𝑿𝑿𝑽𝑰𝑰𝑰. casual.
CAPÍTULO VINTE E OITO
Casual.
CATHARINE LEWIS nunca foi o tipo de garota que tinha facilidade em fazer amigos. Com as mudanças frequentes da sua mãe ao redor do país, pulando de emprego em emprego, ela não via sentido em cultivar relações para serem abandonadas assim que partisse, carregando nas malas promessas vazias que manteriam contato por mensagem ou nas redes sociais.
Era raro ver a garota se esforçar cultivar ou manter uma amizade e era isso que ela mais gostava no Cobra Kai. Não havia esforço, ninguém a tirava da sua zona de conforto. Todos eram colegas, não amigos.
Além disso, o karatê servia como um ótimo passatempo. Ela gostava do tempo que passava no dojo, fugindo dos problemas da sua família aparentemente perfeita e descontando sua raiva enclausurada em uma verdadeira arte marcial e não nos exercícios repetitivos e entediantes do Miyagi-Do, como ela havia aprendido anteriormente.
── Ei, Catherine. O Rory conseguiu ingressos para o drive-in sábado a noite. Vai passar um clássico, O Grande Dragão Branco — Kyler disse animadamente, se aproximando da garota que se aquecia distraída, ao lado do Keene e da Nichols.
── Eu conheço esse filme. Meu pai deixou uma fita na nossa casa — Robby se intrometeu, levantando a cabeça — Por um tempo era a única prova de existência dele.
── Quem me dera que o meu sumisse — murmurou a garota para si mesma, pouco interessada na conversa.
Catherine moveu alguns fios de cabelo da testa suada aproveitando a oportunidade para tocar a cicatriz no supercilio, o resultado da briga na casa dos LaRussos e a garrafa arremessada por Theodora. Estava começando a virar um habito examinar a região com a ponta dos dedos toda vez que ela se sentia minimamente desconfortável.
── De qualquer forma, dizem que é maneiro. Se vocês toparem, nós vamos! — ele coçou a garganta, estendendo o convite para os outros presentes.
── Depende da hora que eu sair do trabalho. Meu chefe me colocou na escala sexta — Tory respondeu desanimada — O cara é um escroto.
── Você arrumou um novo emprego? Onde? — perguntou o Keene, provocando uma careta na loira.
── Não é da sua conta.
── Você vai, né Cat? — o mais alto insistiu, sorrindo sugestivamente. A Lewis mordeu o interior da bochecha para suprimir uma careta.
Isso se qualificava como um flerte? Kyler Parker estava flertando com ela? Oh céus. Como ela deveria reagir?
Catherine não queria ser rude, afinal de contas estava lisonjeada. Ela gostava quando garotos lhe davam um pouco de atenção, era como uma pequena validação para a garotinha que era frequentemente questionada sobre a sua ascendência e nunca atingia o padrão de beleza americano, mesmo tendo nascido no país.
Kyler não era feio em comparação aos poucos garotos que haviam demonstrado interesse nela, mas definitivamente não era seu tipo. A garota se viu em uma encruzilhada.
── Preciso falar com a minha mãe — ela se forçou a sorrir educadamente.
O som alegre do sino na porta do dojo atraiu a atenção dos jovens, desviando o assunto para a pequena figura de Kenny emburrado e com os ombros curvados.
── Olha só quem chegou — implicou Kyler.
── O que aconteceu? — Robby arrumou a postura, ativando seu instinto protetor, cujo a asiática achou admirável.
Se Catherine pudesse escolher se apaixonar por um garoto ela definitivamente preferiria alguém como o Keene.
── Eu fui ao colégio ontem e uns garotos mais velhos mexeram comigo. Um deles falou que eu tinha que sair do Cobra Kai.
── Quem?
── Eu não conheço. Mas ele tinha cabelo espetado.
── Espera, cabelo espetado? — a garota de cabelos pretos balançou a cabeça levemente, acordando dos próprios devaneios. O garotinho assinalou.
Os quatro mais velhos se entreolharam em uma conversa silenciosa. As engrenagens girando na cabeça de Tory enquanto o sangue fervia podiam serem ouvidos a distância.
── Temos que nos vingar desse Judas — a loira verbalizou o que todos pensavam, arrancando um pequeno sorriso maquiavélico da Lewis e um olhar indecifrável do Keene.
˚ ⊹˚.⋆ ₊
O cheiro de café da manhã fresquinho infestava a casa dos Youngs, dexando a manhã de sábado ainda mais perfeita. Theodora estava debruçada sobre o fogão, colocando um pouco de massa de panqueca na frigideira quente e esperando as bolhinhas surgirem.
Ela certamente não era um talento na cozinha, como seus pais, mas conseguiu fazer algumas panquecas douradas e saborosas enquanto outras, menos sortudas, saíram feias mas comestíveis.
── Você está queimando algo!
Christopher gritou do andar de cima, sua voz soando abafada e monótona, como se estivesse acabando de acordar.
── Não, não estou! — ela rebateu no mesmo tom, concentrada no desastre que fazia e usando a espátula para tentar desgrudá-lo da panela.
── Tem certeza?
── Absoluta.
O segundo que ela virou a cabeça para responder ao mais velho e voltar foi o suficiente para a panqueca ganhar uma camada escura. Theo não pode evitar de torcer o nariz com a aparência do alimento, enquanto desligava o fogo. Aquela panqueca certamente não tinha salvação.
── Merda.
Para completar o cenário com chave de ouro, o barulho da campainha ecoou pela casa, estressando ainda mais a loira.
── Quer que eu atenda? — o Young perguntou ainda do andar de cima, fazendo uma pausa para um bocejar alto.
── Não precisa — a mais nova se apressou pelo cômodo, limpando as mãos em uma toalha e indo em direção a porta — Já vai!
Entre os poucos passos que separavam a cozinha da entrada da casa a garota fez uma lista mental de quem podia ser aquela hora da manhã e seus respectivos motivos, mas nada lhe preparou para girar a maçaneta e dar de cara com Robby, com seu skate em mãos e uma cara fechada.
A feição descontraída de Theodora rapidamente se transformou em confusão. Tão rapido quanto abriu, Theo sentiu a imensa vontade de bater a porta novamente. Mas não fez. Ao invés disso, a loira se forcou a controlar a língua, mordendo a parte interna da bochecha.
A última vez que eles tinham se visto, era a noite onde John Kreese reivindicou o Cobra Kai. Cada um dos jovens sendo obrigados a escolherem seu lado da guerra idiota que se alastrava pelo Valley. Agora, se ver em um momento tão intimista, sem pretextos, era como quebrar um acordo silencioso entre os dojos. Haviam muros imaginários sendo reconstruídos entre os dois, abalados pelas batidas frenéticas dos corações quando se entreolhavam.
A Young deixou os olhos esverdeados recaírem sobre a fina cicatriz na testa dele, engolindo em seco. O ferimento causada por Johnny e estancado por ela. A lembrança de aquela noite não havia sido apenas um sonho esquisito.
Já o Keene não deixou transpassar o quão acelerado seu coração estava ao ver a loira, mantendo o rosto impassível. Ele enxugou as mãos suadas na calça, resistindo a vontade de escovar os dedos contra a bochecha dela para tirar a farinha acumulada ali.
── Oi...
── O Falcão e outros alunos estão mexendo com um garoto. Mande-os parar ou vai ter vingança — Robby a cortou rapidamente, lembrando a si mesmo do objetivo principal daquele encontro.
── O que?
── Você é surda? — o tom ríspido escapou antes que ele pudesse evitar, quebrando o encanto que estavam envoltos — Estou pedindo para você controlar seu namorado.
── Meu namorado?
A expressão de Theodora se tornou um misto entre confusão, raiva e agora nojo. O nariz se contorcendo com o mero pensamento de namorar Falcão.
── Olha, eu estou tentando ajudar esse garoto. Mas se os idiotas do seu dojo não pararem, farei o que for preciso — reforçou o mais alto — E eu não quero você no meu caminho.
── Eu não faço a mínima ideia do que você tá falando, Keene — disse Theo na defensiva, ainda segurando firme na porta entreaberta.
── Não se faça de inocente. Isso é um aviso.
Uma risada amarga e baixa escapou dos lábios da garota, interrompendo-o. Os olhos verdes o analisavam da cabeça aos pés, incrédula.
── Puta merda. Você percebe que está soando que nem ele, né? — as sobrancelhas de Robby se franziram — Primeiro o Falcão, depois a Tory, até mesmo a Catherine. Todos vocês sendo soldadinhos do Kreese.
── Eu só estou tentando fazer a coisa certa — rebateu o garoto com o maxilar tensionado e os dedos apertando o skate em mãos.
── No Cobra Kai? — as palavras saltaram dos lábios dela antes que pudesse evitar. O gosto amargo do dojo que uma vez havia sido seu lar e agora era a personificação do inimigo.
Foi a vez do Keene balançar a cabeça incrédulo, era impossível os dois manterem uma conversa normal sem acabar em uma troca de farpas, ou pior, em uma briga física.
── Sabe de uma coisa? Você não entende. Porquê você tem medo — Robby cuspiu rispidamente, sua paciência se esgotando — Você abandonou o Cobra Kai porque tem medo do Kreese.
Os olhos dela se arregalam com a afirmação. Em parte por que era verdade, John Kreese era muito mais do que um sensei, era uma figura autoritária envolta de uma aura desconfortável, como um vilão de desenho animado saído direto dos anos oitenta. Mas a outra parte, era por ele ter percebido algo que ela jurava está bem escondido, enterrado dentro de si. Mesmo depois de tanto tempo o Keene ainda tinha a habilidade de ler entre as entrelinhas dela.
── Eu nã...
── Eu sou diferente de você — continuou o garoto, apontando para o próprio peito — O Cobra Kai só é um meio para ter o que eu quero.
── O que você quer, Keene? — ela endireitou a postura — Um troféu de plástico? É esse seu objetivo?
── Eu quero ganhar. O Cobra Kai tem as ferramentas para isso.
── Você acha que isso vai magicamente consertar tudo? Os pássaros vão voltar a cantar e as flores a desabrochar porque você ganhou o All Valley.
Ele revirou os olhos com força, cansado daquela discursão. Theodora não precisava os motivos dele. Ele so precisava manter Kenny longe de confusão e consequentemente si própria.
── Só por favor resolva isso — Robby girou nos tornozelos, preparando para colocar o skate no chão. Porém, antes de sair em disparada ele congelou no lugar, virando a cabeça para dar um último conselho — E Theo, fique longe.
── Vai se foder — a Young disse alto, assistindo a figura dele ficando cada fez menor enquanto descia a rua sem olhar pra trás.
A garota fechou a porta da frente com um baque forte, o coração batendo descompassado e a respiração acelerada como se tivesse praticado uma das sequencias de socos que Johnny havia lhe ensinado.
Robby tinha a habilidade de estressa-lá como ninguém.
── Quem era? — Christopher apareceu com os cabelos bagunçados e a cara amassada. Ele bocejou levando a xícara de café aos lábios para bebericar o líquido fumegante.
── Ninguém — a loira respirou fundo passando a mão no rosto. Ela limpou a farinha que ainda estava salpicada na bochecha, abrindo um sorriso gentil para o pai — Eu fiz panqueca, está com fome?
˚ ⊹˚.⋆ ₊
Tory Nichols estava preparada para cometer um homicídio.
Após o turno horrível no novo trabalho como animadora de festa infantil e irritante presença dos LaRussos estragando ainda mas seu dia, a garota estava sentada no lado esquerdo do banco de trás de Kyler, fingindo prestar atenção no filme que passava no drive-in e nos comentários tediosos dos garotos no banco da frente.
Robby, sentado do lado direito, também não parecia muito concentrado, repassando na própria mente o encontro com Theodora mais cedo e analisando minuciosamente cada detalhe.
Já Catherine que estava no meio dos dois estrategicamente, evitando ocupar o banco do passageiro ao lado de Kyler, mordiscava as unhas curtas e sem esmalte, forçando um sorriso toda vez que o asiático se virava para checar a reação dela a algo que acontecia no filme.
Em algum dos momentos que questionava a si mesma se era melhor ter ficado em casa, a morena olhou para o lado percebendo a atitude reclusa de Tory.
── Não curtiu o filme? — a Lewis perguntou timidamente, escovando o próprio ombro com o ombro da loira.
── Eu gostei. Só tive um dia ruim — assegurou a Nichols gentilmente, abandonando a fachada de durona que usava com todos.
── Eu até perguntaria, mas não é da minha conta — adicionou a morena, usando a frase que a garota havia falado no treino de sexta. Catherine mordeu o lábio inferior para evitar que um sorriso implicante nascesse.
A curva suave que se formou nos lábios de Tory foi uma recompensa mais do que suficiente. Rapidamente, borboletas se apossaram do estômago da Lewis em festa, fazendo a garota sorrir boba junto a loira.
── Aqui estão suas coisas! — Kenny disse alegremente tirando as duas garotas da bolha que haviam criado. Ele passou um balde de pipoca de mão em mão até chegar em Catherine.
── Obrigada, Payne.
── Ei, otário — Kyler cuspiu grosseiramente, fazendo a garota torcer o nariz — E o meu?
── Você falou que não queria nada.
── Mas agora eu quero. Traga dois baldes de pipoca com manteiga, quatro cocas grandes, dois hot dogs com mostarda sem ketchup e um pretzel.
── Mas eu não consigo carregar...
── Também quero nachos com queijo extra e jalapeños recheados, tá? Pra hoje ainda, acelera.
O garotinho fechou a boca cansado de tentar retrucar e deu as costas cabisbaixo, fazendo seu caminho de volta a lanchonete. Robby revirou os olhos para o asiático, rapidamente saltando para fora do carro para interceptar Kenny e deixando as duas garotas sozinhas no banco de trás.
── Ei. Não esquenta com isso. É só um trote com o novato. Isso é bom — assegurou o mais velho.
── É mesmo?
── Acredite, é bem menos perigoso do que eu tive que fazer — o Keene sorriu nostálgico, apesar do seu 'processo de iniciação' não ter sido a muito tempo atrás — Mantenha a cabeça erguida, você ganhará respeito. Entendeu?
Payne concordou com a cabeça, os lábios curvando para cima contra a sua vontade, arrancando um sorriso mais largo do mais alto.
── E me traga uma barra de chocolate — Robby provocou, empurrando o ombro dele levemente.
O mais novo revirou os olhos, antes de girar nos calcanhares voltando para a rota inicial, em direção a lanchonete. Já Keene voltou para dentro do carro, fingindo se concentrar no filme enquanto escondia seu conhecimento sobre os flertes tímidos das duas garotas ao seu lado.
Os olhos verdes do garoto vagavam fingindo interesse em coisas aleatórias, tentando estabelecer um pouco de privacidade para as duas, até parar na garota loira rindo na lanchonete.
Theodora estava com as mãos enfiadas na jaqueta de couro, o frio deixando as bochechas dela levemente coradas e um sorriso arteiro, se divertindo enquanto assistia as tentativas falhas de Falcão de comer uma maçã do amor.
O peito do Keene se contorceu com cada risada que a garota dava, como se conseguisse ouvir a melodia distante dentro da sua cabeça. Ele sentiu um calor subindo pelo pescoço, uma sensação nova que nunca tinha experimentado. Sabia que precisava desviar o olhar, dar privacidade para aquilo que não era da sua conta, mas simplesmente não conseguia. Estava hipnotizado.
O garoto mordeu o interior da bochecha com força sentindo o gosto metálico se espalhar pela boca. A raiva de ver sua inimiga e o causador dos seus problemas atuais juntos gerava uma angústia muito mais amarga do que qualquer coisa que ele havia sentido antes, enfurecendo o estômago.
Robby sentia o corpo doente, como da vez que tinha pegado intoxicação alimentar no sétimo ano. Ele poderia vomitar a qualquer segundo.
── Você está fazendo isso absolutamente errado — exclamou Theo, recuperando o fôlego.
── Não tem jeito errado de se comer uma maça do amor, loira — rebateu o garoto de moicano vermelho, tentando arrumar um jeito de enfiar a fruta inteira na boca.
── Tem sim e você é a prova disso. Completamente ridículo.
── Você quer me ensinar como faz? — provocou com um sorriso afiado, estendendo o alimento ainda não mordido pra ela.
── Assista e aprenda.
Robby ia ter um ataque cardíaco.
O coração dele estava batendo na garganta, apertando ainda mais o nó imaginário que havia se formado ali. A garota levou a maçã aos lábios, dando uma mordida estalada com dificuldade enquanto Falcão ria das caretas dela.
Entretanto, os olhos castanhos do Moskowitz rapidamente desviaram na garota bonita na sua frente focando no garotinho de pele escura que caminhava cautelosamente mais atrás, equilibrando diferentes lanches.
── Já volto.
O Keene soltou o ar que não sabia que estava prendendo ao ver o garoto se afastar da loira, mas logo foi atingido por uma nova onda de preocupação quando Eli esbarrou propositalmente em Kenny, fazendo o mais novo derrubar todos os alimentos que carregava no chão.
── Aquele palhaço — Robby exclamou com raiva enquanto saia do automóvel apressadamente, atraindo a atenção de Tory e Catherine.
── Devia olhar por onde anda, pirralho — disse Falcão com um sorrisinho maléfico. A diferença de altura dos dois intimidando o garoto.
── É, o mesmo vale pra você — o Keene interrompeu peitando o garoto do dojo oposto como um irmão mais velho protetor, enquanto Kenny se escondia atrás dele.
── Olha só quem é.
── Tá de brincadeira — Theo murmurou para si mesma, revirando os olhos ao perceber a confusão que se formava. A loira abandonou o resto do doce sobre uma bancada se juntando rapidamente aos garotos do seu dojo.
── Você traiu o Miyagi-Do — Nate rosnou, ocupando o lado esquerdo de Falcão — Traidor.
── Nate, cala boca — repreendeu a Young, colocando a mão no ombro do amigo que havia iniciado a confusão — Vamos embora. Não vale a pena.
O sussurro dela e a proximidade dos dois fez o coração de Robby errar uma batida e as palmas a mão suarem. Ele fechou o punho com força tentando se controlar para não começar uma briga ali mesmo.
── Tem um traidor aqui, com certeza — Tory exclamou com um sorriso vitorioso, se aproximando, acompanhada dos demais alunos do Cobra Kai — E ele vai ter o que merece.
Theo se virou impaciente, sua ansiedade crescendo a cada segundo. Eles estavam cem menor número e sair daquele cenário sem uma briga parecia pouco provável.
── Não se eu puder impedir, princesa.
Como um sinal divino, a voz de Samantha ressoou firme. A morena se juntou ao grupo junto com o resto dos alunos do Miyagi-Do e Presas de Águia. Ao menos agora a disputa seria numericamente justa.
Os dois grandes grupos se entreolharam. A cena do filme que passava na grande tela mudou para uma briga acalorada, alimentando a tensão que estava prestes a explodir.
── Vocês acreditam que eles têm refrigerantes de marcas concorrentes aqui? — Demetri perguntou de cabeça baixa, analisando o copo em que tomava sua bebida.
Todos os pares de olhos viraram-se revoltados para o garoto completamente alheio da confusão.
── Ah droga. Outra briga, não!
── Demetri está certo, circulando galera — reforçou a Young. Normalmente ela não era a maior pacifista do grupo mas não estava com ânimo para lidar com mais babacas naquele dia.
── Por que? Você vai fugir igual fez da última vez? — Catherine sorriu sarcástica, mesmo que a cicatriz do golpe desferido na sua cabeça não tivesse sumido completamente. A loira sentiu o maxilar travar involuntariamente e os punhos se fecharem.
── Olha aqui garota...
Hipocritamente, indo contra seu próprio pedido de paz, Theodora seria a primeira a atacar, se não tivesse sido impedida por Miguel puxando seu pulso firmemente.
── Cuidado, LaRusso. Sua mamãe não tá aqui pra bancar a pacificadora — provocou a Nichols se divertindo com o caos instaurado.
── Como assim? — as sobrancelhas de Samantha franziram, quase se transformando em uma só.
── Gente, chega! — Miguel interrompeu fazendo a irmã bufar e a namorada torcer o nariz — Não podemos fazer isso. Vamos derrota-los no tatame.
── Tem certeza? Você se lembra da nossa última luta, né? — rebateu Robby.
── Você também não acabou em um lugar muito legal — cuspiu a Young, fazendo a feição dele endurecer.
Os dois tinham uma mania insaciável de se encontrar no olho do furacão, como dois polos de um imã, sem saber se escolheriam se repelir ou se atrair.
── Campo de beisebol em meia hora — continuou o Diaz, calando as conversas paralelas — E nada de armas.
── Não vamos precisar — debochou Tory.
Hesitantemente, os dois grupos recuaram, voltando para seus respectivos carros. No horário marcado o Cobra Kai estava lá no centro do gramado, procurando os oponentes com o olhar ambicionado por uma briga.
── Tem certeza que isso vai dar certo? — Theodora perguntou, ajeitando a postura no banco do motorista enquanto espremia os olhos para analisar as figuras distantes.
── Confie em mim — Miguel assegurou, checando o celular no banco de trás — Só mais alguns segundos.
Como um passe de mágica os refletores se apagaram um por um, deixando apenas metade do campo iluminado, enquanto os sprinklers saltavam do gramado, jogando água para todos os ângulos.
Gritos e palavrões ecoaram dos alunos do dojo oposto, que agora estavam encharcados, mas dentro do automóvel da loira tudo que eles podiam ouvir eram risos genuínos. Uma gargalhada coletiva com gosto de vitória fácil.
── Cara que gênio! Nem precisamos dar um soco! — Falcão disse animado, batucando o painel no banco do passageiro.
── Meu tipo preferido de vitória! — Demetri completou.
Entretanto, a única pessoa que se mantinha impassível, com a cara fechada e os braços cruzados era Samantha. Sentada do banco de trás com o namorado, a garota permaneceu calada enquanto os ensinamentos de Johnny sobre não fugir de uma briga reverberavam dentro de si.
˚ ⊹˚.⋆ ₊
── A partir de agora, Miguel Diaz será conhecido como "O Fazedor de Chuva" — Demetri gesticulou dramaticamente, contando o acontecimento da noite anterior para os ausentes.
── El diablo de la lluvia! — Falcão completou, arrancando mais risadas dos amigos.
O clima no dojo era leve. O dia estava bonito com poucas nuvens no céu e todos se aqueciam e conversavam, esperando os senseis chegarem com as lições do dia.
── É mas mesmo que não tivessem caído, teríamos vencido — adicionou Samantha, surpreendendo a todos.
── Esse é o espírito, LaRusso Jr — Theodora sorriu, quebrando o silêncio estranho que havia se formado. Ela colocou a mão no ombro da amiga em apoio.
── É, mas poderia ter dado errado — o Diaz rebateu, se levantando do chão, batendo as vestes para se livrar do resto de grama.
── O que podia ter dado errado?
Johnny parou no lugar com as sobrancelhas franzidas, pegando a conversa pela metade. Ele carregava um bastão de madeira que certamente seria o ensinamento central da aula.
── Quase entramos em uma briga mas o Miguel salvou o dia — o garoto de moicano vermelho explicou, animado.
── É mesmo? Como?
── Mandei o pessoal do Cobra Kai ir ao campo de baisebol — Miguel disse com um sorriso orgulhoso — Bem na hora de regar a grama.
O sangue do Lawrence começou a borbulhar. Ele tinha certeza que seu rosto estava adquirindo uma coloração avermelhada igual nos desenhos animados enquanto se concentrava em respirar e exalar lentamente.
O mais velho sabia que tudo aquilo era consequência da influencia de Daniel nos seus alunos e suas técnicas Miyagi, mas ao mexer com Miguel o sensei estava atingindo uma camada emocional muito perigosa.
── Então voce marcou uma briga, não apareceu e os molhou com uma mangueira? — o tom de voz saiu mais ríspido do que ele pretendia, fazendo os sorrisos sumirem dos lábios dos alunos.
── Eram sprinklers na verdade — corrigiu Demetri, sendo fuzilado pelo olhar — Vou calar a boca.
── Vocês cutucaram a onça! — Johnny explicou revoltado — O que acham que vai acontecer? Acham que eles vão deixar pra lá?
── Pelo que soube, parece que o Miguel praticou moderação — o LaRusso se intrometeu, saindo da casa azul com uma feição pacífica — Ele achou uma saída que ninguém se ferisse. O que você queria? Que eles entrassem em uma briga com canivetes?
Silêncio.
── Estou orgulhoso. Você levou a sério os ensinamentos do Miyagi-Do — Daniel repousou a mão no ombro do Diaz, o parabenizando com um sorriso fraternal.
── LaRusso, precisamos conversar — o loiro interrompeu dando um passo a frente.
Porém, os olhos castanhos de Daniel não estavam focados nos loiro a sua frente, nem no futuro problema que aquela discussão acarretaria, mas sim no portão de madeira sendo aberto.
── Mas o que é...
O sorriso pequeno do homem despencou ao reconhecer as duas cabeleireiras brancas. Uma onda de nostalgia o invadiu mas não de forma positiva, o sentimento se assemelhava a uma paralisia do sono onde ele não podia escapar de fantasmas do passado.
John Kreese e Terry Silver estavam trabalhando juntos.
O homem mais alto usava um rabo de cavalo junto com roupas de marca que não se adequavam a situação, certamente era algum tipo de magnata tentando estabelecer dominância a partir das suas roupas. Ele ajeitou o paletó com um sorriso vilanesco antes de dirigir a palavra aos senseis.
── Senhores, parece que temos alguns assuntos para resolver.
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