ㅤㅤ ㅤㅤ XXIV. welcome to hades and persephone.
‹ 𓆠⃮ 𝄿ֱ 𝚗𝚘𝚝𝚊𝚜 𝚒𝚗𝚒𝚌𝚒𝚊𝚒𝚜: começo já pedindo para votar de começo para não se esquecerem, comentem no capítulo e vamos a mais um capítulo gigantesco (eu, não ironicamente, não aguento mais escrever tanto). e sinto mto pq será triste também. enfim...
— de: Persephone
Você, você não pode, você não pode me pegar agora
Estou chegando na sua cidade como uma tempestade
Você não pode, você não pode me pegar agora
Sou maior do que as esperanças que você destruiu
— para: Aquiel
can't catch me now, OLIVIA RODRIGO!
𔖳﹙‣ࣰ𖥣᤺ →𝕨𝕖𝕝𝕔𝕠𝕞𝕖 𝕥𝕠 𝕕𝕠𝕝𝕝𝕙𝕠𝕦𝕤𝕖 ⍰ ׁ ۪
𖥻݁ ⟩ﹴ 𝗲𝘀𝗰𝗿𝗶𝘁𝗼 𝗽𝗼𝗿: -𝗌𝗅𝗒𝗍𝗁𝖾𝗉𝗋𝗈𝗇𝗀𝗌 ↑ꞌꞋ̸📑ۛ͟ ⸯ̳
✶ ׅ ゜᮫( HADES E PERSEPHONE ) 𔓐 ⋆ 𔒅
──۠─᮫֩ ⑇⃫ֳ ៹۠🗒️۪ܺ #𝘤𝘢𝘱. vinte e quatro ๋⇑ܸ 24 ◹
SONHAR ERA UMA COISA QUE Brooke sempre gostou de fazer antes dos acontecimentos com sua mãe e primeiro namorado. Um mundo ao qual continham surpresas confusas, diferente do mundo original. Era como viver uma experiência nova. Uma aventura contendo o conforto de que quando as coisas tornassem-se muito difíceis, a realidade ainda estaria lá. Independente de ser ruim ou não, o alívio era verdadeiro, principalmente em pesadelos, fato recorrente de alguém amaldiçoada.
Por uma grande parte de sua vida, a garota pensava que os sonhos seriam a conexão do nosso espírito com alguma versão nossa de algum outro universo. Apesar de odiar cálculos, a parte teórica da ciência era fascinante. Sua matéria favorita era astronomia. Adorava pensar em como nossas conquistas, desesperos e egos não eram nada comparada a imensidão quase infinita do universo. Teorizava bastante sobre uma vida além da vista por seus olhos. Nunca foi conservadora, cética ou qualquer sentido destas palavras. Era progressista. Gostaria que cada vez mais as coisas avançassem para poder teorizar mais, e se não fosse uma artista nata, era uma ótima opção a se seguir.
Não podia sonhar em como estava agora. O que viesse de seu sono profundo e eterno, seria tal qual ele, sem fim, tortuoso ou feliz.
Toda sua família chegou no local onde os irmãos Afton lamentavam a perda, cada um de seu jeito. Desesperado como Ash; triste como Vanessa ou culpado como Michael. Todos eles pularam as explicações de como descobriram sobre estarem lá, das mortes do caminho ou qualquer coisa que atrasasse tentar, ainda, salvar a menina que inundava a falsa sala da residência da floresta com o líquido de sua cor favorita.
Irônico era aquele quarteto que prezava mais do que tudo ao bem estar de seus filhos, agora, verem todos perderem-se. Theo, em poucos segundos de observação sabia que os gêmeos jamais recuperariam-se, Vanessa talvez, embora sem o apoio dos irmãos, não aguentaria por tanto tempo. Óbvio que sua tristeza foi enorme. Brooke era um retrato da aparência de sua irmã, traços no jeito de agir, entretanto, tinha a personalidade idêntica a de Oliver. Saber que não veria sua sobrinca crecer e tornar-se o que queria ser, onde seus sorrisos não salvariam as almas penadas de todos ali, era destruidor.
Contudo, o vínculo que os outros tinham com a Emily era superior ao dele. Alguns mêses convivendo com ela não apagaria os anos dos irmãos Emily como pais dela, e nem a dor de Katharina por não ser a mãe presente que jamais poderia preencher.
Seus gritos de desespero, lágrimas e juras encheram de eco a sala com aparência tão aconchegante. Oliver tentou abraçar o corpo de sua família enquanto perdia o controle no choro e no aperto da garota que trocou fraldas, agora, ceder a definitiva morte. Katy estava de joelhos e com a cabeça enterrada no chão, rezando, algo que não fazia desde que fora morta pelo fanatismo. Não importava mais agora, apenas precisava de sua família. Theo, viu também, Henry deslizar pela parede e desabar. Não importava o título verdadeiro que Oliver tinha, fora ele que criou aquela garota e fez de tudo para impedir isso, não importasse quantas pessoas fossem machucadas ou memórias tivessem que ser apagadas.
Todo Iluminado possui uma vida extra ao qual a maioria perderia por suas próprias mãos. Brooke, contudo, havia já perdido a sua, o que significava em resumo, nada poderia ser feito. Ou bem, nada que não significasse outra perda.
Os quatro eram experientes e sabiam como fazer o sacrifício, e naquela altura tornou-se óbvio que um deles haveria de morrer.
A tristeza de Oliver com principalmente a negação de Katharina apenas reforçava o pensamento de que o genitor da garota morta deveria ser o responsável por a dar vida novamente.
Os olhos de Brooke abriam-se devagar e dolorosamemte pela claridade excessiva do lugar em que estava. Seu corpo estava dormente e todo movimento para que levantasse era recusado pelo mesmo, a causando sensação de agonia. Conseguiu, lentamente mover suas pálpebras para que enxergasse a mulher de vestido vermelho tecer roupas embaixo de uma árvore ao qual escondia-a do sol cruel de verão.
— Acordou, garotinha! — a pessoa que conhecia como sua ajuda a derrotar Cerberus e Lilith, saltitante foi até Brooke, a ajudando a levantar-se e encarar a paisagem magnífica do local.
— Persephone? — indagou apenas para certificar-se, ouvindo sua risada de felicidade em resposta.
— Quem mais seria?
Brooke reparou finalmente na paisagem que era de longe, uma das mais bonitas que já havia visto. A grama era tão verde e viva, de forma que seus pés livres de sapato ficassem confortáveis de pisar nela. O riacho abaixo da pequena colina em que estavam tinha a tonalidade do céu sem nuvens. Não havia poluição em local algum. As enormes montanhas com estátua de Deuses foi localizado pelos olhos de mel da Emily.
— Grécia antiga. — falou Brooke.
— Três mil anos antes de cristo, para sermos exatos. — completou Persephone, sentando-se na grama e erguendo seu rosto para banhar-se a luz do sol. — Antes que estranhe minha felicidade, não, eu não estou feliz que você morreu.
— Eu nem pensei isso. — mentiu Brooke, sentando-se ao seu lado. Quem visse pensaria que eram irmãs de tantas semelhança que havia em seus traços. — Eu morri mesmo?
Persephone relutou em responder a princípio, porém, após alguns segundos, balançou sua cabeça. Brooke, como se não fosse nada, suspirou e sorriu ao sol, deixando a mulher ao seu lado intrigada.
— Morta não vou poder machucar mais ninguém e nem sofrer mais. — disse, causando impacto. Sua culpa ia muito além das mortes causadas pelo seu ser sem humanidade. Passavam desde magoar duas pessoas em uma indecisão amorosa, até estar envolvida na morte da mãe, Charlie e Nate, e ambas, ela tinha culpa. — Depois de tudo que passei e descobri hoje, realmente não quero estar viva. Estou aliviada.
A frase realmente deixou Persephone pensativa. Brooke com tão pouca idade tinha tido tantas perdas e dores que fora necessário dois apagões de memória, e mesmo assim, rendeu-se ao suicídio precoce.
— Estamos no chamado paraíso, ou Campos Elísios, depende da perspectiva e da religião. — a mulher mudou de assunto. — A maioria dos Iluminados vem para aqui quando morrem. Nossos pais, os reis, não se importam com nossa vida, entretanto, eles têm o poder de decisão para o destino de cada alma. Eles não costumam deixar os próprios filhos apodrecendo no inferno sem motivo.
— Achei que eu fosse diretamente para lá. — riu Brooke, sem humor.
— Improvável. Seu avô se importa com você, além de sua mãe. — revelou. — Aliás, ele era o meu pai. Sempre que pode, me visita. Eu fui uma dos únicos quatro filhos que Grillian teve desde a criação. Acho que sente saudade e arrependimento por não impedir ele.
— Ele? — óbvio que toda a revelação pegou Brooke, entretanto, sua curiosidade venceu todas as outras.
Persephone apenas apontou com a cabeça para trás da garota. Quando virou-se, tomou um susto. A figura de William Afton parado, quase com o mesmo rosto, apenas com o diferencial de aeu terno estar adepto a época. Brilhava sobre o sol, observando a plantação longínquo abaixo.
— Relaxa, ele não pode te ver. — riu Persephone pelo palpitavel medo da garota. — E por enquanto, não precisa ter medo dele.
Brooke moveu seu pescoço para novamente encarar Persephone, confusa.
— Não quero adiantar a história, então apenas digo que não precisa ter medo de Hades, apenas de William. — Brooke apenas aceitou, entendendo que saberia de muitas coisas a partir de agora. — Olha eu ali.
Brooke olhou na direção do olhar do homem, percebendo que na enorme plantação, várias pessoas trabalhavam. Todas eram negras, ou pardas, como o caso de Persephone, que colhia grão por grão dos alimentos para seu senhor. A garota parecia exausta, a ponto de desmaiar, e quando iria, uma chicotada em suas costas a fez engolir o embrulho em eua garganta e continuar, as mãos tremendo de tanto cansaço.
— Fui uma escrava desde meus quatro anos de idade. — revelou, deixando Brooke triste. — Conhecia todas aquelas pessoas que estão aos arredores. Vi muitas morrerem de tanto trabalhar e sinceramente eu estava quase. Me deixaram sem comer depois que respondi ao "meu senhor" de forma um pouco rude.
— Que horror! — exclamou Brooke, porém não desacreditada. Ela sabia sobre a escravidão por ter se aprofundado no conteúdo da escola, todavia, não imaginava como era tão mais terrível observando.
— A pior parte é que essa merda só foo parecer errada quatro mil anos depois. — a mulher riu desacreditada. — E em alguns países, como a da sua mãe, Brasil, não fazem nem mesmo um século.
Brooke assentiu, também revoltada.
Observou como o homem perto de si moveu-se finalmente, descendo a colina como se a gravidade nem existisse e andar daquela forma ladeira a baixo não o fizesse cair. A plantação mais assemelhava-se a um campo de concentração da época do holocausto. Grades enormes os impediam de sair, punição caso errassem a mínima coisa e ambos com os mesmos uniformes desgastado e sujo. Era triste demais a forma como todos eram tratado e como ao mundo, tamanho sofrimento não era nada demais.
Como se não fosse nada, Hades adentrou a plantação destruindo toda a abertura das grades com suas mãos, assustando os escravos. Ele foi imediatamente falar com um dos guardas que chicoteava anteriormente Persephone.
— Quero que me leve até o senhor deste local. — o homem parecia ignorar a própria expressão assustada, com indícios a recusar-se a coloborar. Hades brilhou seus olhos em roxo e imediatamente o guarda andou até a sala, pedindo ao homem para o acompanhar.
Minutos depois, saíram do local, surpreendendo a todos quando o homem novo de ternos caros apontou o dedo a Persephone e disse:
— Você está livre. Venha comigo. — foi contraditório a junção das duas frases, o que fez a versão de Persephone que observava junto a Brooke, gargalhar revisitando a cena.
A da história, entretanto, não moveu um dedo, na verdade, nem mesmo ouviu. Sua visão estava turva devido ao cansaço excessivo e desmaiaria no segundo seguinte caso, como uma bala, o homem a pegasse em seu colo.
— E-eles... — murmurou a mulher quase inaudível no colo de Hades, referindo-se aos amigos que ainda permenaceriam escravizados. Persephone não estava pedindo para que o homem os libertasse, até porque não confiava ainda. Sua quase fala era um lembrete a ela mesmo de não os abandonar, estando disposta a continuar naquele sofrimento infernal se significasse tornar as coisas minimamente mais fáceis a eles. Não era um pensamento comum ou que algum outro teria, entretanto, sua lealdade era com certeza a maior de todas as características.
— Eles também. — falou Hades, brilhando seus olhos em roxo ao senhor de escravos enfurecido, onde ele sem escolhas, liberou todos os vários.
Hades moveu sua mão e fez surgir, magicamente, uma enorme maleta, surpreendendo mais ainda a todos. Perceberam, naquele instante, que ele era um dos doze deuses do Olimpo ao qual serviam em tal tempo. Não imaginavam que estariam certos — coincidência — e errados — falta de conhecimento a outras crenças — ao mesmo tempo.
— Tem o bastante para que todos vocês consegiam construir uma boa vida longe de tudo isso. — disse, vendo os olhares de todos brilharem em lágrimas ao abrirem a meleta e verem a quantidade enorme de moedas de ouro.
Hades não deixou que ninguém o reverenciasse, pois além de odiar a prática, achava que não foi nada demais. Antes de ir embora, apontou sua mão ao senhor de escravos e seus serviçais, homens brancos, e os explodiu, voando seus pedaços de órgãos e sangue para toda a plantação, tingindo para sempre do vermelho justiceiro.
— Ele parece bom. — falou Brooke confusa, sem conseguir esquecer, com razão, tudo que passou com ele, incluindo os abusos sexuais a ela e Michael.
— Hades é e sempre foi bom. — respondeu Persephone. — Como disse, William que não é.
— Dupla personalidade? — supôs.
— Cala a boca e preste atenção. — Persephone foi ríspida, levando o dedo do meio de Brooke como resposta.
O cenário mudou novamente. O estranhamento ao qual Brooke sentiu, junto ao enjoo do teletransporte mental foi parecido com a sensação de que Persephone ao acordar numa cama com o quintuplo de seu pequeno tamanho. Brooke imaginava que a garota não passava dos dezenove anos, cuja tamanha magreza denunciava que em todo esse tempo, nunca fora bem tratada.
As enormes paredes de pedreguluo estendiam-se numa altura grande demais para um quarto, que olhando bem, poderiam caber a plantação que era escravizada inteira de tamanha extensão. A garota de pele escura encarou seu próprio reflexo no espelho. Estava com roupas ao qual nunca antes trajaram seu corpo magro. Os diversos machucados no rosto e no corpo agora estavam todos com curativos envolvidos sobre a futura cicatriz. Brooke viu o medo em seus olhos traumatizados quando o chique homem abriu a porta do quarto.
— Por que me ajudou? — indagou em desespero, afastando-se gradualmente, com medo.
Hades pareceu intrigado enquanto aproximava-se. Brooke sentia-se curiosa enquanto, no canto do quarto, observava o homem cautelosamente tocar no queixo de Persephone e falar uma frase que fez todos os pelos de seu corpo arrepiarem:
— As pessoas não precisam de um motivo para te ajudar.
Foi exatamente essa a frase que Brooke disse a Ash quando o conheceu, embaixo daquela árvore de sua escola. As memórias voltaram e ela não gostou de identificar-se logo com Hades nessa história. Foi tirada de seus devaneios ao perceber como Persephone ainda recuava.
O cenário mudava gradualmente, onde entre jantares e poucas conversas pela parte da garota, construiam uma relação, em que mesmo com todo o conhecimento que Brooke tinha daquele homem, não pôde deixar de torcer para que desse certo, pois ela nunca o viu demonstrar afeto a qualquer um como a Persephone, nem em suas manipulações. Era paciente e não forçava nada que ela não queria.
Aos poucos, qualidades além da timidez da mulher pôde ser percebido. Brooke, tão envolvida em cada detalhe, não reparou que a verdadeira apenas encarava e esperava sua reação. Persephone era também uma artista, porém não de cinema, e sim da música. Em seu quarto, tinha um enorme e velho piano que ninguém do castelo do imperador Hades conseguia dominar. A garota, de forma mágica, parecia saber exatamente onde seus dedos deveriam tocar, e nem percebia quando sua voz saia como a sua maior fonte de expressão.
"In the shadows of my past, my past, a wounded soul", sua voz quase nunca extravassada pelo medo, começou a melodia que refletia seu sentimento, ecoando pelo quarto. "Haunted by the echoes, a story to unfold.
Trapped and tethered, in chains of despair,
Lost in time's embrace, seeking solace rare."
Brooke surpreendeu-se com o talento de Persephone, achando ser algo de outro mundo mesmo. Ela viu quando Hades entrou no quarto e passou a observar e ouvir tudo muito bem. A outra, contudo, não notou.
"Through the ruins of my heart, echoes a silent cry,
A tale of torment, beneath a moonlit sky.
En-enslaved by the echoes of a bygone age,
Confused, I stumble on this ancient stage."
O agudo de sua voz deixou Brooke paralisada, tal como homem que observava. Era uma voz mágica em todos os sentidos. Seus acordes delicados no piano encaixavam na melancolia que ela tentava transmitir.
"In the labyrinth of my mind, of my mind I find no escape,
A fragile existence, a fragile landscape.
A savior emerges, from the mist of time, the time
Yet, I'm adrift, unsure of love's paradigm."
"He holds the key to unlock my ancient pain,
Yet, in his presence, I'm lost in the rain.
A dance of emotions, a delicate waltz,
In the corridors of my soul, echoes of a fault."
Hades sentiu como se seu interior, o fundo de sua alma, totalmente, tranquiliasse. Não havia mais nenhum sentimento a não os que a canção da mulher proporcionava. Era realmente um dom cantar a música sem nem sequer ter uma composição previa antes, apenas cantando como se conversasse em uma expressão tão melancólica que poderia fazer o mundo chorar.
"Oh-Oh, this wounded heart, a relic of the past,
Torn between salvation and shadows cast.
In the tapestry of time, a tale entwined,
A melodious sorrow, in every heartbeat signed."
"Through the ruins of my heart, echoes a silent cry,
A tale of torment, beneath a moonlit sky.
En-enslaved by the echoes of a bygone age,
Confused, I stumble on this ancient stage."
"As the echoes fade, in the silence I reside,
A journey through time, where emotions coincide.
In the aftermath of echoes, a soul reborn,
In the embrace of healing, a new morn..."
E finalmente teve seu fim. A mulher permaneceu encarando seu instrumental por algum tempo, até ouvir aplausos vindo de Hades. Imediatamente corou fortemente. Ela desabafou todos os seus sentimentos naquela canção e ele ouviu tudo.
— D-Desculpa... — pediu, levantando-se e tentando fugir do brincalhão e admirado olhar daquele homem tão lindo e intimidante.
— Desculpas por me fazer ouvir a melhor canção que meus ouvidos puderam presenciar? — Persephone corou mais ainda e abaixou sua cabeça. Ela, naquele momento, tinha uma autoestima muito baixa para poder encarar o homem nos olhos cinzentos e belos. — Não vou te hipnotizar se encarar-me diretamente.
A sua aproximação fez com que a garota respirasse pesadamente. Hades adorou o efeito que teve em Persephone, podendo ouvir seu coração bater tão rápido quanto uma bala com a aproximação de sua respiração em seu pescoço.
— Sei o que pensa, senhorita... — sussurrou em seu ouvido, ação que deixou as pernas de Persephone bambas. — E não quero que se rebaixe novamente, afinal, alguém tão maravilhosa como você merece o titulo de ser a rainha.
Persephone o olhou pela primeira vez. Confusos olhos cor de mel interagindo com seu cinza atraente.
— Rainha do quê?
— Do meu coração serve? — sua pergunta sussurrada perto do ouvido, baixa e no tom de sedução fez com que a garota quase caisse para trás. Hades apenas riu do efeito que causou nela. — Algo me diz que não será difícil te fazer acreditar nisso.
Brooke não podia acreditar no que seus olhos viam. O homem que conhecia como um dos piores, o próprio William Afton, sendo alguém bom.
— Nem ferrando que esse filho da puta é o mesmo cara que abusou de mim, do Mike, do meu pai e sabe lá quantas pessoas! — exclamou ela a verdadeira Persephone.
— Porque não é mesmo. — respondeu, deixando a garota ainda mais confusa e perdida. — Como eu disse, William e Hades são diferentes. Por que acha que seu pai confiaria em alguém que abusou de seu irmão a ponto de construir um negócio tão grande com ele? Por que tanta negação em acreditar na primeira acusação de Oliver?
— Preciso saber logo do que aconteceu de fato. — decretou Brooke.
— Chegaremos lá, minha querida Brooke.
Mais mudanças de cenários ocorreram diante dos olhos de Brooke. Ela via como aos poucos Persephone se soltava. Viu como os dois apaixonavam-se lentamente. Ouviu mais das canções magníficas ecoarem por sua mente, onde sempre deixava reflexões. Mais do que isso, viu como o relacionamento deles era uma junção do seu particular e destrutivo triângulo amoroso quando mais uma conversa foi sentida.
Convenientemente, havia visto de forma resumida e censurada, a primeira vez dos dois, e teria sido algo horrível se já não estivesse mergulhada na história tal como um livro de romance. Persephone, por incrível que pareça, acariava as mechas brancas do cabelo de Hades enquanto sorria tão feliz.
— As vezes, quando olho nos seus olhos cinzas, fingo que já é meu. — admitiu, fazendo o homem levantar seu rosto para encará-la. — Em toda a droga do tempo penso isso.
— Que delicado. — foi a resposta de Hades, vinda junta com um de seus poucos e verdadeiros sorrisos.
Brooke refletiu o fato de todas as frases ao, por alguma razão, ter vivenciado com os gêmeos filhos do homem, era justamente ela que falava a parte dele, algo assustadoramente intrigante.
Mais vezes o cenário mudava, cada vez aprofundando o romance deles. Era levemente decepcionante a ela que passasse tão rápido; sentia como se pulasse páginas de um bom livro, contudo, Persephone parecia estar com pressa em mostrar apenas o essencial.
— Acho que precisamos de uma revolução! — foi a frase em que o tempo parou novamente para que fosse assistido lentamente.
Hades que acariacava os pelos de seu animal de estimação, Cerberus, pareceu prender sua atenção na ideia de repente de sua rainha.
— Por que nós Iluminados temos que sofrer, cometer suicídio, matar pessoas e depois morrer de novo? Só para saciar a vontade do desgraçado que nos colocou no mundo? — ela falava exasperando sua raiva em gestos desesperados. — Eu sou uma ex-escrava que sempre me importei com meus irmãos que continuaram a ser, e não posso permitir que até no mundo sobrenatural essa prática continue a se repetir!
— Nunca tive filhos, antes que me acuse — o rei ergueu suas mãos em reedições, rindo da expressão de sua namorada. — Mas entendo seu ponto de vista e concordo. Acho que precisamos de mudanças.
— É isso! — ela deu pulos de alegria. — Precisamos nos rebelar! Temos que derrubar os outros reis e acabar com essa Monarquia Infernal, assim também acabará essa competição de malucos psicopatas!
Hades não estava surpreso. O principal motivo de ter afeiçoado a Persephone no início era seu coração leal e justo, que buscava o certo de forma quase distópica.
— Enquanto no natural, humanos escravizam outro em busca de lucro, no sobrenatural, os próprios pais sacrificam seus filhos em busca de poder e diversão, simplesmente por essa ideia nazista de raça superior! Humanos podem ser imbecis, mas nem fodendo são piores do que esses demônios! — continuava Persephone, irritada, andando de um lado para o outro, pisando forte.
— Já existia o termo "nazista" nessa época? — indagou Brooke, curiosa, a verdadeira Persephone.
— Não. — respondeu. — Mas alterei essa memória para que encaixasse melhor ao seu entendimento, já que visto como foi adotada na alemanha nazista há uns sessenta anos, não é tão diferente. O racismo absoluto que os demônios têm com os humanos, sempre é demonstrado por eles, jurando serem uma raça superior. Também provocam genocídio, obviamente, estes sendo realizados obrigatoriamente por seus filhos. É bastante idêntico.
— Igualmente horrendo. — arrepiou-se Brooke, enojada. A ideia dessa prática ainda era comum nos dias atuais e estava tudo bem ao governo fazer manifestações antissemitas e neo-nazistas na rua. Não recebiam qualquer punição das autoridades. E a ironia, pessoas negras que nada faziam, morriam diariamente apenas por darem o ar aos policiais de serem criminosos, o que não passava de racismo escancarado.
A imagem alteranava novamente, agora na realização do objetivo de Persephone. Brooke viu, de forma resumida e rápido sua persuasão para outros Iluminados, de diferentes reinos. A curiosidade deixou ser vazada pela expressão da Emily.
— O primeiro são os bruxos. — sanou sua curiosidade a verdadeira Persephone. — São os mais poderosos e perigosos porque mexem diretamente com a balança da criação e destruição. É por isso que Henry Emily tem uma empresa com tantos novos e necessitados aparelhos tecnológicos. Ele mesmo cria com a magia.
Brooke ficou em silêncio para ouvir melhor.
— Sou como você, uma híbrida do primeiro e décimo, ou seja, Iluminada bruxa e vampira. — explicou Persephone. — Não conheci minha mãe, mas por Grillian, sei que era uma metade demônio vampira.
— E quais são os outros domínios, ou reinos?
— Bem — começou ela, ignorando a velocidade acelarada com a qual fatos menos relavantes, como detalhes de seu objetivo, rolaram diante delas. — O segundo são formados pelas Nagans. É o único domínio composto apenas por mulheres, conhecidas como mulheres cobra ou mulheres veneno. Elas podem matar qualquer ser com isso, e, a adaga dourada que te matou foi forjada por uma Nagan.
— Uau...
— O terceiro são os Cambions, que é o contrário das Nagans, são compostos apenas por homens. São os demônios mais brutais. Sua habilidade especial é a força e resistência. São descritos como animais irracionais, quase como os Lobisomens do sétimo. O quarto são os Metamorfos. Podem se transformar em quem e no que quiserem. Em algumas mitologias são chamados de Wendigos ou Nagual, por reproduzirem sons e imagens de outras pessoas para as matar em seguida. O quinto é, como já sabe, o de Hades e de todos os filhos que você já namorou — a brincadeira fez Brooke reprimir uma risada. — São os telepatas. Eles sem nenhuma dificuldade podem manipular o pensamento e mente de qualquer pessoa. São também, os mais astuciosos. Podem, até mesmo, caso forem muito poderosos, possuírem outros corpos, embora seja raro. Casos de possessões famosos podem, muitas vezes ser consequência de um telepata. — isso explicava muitas coisas a Brooke, em como Vanessa apagou sua memória para fingir que estava no shopping o dia inteiro no momento em que tornaram-se amigas. — O sexto são sereianos. Em geral, possuiem mais mulheres, porém as vezes algum homem aparece. Eles cantam para atrair suas vítimas e matá-las. Todos tem uma ligação especial com a água, escondendo-se lá e podendo até viver uma vida inteira no mundo aquático caso queiram. O sétimo são os Lobisomens, também um dos mais famosos. Eles possuem a maldição de transformarem-se em lobos e tornarem-se seres descontrolados. Algumas lendas afirmam que isso acontece por geralmente a maioria deles possuirem um coração muito bom, e mesmo no estágio sem humanidade, não conseguiam matar ninguém, então seu rei, e deus da Lua, da época, Lah, os amaldiçoou a uma vez ao mês, quando o astro atingisse seu máximo, transformassem-se em em seres sem piedade alguma, animalescos tal como os Cambions. — Brooke adentrou-se na história, entretida com a mitologia contada por Persephone. — O oitavo são as fadas. — a Emily levantou a sobracelha. — Sim, fadas demônios, e o nome não é atoa. Esse domínio não tem nenhuma relevância na competição por seu rei e todos seus Iluminados serem despreocupados com relação a isso. Em geral, sua função é apenas ajudar outras pessoas, por possuírem um excelente poder de cura. Uns falam que é o reino do Amor. O nono é composto pelas Kitsunes. Seres rápidos e habilidosas. Em geral, dominam o continente asiático, sendo raras de ser encontradas no Ocidente, entretanto, um dos mais perigosos. E o décimo, vampiros, não preciso detalhar, já que você acompanho sua transição para uma desde que retornou do inferno.
— Uau! — conseguiu apenas exclamar isso depois de seu cérebro expandir-se para encaixar tantas lendas ao qual nunca cogitou a possibilidade real de existir.
Era até irônico pensar que era uma vampira depois que retornou sua humanidade, pois quando a necessidade tornava-se forte demais, bebia apenas uma bolsa de sangue oferecida por Theo. Óbvio que era uma mudança radical o cuidado com o Sol e alimentar-se de sangue humano, todavia, em um mês ao qual voltou, aprendeu a superar e aceitar.
— Consegui conquistar pelo menos cada um de cada um dos dez reinos, contando eu para o um e dez, e Hades para o quinto. O terceiro foi um porre, porém, em alguns casos, meu namorado conseguia calar sua boca. — revelou. — Não preciso dizer que isso não foi bem aceito no Inferno, não é?
Agora a imagem a frente delas mostrava Persephone de frente a um lugar em que Brooke estava um pouco antes de ser morta. A mulher de mais de vinte anos na época, encarava o trono de seu pai, Grillian, sendo essa, a primeira vez falando com ele.
— Você sabe o que tem feito. — alertou o homem, sem a expressão calma que Brooke. Ele parecia preocupado. — Precisa parar com isso! Não posso convencer os outros reis para sempre!
— Para de fingir importar-se comigo! — berrava Persephone entre lágrimas de dor, fragilizada. — Me deixou por dezoito anos ser escravizada, abusada e machucada por aqueles desgraçados e agora quer dar uma de pai protetor?! Me poupe!
— E é por isso que deve parar de tratar humanos como se fossem algum outro animalzinho que necessita de cuidados! — o rei exclamou de volta. — Todos eles precisam ser extintos! Eles denigrem a terra que Deus deu a eles!
— Pode ser. — concordou ela com um aceno. — Realmente não são perfeitos, e uma enorme parcela são sim indefensáveis, horríveis e tudo mais. Mas existem sempre excessões, pessoas fragilizadas e destruídas que ainda conseguem sorrir diante os problemas para ajudar outros. Já viu uma criança sorrindo, papai? — sua pergunta deixou Grillian perplexo. — Sei que não. Me negou no meu nascimento, e por isso eu escolho eles. Alguns humanos não valem a pena, porém, os demônios não existe qualquer excessão. Nem mesmo você.
— Persephone... — não sabia que era possível, mas a garota viu o lacrimejar nos azuis olhos.
— Não me chame de Persephone! — quase gritou irritada. — Não me chame de querida, de criança, ou de filha. Não quero que cite meu nome! Você não fez questão antes, e agora, eu não tenho mais a necessidade de um pai. Com sua licença.
Persephone, sarcástica e nauseada pela vingança, fez uma falsa referência, tratando-se do posto de ser o principal rei do inferno.
— Você precisa parar... — Grillian repetiu, verdadeiro medo no tom de sua voz.
— Ele nunca admitiria pelo orgulho — a verdadeira, ao lado de Brooke, disse. —, contudo, amava sua primeira filha em milênios. Dá para notar que por mais do inferno real ter todas as religiões, a Grega tem mais destaque, talvez pela época em que vivia. Meu nome é Persephone, casei com Hades e tudo mais, entretanto, pelas lendas, eu seria Atena. — Brooke prestou atenção na interrupção dela. — A filha mais amada, inteligente e mão de frente na justiça, mesmo que tenha que haver guerra. Também não tenho nenhuma noção de estações do ano, então... — Brooke soltou uma risada nasal. — Grillian, é, obviamente e o próprio, Zeus.
A Emily assentiu, arrepiando-se por mais revelações, para enfim, ver a conclusão do rompimento pai e filha.
— Nunca pararei de lutar por aqueles que não podem se defender, independente dos motivos. — a resposta de Persephone soou na sala, aumentando o grau de surpresa de seu pai. — Não importa o que eu tenha que fazer, o que tenha que sacrificar ou perder, eu nunca vou desistir do que é justo e certo. Por onde eu passar, haverá revoluções até que o máximo possível de pessoas e até demônios, vivam bem.
E saiu, batendo a porta para ecoar seu barulho no local.
— Depois daquilo, as coisas mudaram, para mim e todos os Iluminados. — contextualizou Persephone, deixando Brooke preocupada. — Demorou mais alguns mêses até que os outros reis conseguissem sair dos encantos de meu pai para então, fazer um dos atos mais crueis a todas as espécies. Liberaram um dos sete seres mais malignos e perigosos. Uma das partes divididas da almas de Lúcifer. Já consegue advinhar qual é?
Brooke nem pensou.
— Aquiel.
Persephone assentiu, mudando novamente o cenário com o movimento de sua mão, agora, a reprisar a fundo o que aconteceu com Hades. O relacionamento antes disso era ótimo. Estavam casados já, onde a névoa de amor cobria todos os problemas que seus objetivos poderiam ter. Mas foi tudo por água abaixo. Hades, de repente, passou a ser agressivo, sem mais o tom carinhoso de sempre, falando coisas horríveis e repugnantes. A única coisa que parecia funcionar para que voltasse a ser o velho de antes eram as canções de Persephone. O homem não desabafava, então a mulher teve que decifrar o seu medo, os tremores quando voltava, como se não soubesse mais quanto tempo aguentaria.
Persephone apenas teve a certeza de que alguma coisa havia sido posta nele quando viu num canto, chorar e bater com sua cabeça na parede, balbuciando palavras desconexas. Era como se estivesse com o vírus da raiva, as vezes até convulcionando.
A coisa que tomava conta da mente de Hades parecia não suspeitar de que Persephone sabia. Agia normalmente as vezes, sua intenção sendo a manipular para que obtivesse a confiança dela.
— Está bem, meu amor? — ele chegou no jardim do castelo ao qual estavam, seu tom de voz podendo ser notado a diferença. Ninguém normal perceberia, entretanto, Persephone sabia de tudo sobre ele. Estava alerta desde o início.
— Claro. — respondeu, pegando uma linda rosa que chamou sua atenção pelo gramado extenso, entregando ao homem, que fingiu um sorriso ao receber. — Vou passar por Brooke hoje.
A própria levantou sua sobracelha a dona das memórias, que apenas sorriu com a surpresa.
— Eu e Hades viviamos na terra e no inferno, por ele precisar governar e eu por não desapegar de onde nasci e da beleza do mundo. — começou. — Eu era a única Iluminada que podia estar no inferno viva. Na verdade, um dos únicos demônios, pelo acesso restrito deles. Com minha magia, permiti a mim mesma criar um portal para que nunca precisássemos ficar separados. O seu nome eu mesma inventei nessa época. Brooke significa fluxo, aquilo que é tranquilo e pode agitar-se, e que independente, é o que trás a calmaria no nosso corpo nos piores momentos, como a corrente da água. Em outras palavras, a "piscina de sangue" ao qual William queria jogar Vanessa a alguns mêses atrás se chama Brooke e é o portal do inferno.
— Que legal saber que o significado do meu nome é o portal do inferno. — ironizou Brooke em uma risada.
Os acontecimentos a seguir não houveram qualquer tipo de humor. Persephone fingia, com a máscara de uma inocente garota, rezando para que ele caísse na conversa. Hades, ou a coisa dentro dele, questionou como quem nada queria, e da mesma forma, a mulher respondeu. Por fiapos de descuido, ela conseguiu.
A imagem mudou para Persephone nadando em um enorme rio de cor cristalina. Os arredores mesclavam com o gramado semelhante ao jardim e o chão árido do fogo do inferno. Brooke, já preocupada e sem piscar os olhos, viu nos mínimos detalhes como Persephone retirou uma faca de sua roupa e cortou a palma de sua mão, e mesmo que fosse um pequeno corte, de alguma forma conseguiu mudar a cor totalmente do lago. Tornou-se bordô.
Quando ela chegou do outro lado, a única coisa que teve que fazer foi esperar. Brooke não entendia o porquê de olhar para cima como se aceitasse seu trágico destino. O lamento percorreram seus olhos cor de mel uma última vez. Não poderia concretizar seus objetivos, sua missão da segurança e união de todas as espécies porque aqueles que estão no poder nunca cederão um pouco do seu lugar ao resto. Infelizmente aprendeu que o achismo deles não fazerem o que estivesse ao seu alcance para impedir o fim do caos, era muito alto. Eles sempre farão.
Brooke, não sabia como, mas afeiçoou-se a Persephone e até mesmo Hades. Era como, de verdade, ler seu livro favorito, aquele que tornou sua obsessão no tédio absoluto. Embora soubesse do fim trágico da história, não podia deixar de torcer para que fosse mentira.
Quando viu que Hades saiu do lago sangrento que dava para um espaço na terra — que futuramente seria conhecido como Hurricane, na América do Norte —, notou que não podia mais ser tão esperançosa. Seu olhar não era cinza, era completamente preto, do ponto de não ser possível enxergar nenhuma iris. Sabia da traição e já não mais tentava disfarçar ser o verdadeiro Hades.
— Bem vindo, Aquiel. — saudou Persephone, sem esconder mais sua verdadeira intensão de acabar com àquilo. — Gostou do sabor do meu sangue?
— Que eu saiba a vampira aqui é você! — disse irritado e nauseado por algum motivo. Sua respiração tornou-se irregular, e nem mesmo pode pensar em desviar quando a mulher o arremessou para longe com sua magia. — Maldita bruxa... o que fez comigo?!
— Transformei meu sangue em veneno. — revelou com um sorriso em seu rosto. — Muito fácil isso quando sou uma bruxa e vampira. Agora não é mais você que amaldiçoará ninguém, Aquiel, e sim eu. O karma é um Deus, não?
Persephone não perdeu tempo, ativando seus olhos e dentes em modo vampiresco para morder gravemente o pescoço do homem, o fazendo berrar de dor e socar o rosto dela e jogá-la para longe.
— Isso tudo é por eu ter possuído o corpo logo do seu maridinho? — debochou Aquiel, levantando-se, sua aura poderosa e maligna podendo ser sentida por todo o planeta. Ele deixou que Persephone visse a sombra de sua verdadeira face, uma das que estava junto ao próprio senhor de todo o Mal. Quis que a garota se horrorizasse, sentindo na pele o poder de uma entidade verdadeira. — Não precisa se preocupar, estou me certificando de torturar ele o máximo que consigo em sua mente.
— Seu maldito! — furiosa, Persephone levantou-se, seus olhos brilhando poder. — Vai pagar por isso! — suspirou quando fechou novamente as pálpebras, tentando lembrar de todos os ensinamentos que aprendeu com Hades. — Demonialies!
Agora o cenário mudou até para os dois. Tudo transformou-se em preto, como se fossem teletransportados para o vácuo do espaço. Amedrontado pela primeira vez em milênios, Aquiel olhava para todos os lados a fim de encontrar a saída, entretanto, antes de qualquer próximo movimento, um barulho estridente ergueu sobre seus ouvidos, o forçando a pressionar suas mãos nos mesmos, tentando bloquear, falhando miseravelmente.
— A canção amaldiçoada do Anticristo. — completou Persephone, seus olhos repletos de poder e vingança para com a entidade. — O que foi? Não pode se mexer?
Aquiel ajoelhou-se no chão, seus olhos e ouvidos sangrando. A pressão do som o deixando facilmente louco a ponto de não saber se era real quando Persephone invocou um enorme chicote. Tentou achar uma forma de se defender, porém, o objeto não bateu nele, e sim nos outros instrumentos gigantes que apareciam conforme o dourado chicote passava, e quando meramente tocados, o som produzido queimava até a última célula de seu corpo. Eles iluminavam o vazio. Piano, violão, harpas, violino, gaita, saxofone, trompete e finalmente a pior, a trombeta. Todos produziam cada vez mais sons, dolorosamente estridente conforme a arma que usaram para punir Persephone a vida inteira os tocava.
— P-P-Para... — implorou a entidade, incapaz de resistir a imensidão do poder da híbrida.
— Jamais! — mais uma vez moveu seu chicote para bater em todos os instrumentos, ocasionando no homem deitar-se em posição fetal, chorando de tanta dor. — Você acaba aqui e agora!
De repente, Aquiel levantou-se gargalhando, como se nada tivesse acontecido e não mais nenhuma dor sofresse pelo som dos instrumentais contra sua mente.
— Brincadeirinha. — pegando a garota desprevinida pelo choque, a jogou contra o chão, pressionando sua mão em seu pescoço. — Sua Demonialies é realmente impressionante, uma das, se não a mais poderosa que já vi, aberração. Mas acho que esqueceu-se que as entidades estão acima de qualquer demônio, até mesmo uma híbrida, não é?
— N-Não importa... — a mulher cuspiu sangue na cara dele pela dor, logo após ele enfiar a mão no peito dela, podendo segurar seu coração em sua palma. — Eu... sabia que meu poder não te mataria... Mas você já está amaldiçoado...
— Do que está falando, sua vadia?! — remexeu sua mão, fazendo ela quase gritar de dor.
— M-Meu sangue... cobriu o corpo que você possui... Amaldiçoei o lago Brooke, tal com qualquer um que novamente use aquele portal, e você foi um deles. — ele já sabia disso, e achava estar vencendo até ela continuar. — M-Minha Demonialies aprimorou a maldição, a ponto de nenhuma... nenhuma entidade pôder resistir!
Brooke arregalou os olhos, pois jamais imaginaria que seria tão rápido. Aquiel, sem nenhum pingo de piedade, arrancou o coração de Persephone de uma só vez. Mesmo que o espírito da mulher ainda estivesse ali com ela, a tristeza que sentiu por ver sua morte foi absurda. Não resistiu em soltar uma solitária lágrima.
— Se esqueceu que está amaldiçoado? — a voz de Persephone apareceu na mente de Aquiel, o fazendo dar voltas em si mesmo tentando encontrar da onde ela vinha. — Eu estou em todos os lugares e ao mesmo tempo, em lugar nenhum.
O vazio se desfez, dando a vista da antiga floresta que estavam antes da habilidade de Persephone.
— SAI DA MINHA CABEÇA, DESGRAÇADA! — berrava como um louco quando novamente sua canção recomeçou e dessa vez, não era brincadeira que sofria ouvindo sem parar. Olhava para todos os lados, conseguindo perceber que vinham de absolutamente tudo.
— Não consegue me pegar agora. — dizia sem parar, enlouquecendo a entidade, que no surto da raiva, pulverizava o corpo da mulher, achando que isso bastaria. — Não adianta. Estarei em todos os lugares. Meu corpo morto te assombrará. Minha canção te enlouquecerá, e minhas ideias, te perseguirá. Não importa o quanto se esforçar, jamais parará minha maldição, e nada do que fazer te fará me pegar.
— Você não pode me pegar agora. E não parará minha música. — ela sorria, debochada, novamente. Aquiel colocasse suas mãos sobre os ouvidos, tentando não enlouquecer. — Quer ouvir?
E então, Brooke ouviu, a última canção que soou pelos lábios maravilhosos de Persephone. A música que para sempre seria a sombra infernal e interminável da entidade.
"Whispers of revenge, running through my veins.
High-pitched echoes, haunting the night,
I curse your soul, forever in my sight.
Once I danced in moonlight, love so true,
You took it all away, my heart now through.
I soar on vengeance, a tempest within,
Your fate entwined, my reckoning begins.
Repetitions of sorrow, echoes in the wind,
I'll sing my tale, the cycle begins.
Eternal pursuit, my ghostly decree,
You can't escape the melody of me.
In the symphony of revenge, your soul entwined,
A haunting echo, your destiny defined.
A specter of anger, a wraith in the dark,
I'll be the nightmare, the haunting spark.
Your every step, haunted by my gaze,
A bitter reminder, through endless days.
High notes of justice, piercing the air,
You'll hear my song, a relentless affair.
Guilt's shadow looms, a relentless chase,
In this spectral waltz, you'll find no grace.
Eternal pursuit, my ghostly decree,
You can't escape the melody of me.
In the symphony of revenge, your soul entwined,
A haunting echo, your destiny defined.
In the echoes of vengeance, my spirit reigns,
A cursed refrain, the eternal chains.
Through time and space, my presence near,
In the haunting abyss, forever I'll appear."
— Ele até hoje ouve isso. — o espírito da mulher disse a Brooke. — Como eu prometi, o assombro até hoje, embora como vingança eu perdi Hades. — a garota estava em choque, então apenas sentou-se na grama macia, verde e com a brisa leve do início. — Ele foi resistente e negou-se a sair do corpo dele, então continua fazendo mal e a culpa cai diretamente em Hades. Não foi ele que abusou de você, de Mike, e de todos os outros, e até matou. Foi Aquiel.
— Por que ele fez isso? — a Emily questionou, ignorando o fato dele ser uma entidade demoníaca porque à ela, isso não era o suficiente para tanta crueldade.
— Porque Hades amou. — Brooke ficou mais confusa. — Como punição por me ajudar na ideia de revolução, Aquiel o puniu para que nunca mais amasse alguém de novo, porque isso o tornava fraco. Qualquer mínimo afeto que poderia vir a sentir por alguém, Aquiel acaba com tudo matando o espírito da pessoa com os atos que elas mais têm medo, e na maioria dos casos... é abuso sexual. Katharina Respreton e Oliver Emily foram um desses. Sei que Hades gostou de verdade deles, e óbvio que essa entidade maldita não poderia deixar. Nem mesmo seu filho ele perdoou. Por mais de nunca ter parecido, Hades afastou-se de Michael e os outros filhos para que Aquiel não os machucasse.
— Que horrível... — Brooke sentiu seu coração partir-se mais uma vez.
— É pesado demais, mas o primeiro abuso que Michael Afton sofreu foi logo após seu aniversário de... oito anos. — era um assunto pesado demais até para uma mulher tão velha falar. — Nesse dia, Hades resolveu dar uma trégua e transformar apenas um dia comum em um especial ao garoto, e de fato foi. Porém, Aquiel não gostou do sentimento amoroso que invadiu o peito de Hades cada vez mais... então o destruiu, para que pela culpa de ter feito algo tão horrível ao filho, jamais o amasse novamente... Infelizmente, o amor de um pai para um filho não desaparece tão fácil, e por isso, Aquiel continuou por muito tempo, até que o garoto achasse que era algo comum de se fazer.
Brooke sentiu vontade de vomitar. Era uma das piores provas de crueldade que já havia escutado em toda a sua história de vida. Nenhuma tortura da idade média comparava-se a algo tão mórbido.
— E-E eu? — indagou, a voz trêmula por medo de saber a verdade sobre o seu maior trauma, ao mesmo tempo que necessitava.
— Você é mais complicado. — recostou-se Persephone na árvore ao qual Brooke a viu pela primeira vez quando chegou ali. — Você é uma híbrida dos mesmos reinos que eu. Temos a aparência muito parecida e ideais iguais. Imagino que Katharina e Oliver fosse apenas uma pequena atração, contudo, você, eu tenho certeza que foi a segunda vez ao qual Hades se apaixonou em sei lá, mais de dez mil anos.
— Ele se apaixonou por mim? — ficou em choque, quase caindo para trás. — Não é possível isso. O que essa família vê em mim?
Persephone apenas riu.
— Toda a conversa que vocês tiveram enquanto ele te deu carona e pagou seu almoço, não eram manipulação, e sim sua verdadeira identidade. Enfim, quando a coisa tomou o posto, óbvio que teria de destruir você para que a culpa substitusse a paixão que nascia.— revelou ela. — As vezes, eles alteram a alma que controla o corpo, por cansarem-se. Aquiel já ficou quase uma década descansando. Foi esse o período em que conquistou a confiança de Henry Emily para fundar a empresa que eles têm hoje. Para ele, dinheiro não mudaria nada, entretanto, a sua família, era importante a tutoria dele, tanto para negócios quanto para saber como de fato fazer os produtos para a riqueza. Acho que foi uma forma de se redmir, apesar de não ser culpa dele, com todos eles.
— Nunca pensei sobre essas coisas, por mais questionáveis que fossem. — suspirou, sentindo como se seu coração pesasse. Toda a história mexeu com ela, e em nenhuma hipótese imaginaria que mais uma vítima de William Afton seria o dono do corpo com ao qual aquele demônio possuía. Nunca imaginou que alguém tão temeroso como Hades, que para os gregos era o próprio senhor das coisas ruins, fosse na verdade, um dos melhores. — Aliás, pensei que tivesse matado Aquiel.
— Você matou uma parte dele. Ele tentou te matar através da maldição, contudo, o garoto Afton te ajudou, mostrou seu potencial e assim acabou com aquela parte dele. — disse, querendo fazer a Emily sentir-se orgulhosa do feito. — Não foi total até porque nenhuma entidade seria tão facilmente derrotada, no entanto, você enfraqueceu ele, e agora acredito que pode ser possível sua definitiva morte.
Brooke ficou pensativa.
— Depois de tudo o que promovi, da revolução que incitei, as coisas mudaram — retomou Persephone. — Mas não para melhores. Os reis resolveram punir seus filhos por aceitar isso, e desde então, todo Iluminado é obrigado, além de óbvio, matar pessoas para saciar vontades e poder dos que estão acima, a sofrerem para isso. Não me arrependo, apesar disso. Se desistirmos de enfrentar as lutas cujo prêmio é a conquista da liberdade por medo da punição na situação de falha, jamais conseguiriamos nada. Infelizmente não deu certo, dessa vez.
— Dessa vez?
— Você é como minha reencarnação, Brooke Emily. — disse ela com um sorriso. — A quem por anos, cumpre os critérios de poder e ideais. Terá amores épicos como eu, desafios como eu, lutas perdidas e pensamentos de desistência, mas acredito que além disso, pensará em todos aqueles que apenas sonham com a paz e concretizará o que comecei.
— Mas eu estou morta...
— Por pouco tempo. — Brooke ficou confusa. — Doerá quando voltar porque pessoas que te amam de verdade tendem a sacrificar a si mesmas para que você sorria. Apenas quero que lembre-se da minha verdade, do que passei, do que todos passamos. Acabe com isso! Você é a última esperança para os humanos e outras criaturas coexistirem sem que seja necessário morte de uns!
Brooke tinha seus olhos lacrimejando quando a imagem de Persephone começou a desaparecer, como se a opacidade de sua matéria se esgotasse. Antes que finalmente sumisse, a garota a abraçou, querendo que suas lágrimas expressassem a gratidão que sentia. Persephone mostrou a ela uma realidade que precisava entender, que precisava sentir na pele, além de uma verdade a qual ninguém estaria tão disposto a mostrar desde o início.
— Posso finalmente, após cinco mil anos, encontrar a verdadeira paz. — a voz serena dela ecoou pela mente de Brooke em confusão. Pouco a pouco ela sumia mais, brilhando em dourado tal como poeira mágica — Menti para você. Esse não é o paraíso. É o purgatório. Eu não podia descansar enquanto não entregasse o meu legado a alguém. Eu sei agora que além de fazer, será aquela que libertará a alma de alguém tão puro e que teve de sofrer pelo tempo em que estive morta. Estou em paz sabendo que logo, estarei para sempre ao seu lado.
A mulher finalmente desapareceu sobre o abraço de Brooke, tornando-se poeira carregada pelo vento para que finalmente parasse de pensar no coletivo e fosse egoísta de estar em paz consigo e com quem amava.
A Emily secou suas lágrimas ao ouvir as últimas palavras dela, reverberando por sua mente quando logo, ela percebia que seu lugar já não era mais ali.
— Muito obrigada, Brooke Emily.
‹ 𓆠⃮ 𝄿ֱ 𝚗𝚘𝚝𝚊𝚜 𝚏𝚒𝚗𝚊𝚒𝚜: .
I. infelizmente eu tive que dividir esse capítulo porque eu não esperava que a história de Hades e Persephone ficasse tão grande (e olha que eu cortei muitas coisas). eu juro que queria que o 25 fosse o último mas sem chance de começar a segunda parte do capítulo com ele já estando com 8k500 palavras. é absurdo demais. então tive que mudar todo o meu planejamento e o 26 que será o último. aliás, perdão por ter ficado tão grande essa bomba.
II. vocês gostaram da história que eu desenvolvi sobre os dois, além de toda a mitologia sobrenatural distópica que criei? se não entenderam algo (porque de fato é muita informação) podem me falar aqui que respondo. apenas peço que opinem sobre o que citei acima, por favor 🙏
III. caso tenham se esquecido, lembrem-se de votar e enfim, é isso, desculpa mais uma vez pelo extenso capítulo (que foi meu record) e nos vemos no próximo, em que esse sim terá a finalização de tudo que eu planejava para esse. bye dives 💋
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