twenty-three
─ eu tenho a sua palavra? ─ ainda agachado, questionei olhando dentro dos olhinhos brilhantes de Jiwoo, que estava em minha frente, abraçando meu pescoço com certa dificuldade.
─ a minha palavra papai! ─ confirmou de maneira adorável.
─ você está prometendo? ─ perguntei apenas por garantia, afinal não queria que ela acabasse contando acidentalmente para Mingyu sobre a gravidez.
Estive pensando muito sobre como fazer isso, porque quero que seja de uma maneira especial. Ele não teve a oportunidade de viver isso na gestação de Jiwoo, então quero dar essa experiência para ele agora.
Sei que Mingyu ama Jiwoo incondicionalmente e que está feliz em poder fazer parte de sua vida e estar ao seu lado para vê-la crescer, mas, apesar de ter me perdoado pelo passado, sei que jamais irá esquecer o fato de não ter acompanhado a gestação, bem como seus primeiros cinco anos de vida.
Também sei que nada do que eu fizer irá apagar o passado, mas eu estou tendo a oportunidade de me redimir, de fazer da maneira certa e, dessa vez, não irei deixa-lo escapar.
─ estou prometendo ─ assentiu com um sorriso que deixava em evidência suas lindas covinhas.
─ certo, então vamos. Estão todos no jardim, nos esperando ─ sorri, dando um beijinho de esquimó na pequena, me levantando em seguida.
Ajeitei seu vestidinho azul marinho, levemente amassado pela correria de mais cedo, já que desde que chegamos, Peter e ela não pararam de correr pela casa toda e, então, segui de mãos dadas com ela para o jardim.
Estamos todos reunidos na casa do pai de Mingyu para o almoço de domingo e quando eu digo todos, quero dizer todos mesmo.
Seungkwan e Hansol estão sentados em um sofá de vime a beira da enorme piscina, enquanto o loiro acaricia a barriguinha do esposo, que ainda era quase imperceptível, assim como a minha. Eles pareciam imersos em seu próprio mundinho, entre sorrisos e carícias repletas de alegria e amor.
Jihyo e Sana estavam sentadas na beira da piscina com os pés imersos na água, já Mínghao estava esparramado em uma das espreguiçadeiras e não pude deixar de reparar nos belos óculos de sol que ele usava.
Chan e Seungmin, irmão mais novo de Mingyu, ajudavam o senhor Kim com a churrasqueira e nossas mães conversavam sobre panelas ante-aderentes ou algo do tipo.
Na verdade, Mingyu estava muito feliz por sua mãe ter se enturmado muito rapidamente com todos e por ter facilmente se aproximado de Jiwoo. Estava feliz também por finalmente poder se sentir em paz e, mesmo depois dos acontecimentos passados, ser forte o bastante para perdoar.
Dando mais uma olhada no quintal que continha também um gramado espaçoso e algumas árvores grandes e bonitas repletas de flores coloridas, vejo Jiwoo e Peter correndo novamente, me fazendo sorrir.
Ele é realmente um menino maravilhoso e logo de cara se deu bem com minha filha. Arrisco dizer que ainda serão melhores amigos ou, quem sabe, algo mais. Mas isso em um futuro bem distante, é claro.
─ no que o meu doce e belo Wonwoo tanto pensa? ─ sinto minha boca secar e meu coração disparar no exato momento em que Mingyu se aproxima de repente, me abraçando por trás. Seus dedos tocavam levemente em minha barriga, ato que fez meu estômago revirar.
─ em nada ─ recostei-me sobre seu peito e forcei um sorriso, tentando disfarçar o desconforto mas não acho que tenha funcionado.
─ você está bem, Won? parece pálido... ─ apenas assenti, tentando ignorar o cheiro de carne assada que, de repente, me causava nâuseas ─ certo... hm, hyung? ─ chamou por mim, ainda desconfiado, no entanto, notei algo diferente em seu olhar, algo que não consegui decifrar, mas não parecia ruim ─ quero te levar a um lugar.
─ como assim? agora? ─ questionei confuso e o vi assentir, sorrindo ladino ─ me levar pra onde?
─ surpresa. Apenas Você, Jiwoo e eu.
─ mas e a comida?
─ podemos comer depois, Won! ─ exclamou franzindo a testa, os lábios unidos em um biquinho adorável. Diante desta cena, não pude negar.
─ tudo bem então.
Em seguida, notei os olhares cúmplices trocados entre Mingyu e nossos amigos, que aparentemente prestavam atenção ao nosso diálogo e pareciam saber de algo, mas não disse nada.
Talvez apenas estivesse imaginando coisas.
[...]
Nostalgia foi o sentimento que se apossou de mim no momento em que Mingyu estacionou no mesmo gramado de anos atrás. Sentia meu sangue pulsar por cada uma das veias presentes em meu corpo e em meu coração as lembranças daquele passado não tão distante.
Quando toquei meus pés no chão, sentindo a grama em meus pés, agora descalços, senti as mesmas sensações e o mesmo aroma. Foi como um anestésico para minha alma.
Os girassóis pareciam ainda mais bonitos do que na primeira vez em que os vi. O amarelo vibrante de suas pétalas parecia reluzir diante da luz do sol e o silêncio naquele campo continuava acolhedor e cheio de paz.
─ já disse isso quando estivemos aqui cinco anos atrás mas, nossa, essa visão é deslumbrante ─ ofeguei e, com o canto dos olhos, vi Jiwoo sentada sobre uma toalha amarela que Mingyu havia posicionado na sombra de uma árvore. Mais uma vez, imagens invadiram minha mente ocasionando um sorriso involuntário.
─ é linda. Muito linda ─ o moreno concordou após alguns segundos, então desviei meu olhar percebendo que este já me observava de maneira intensa. O tom castanho de seus olhos parecia mais escuro e brilhante e, como velhos hábitos nunca mudam, não pude evitar o rubor em minhas bochechas, que pareciam queimar diante dele ─ eu senti falta desse lugar.
─ eu também ─ confessei me aproximando ─ embora só tenha estado aqui uma vez.
Após algum tempo em silêncio, apenas contemplando a paisagem, Mingyu chamou por mim e apenas movi levemente a cabeça para que ele soubesse que eu o escutava, no entanto ele permaneceu em silêncio, movendo suas mãos fortes para minha cintura, me virando em sua direção.
─ eu estou realmente feliz por estar aqui com você e com a nossa filha ─ seus lábios se curvaram em um sorriso doce e pequenas ruguinhas se formaram abaixo das pálpebras inferiores. Seus olhos ficaram levemente fechados enquanto as sobrancelhas se abaixaram em um sorriso sincero e brilhante ─ mas existe um motivo para estarmos aqui hoje.
Uni minhas sobrancelhas em confusão.
─ sei que cometemos erros no passado, mas não quero pensar nisso como algo ruim. Apenas como uma lição ou uma fase difícil ─ iniciou após respirar fundo, parecendo nervoso ─ Wonwoo, é você quem me dá as manhãs todos os dias. Você é a resposta para a minha jornada. Se eu tivesse tido a chance de enquadrar nossa história como um floco de neve em meu coração eu a congelaria com o infinito para que nunca tivéssemos nos separado, mas não podemos apagar o passado. Podemos escrever o futuro, Won.
Eu realmente não sabia o que estava acontecendo, mas, talvez por conta dos hormônios, sentia meus olhos arderem, repletos de lágrimas salgadas. Por algum motivo respirar também parecia uma tarefa complicada no momento, mas senti vontade de retribuir suas palavras.
Ele merecia ouvir algo tão bonito quanto o que havia dito e eu esperava ser capaz de dizer.
─ Sabe, Gyu... Eu costumava achar que estrelas iluminavam nossas noites escuras e que eram como poesia para nossos olhos. Apenas isso. Porém, com o tempo, percebi que elas também nos contam histórias, mas apenas aqueles que amam podem ouvi-las e, depois que conheci você, passei a ouvir seus sussurros com frequência.
Minha voz soou embargada, mas sua expressão me fez perceber que ele compreendeu cada palavra.
─ se lembra de quando falei que gostaria de ter te pedido em casamento aqui, ouvindo as primeiras palavras de Jiwoo? ─ questionou de repente e eu perdi o fôlego por um instante apenas com aquela menção. Onde ele queria chegar? ─ bem, talvez eu esteja um pouco atrasado, mas nunca é tarde quando se ama alguém como eu amo você.
Cada palavra sua me atingia em cheio e fazia com que meu coração se aquecesse. Acho que esse é um dom que ele tem, afinal.
─ diante de um universo tão vasto e da imensidão do tempo, agradeço todos os dias por compartilhar o mesmo planeta e por viver na mesma época que você, então eu gostaria muito de saber se você, Jeon Wonwoo, aceita se casar comigo?
Quando os raios de sol que passavam por entre as folhas das árvores atingiram seu rosto, iluminando sua face angelical, o moreno ajoelhou-se em minha frente e, em seguida, Jiwoo se aproximou com uma pequena caixinha de veludo preta. Seu sorriso animado me fez enteder que tudo havia sido planejado.
Sentia meus joelhos tremerem e tudo ao meu redor parecia girar. Minha respiração estava entre-cortada e meu peito subia e descia de forma descompassada.
Era simplesmente bom demais para ser verdade, não era? Eu finalmente tinha tudo o que eu sempre quis e parecia irreal.
Era possível que depois de tudo o que aconteceu no passado, coisas maravilhosas como essa pudessem ocorrer?
Bem, algumas vezes o mais belo arco-iris surge da pior tempestade para nos trazer de volta a esperança, então, talvez a resposta seja óbvia.
─ sim!
Observo a expressão de Mingyu ir de ansiosa para neutra. De neutra para pensativa e de pensativa para surpresa.
─ mesmo? Você tem certeza? ─ ele questiona com certa dificuldade por conta do forte tremor em seus lábios e não consigo conter um riso fraco, confirmando em seguida.
Assim que se põe de pé novamente, com os olhos inundados por uma grossa camada de lágrimas, Mingyu me puxa para um abraço apertado, fazendo com que eu conseguisse sentir o cheiro cítrico de seu shampoo.
Consigo ouvir seu coração batendo acelerado, se misturando aos soluços que ele soltava, vez ou outra.
Pela emoção do momento sinto minhas bochechas ficarem molhadas novamente.
Antes mesmo de colocar a aliança em meu dedo, deixou um beijo terno em meus lábios enquanto acariciava minha cintura com a mão livre, me causando o tão famoso frio na barriga que, em toda a minha vida, apenas ele me fez sentir.
─ da mesma maneira que esse anel não tem início e nem um fim, assim é o nosso amor, Won. Eterno ─ sorrio, observando a aliança se moldar perfeitamente ao meu dedo anelar.
Segurei suas mãos com força e iria o responder, mas a voz suave e entusiasmada de Jiwoo se fez ouvir, chamando nossa atenção.
─ meus papais vão se casar! ─ ela exclamou e seu sorriso doce, com alguns dentes faltando, nos contagiou ─ e eu também vou ganhar um irmãozinho, tudo no mesmo dia! Eu tenho que contar pro Peter ─ de repente, até mesmo o balançar das árvores pareceu cessar, tamanho era meu nervosismo. Jiwoo parecia estar falando sozinha, já que nem mesmo percebeu o que havia dito.
"A minha palavra papai", disse ela com a maior convicção.
Mesmo que não tenha sido proposital, creio que não devo contar com ela para guardar segredos. Pelo menos não por enquanto.
Intercalei meu olhar entre Jiwoo e Mingyu, começando a ficar preocupado com o moreno que a alguns minutos olhava fixamente para minha barriga e parecia transparente, tamanha sua palidez.
Quando ele finalmente pareceu recobrar os sentidos, levantou seu olhar lentamente e, sem dizer uma palavra sequer, entendi seu questionamento.
Seu olhar cheio de expectativa queria saber a veracidade da informação.
Era realmente muita coisa para poder assimilar e apenas em pensar nisso senti minhas pernas vacilarem e meu estômago embrulhar.
─ Mingyu, nós precisamos voltar!
─ porquê? ─ele questionou confuso e aparentemente decepcionado com a mudança repentina de assunto ─ a vista daqui é tão linda e...
─ sabe o que não é lindo? o enjoo que eu 'tô sentindo, seu idiota ─ talvez a minha repentina grosseria o tenha assustado, já que seus olhos duplicaram o tamanho e ele se apressou em assentir, recolhendo a toalha estendida imediatamente.
─ tudo bem, vamos voltar.
Com sua ajuda, ocupei o lado do passageiro no carro e esperei por Mingyu, que colocava nossa filha na cadeirinha.
Respirei fundo algumas vezes, pondo minha cabeça para fora da janela e, só quando minha mente pareceu clarear, reparei no modo como agi com Mingyu depois daquele momento que deveria ser perfeito, arrependendo-me em seguida.
Estava tão imerso em pensamentos que só notei a presença dele dentro do carro quando o mesmo tocou carinhosamente minha barriga, com o veículo ainda estacionado.
Quando abri meus olhos para dizer algo ou pelo menos responder sua pergunta, embora provavelmente ele já tivesse a resposta, fui surpreendido mais uma vez ao vê-lo me estender um pequeno girassol.
─ me desculpe por gritar com você amor, eu não sei o que houve comigo. Eu sou uma pessoa horrível ─ acariciando as pétalas delicadas, choraminguei de forma dramática, assim como Seungkwan fazia, arrancando um pequeno risinho do maior, que beijou o topo de minha cabeça.
Seu olhar era tão terno e cheio de amor que senti que tudo estava bem. E quando não estivesse, nós faríamos ficar porque no fim, sempre acabamos exatamente onde deveríamos estar.
─ você não é uma pessoa horrível. Você é como a primeira neve em uma noite de verão, um milagre inacreditável. Existe um lado seu que apenas eu conheço, um lado com um milhão de pequenas razões para que eu me apaixone cada dia mais por você. Você, o pai dos meus filhos e o meu futuro marido. O único forte o suficiente para segurar minha mão e atravessar a pior tempestade.
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