prefácio
O sol já começava a se pôr quando decidi fugir daquela casa sufocante. As horas de caminhada pareciam intermináveis, mas eu não podia mais suportar a ideia de me casar com um homem que me via apenas como uma máquina de procriação. O peso da mochila nas minhas costas parecia aumentar a cada passo, mas eu estava determinada a não olhar para trás.
O céu ameaçava desabar em uma tempestade iminente, o vento frio sussurrava prenúncios de chuva. Sabia que precisava encontrar abrigo antes que a noite caísse. Por entre as árvores retorcidas e galhos secos, procurei desesperadamente por algum refúgio.
Foi então que os rosnados de algum animal selvagem cortaram o silêncio da floresta. Sem hesitar, segui adiante, correndo como se minha vida dependesse disso. Cada sombra, cada galho quebrado, era uma ameaça em potencial.
Perdida em meus pensamentos e medos, me vi questionando quem eu realmente era. Uma mulher em busca de liberdade, determinada a traçar seu próprio destino, mesmo que isso significasse enfrentar os perigos desconhecidos da noite.
A escuridão começava a engolir tudo ao meu redor, mas eu não desisti. A determinação ardente dentro de mim queimava mais forte do que qualquer tempestade que se aproximasse. Eu era uma força da natureza, uma mulher determinada a moldar seu próprio destino, custasse o que custasse.
Enquanto caminhava, as primeiras gotas de chuva começaram a cair do céu, e eu ainda não tinha encontrado um lugar adequado para descansar e me abrigar. Fui andando mais rápido e, em meio à pressa, avistei uma casa à distância. Senti-me como João e Maria, indo direto para a casa de um estranho em busca de abrigo. Quem em sã consciência moraria nesse fim de mundo? Se eu fosse uma criança, poderia facilmente acreditar que um lobo habitava ali.
Caminhei até a porta e notei que as luzes ainda estavam acesas. Respirei fundo e apertei a campainha. Minutos depois, a porta foi aberta por um homem musculoso, vestindo apenas uma calça e exibindo suas tatuagens. Estava tão distraída com sua aparência que não percebi seus olhos se tornando completamente negros quando me viu. Fiquei petrificada enquanto ele me agarrou e me arrastou para dentro, onde me colocou sentada em uma cadeira , tentando me recuperar, enquanto ele repetia incessantemente na minha mente, "minha, minha, MINHA".
- Eu não sou um objeto para pertencer a alguém. Eu não sou um exorcista, sabia? Então sai do corpo desse homem, Satanás - Minha voz tremia, temendo as possíveis consequências.
- Minha, VOCÊ É SÓ MINHA! - Sua voz ecoava, profunda como se fosse quase animal.
- Olha aqui, eu não pertenço a ninguém, muito menos a você. Eu não sou o inferno - Minha voz foi interrompida quando ele rosnou para mim. - Você não é um cachorro para rosnar, então fica quieto,desgrama. Eu só faço merda, bem que minha mãe fala, as merdas que eu faço dá para comprar uma casa.
Ao terminar de falar, só ouvi sua risada. Maldição, que risada gostosa que me deixou confusa.
- Tão esquentadinha, mas você é muito boca suja, amor. Agora você é minha e ninguém vai te tirar de mim.
- Parece que sua mae nao te educou direito capeta.Vai queimar o rabo no fogo do inferno que e so sabe fazer
Estou brincando com a morte, mas era isso até eu conseguir escapar pela porta de vidro atrás de mim. Com um salto desesperado, me vi do lado de fora da sala, a porta escancarada como um convite à liberdade. Foi quando ele tentou se aproximar, foi quando eu encarei a decisão: ficar e enfrentar o perigo ou correr e arriscar a sorte lá fora.
Sem hesitar, deixei meu instinto de sobrevivência guiar meus passos enquanto eu corria em direção à saída. O barulho dos passos dele ressoava atrás de mim, mas eu não olhava para trás. Só queria ir embora daquela casa e da presença daquele lunático. Já bastava lidar com o capeta que insistia em se intrometer na minha vida.
Meus pés batiam contra o chão molhado, as poças d'água espirrando em meu rastro enquanto eu corria como se minha vida dependesse disso - e talvez dependesse mesmo. Não fazia ideia se estava indo na direção certa, mas isso não importava. O importante era escapar, não importava para onde.
Foi então que os rosnados sinistros ecoaram pela floresta, ecoando como trovões distantes em meus ouvidos tensos. O som das patas se chocando no chão encharcado acrescentava uma trilha sonora sombria à cena. Meu coração acelerou enquanto eu esperava, com uma mistura de medo e fascinação, pelo que estava por vir.
E então, emergindo de trás das árvores como uma aparição de pesadelo, estava ele: um lobo gigante. Seu tamanho imponente e sua pelagem branca como a neve capturavam minha atenção, ao mesmo tempo em que suas garras pontiagudas e presas afiadas despertavam um medo primal em mim. Eu estava apavorada, mas também encantada por sua beleza selvagem.
Sabia, no fundo do meu ser, que aquele encontro marcava o fim iminente. Os olhos azuis brilhantes do lobo pareciam penetrar minha alma, anunciando meu destino sombrio. Eu respirei fundo, tentando encontrar coragem em meio ao desespero, e fechei os olhos por um momento, uma última prece silenciosa escapando de meus lábios trêmulos.
- Minha - sua voz sussurrou ao meu redor, como uma corda apertada em meu pescoço, sua possessão reverberando através de cada palavra. O som fez meu corpo inteiro estremecer, e meus olhos se abriram rapidamente, encontrando os dele, tão profundos e hipnóticos que pareciam um oceano de escuridão.
Mas o que vi não foi o lobo, e sim o homem com o demônio no corpo. Seus olhos azuis, agora tingidos de uma escuridão sobrenatural, me encaravam com uma intensidade assustadora. Um sorriso sinistro curvou seus lábios, revelando as presas afiadas que brilhavam à luz da lua.
- Olá, diabinha - ele disse, sua voz carregada de malícia e possessão. Eu estava encurralada, presa entre a besta e o demônio, sem saber se deveria temer mais o lobo ou o homem que o controlava.
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