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𝑿𝑿𝑽. achilles' heel.

CAPÍTULO VINTE E CINCO
Calcanhar de Aquiles.

            SE VOCÊ perguntasse a Theodora Young qual era a coisa favorita dela no natal, a garota provavelmente daria a resposta segura e superficial: As comidas, as decorações bobas e aconchegantes ou os presentes. Mas a resposta verdadeira com certeza seria: A sensação de casa cheia.

Theo adorava ver a avó e o pai brigando pela cozinha para decidir quem faria o jantar, o avô tentando guardar segredo sobre o presente que tinha comprado para esposa (e falhando miseravelmente) e as risadas compartilhadas entre os familiares antes de consertar algo que deu errado.

Era barulhento o suficiente para matar a vontade da garota de ter uma grande família e barulhento o suficiente para fazê-la esquecer do trágico encontro com o Keene.

E era exatamente assim que a residência dos Youngs se encontrava, bastante barulhenta, quando a garota desceu a escada em pulinhos animados.

── Oh querida, você está linda — Susan disse em meio a confusão da cozinha, enquanto uma música complementava o caos.

── Obrigada vovó — a garota sorriu, se esticando para pegar a chave do carro novo e deixando um selar suave na bochecha da mais velha.

── Onde vai? — Owen franziu as sobrancelhas, as mãos ocupadas mexendo em alguma massa.

── Uma festa de natal.

── Com quem?

Os dois Youngs se entreolharam em uma comunicação silenciosa entre pai e filha, se divertindo com a preocupação do Willams.

── Meu melhor amigo — a loira ajeitou a jaqueta de couro preta sobre os ombros e os olhos do mais velho se arregalaram com o uso da palavra no masculino.

O som da campainha ecoou antes que ele pudesse dizer qualquer coisa.

── Bem na hora.

── Esteja em casa cedo — retrucou Owen, arrancando uma risadinha disfarçada de Christopher.

── O quão cedo? — Theo caminhou até a porta com um sorriso arteiro.

── Antes da meia noite — o pai da garota finalmente entrou na conversa — E sem beber e dirigir.

── Pode deixar, capitão.

A loira se despediu com um sorriso e um aceno, fechando a porta atrás de si junto com a discursão que recomeçava.

── VOCÊ DEIXA ELA BEBER? — risadas despreocupadas de Susan e Chris contrastavam com o tom indignado do avô da menina.

── Sua casa está barulhenta — Miguel disse com os cantos dos lábios curvados para cima, parado no jardim.

── Meus avós vieram nos visitar — a garota caminhou em passos rápidos em direção a ele, também sorrindo.

Os dois compartilharam seu toque de mãos especial antes de irem em direção ao carro da Young, o automóvel preto parado na vaga em frente a casa azul.

── Você tem certeza que a LaRusso Jr está confortável com a minha presença? — perguntou Theodora, sentando no banco do motorista e checando o retrovisor.

── Sim. Claro. Cem por cento — o Diaz respondeu, fingindo está muito interessado em como o cinto de segurança funcionava.

── Miguel...

── Confie em mim.

── Você é um homem morto se mentir pra mim de novo — alertou a loira antes de dar partida no carro.

˚ ⊹˚.⋆ ₊

Miguel Diaz era um homem morto.

Ele não havia mentido sobre a Samantha estar confortável com a presença da Young na festa, ele havia mentido sobre a festa.

── Não. Não. Nananinanão. Estou fora.

Theodora exclamou ao parar em frente a imponente casa dos Larussos, percebendo a presença de outros alunos do Presas de Águia e o silencio que reinava pela moradia, nenhuma festa era silenciosa assim. A realização fez os olhos da garota se arregalarem, entendendo o plano de Samantha e Miguel antes mesmo que fosse revelado.

O garoto agilmente segurou a loira pelos ombros, apertando a campainha para que fosse tarde demais para fugir. Quando Samantha atendeu, um coro chocado ecoou de ambos os lados.

── Não! Você só pode estar brincando! — Chris exclamou, se levantando do sofá para ficar cara a cara com Mitch.

── O que eles estão fazendo aqui? — rebateu o garoto que usava um chapéu de Papai Noel — Isso não é uma festa. Comprei esse chapéu ridículo pra nada?

── Peraí, você acabou de dar uma de Operação Cupido? — Demetri perguntou atrás da LaRusso — Por quê?

── Sei que nem sempre nos damos bem, mas o Cobra Kai é a maior ameaça agora — as duas únicas garotas presentes se entreolharam — Para todos nós.

── Unindo forças vamos ter mais chances contra eles — Miguel completou — Dois dojos são mais fortes que um.

── Linda demonstração do poder da amizade mas eu tô fora — Theo rebateu, tentando se esquivar em direção a saída e sendo impedida pelo Diaz batendo a porta — Ei!

── Eu sei que todo mundo aqui vacilou — continuou o garoto, ignorando o olhar raivoso da melhor amiga.

── É, como quebrar o braço do Demetri — Chris cuspiu ríspido.

── Espera, você estava envolvido nisso? — a atenção de Theo foi desviada para o garoto pálido que engoliu em seco.

── Vocês que começaram a briga! — Mitch deu um passo a frente na defensiva.

── Depois que eu quase fui demitido!

── Céus, não suporto sua cara! — Bart aproveitou a deixa para provocar Nate.

── Se você morresse eu nem iria no seu funeral.

── Isso não vai dar certo — choramingou Miguel.

── Tem que dar! — Sam respondeu alto fazendo todos se calarem — É a nossa última chance de consertar as coisas. Não somos nada sozinhos. Mas, se trabalharmos juntos, teremos uma chance. Se a gente não superar o passado, essa briga nunca acabará. Temos que enfrentar os nossos inimigos. E essa rivalidade tem que acabar. De um jeito ou de outro.

Segundos desconfortáveis de silêncio pairaram sobre o cômodo enquanto todos os olhos estavam focados na garota de cabelos castanhos.

── Uau. Você é bem melhor nisso do que seu pai — o elogio de Theodora fez os lábios da LaRusso se curvarem pra cima, respirando fundo para continuar o discurso.

── Eu não seu como ser mais clara. O Presas de Águia e o Miyagi-Do tem que trabalhar juntos.

── Mesmo que quiséssemos, jamais daria certo — Chris rebateu — O estilo do Cobra Kai misturado com o nosso é tipo...

── Óleo e vinagre? — Nate completou.

── Não. Tipo scorpion e subzero.

── Mas eles são amigos, idiota — retrucou Mitch fazendo os olhos do garoto se revirarem.

── Não no Mortal Kombat 1, bafo de pica.

── Você não pode me chamar de bafo de pica. Só eles podem.

── Cara, por que você aceita que te chamem assim?

── Meu Deus, vocês podem calar a boca por um segundo? Essa discussão está me dando dor de cabeça — a loira resmungou, passando as mãos sobre o rosto. Aquele plano mal havia começado e já estava a estressando.

── Quer saber? Dane-se. Vamos embora.

Mitch e Nate caminharam em direção a saída, ainda bloqueada por Miguel, que não estava disposto a se mexer.

── Ei, covardes! — Demetri gritou, assustando a todos — Isso é exatamente o que os babacas do Cobra Kai querem. E como vocês já foram de lá vocês também são uns babacas. E você também. E você também Theo, desculpa. E eu também! Bem, pelo menos eu queria ser um.

O Diaz e a LaRusso se entreolharam.

── Mas agora o Cobra Kai é o pior grupo de babacas do Vale, liderado pelo rei dos babacas! Então, se o preço que temos que pagar é nos unir ao Presas de Águia... Alias, que nome estranho. Para podermos parar de nos ferrar, então seriamos babacas por não aceitar.

A Young prendeu a respiração. Ela não queria voltar, não queria arcar com as consequências do furacão de problemas que o karatê trazia consigo. Mas ao mesmo tempo, Demetri tinha razão. Eles não podiam ficar parados assistindo a legião de babacas aumentar gradativamente, não quando tinham os requisitos necessários para impedi-los.

Se Theo fosse lutar uma última vez que fosse pelo lado certo.

── Me desculpem por todos os "babacas". Geralmente me orgulho da minha grandiloquência mas é um momento emotivo.

O olhar nervoso do garoto recaiu sobre a loira, que segurava os próprios braços cruzados, as unhas apertando o couro da jaqueta se preparando para explodir. Ela fechou os olhos antes de dizer as três palavras que sabia que iria se arrepender amargamente.

── Por onde começamos?

˚ ⊹˚.⋆ ₊

── Todos nós concordamos que os treinos do novo dojo devem ser no Miyagi-Do — Demetri anunciou com um caderno em mãos, caminhando de um lado para o outro como um professor, mas ao invés da sala de aula eles ocupavam a cozinha estupidamente grande dos LaRussos — Mas temos um impasse com o novo nome, o kimono, os lanches e o protocolo de resolução de brigas dos senseis.

── Não diria que é ótimo, mas é um começo — comentou Sam, positiva.

── Nós devíamos prender os dois na mesma algema e só soltar quando eles se resolverem — Theodora disse casualmente com os braços cruzados.

Todos os pares de olhos do cômodo se viraram arregalados para garota loira, como se ela tivesse sugerido um homicídio duplo.

── O que? Podia funcionar — ela deu de ombros.

── Alguma outra sugestão? — Miguel mudou rapidamente o foco.

Um miado fino interrompeu a linha de raciocínio.

── Acho que seu gato quer entrar — Bart disse sorridente, se levantando e indo em busca do pequeno animal fora da casa — Vem cá gatinho.

── Vocês tem um gato? — Miguel questionou a namorada, confuso.

── Não.

Assim que a resposta deixou os lábios de Sam um barulho alto ecoou, um grito junto à explosão da janela em milhares de cacos de vidro que se espalharam pelo chão.

── Puta merda! — Theo se levantou em um pulo ao perceber o gatoto jogado no chão gemendo de dor.

── Bart, o que aconteceu? — o Diaz quase gritou de preocupação, enquanto a loira ajudava o garoto a ficar de pé e checava o corte no nariz dele.

O mais novo tinha um olhar atordoado pela atenção que estava recebendo da Young, gaguejando baixinho. Mas antes que pudesse formar uma resposta coerente para todos a porta se abriu com um baque alto revelando o grande grupo do Cobra Kai.

Falcão liderava, seguido de Kyler e Catherine, que mais parecia um gatinho assustado. Theo sentiu o sangue ferver ao ver as três figuras juntas, uma chuva de palavras de baixo calão rodavam o cérebro da garota enquanto ela colocava protetoramente seu corpo na frente de Bart.

Samantha carregava um olhar magoado mas também surpreso ao ver a sua ex companheira do Miyagi-Do agora do lado do inimigo. Assim como Miguel, que também se sentia traído ao ver seu ex melhor amigo e seu valentão juntos.

── Hora da vingança, Reia — Kyle cuspiu com um sorriso de canto — Pra cima deles.

── Ah, vai se foder — retrucou Theodora não resistindo aos impulsos.

Outro barulho alto ecoou, dessa vez a porta da frente, Tory adentrou a casa com um sorriso diabólico no rosto seguida por dois garotos altos que mais pareciam cães de guarda.

── Soube que estavam dando uma festa. Espero que não se importem se participarmos.

── Tory, você não precisa fazer isso — Miguel tentava a todo custo controlar a situação, as mãos quase levantadas em redenção.

── Tarde demais. Isso acaba hoje — a loira sorriu olhando para a LaRusso — Sem compaixão!

Duas palavras. Foi tudo que precisou para Theo sentir a descarga de adrenalina correndo loucamente pelo seu sangue enquanto a confusão se generalizava.

A garota afastou Bart agilmente, ao mesmo tempo que um garoto do novo Cobra Kai atacou. A memória muscular entrou em jogo, ela não treinava desde o dia do acidente mas conseguiu desviar dos socos e chutes, caminhando para trás e acertando um chute forte no meio do estômago do oponente que caiu no chão gemendo.

Ela aproveitou o segundo de descanso para respirar brevemente e olhar ao redor, aquilo com certeza era um cenário bem pior do que a briga do colégio. E Theo teve a certeza disso quando um soco a atingiu do nada, fazendo-a cambalear com a mão no rosto.

O outro garoto rapidamente se jogou sobre ela, ainda atordoada, imprensando-a contra parede e colocando pressão sobre os ombros para que não escapasse.

Do mesmo jeito que Robby.

── Filho da puta!

A loira grunhiu, metade de raiva metade de dor, antes de pegar impulso para cabecear o oponente. Quando o aperto afrouxou ela deu uma joelhada entre as pernas dele e o empurrou em direção ao chão.

Respirando cada vez mais rápido, Theodora olhou ao redor antes de fazer contato visual com Catherine, que também havia acabado de derrubar um oponente no final do corredor. A garota de cabelos pretos engoliu em seco antes de caminhar em direção a loira.

As duas se emaranharam novamente entre socos e chutes, mas a Lewis foi mais rápida. Com o maxilar travado, ela arremessou Theo sobre a bancada da cozinha, as costas da inimiga batendo contra o mármore enquanto as mãos iam em direção o pescoço dela, apertando.

Sem compaixão, assim como Kreese havia lhe ensinado.

── Agora você não tem problema em lutar sujo? — a Young cuspiu sarcástica e sem ar.

── Posso abrir uma exceção para você — ela rosnou. O sorrisinho de Theodora mesmo imobilizada e perdendo a luta estava tirando-a do sério.

A loira aproveitou a distração para tatear a bancada atrás de si, agarrando uma garrafa de vidro com alguma bebida cara que logo se transformou em milhares de estilhaços quando foi golpeada contra a cabeça de Catherine.

Ela gritou de dor fechando os olhos com força, enquanto tropeçava para trás. Theo se soltou do aperto tossindo, correndo para algum lugar onde estivesse a salvo da confusão.

── Ai Falcão, mais uma! — um garoto do Cobra Kai gargalhou enquanto imobilizava a garota por trás, segurando-a pela cintura. Ela gritou de susto, se debatendo no aperto enquanto seus pés eram tirados do ar — O que vamos fazer com essa?

O outro garoto alto riu junto, segurando o braço de Demetri de uma forma perigosa como se a qualquer momento pudesse torcer e quebrar-lo novamente.

── Eles são todos seus, cara!

Theodora e Demetri se entreolharam alarmados, só uma coisa diferenciava o olhar dos dois, o garoto tinha medo e a garota tinha raiva.

Antes que pudessem se preparar para o impacto do garoto de moicano, Falcão avançou em direção aos alunos do próprio dojo, derrubando um deles com um chute no rosto e arremessando o outro na mesa de centro que também se espatifou em mil cacos.

O barulho de vidro quebrando já estava impregnado no cérebro da garota. Ela estava finalmente realizando a gravidade da sua ação, a maldita garrafa arremessada contra a cabeça de Catherine.

Demetri puxou Theo para trás, protegendo os dois do impacto e assistindo Falcão ganhar a luta contra seus próprios amigos.

── Ei, cara. Me desculpe — Falcão disse se aproximando dos dois. Demetri deu dois passos hesitantes para trás, levando a Young atrás de si — Por tudo.

Silêncio.

── Quer me ajudar a vencer?

Antes que o garoto pudesse se quer pensar em formular uma resposta Theodora saiu de trás dele, o punho encontrando o rosto de Falcão com força enquanto os anéis prateados que ela usava nos dedos faziam um pequeno corte no lábio do garoto.

── Que porra, Theo? — Demetri gritou enquanto o assistia analisar o machucado com a ponta dos dedos, em choque.

── Ele é sortudo por eu não quebrar o braço dele de volta! — ela balançou a mão, resistindo a uma careta — Agora você está desculpado.

Falcão sorriu de canto, cuspindo um pouco de sangue.

── Vamos acabar com esses babacas.

A luta recomeçou, dessa vez com o Cobra Kai em desvantagem. Até mesmo Miguel que apanhava feio de Kyler reuniu forças para virar o jogo, nocauteando o garoto.

── Samantha? — o Diaz perguntou, sem se importar com o nariz rojando sangue como uma cachoeira ou os diversos machucados ao redor do corpo, muito menos com os corpos ao redor deles desmaiados ou gemendo de dor — Alguém viu a Sam?

Um grito feminino ecoou.

O grupo correu em direção ao quintal, uma pequena casa que em circunstâncias normais seria um depósito mas na casa dos LaRussos obviamente era um pequeno dojo.

── Eu não tenho medo de você — Sam disse firme enquanto imprensava Tory na parede com a ajuda de um taco de madeira. A garota loira parecia pronta para revidar ainda mais violentamente.

── Ei, parem! — Miguel gritou.

── Tory, a briga acabou — Falcão completou se aproximando cautelosamente.

── Não acabou — ela cuspiu ríspida, virando-se para a inimiga — Isso nunca vai acabar, ouviu?

── Sabe onde me encontrar — rebateu a morena.

Os punhos de Tory finalmente soltaram do aperto enquanto ela caminhava para a saída contragosto, seu olhar raivoso examinando cada um dos presentes no pequeno dojo.

── Traidores — ela fuzilou Miguel com o olhar antes de parar no garoto de moicano vermelho, sua voz recheada de desgosto — É bom olhar por onde anda.

── Ele não precisa. Ele tem amigos que cuidam dele — Demetri a contestou.

A Nichols revirou os olhos antes de sair do ambiente fechando a porta com uma batida forte. Samantha soltou um suspiro alto, regulando a respiração enquanto finalmente abaixava a guarda.

Miguel se sentiu mais aliviado ao perceber que a namorada estava bem, seus olhos cansados analisaram o estrago do cômodo e os machucados dos seus amigos antes de perceber a ausência de alguém.

── Cadê a Theo?

˚ ⊹˚.⋆ ₊

A primeira vez que Theodora colocou os pés no Cobra Kai ela tinha um bom propósito, aprender a lutar para defender aqueles iguais a si. Agora, voltando ao lugar que costumava guardar memórias felizes ela não sentia nada além de raiva crescente, uma sede de vingança cada vez mais insaciável.

Ela não podia se importar menos com o barulho do sino da porta de entrada ou com os malditos sapatos no tatame principal. Tudo que rodava a mente da garota era gritar a plenos pulmões na frente de John Kreese, dando voz a todos os demônios da sua cabeça.

O que parecia uma decisão estúpida considerando que ela era apenas uma garota adolescente sozinha e ele um homem adulto com uma legião de soldadinhos que sabiam karatê.

A realização das suas ações inconsequentes no dia só aconteceu para Theo quando ela girou a maçaneta da porta que separava o dojo da academia do Cobra Kai e encontrou o alvo do seu ódio, não sozinho, mas treinando alguém.

Um garoto.

Robby Keene.

── Por que demorou tanto? — Kreese perguntou com um sorriso maléfico de canto, fazendo o garoto finalmente perceber a presença da loira congelada na porta.

A mente da Young tinha ficado em branco em questão de segundos, todas as palavras ensaiadas milimetricamente sumiram como um passe de mágica. Os olhos dela piscavam desacreditados, enquanto a respiração acelerava e as palmas da mão suavam frio.

── Você? — ela perguntou engolindo o nó cada vez mais apertado na sua garganta, odiando o quão vulnerável sua voz soava — O que você tá fazendo aqui?

── Ele está exatamente onde pertence. Assim como você — Kreese respondeu com sua voz de vilão de desenho animado, dando um passo à frente enquanto a loira recuava e tropeçava para trás.

Duas mãos a seguraram pelos ombros, impedindo-a de cair, enquanto ela se encolhia, tensa, soltando o ar que havia prendido ao perceber que era apenas Johnny.

O sorriso do mais velho se alargou enquanto a feição de Robby se fechava cada vez mais.

Ele odiava aquela reunião inesperada. Odiava a presença do pai. Odiava o olhar decepcionado da garota. E, acima de tudo, odiava como seu coração se contorcia dolorosamente ao perceber a água se acumulando nos olhos dela.

── Veja só, três gerações do Cobra Kai trabalhando juntas — riu nasalado, dando passos cautelosos enquanto rodava a sala com sua aura maligna — Não vamos apenas dominar o torneio, vamos fortalecer essa geração cheia de mimimi.

O Lawrence pareceu tomar folego com dificuldade, colocando Theodora atrás de si. Enquanto a garota se sentia cada vez mais pequena e deslocada, um mísero peão em meio a uma guerra antiga.

── Essa é sua última chance. Você está dentro ou está fora? — Kreese anunciou principalmente para o ex-aluno mas o seu olhar demorado deixava claro que a garota não estava sendo excluída da conversa.

A espinha de Theo gelou.

Ela também precisava tomar uma decisão.

── Ouça o que ele diz, pai — Robby se pronunciou, o vocativo saindo com gosto amargo enquanto ele encarava fixamente a garota atrás do Lawrence — Ele só quer o melhor para você.

As palavras do mais novo, uma nova geração do seu próprio sangue sofrendo a mesma lavagem cerebral de John, foi a gota d'água para Johnny. O homem avançou em direção ao mais velho fazendo os dois adolescentes se encolherem em choque, um em cada lado paralelo do cômodo.

O Kreese foi pego desprevenido, cambaleando para trás enquanto tentava se esquivar dos socos e chutes cada vez mais precisos do ex-aluno.

Os olhos de Theo se arregalaram conforme o conflito se agravava, parecia impossível impedir os dois. Ela soltou um grunhido assustado desviando do caminho em que eles tropeçavam, fazendo Robby dar um passo a frente alarmado.

── Esse é o seu melhor? — Kreese provocou com um sorriso sem folego enquanto se reerguia do chão, uma mancha avermelhada surgindo no seu queixo.

O Lawrence travou o maxilar, se jogando para cima de John, os dois se debatendo como crianças pequenas pelo corredor e caindo juntos sobre o tatame principal.

A garota continuou estática, incapaz de controlar sua respiração, quanto mais seus pés e mãos. Seus olhos perdidos se chocaram com o do inimigo, a sensação de enjoo enquanto seu peito se contorcia com mágoa voltando com tudo, por mais que ela se recusasse a demonstrar.

Robby quebrou o olhar quando um gemido alto ecoou, ambos correndo impulsivamente até o dojo principal.

── Não!

Johnny havia se erguido e tinha uma das adagas que adornava a parede em mãos, preparado para atacar o sensei quando a voz do filho deteve sua atenção. O olhar desesperado do Keene fazendo um apelo enquanto os dois se comunicavam silenciosamente.

O loiro soltou a arma branca, o barulho do metal tilintando no chão sendo interrompido por um contra ataque do Kreese.

O Lawrence rapidamente se recuperou, dando uma rasteira no mais velho e subindo em cima dele para depositar soco atrás de soco, cada fez mas forte, cada vez mais vermelho.

Robby se enfiou no meio da confusão puxando o pai pela cintura, ao mesmo tempo que Theodora se colocou no meio dos dois desesperada enquanto John continuava caido no chão, buscando recuperar o fôlego.

── Por favor, Keene — a loira suplicou, em pé entre o pai e o filho, os punhos preparados para impedir uma briga mais seria — Você não pode confiar nele.

── E posso confiar em vocês? — ele cuspiu ríspido.

── Robby, por favor me ouça... — Johnny disse recuperando o folego e dando um passo a frente. Seu olhar intercalando entre os adolescentes, tentando decifrar a relação confusa dos dois.

── Todos os anos em que você não estava presente, eu me culpei — Robby confessou, atingido o mais velho no seu ponto fraco — Sensei Kreese tem razão. Não posso ser meu pior inimigo. Mas você pode ser!

O principal erro de Theodora foi não ter saído da frente quando o Keene avançou em direção ao pai. Ela conseguiu bloquear alguns socos do garoto antes de receber um empurrão violento, o corpo fadigado devido a luta anterior incapaz de impedir o impacto no chão.

Ela gemeu baixinho de dor, colocando a mão sobre as costelas enquanto assistia em primeira mão Johnny defender todos os movimentos do adolescente, se recusando a atacar o próprio filho.

── Pare! — o mais velho ordenou, segurando os pulsos do garoto — Eu não vou lutar com você!

── Você é fraco!

Robby gritou, antes de executar uma sequencia complexa de movimentos, todos bloqueados com maestria pelo mais velho com a exceção de um soco que atingiu o nariz em cheio. Johnny foi rápido em contra atacar, segurando o braço do filho, girando-o e sem querer o arremessando contra um armário de metal no canto do cômodo.

── Merda — xingou, sem folego — Robby, você está bem?

O garoto estava desacordado, estirado no chão, um fino corte na testa começava a jorrar sangue lentamente.

── Me desculpe. Me desculpe por machuca-lo.

Theodora reuniu forças para cambalear em direção aos dois, arrastando o corpo dolorido enquanto sua visão estava embaçada. Ela odiava a sensação familiar que invadiu o seu peito, o pânico de perder alguém ressurgindo.

Parecia que ela nunca estaria livre dessa sensação.

── Não. Não. De novo não — a voz dela não passava de um sussurro, enquanto se ajoelhava ao lado do sensei, envolvendo o rosto do garoto cuidadosamente — Por favor Keene, acorda.

O olhar de Johnny estava dividido entre o filho e a garota, ainda sem entender a estranha conexão que compartilhavam, eles pareciam que tinham um passado juntos. Um passado que o mais velho não conhecia, afinal ele não estava lá para ver.

── Johnny, por que ele não acorda? — as lágrimas manchavam o rosto dela e as mãos estavam trémulas.

Antes que o loiro pudesse formular uma resposta, ele foi pego desprevenido com um golpe na nuca. Um grito escapou dos lábios de Theodora enquanto Kreese puxava o homem pelos cabelos, arremessando-o com força no tatame.

── Achei que ainda havia esperança para você — o mais velho cuspiu, pairando sobre o ex-aluno — Eu não queria que isso acabasse assim.

Os barulhos da luta dos dois só deixava a Young mais desesperada. Johnny estava sendo sufocado, ele respirava alto e com dificuldade, Kreese iria mata-lo. Mas a garota não conseguia tirar os olhos de Robby inconsciente nos seus braços.

Ela iria perder ambos em uma noite só.

── Por favor, Keene — ela sacudiu ele levemente — Por favor não me faça te dar um tapa.

Um barulho alto conseguiu tirar a atenção da loira do garoto. Daniel LaRusso havia aparecido como um cavaleiro em armadura branca prestes a salvar o dia. Ele chutou John para longe, raiva faiscando no olhar enquanto Johnny tossia descontroladamente agora livre do aperto.

── Você os mandou para a minha casa? Foi atrás da minha filha! — gritou — Você queria briga? Agora conseguiu, seu merda.

O silencio que pairou em seguida evidenciou os soluços baixos de Theo, desviando a atenção do LaRusso para os dois adolescentes no chão, o garoto desacordado e a garota em pânico.

── Robby? Theodora?

── Eu lhe disse... — Kreese se reergueu respirando fundo — Isso tudo é inevitável.

Outra briga começou, dessa vez entre Daniel e o mais velho. As técnicas distintas tornando mais difícil para os dois preverem o movimento do oponente.

── Não pode manter essa baboseira de autodefesa para sempre.

── Ainda bem que não preciso — o LaRusso rebateu.

Kreese se recusou a aceitar a dominância do inimigo. Em um golpe baixo ele agarrou o homem pela cintura e o arremessou contra a vitrine do dojo, os dois rolando sobre os estilhaços.

O som do vidro quebrando ecoando novamente fez Theo se encolher, escondendo a cabeça no peito do garoto desacordado como uma garotinha medrosa.

Dedos entrelaçaram no cabelo dela protetoramente, a puxando mais para perto.

Os olhos da Young se arregalaram, afastando-se um pouco para assistir Robby acordar piscando lentamente e atônito. Um suspiro de alivio escapou dos lábios dela enquanto eles se encaravam sem dizer nenhuma palavra.

A mão da garota ainda envolvia o rosto dele, a pele dos dois se esquentando com o contato. O Keene parecia focado em mapear as lágrimas dela com o olhar, como se desejasse sugar toda a dor da garota.

A luta do lado de fora havia diminuído para uma discursão graças a chegada de Samantha, o grito da garrota ecoando pelas paredes do dojo, mas nenhum dos dois prestava muita atenção para as palavras acaloradas dos três senseis, debatendo sobre o futuro.

── Por que não resolvemos isso a moda antiga — sugeriu Kreese do lado de fora — No torneio. Se perdermos, eu vou embora. Se vocês perderem...

── Não vamos perder — Johnny cortou confiante. Ele e o LaRusso se entreolharam.

Theo continuou sentada no chão em choque, seu coração martelando contra a caixa torácica enquanto os olhos cinzentos assistiam Robby se reerguer, caminhando com a mão sobre o corte na testa em direção aos mais velhos.

Tanto Johnny quanto Daniel pareciam magoados ao verem o garoto escolher o seu lado da briga, parando ao lado do Kreese.

── Robby...

── Saiam daqui — ele respondeu acidamente, os olhos verdes passando sobre Miguel e Samantha e demorando mais sobre o pai e o antigo sensei — Todos vocês.

O quarto pares de olhos atravessaram o adolescente e o Kreese, parando na garota desolada atrás deles. Ela ainda precisava tomar uma decisão.

Theodora era um peão. Mas era um peão importante, ansiado para vencer o jogo.

A loira finalmente encontrou forças para se erguer, sentindo o olhar de Robby fuzilando as suas costas enquanto ela caminhava. Seus passos tornando o momento tenso e desconfortável conforme emitiam o barulho do vidro quebrado. Ela parou ao lado de Johnny e Miguel.

Os dois em lados opostos, novamente.

O olhar magoado do Keene não passou despercebido para John, percebendo que ele era muito mais do que a fraqueza de Johnny. O garoto também era o ponto fraco de Theodora, assim como ela era o dele.

── Vamos, filho — John colocou a mão sobre o ombro do seu mais novo pupilo, o guiando para dentro novamente.

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