
𝟏𝟒. 𝐄𝐋𝐄 𝐍𝐀𝐎 𝐓𝐈𝐍𝐇𝐀 𝐄𝐒𝐒𝐄 𝐃𝐈𝐑𝐄𝐈𝐓𝐎
⋆ㅤ⎯⎯ 𝖣𝖨𝖠𝖲 𝖠𝖳𝖴𝖠𝖨𝖲 . . .
𝗔𝗗𝗘𝗟𝗜𝗡𝗘 𝗩𝗔𝗡𝗗𝗘𝗥𝗕𝗜𝗟𝗧.
𝐏𝐎𝐈𝐍𝐓 𝐎𝐅 𝐕𝐈𝐄𝐖!
Deixo a água fria do chuveiro escorrer pelo meu corpo enquanto estou sentada no meio da banheira com o rosto apoiado sobre meus joelhos, pensando no que aconteceu horas atrás. Quando confessei algo que não parecia tão ruim até eu falar em voz alta e na frente dos quatro cavaleiros e as meninas. A sensação de culpa tomou conta de mim desde então. Eu sou um ser humano horrível. Eu encomendei a morte de quatro pessoas.
A maneira de como fui obrigada a dizer aquelas palavras em voz alta me tortura, elas estão se repetindo em minha mente a todo tempo, nao dormir a noite toda o sol já surgiu lá fora e eu ainda me lamento por ontem.
Eu sou a vilã da história? Eu fui abusada e eu pedi para que fossem mortos, mas o impacto de dizer que fui abusada não foi o mesmo de ter dito que eu os matei. Eu os matei certo? Eu pedi para que matassem eles, o que me torna a assassina deles. Eu me sinto como a pobre garota de quatorze anos que acusaram de matar os pais e a irmã, e se eu realmente for esse monstro que todos falaram? E se eu realmente for a culpada pela morte deles? 𝐸𝑢 𝑠𝑜𝑢 𝑢𝑚𝑎 𝑎𝑠𝑠𝑎𝑠𝑖𝑛𝑎 𝑒 𝑢𝑚 𝑚𝑜𝑛𝑠𝑡𝑟𝑜.
Meus olhos estão marejados e minha visão turva enquanto choro baixinho com a água do chuveiro derramando sobre meu corpo nu. Ter carregado esse fardo sozinha todo esse tempo foi demais para mim e ainda é, mas eu não tinha com quem falar sobre a não ser guardar tudo para mim como sempre, mas tenho medo de explodir com tudo que guardei todos esses anos, o medo, a rejeição, a angústia, os abusos, a culpa é os dedos apontados para mim como assassina. Eu era de fato uma assassina? Ou só uma garota problemática que perdeu os pais? Não importa. 𝑁𝑖𝑛𝑔𝑢𝑒𝑚 𝑙𝑖𝑔𝑎. 𝑁𝑖𝑛𝑔𝑢𝑒𝑚 𝑠𝑒 𝑖𝑚𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎𝑣𝑎. Não importava o quanto eu me dediquei ou ajudei as pessoas e tudo que fiz por elas, isso nunca importava, nunca importou e eu percebi isso tarde demais enquanto choro sozinha em silêncio sentindo a dor de sempre estar só rasgar a minha garganta em uma vontade de gritar o máximo que eu poderia mas não o faço por medo. Medo de que as pessoas me conheçam de verdade e saibam o que sinto sobre tudo. Só de pensar em alguém saber verdadeiramente como eu me sinto me faz tremer, tenho medo das pessoas me conhecerem de verdade como Will conheceu mas não ficou ele foi embora como qualquer outra pessoa.
Talvez o problema seja eu, mas continuo culpando todos ao meu redor por não conseguir guardar esse fardo para mim e então preciso dizer que esses problemas tem um culpado mas o culpado não sou eu. 𝑀𝑎𝑠 𝑎𝑔𝑜𝑟𝑎 𝑡𝑎𝑙𝑣𝑒𝑧 𝑠𝑒𝑗𝑎. E como se eu vivesse em um ciclo que se repete, eu estou bem vivendo e aceitando o que aconteceu sem culpar ninguém, 𝑠𝑒𝑚 𝑚𝑒 𝑐𝑢𝑙𝑝𝑎𝑟. Mas em outro momento eu tô me torturando, meus pensamentos perturbados não me abandonam e continuam ali me mostrando que não importa o quanto eu lute eu sempre volto para esse ciclo inacabável. O ciclo que me destrói por dentro, o que me destrói todos os dias.
Mas não importava, era um ciclo passageiro, um ciclo que logo acabaria e mostraria o outro eu. O eu sedento por 𝑣𝑖𝑛𝑔𝑎𝑛𝑐𝑎. O que busca pela verdade mas que cansou de ligar para quem não ligava para ela. Um dos meus ciclos que se repetiam também.
A garotinha indefesa é medrosa, atordoada.
A garota com a visão do futuro e que pode abandonar o passado e seguir em frente.
Mas a garota que vai atrás de saber o que aconteceu e vai acabar com todos que tentaram derrubar lá e a que deve permanecer, não nenhuma das inúteis do meu subconsciente, elas sim iram me destruir ou deixar fazerem de novo mas eu não. 𝑁𝑎𝑜 𝑑𝑒 𝑛𝑜𝑣𝑜.
Fungo e lavo o rosto com a água gelada do chuveiro e depois saio de lá me enrolando na toalha procurando por alguma roupa no guarda Roupa, visto uma camisa preta e fico apenas de calcinha, penteio meu cabelo e me sento na varanda do quarto, em uma mesinha que tinha lá. Observo toda a neblina em volta da ilha por mais que o pôr do sol já tenha nascido. Não tem nenhuma movimentação no mar, só ondas e mais ondas, nada de barcos ou pescadores. E como se a ilha fosse invisível aos olhos de todos. Mas também, quem são os trouxas que vão a uma ilha assim do nada de uma hora para outra sem nem saber quem os chamou? Por isso nos demos mal e até merecemos, quem em sã consciência faria algo assim? Só quem gosta de brincar com a morte, a morte parece me rodear como uma sombra que me persegue, não importa o que eu faça ela sempre estará lá.
Escuto batidas na porta do lado de fora do quarto mas não me movo para ir abrir a porta, seja lá quem for vai ir embora se eu não abrir, não quero ter que olhar para a cara de alguém hoje e nem por pelo menos três dias, só quero ficar aqui no meu quarto trancada e isolada. Com apenas minha companhia mas isso se torna impossível quando vejo a silhueta de Grayson no batente da varanda com uma bandeja nas mãos.
── Você deveria trancar a porta. ─ Fala ainda atrás de mim mas não o olho, cruzo os braços e continuo observando a paisagem da ilha.
── O que você quer? ─ O questiono. Não queria ninguém aqui no meu quarto, eu tô acabada, devastada. Meus olhos estão inchados e vermelhos, minha cabeça lateja de dor mas ignoro focada nos pássaros voando, isso parece mais interessante do que ter que encarar Grayson depois de ontem a noite.
── Trouxe café da manhã, você não come nada desde ontem, tem água também. ─ Coloca a bandeja sobre a mesa mas continua no mesmo lugar.
── Não tô com fome, obrigada, mas pode ir embora. ─ O expulso na cara dura.
── Addie não faz isso. ─ Súplica mas nego com a cabeça.
── Para de me chamar assim, por favor. ─ Indago zangada. ── Agora por favor vá embora, William.
── Só quando você comer. ─ Insiste e arrasta a outra cadeira até minha frente e o olho confusa.
── Mas que porra é essa?
── Come. ─ Ordena é eu arqueio a sobrancelha.
── Você não manda em mim.
── Não mando, mas me preocupo, ainda mais depois de ontem. ─ Fala e me encolhi na cadeira.
── Não quero falar disso. ─ Retruco fungando.
── Não precisa se não quiser. ─ Diz e o olho segurando o choro. Se fosse em outra época eu estaria desabando em seus braços enquanto ele estaria me abraçando dizendo que estava lá por mim. ── Mas preciso saber se você tem certeza que eles estão mortos?
── Por que isso agora? ─ Murmuro desviando meu olhar do seu.
── Porque se eles não estiverem mortos 𝑒𝑢 𝑚𝑒𝑠𝑚𝑜 𝑣𝑜𝑢 𝑡𝑟𝑎𝑡𝑎𝑟 𝑑𝑖𝑠𝑠𝑜. ─ Argumenta em um tom ameaçador e sei que está tentando controlar a raiva na voz.
── Isso não é problema seu. ─ Me ajeito na cadeira e apoiei meu rosto em meus joelhos olhando o mar.
── Se tornou problema meu quando eles encostaram em você e abusaram de você, Adeline. ─ Diz com ternura e solto uma risada amarga.
── Por favor, William. ─ Nego com a cabeça rindo amargamente. ── Isso nunca foi problema seu, não sei nem o que faz aqui mesmo depois de tudo! Isso mostra o quão egoísta você é! ─ Despejo minha raiva e ele só fica lá parado ouvindo sem dizer nada, seu semblante sério o olhar fixado em mim. ── Eu... eu me arrependo tanto de ter 𝑚𝑒 𝑎𝑝𝑎𝑖𝑥𝑜𝑛𝑎𝑑𝑜 por você, por confiar em você, por ter achado que você é Damon poderia Me proteger do que aconteceu e como eu fui tola em todas as vezes que eles estavam fazendo 𝑎𝑞𝑢𝑖𝑙𝑜 comigo eu pensava em você e Damon me tirando de lá e matando aqueles idiotas Mas isso 𝑛𝑢𝑛𝑐𝑎 𝑎𝑐𝑜𝑛𝑡𝑒𝑐𝑒𝑢. Porque o que tivemos nunca foi real. ─ Seco as lágrimas involuntárias que insistiam em cair. ── Todo o inferno que vocês me fizeram passar? ─ Pergunto e ele não desviou seus olhos verdes de mim nem por um momento. ── Eu merecia aquilo Grayson? Eu não merecia! Tudo o que eu passei e passo até hoje é culpa sua e deles. ─ Aponto o dedo para ele. ── Eu amei voce, porra e como eu amei, mas mesmo assim você fez aquilo comigo. ─ Já não tenho controle das minhas lágrimas que caem por raiva e pela dor. ── Você me destruiu como nunca pensei ser possível, eu amei você e a cada dia naquele maldito manicômio eu me odiava por ainda amar você, por ainda acreditar na sua inocência em pensar que eu fui a culpada por tudo e que nosso amor não passou de uma farsa de uma brincadeira idiota sua! Só para que? Para dizer que pegou a irmã da sua melhor amiga? Para se gabar que me tinha na palma da mão? E você nunca me amou de verdade. Você nunca amou ninguém de verdade além de vice mesmo, porque você é podre por dentro e por fora William Grayson, por isso você precisa das drogas e bebidas para sentir algo porque você é tão podre e inútil! ─ Jogo tudo em sua cara e quando vou continuar a falar algo ele me interrompe.
── Cala a boca Adeline! ─ Diz brusco é franzo O cenho para revidar mas ele desvia o olhar para a minha boca e tento me afastar mas quando vejo já é tarde e Will está com os lábios grudados nos meus. A única coisa que consigo pensar são os anos de dor, raiva e o amor não correspondido. A minha fúria contida, a dor da traição de William, a confusão dos meus sentimentos, tudo isso se mistura nessa aproximação forçada, um beijo. 𝑈𝑚 𝑏𝑒𝑖𝑗𝑜 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑊𝑖𝑙𝑙 𝑒 𝑒𝑢 𝑎𝑝𝑜𝑠 𝑎𝑛𝑜𝑠. Não um beijo de reconciliação, mas sim um turbilhão de emoções reprimidas. E um beijo que carrega o peso do nosso passado devastador, um beijo que grita mais do que sussurra, a intensidade bruta e desesperada de ambos, um ato que reflete a complexidade emocional do momento. Um turbilhão de sentimentos se apossa de mim e não penso em nada mais no minuto seguinte além de empurrar Will para longe de mim e tirar suas mãos de meu rosto, me levanto indo para meu quarto buscando por ar, tentando processar o que acabou de acontecer mas William vem atrás de mim.
── QUE PORRA VOCE FEZ!? ─ Berro furiosa pelo seu ato.
── O que eu tava me segurando para não fazer a tempos. ─ Bradou respirando fundo mexendo nos fios castanhos escuros do cabelo. ── Para mostrar que tudo o que eu senti por você não foi brincadeira! Eu amei você de verdade, Adeline. 𝐸𝑢 𝑎𝑖𝑛𝑑𝑎 𝑠𝑖𝑛𝑡𝑜 𝑎𝑙𝑔𝑜 𝑝𝑜𝑟 𝑣𝑜𝑐𝑒, 𝐴𝑑𝑑𝑖𝑒. ─ Sussurra a última parte e isso é quase como uma flecha no meu peito. Sento na beira da cama abalada por suas palavras, ele não pode ter feito isso. Não depois de anos de tortura, dores e sofrimento. Ele não tinha esse direito.
── Você não tem esse direito de vir aqui e dizer isso! ─ Sussurro com meus olhos marejados. ── Você não tinha o direito. ─ Repito tentando segurar o choro.
── Addie me desculpa mas eu... ─ Tenta de aproximar mas eu me afasto.
── Sai do meu quarto.
── Adeline por favor. ─ Implora e consigo vê a angústia em seu rosto mas não me importo. Na minha vez ninguém se importou.
── Vai embora agora. ─ Argumento com a raiva exalando na minha fala. ── PORRA GRAYSON AGORA! ─ Grito e ele dá as costas indo até a porta.
── Pelo menos come alguma coisa, Addie. Não por eu pedir, mas por você mesma. ─ Fala antes de sair do quarto e fechar a porta, vou até lá e tranco a porta e em seguida pegando a primeira coisa que vejo pela frente e jogo na parede descontando minha raiva. Eu me odeio por ter aceitado essa droga, eu me odeio por ter vindo até aqui, eu me odeio por ter amado Will, eu me odeio por tudo que fiz até hoje! Caralho como eu me odeio! Depois de quebrar quase meu quarto inteiro eu me sento no chão abalada, destruída e sozinha. Apenas eu, apenas eu com a minha dor. A dor que nunca vai embora é só aumenta. A dor que me destrói um pouco por dentro todo dia. É tudo tão difícil seguir em frente, é tão irônico William estar aqui exatamente quando estou tentando me curar de mim mesma. Em vez de minhas lágrimas serem absorvidas e compreendidas, são refletidas a mim novamente me causando mais dor e angústia. A dor se tornou a minha melhor companhia, pelo menos ela nunca me deixa só ou me acusa de algo, a minha pior inimiga agora é minha amiga nos piores momentos.
Me encolho no chão no quarto, e as lágrimas não param, a negação se intensifica, e como se um filme de todas as coisas boas que já vivi até aqui passarem diante dos meu olhos, os aniversários com meus pais e Gracie, o primeiro dia de aula, as compras no shopping com mamãe e Gracie, as risadas e brincadeiras bobas do papai, os natais, ano novo, a primeira vez que aprendi a andar de bicicleta, as noites de filmes, as receitas malucas que eu fazia com meus pais, quando eu estava mal e eles estavam lá por mim, 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑚𝑖𝑚, a maneira de como eles sempre estavam lá cuidando de mim e mostrando o quanto me amavam e de repente não tenho mais isso.
Choro igual a uma criança desesperada quando perde os pais no parque mas eu não os perdi, 𝑒𝑢 𝑜𝑠 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑖. Eu sou o monstro, sou ingrata e tão repugnante ser eu mesma, tudo que eu toco eu destruo. Quem me visse chorando o tempo todo diria que eu não passo de um bebe chorão, mas eu não me importo, por mais de estar cansada de estar carregando essa dor, esse fardo, essa angústia Eu estou cansada de ser tão melancólica, cansada de tudo ao meu redor ser resumido a tudo do meu passado eu quero ser apenas eu, recomeçando uma nova vida, deixando esse sofrimento para trás, quero ser uma versão melhor minha, a versão que é feliz e não que se deprime o tempo todo. 𝐸𝑢 𝑞𝑢𝑒𝑟𝑜 𝑠𝑒𝑟 𝑙𝑖𝑣𝑟𝑒. Eu preciso ser livre dessa eu, eu preciso apenas ser livre por mim mesma. Não aguento mais meus pensamentos. Eu não me aguento mais e eu preciso recomeçar em outro lugar, mas como posso fazer isso se a própria eu não faz nada para mudar a si mesma.
𝐸𝑢 𝑠𝑜𝑢 𝑢𝑚 𝑝𝑜𝑐̧𝑜 𝑑𝑒 𝑑𝑜𝑟 𝑞𝑢𝑒 𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑠𝑎 𝑠𝑒𝑟 𝑠𝑎𝑙𝑣𝑎 𝑑𝑒 𝑠𝑖 𝑚𝑒𝑠𝑚𝑎.
★.ᐟ : : Qual a opinião de vocês sobre esse capítulo? Mais interações dos dois juntos? 😶
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