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Acordei com uma dor latejante no baixo ventre, aquela sensação familiar que, mesmo depois de anos, parecia sempre me pegar de surpresa. Estava acostumada a lidar com isso sozinha, mas, naquele dia, parecia que o universo tinha decidido triplicar a intensidade da cólica só pra me atormentar. Me encolhi debaixo das cobertas, abraçando meu próprio corpo, tentando encontrar alguma posição que aliviasse, nem que fosse um pouco, a dor.

O relógio já marcava quase nove da manhã, mas levantar da cama parecia uma missão impossível. O cheiro do café recém-passado vindo da cozinha me atingiu de leve, e por um momento considerei reunir forças para ir até lá. Mas só de pensar em me mexer, um gemido baixo escapou dos meus lábios.

Fechei os olhos, tentando me distrair da dor, até ouvir passos pesados se aproximando do meu quarto. A porta se abriu devagar, e, antes que eu pudesse reagir, Jungkook apareceu no batente, com a testa franzida.

— Já vai começar a faltar na faculdade, Raquel. - ele perguntou, a voz no mesmo tom brincalhão e provocador.

Eu virei o rosto pro outro lado, esperando que ele fosse embora e me deixasse no meu sofrimento silencioso. Mas, claro, ele não fez isso.

— Raquel? - a voz dele soou mais perto dessa vez. Eu o ouvi entrando no quarto, e senti o colchão afundar levemente quando ele se sentou na beirada da cama. — O que foi? Você tá... chorando?

Droga. Eu não tinha percebido que algumas lágrimas tinham escapado

dos meus olhos. Respirei fundo, tentando manter a compostura, mas a dor era insistente, assim como ele.

— É só cólica, Jungkook. - murmurei, a voz mais fraca do que eu gostaria. Não queria parecer vulnerável na frente dele.

Houve um breve silêncio, e quando me virei um pouco, ele estava me encarando, os olhos escuros cheios de algo que eu não consegui identificar de imediato. Preocupação? Confusão? Talvez os dois.

— Cólica? - ele repetiu, como se estivesse processando a informação. — Por que você não falou nada?

Dei de ombros, como se aquilo fosse óbvio.

— Não é como se você pudesse fazer alguma coisa.

Ele ficou em silêncio por um momento, e eu pensei que ele fosse simplesmente dar de ombros e sair, como faria normalmente. Mas, pra minha surpresa, ele se levantou de repente.

— Fica aqui. Eu já volto.

Antes que eu pudesse perguntar aonde ele estava indo, ele já tinha saído do quarto. Fiquei ali, confusa, mas o desconforto não me deixou pensar muito sobre isso. Fechei os olhos, tentando ignorar a dor, até ouvir a porta da frente se fechar.

O tempo passou devagar, e eu acabei cochilando um pouco. Quando acordei, ouvi a porta se abrindo novamente. Jungkook apareceu minutos depois no quarto, com uma sacola na mão e uma expressão indecifrável no rosto.

— O que você...? - comecei, mas ele me interrompeu, tirando da sacola uma barra enorme de chocolate e uma bolsa de água quente.

— Achei que isso poderia ajudar. - ele disse, meio sem jeito, colocando a bolsa em cima do cobertor, perto da minha barriga. O calor da bolsa foi instantâneo e, pela primeira vez no dia, a dor começou a ceder um pouco.

— Obrigada... - sussurrei, realmente surpresa com o gesto.

Ele deu de ombros, mas não saiu do quarto. Pelo contrário, ficou ali, parado, me observando. Senti meu coração acelerar de um jeito que não tinha nada a ver com a cólica.

— Você não tinha trabalho hoje? - perguntei, tentando desviar a atenção do jeito como ele me olhava.

Ele hesitou, passando a mão pelos cabelos.

— Tinha. Mas achei melhor ficar em casa.

O silêncio se instalou entre nós, mas não era desconfortável. Era... estranho. Intenso. Jungkook continuava ali, o olhar fixo no meu rosto, e eu sentia meu corpo inteiro reagindo, como se cada célula estivesse ciente da presença dele.

Acabei pegando no sono de novo, mas, antes de apagar completamente, senti o colchão afundar mais uma vez. Quando abri os olhos por um breve segundo, vi Jungkook deitando ao meu lado. Ele achou que eu estivesse dormindo, então não disse nada.

O quarto estava silencioso, exceto pela respiração suave dele ao meu lado. E então, senti algo que me fez prender a respiração de leve; os dedos dele deslizando delicadamente pelo meu cabelo, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Os olhos dele estavam fixos no meu rosto, uma expressão suave, quase vulnerável. Era como se ele estivesse tentando entender o que sentia, assim como eu. O toque dele era gentil, cuidadoso, e, por um momento, toda a tensão entre nós parecia ter se transformado em algo mais... intenso.

Fiquei ali, fingindo que ainda dormia, enquanto o calor do corpo dele ao meu lado e o carinho nos meus cabelos faziam meu coração bater mais rápido. O Jungkook que estava ali, cuidando de mim, era completamente diferente do garoto que vivia me provocando. E isso estava me deixando mais confusa do que eu gostaria de admitir.

O calor do toque dele no meu cabelo era tão suave que eu quase podia fingir que estava dormindo só para sentir aquilo por mais tempo. Mas minha curiosidade venceu. Lentamente, abri os olhos, apenas uma fresta, e dei de cara com o olhar de Jungkook fixo em mim.

Ele estava tão perto que, por um momento, achei que meu coração fosse pular do peito. Nossos olhos se encontraram, e o tempo simplesmente... parou. Nenhum de nós disse nada. Ficamos ali, nos encarando, como se o mundo lá fora não existisse. O olhar dele, normalmente cheio de deboche e provocações, agora era diferente. Havia algo mais suave, mais profundo, que fez meu estômago revirar e dessa vez, não era por causa da cólica.

O silêncio entre nós estava carregado de algo que eu não conseguia identificar, mas que, com certeza, não era a animosidade que costumava marcar nossas interações. Era... intenso. Quente.

Foi quando ele pareceu perceber o que estava fazendo. O olhar dele vacilou por um segundo, e então ele afastou a mão do meu cabelo, limpando a garganta de leve.

— É melhor eu te deixar dormir, né? - ele murmurou, a voz mais baixa do que o normal, quase como se não quisesse quebrar o momento completamente. — Fica aí quietinha...

Ele se levantou devagar, como se ainda estivesse relutante em se afastar, e eu fiquei ali, com o coração acelerado, tentando entender o que diabos tinha acabado de acontecer.

Olá amores! Desculpa o capítulo curtinho. O próximo capítulo está babadeiro!!

Obrigado por lerem. Não se esqueçam de votar e comentar. Beijocas <3