Capítulo 1
Era um dia comum. A neve caía do lado de fora, e o vento uivava pelas montanhas. Katy Archeon acorda , dá uma analisada em seu quarto. Estava um pouco bagunçado, escuro como sempre, todas as cortinas fechadas. O sol não era bem vindo naquele cômodo. Ao se levantar, percebe que deixou os equipamentos do seu ritual da noite passada do lado de fora, o que era um grande erro. Valentin Yuri, o dono da mansão , repudiava suas práticas mágicas. Porém, Katy seguia praticando-as.
Ela levanta para se arrumar, guarda alguns instrumentos mágicos e percebe que o sal roxo acabou. Isso seria um grande problema para ela, já que o sal roxo era a base da maioria de suas magias. O relógio chama sua atenção, marcava 7:30. Valentin deveria estar no salão comunal a essa hora. Se desse sorte, conseguiria resolver sua escassez de sal roxo hoje ainda.
Katy logo troca de roupa, optando pelas suas vestes pretas de sempre. Abre a porta sem não antes conferir se todas as suas facas estão com ela. Assim que sua visão se acostuma com o ambiente iluminado, desce as escadas e se dirige ao salão.
A mesa do café da manhã estava posta, Alcis Lantsov tomava café sozinho observando a neve cair do lado de fora. O garoto de apenas dezesseis anos já estava em suas vestes de treino, apesar de ser muito jovem, seu comprometimento com os trabalhos era admirável.
- Bom dia - Balbucia o garoto.
-Bom dia- Responde Katy - Viu Valentin por aí?
Alcis faz que não com a cabeça e continua seu café. Katy se surpreende, se aquele velho rabugento não estivesse alí, só poderia estar em seu escritório. A garota solta um suspiro. O escritório ficava na ala contrária da mansão. Um dos cômodos mais afastados.
Enquanto caminhava pelos longos corredores, atentou-se às pinturas dispostas ao longo do caminho. Pinturas nas quais , a maioria representavam cenários de guerra, e de pessoas importantes, pertecentes a extensas dinastias.
As duas portas pesadas do escritório pareciam encarar Katy de volta, como se a desafiassem a ter a audácia de abrí-las. Dando de ombros, a garota empurra ambas as portas e adentra o cômodo.
Uma música se ouvia ao fundo, preenchendo o ambiente. Apesar do péssimo temperamento de Valentin, o local era muito bem decorado. As poltronas marrons de couro entravam em harmonia perfeita com as estantes de livros antigos. Valentin estava sentado em sua mesa principal, debruçado em diversos papéis com um café quente ao seu lado. Katy pigarreia, mas o velho não ergue a cabeça. Já acostumada ao jeito desdenhoso de seu anfitrião, a garota se aproxima da mesa , enquanto pensa em uma boa história para conseguir o que quer.
- Bom dia, Valentin! Eu estava querendo repor os estoques de sal roxo da cozinha, mas acontece que todos acabaram. Inclusive os da dispensa, acredita!?
-Alexei! - O homem grita de repente. - Cuide disso.
A música que antes tocava para repentinamente, um som de algo se arrastando no chão ecoa. Os grunhidos que aquele homem emitia , beirava o inumano, parecia mais um animal grotesco. Alexei surge a porta. Seu nome, talvez venha de uma brincadeira de mal gosto, já que ele seria dado apenas a pessoas de títulos importantes , como czares, e não a um simples servo. Sua aparência era assustadora, seu rosto era totalmente deformado, sou coluna era inclinada para frente, criando uma imensa corcunda . Suas pernas eram estranhamente tortas. O servo faz um movimento ganhando a atenção de Katy. Ele apontava para a porta . Fez um sinal para que ela o seguisse. E assim ela o fez.
O barulho que as pernas do servo emitiam ao andar deixavam Katy irritada. Os ângulos que elas formavam eram tão inverossímeis ! Era como se alguém o tivesse amarrado, quebrado todos os ossos de suas pernas , e não tivesse deixado o curandeiro as recuperarem da maneira correta. Um estrondo tira a jovem de seus devaneios. Um grito ecoa de um local distante. O servo olha para Katy, como se esperasse alguma instrução. Ela apenas dá de ombros e continua a andar.
Nesse momento, Steven Von Minerva aparece, ainda de pijamas , apressado, descendo as escadas. Steven é o alquimista do grupo. Na noite passada, em meio aos seus experimentos, estava desenvolvendo um estudo sobre explosivos químicos, deixando um deles amadurecendo durante a noite. Aparentemente, o sábio alquimista perdera a hora.
Steven passa correndo por Katy e aos tropeços se dirige a seu laboratório. A garota solta uma risada, e continua a seguir Alexei, ela só se importava em conseguir seu sal roxo.
Steven Von Minerva após passar o dia limpando a bagunça em seu laboratório, sobe até o salão comunal para Lanchar, ficara o dia todo sem comer e não percebera . Valentin, como sempre, não conversava com ninguém e sentava à mesa com seu jornal e um copo de Uísqui. Katy estava despejando algo roxo em vários potes.
Alcis estava em indo para o quarto, estava cansado devido aos treinos intensos. Uma batida irrompe pelo salão. O jovem Lantsov fica alerta, alguém batia desesperadamente à porta. Já era muito tarde da noite, não esperavam por visitas. Com cautela, Alcis vai até a origem do som. Relaxa quando vê que Yuri já está lá.
Dimitri um leal homem de Valentin, atravessa as grandes portas principais. Gesticulando freneticamente. Ele dá a notícia enquanto tenta recuperar o fôlego.
- Valentin! Há homens do exército vermelho por toda parte! Uma rebelião de homens estão marchando para cá nesse exato momento!
Alexei pega de algum lugar uma escopeta e entrega a Yuri. Alcis e Katy que se aproximaram para ouvir a conversa arregalam os olhos.
- Eu posso conjurar sombras ao redor da construção, assim que eles passarem por aqui, não serão capazes de ver a mansão e irão embora!- A jovem conjuradora de sombras propõe.
- Jamais permitirei algo assim!- Responde Valentin.
Katy não consegue entender a resistência que aquele homem tem com as magias. Ele sempre recusa qualquer oferta que evolva mágica, mesmo que seja para facilitar a vida. Steven chega ao salão principal, juntando-se ao grupo, e pergunta o que houve.
- Steven, vá pegar seus jalecos. Alcis, vá com Alexei buscas ataduras e uma bandeira vermelha no porão. Katy, vá até a cozinha, e traga o máximo de sangue que puder. Dimitri, traga o maior número de homens que puder.
As ordens de Valentin foram claras, todos obedecem, inclusive Alcis que, apesar de ser a favor do exército vermelho , entende que explicações não darão conta do problema . As vezes é necessário sucumbir á guerra, lutar pela sobrevivência, independentemente do seu posicionamento sobre ela.
Em poucos minutos o salão principal está cheio de aldeões. Valentin exige que todos deitem no chão. Alexei com ajuda de Steven , enfaixa rapidamente os homens , enquanto katy e Alcis espalham sangue de animais sobre eles. A bandeira vermelha foi dependurada no topo da escadaria, de modo que, caso alguém entrasse pelo salão principal, veria uma aglomeração de homens feridos do exército vermelho em recuperação. Dando a entender que a mansão já havia sido tomada pelos socialistas.
Steven enrola algumas ataduras pelo rosto, para evitar ser reconhecido. Katy veste um jaleco que o Alquimista a entrega, e o suja com um pouco de sangue.
Neste exato instante, a porta do salão principal é escancarada , revelando um enorme grupo de homens que estampavam estrelas vermelhas em seus pesados casacos. Valentin imediatamente se levanta.
- Que bom que vocês chegaram! Estávamos esperando por vocês! O Burguês que aqui morava fugiu quando a divisão dos operários invadiu a cidade.
O homem que parecia estar na liderança analisa a bandeira sitiada na escada.
-E quem são eles? - Diz o desconhecido inclinando a cabeça na direção de Alcis, Katy e Steven.
Se se aprsentassem com seus nomes verdadeiros, seriam mortos ali mesmo.
- Meu nome é Natasha, sou enfermeira. - Diz Katy rapidamente, dando tempo aos outros pensarem em uma nova identidade.
-Este é o Lantsov e aquele é Alexander. - Anuncia Valentin.
O homem não parece perceber os nomes falsos, e apenas entra no salão seguido de seus homens feridos. Katy , como a bondosa enfermeira que interpreta, acomoda os enfermos.
Alcis observava todos os homens atentamente. Um deles chamou sua atenção, ele olhava ao redor como se analisasse o território inimigo. Ele conversa algo com um grupo de homens , em uma língua desconhecida. E , sorrateiramente, se afasta do salão principal. Alcis o segue de maneira imperceptível.
O homem andava com muita segurança pelos corredores, como se soubesse onde ia. Mal olhava os arredores, virava cada curva com certeza do caminho que tomava. O garoto que o seguia, considerou mata-lo ali mesmo, um tiro e tudo se resolveria. Mas haveria o risco de os demais escutarem, ainda estavam muito próximos do salão principal.
O desconhecido para em frente a biblioteca, tenta abrir a porta. Mas obviamente está trancada, Alexei cuidara de tudo. O homem desiste de tentar abrir a porta, e segue para o escritório de Valentin.
Com um objeto desconhecido, o homem quebra a fechadura e adentra o cômodo. Alcis decide apenas observa-lo, apesar do risco , caso ele encontre as pinturas de Valentin , descobrirá que aquele local não era , nem um pouco, um local que comportaria o exército vermelho. Mas ele precisava descobrir o que aquele homem queria . Sem se importar com os itens, o desconhecido pega alguns artefatos antigos, sussurra algo que Alcis não entende, e os joga no chão. Ele não procurava por riquezas, caso esse fosse o objetivo, teria pegado o primeiro artefato que viu e saíria dali. Ao contrário disso, continuava a tatear pelo cômodo escuro a procura de algo.
O homem está prestes a ver a pintura de Valentin, mas antes que Alcis o ataque , o homem percebe sua presença e saca um facão. O homem tenta golpear Alcis, que rapidamente desvia, e enterra uma adaga em seu ombro. O homem grita e gira o facão de volta em direção ao flanco do garoto. Alcis se abaixa, evitando o golpe e mais uma vez, enterra a adaga no peito do homem. Ele agora cai de joelhos , desfalecido.
Passos ecoam pelo corredor, Alcis se prepara para atacar. Alexei entra no cômodo e olha o homem ensanguentado no chão, depois para Alcis que explica o ocorrido.
-Cuidarei da bagunça, volte logo para o salão, podem perceber sua ausência .
Alexei estava certo, Alcis volta o mais rápido possível para o salão principal. A maioria dos homens ja estavam de partida, segundo eles, a rebelião precisava marchar para outro local antes do anoitecer. A esse ponto, Valentin Yuri já estava ciente do ocorrido em seu escritório. O fato dos homens irem embora sem perguntar pelo companheiro, que agora jazia morto, era muito estranho, mas o grupo já tinha problemas demais para se preocupar.
Assim que o salão se esvazia, Valentin ordena que o servo traga o corpo. Steven faz uma observação.
- Foi bom você não ter usado fogo, Alcis. Ele podia estar carregando explosivos.
O conjurador de fogo apenas concorda com a cabeça. Katy se aproxima do cadáver com sua curiosidade mórbida.
- Belos golpes ! - Diz a assassina com um entusiasmos assustador.
Yuri se abaixa e começa a vasculhar os bolsos do homem, encontrando um papel. Um símbolo desconhecido estava desenhado a tinta nele, Katy pergunta se Steven o reconhece, mas o sábio alquimista apenas nega com a cabeça.
-Muito estranho- Murmura Valentin, enquanto coça a cabeça.
-Você sabe o que é? - O grupo pergunta quase que em uníssono.
- Não sei o que é, mas há um artefato em meu escritório com um símbolo muito semelhante a esse. Alexei, faça o favor de buscá-lo.
Enquanto o servo busca o artefato, Katy tenta ler os últimos pensamentos do morto , mas não obtém nenhum resultado além do comum. Apenas conseguiu sentir o medo e desespero de saber que está morrendo, nada anormal.
- Posso ficar com o corpo? - Pede Steven.
- Claro, mas faça o favor de deixá-lo no formol, não quero nunca mais sentir aquele cheiro de podridão de novo. - Valentin afirma.
Alexei volta com o artefato em mãos. Yuri pede para que Katy tente identificar alguma magia nele. Ela pega o objeto ,e fecha os olhos. Sombras surgem ao redor da caixa.
- Provavelmente está protegida por algum feitiço. - Afirma Katy enquanto passa o artefato para Alcis.
- Tem uma energia muito estranha mesmo - Confirma o garoto.
Steven analisa o objeto e identifica algumas engrenagens comuns a alguns mecanismos automáticos que montava.
Enquanto o grupo tentava entender a lógica do objetos desconhecido. Valentin anuncia que irá se deitar. Quando se retira, todos se olham sorrindo. Hora de usar magia! Depois de horas pesquisando em seus livros, Katy encontra um ritual capaz de quebrar proteções mágicas, e estava mais que disposta a tentar.
Com ajuda dos outros, Archeon faz um círculo com seu sal roxo no chão, com o artefato em mãos, começa a pronunciar palavras, consideradas por muitos profanas. As sombras do cômodo se concentram ao seu redor. A garota finaliza o ritual, nada acontece de imediato, mas após alguns segundos, cliques de engrenagens começam a ser ouvidos. A caixa se abre lentamente, da mesma forma que uma flor se desabrocha. Em seu interior, havia um pergaminho. Alcis o pega e lê.
-Ankradir.
Todos se olham em dúvida, ninguém reconhecia o nome. A melhor pessoa para se perguntar era Valentim, nenhum integrante do grupo parecia disposto a subir para acorda-lo, então Katy logo se dispõe a fazer isso. Estava feliz por ter conseguido ser útil usando feitiços, esse não era seu forte.
Katy bate na porta do quarto de Yuri, como não obtém resposta , entra no quarto. Valentin dormia com seu cachorro, o Grigov. O animal não recebeu esse nome atoa, seu significado era vigilante dos homens. Katy mal havia se aproximado, e ele já latia, não de forma ameaçadora como costumava fazer com estranhos, e sim como se a convidasse para brincar.
O pobre homem que só queria ter uma noite de sono decente, acorda. Katy se aproxima dele .
-Você não vai acreditar no que aconteceu. - Seus olhos brilhavam.
Valentim se inclina para trás. A garota se aproxima mais, olhando fixamente nos olhos do velho.
- Consegui abrir a caixa.
Seu olhar estava diferente, e algumas sombras pretas a rodeavam. Valetin dá de ombros.
-Me deixe dormir.
- Não. Desça logo, precisamos de você lá em baixo.
Katy sai tão rápido do quarto como entrou. E enquanto vestia seu roupão, Valentim refletia sobre o que acabara de ocorrer. Não gostava que usassem magia em sua casa.
Alguns minutos depois, todos estão reunidos na biblioteca, ouvindo as explicações de Yuri.
- Essa palavra é um antigo nome dado a uma pequena região das índias. Lá, junto com outros pesquisadores, encontrei vários templos. Neles haviam alguns manuscritos, que diziam que haviam alguns artefatos espalhados. Cheguei a conclusão que fossem parecidos com esse que tenho. E que, caso eles se juntassem, uma força maior seria liberada. A dificuldade na tradução dos textos antigos pode ter trazido algum erro. - Reflete andando em círculos. - Mas não vejo motivos para que eles contenham mentiras.- O velho para, olha para todos. - Acho que teremos que ir para as índias. - O homem balança a cabeça. - Não, já estou muito velho para essas aventuras.
Steven interrompe os devaneios de Yuri.
- Deixa esse negócio aqui na biblioteca, vamos dar uma estudada melhor em seu mecanismo.
Valentin concorda com a cabeça e se retira após anunciar que está muito cansado para lidar com isso no momento.
-Como há pessoas que estão atrás disso - Enfatiza Steven, erguendo o artefato. - Vamos dar um jeito de mantê-lo em segurança. Katy, o que acha de tentar fazer um feitiço de cópia simples e depois trancarmos isso em algum lugar?
-Tudo bem por mim. Você topa, Alcis?
-Claro!
Katy pega uma pedra. A ideia principal é criar uma cópia do artefato e vincular essa ilusão à pedra. Assim, quem a ver de longe, verá o artefato. O que pode ser útil em uma situação extrema. O feitiço , apesar de ser rápido, exige um nível alto de magia, e Katy não passa de uma aprendiz, então o resultado fica razoável. De longe funcionará perfeitamente, mas se a pessoa chegar perto, irá perceber que, na verdade, é uma pedra.
Steven volta com uma redoma construída por ele, o artefato verdadeiro é depositado lá dentro e o alquimista entrega a redoma para Katy, e pede para que ela o sele com magia. A garota pronuncia algumas palavras inaudíveis, lançando para dentro do objeto uma serie de sombras negras. A energia da sala muda. Um arrepio sobre pela espinha de Alcis.
-Pronto, agora quem tentar abrir, ficará cego.
- Você está falando sério? - Indaga Alcis espantado.
Katy solta uma risada.
- Quem dera, o feitiço só proíbe que pessoas comuns abram a caixa . Ainda não consigo fazer feitiços elaborados.
Todos soltam algumas risadas. Aquelas pessoas se completavam de alguma forma, e uma amizade de laços fortes se formava.
Na manha seguinte, todos acordam quase que ao mesmo tempo. No salão comunal, a extensa mesa, que antes ostentava um belo café da manhã, agora estava coberta por diversos mapas. Valentin estava debruçado sobre eles com uma bússola.
Ninguém entende nada. O grupo se aproxima da mesa, ainda meio zonzos de sono. E com surpresa, ouvem o anúncio de Valentin.
- Partiremos hoje para a antiga Ankradir. Estejam prontos ao entardecer.
Uma onda de empolgação percorre o grupo. Eles se olham. Katy sorri e dá uma piscadela. Steven confirma com a cabeça. Alcis solta faíscas de entusiasmo. Finalmente, entrariam na ativa de novo. E dessa vez, em terras, muito distantes e desconhecidas.
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