunoo, sem intenção de voltar. Não fazia diferença. A detenção ou os cochichos dos colegas já não o afetavam tanto quanto as vozes que ecoavam em sua mente.
Enquanto caminhava, os pensamentos voltaram pra aquela noite. Sua mãe arrumando uma pequena mala às pressas, o rosto pálido e cheio de medo.
— Você precisa vir comigo, filho. É perigoso ficar aqui.
Ele havia se recusado. Não porque não queria fugir — ele queria mais do que tudo —, mas porque sabia que o pai usaria qualquer pista pra encontrá-la.
— Se eu for, ele vai nos procurar e a nossa vida vai ser um inferno, mais do que já é. Eu fico.
Foi a última vez que viu sua mãe. Desde então ele vivia sozinho com o pai, carregando não só os hematomas das noites de bebedeira, mas também a culpa por não ter ido embora com ela. Sunghoon parou em um parque abandonado, um dos poucos lugares onde se sentia um pouco mais tranquilo. Ele sentou-se em um dos balanços, observando as sombras das árvores enquanto o vento gelado soprava ao seu redor.
Você nunca vai ser diferente, seu moleque imprestável do caralho.
As palavras de seu pai continuavam a atormentá-lo. Não importava o quanto tentasse, parecia que estava preso a uma espiral de destruição da qual não conseguia escapar.
De volta à escola, Sunoo estava inquieto. A ausência de Sunghoon durante o resto do dia era como um incômodo constante. Ele sabia que o garoto provavelmente não voltaria pra aula, mas isso não diminuía sua preocupação. No intervalo, ele se encontrou com Jungwon, Jake e Niki na cantina.
— Você ainda tá pensando no Sunghoon? Ele gritou com você, Sunoo. Como pode se preocupar com aquele cara? — Jungwon perguntou, mordendo um pedaço de sua maçã.
— É exatamente por isso que eu me preocupo, ninguém é agressivo assim à toa. — Sunoo admitiu — Algo tá muito, muito errado com ele.
— Ele sempre foi estranho, parando pra pensar. — Jake comentou dando de ombros — Acho que você tá gastando energia pra nada.
— Não é só isso, é diferente agora. — insistiu Sunoo — Ele parece... esquisito demais. Além do normal.
— Talvez ele só seja um daqueles casos em que você não pode fazer nada. — Niki disse, sem papas na língua.
Sunoo balançou a cabeça, determinado.
— Eu não acredito nisso.
Os amigos trocaram olhares, sabendo que era inútil discutir. Sunoo era teimoso, e quando decidia ajudar alguém, ninguém conseguia fazê-lo mudar de ideia.
Mais tarde, na saída da escola, Sunoo pegou o mesmo caminho de sempre até sua casa. Quando passou por uma certa parte do caminho, ouviu o som de passos atrás dele. Virou-se, mas não viu ninguém.
— Deve ser coisa da minha cabeça. — murmurou pra si mesmo.
Mas mesmo assim, ele não conseguiu se livrar da sensação de que estava sendo observado.
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𝕾unghoon, por outro lado, ainda estava no parque. Perdeu a noção do tempo, a cabeça cheia de pensamentos. Quando finalmente decidiu voltar pra casa, o céu já estava escuro e as luzes das ruas piscavam fracamente.
Ao virar uma esquina, viu Sunoo andando a poucos metros de distância. Ele parou no mesmo instante, hesitando. Não queria ser visto, mas algo o impedia de se virar e ir embora. Sunoo parecia distraído, o rosto ligeiramente franzido como se estivesse perdido em pensamentos. Sunghoon sentiu uma pontada de curiosidade. Por que esse garoto se importava tanto?
Por um momento, ele quase quis falar com Sunoo, mas algo o segurou. Sabia que quanto mais próximo chegasse de alguém, mais chances haveria de machucá-lo. E Sunghoon, mesmo que lutasse contra, tinha receio de chegar a agir como seu pai algum dia.
Mas Sunoo parou de repente e Sunghoon percebeu tarde demais que havia feito barulho ao pisar em um galho.
— Deve ser coisa da minha cabeça. — Sunoo afirmou, seguindo seu caminho.
Sunghoon ficou imóvel, prendendo a respiração. Por sorte, o Kim balançou a cabeça e continuou andando, murmurando algo sobre sua imaginação.
Quando finalmente chegou em casa, encontrou a porta entreaberta. Seu coração apertou. Isso significava apenas uma coisa: seu pai já estava em casa, e provavelmente bêbado. Ele entrou com cuidado, tentando não fazer barulho, mas a tábua do chão rangeu sob seus pés.
— É você, moleque?
— Sou eu. — Sunghoon respondeu, a voz baixa.
— Você é um inútil. — o homem disse, cambaleando pra sala — Igual à sua mãe.
Sunghoon cerrou os punhos, mas não respondeu.
— Vai ficar aí parado? — o pai gritou — Vai fazer alguma coisa que preste pelo menos uma vez na vida.
Sunghoon sentiu o estômago revirar, mas assentiu e foi pro quarto, ignorando os xingamentos que continuavam vindo da sala. Ele se jogou na cama, fechando os olhos com força. Não sabia quanto tempo mais aguentaria viver assim, mas por enquanto, não tinha escolha.
E, mesmo com toda a escuridão que o cercava, ele não conseguiu evitar que o rosto de Sunoo surgisse em sua mente.
Talvez, pensou Sunghoon, fosse porque ele via em Sunoo algo que ele mesmo não conseguia enxergar há muito tempo: uma luz no meio da escuridão.
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