
𝔓rólogo.
𓍊𓋼𓍊𓋼𓍊
𝔉awna não sabia o que a tinha levado a vasculhar o porão de sua casa naquela tarde. Mas essa pergunta não borbulhou muito tempo em sua mente porque seus olhos cansados tinham encontrado outra coisa para refletir, como uma grande caixa preta disposta na parte baixa de uma estante cinza que se corroia. A poeira ainda se acumulava sobre a tampa e as laterais estavam amassadas pelo tempo e as traças. Ela passou gentilmente os dedos, manchados por inúmeras cicatrizes, sobre a tampa, seguindo as linhas douradas "1926".
Com as mãos trêmulas, ela girou sua varinha e a caixa levitou até a sala de estar, onde uma pequena árvore de Natal, sem enfeites, decorava o espaço. Não era o melhor momento para recordar o passado, pensou a mulher, vislumbrando a neve fina que dançava do lado de fora. Apenas a lareira estava acesa, seus estalos vez ou outra fazendo sua coluna enrijecer pelo susto. Fawna nunca foi corajosa. Não de verdade, mas sempre usava o melhor disfarce para sair na rua. Ela suspirou baixinho vendo a caixa descer lentamente até o chão. Faziam muitos anos desde a última vez que estivera em Nova York.
Com um nó na garganta, a mulher de cabelos grisalhos se sentou e abriu a tampa enfeitada, jogando-a em um dos cantos do sofá amarelo. Ela odiava a cor, mas não podia negar que trazia um toque de alegria à casa.
Pelas barbas de Merlim.
Uma página de um dos jornais dos Estados Unidos estampava uma foto deles na primeira capa. Aquela antiga e amarelada foto, tirada em dezembro de 26. Não era segredo para ninguém que Fawna odiava aquela foto. Ela estava sorrindo demais ao lado de Newt, como se, ao lado dele, nem mesmo a mais densa escuridão pudesse apagar seu dia — literalmente. Ela sorriu com a memória. Era comum a Newt trazer alergia às pessoas, por pior que elas fossem. Fawna sabia muito bem disso. Tinha sido uma delas. Talvez fosse um clichê brega — e Newt provavelmente concordaria com isso — mas ele era seu sol. Ele sempre fora gentil. O único problema, é que, com tempo, ele podia amar até o pior dos monstros. E é claro, Fawna era um deles.
Ela coçou o olho direito, enquanto deixava aquela foto de lado e voltava a remexer dentro da caixa. Como ela tinha conseguido passar tanto tempo vivendo daquela forma, como se o passado nunca tivesse existido?
Esticando seu braço, para mais dentro da caixa, dentro de um infinito buraco, ela puxou para fora um livro marrom com capa de couro e folhas amassadas. Deveria haver um pequeno chaveiro dourado ali, mas não era difícil pressupor que o Niffler de Newt — ou Pelúcio, como ele gostava de chamar — tinha o roubado a muitos anos atrás. Animal travesso.
Fawna tinha criado um apreço especial pelas palavras desde a maldição que tinha tirado sua voz — e talvez fosse por isso que tudo o que ela tinha vivido, desde os primeiros anos no castelo bruxo estivessem gravados em diários. Não eram confiáveis, entretanto. Fawna sempre fora uma escritora tendenciosa.
Inclinando-se mais sob a caixa ela pode encontrar uma caixinha menor, de um vermelho aveludado, onde um anel simples anel dourado, repousava ali dentro. Eram tantas memórias. Estava na hora de ordena-las.
Aquecida por um fogo sereno, Fawna dedilhou pelas páginas do seu antigo diário, deixando-se levar pelas memórias, os sonhos e as perdas.
Fawna voltou para casa.
𓍊𓋼𓍊𓋼𓍊
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