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𝑿𝑿𝑰𝑽. skating out of it.

CAPÍTULO VINTE E QUATRO
Patinando para fora disso.

PATINAR com a mente cheia era uma receita para o desastre. Theodora sabia disso, era o primeiro conselho que tinha saído da boca da sua mãe quando a garotinha demonstrou sua paixão pelo gelo, mas não podia evitar descontar sua raiva nos movimentos ágeis e cada vez mais pesados pela força aplicada.

A garota estava tendo algumas semanas difíceis, dormindo pouco e evitando Miguel e Johnny para tentar fugir de toda a confusão que os cercava. Claro que os dois logo perceberam a falta de animação da garota em participar dos treinos mas em nenhum momento o assunto "abandonar o karatê" foi mencionado. Eles acreditavam que com a chegada do Torneio Regional a disposição de Theo melhorasse.

Ela não iria voltar, estava decidida. O grande problema era a a falta de coragem para externar sua decisão ao sensei e ao melhor amigo.

── Merda! — a garota gritou frustrada quando tropeçou, errando o movimento, a coxa atingindo o chão com força. Mais uma marca arroxeada para chamar de sua.

── Olha a boca, mocinha.

Theo revirou os olhos ao reconhecer a voz do seu pai preencher à arena quase vazia, apenas algumas crianças patinavam mais próximo as beiradas do ringue. A loira pois de pé, se virando rapidamente, com um sorriso divertido nos lábios que se transformou em uma feição de choque ao perceber as duas figuras que acompanhavam Christopher.

── Mais respeito com os mais velhos — completou, se divertindo com a reação da filha que rapidamente se transformou em um gritinho de animação, enquanto ela pegava velocidade para sair mais rápido do gelo.

Susan e Owen Willams tinham sorrisos de orelha a orelha enquanto abriam os braços em direção a neta, que tropeçava desastradamente tentando colocar os protetores nas lâminas do patins e em seguida correndo para o abraço.

── Eu pensei que vocês só vinham nos visitar na semana do natal! — exclamou a loira.

A mulher se afastou da garota para segurar o rosto dela entre as mãos. Mesmo com os cabelos tingidos de loiro Theodora parecia um retrato da sua falecida filha, os mesmos olhos cinzentos, os mesmos hobbies e o mesmo sorriso travesso que Winter costumava ter.

── Queríamos fazer uma surpresa — Owen respondeu colocando uma mão sobre as costas da esposa e depositando um beijo no topo da cabeça da neta.

── Você esta radiante, querida — adicionou Susan.

Theo não se sentia radiante, na verdade ela se sentia mais cansada do que nunca, mas as palavras da mulher mais velha funcionaram como uma descarga de endorfina fazendo-a sorrir ainda mais.

── Vocês vieram de avião? Como foi o voo? Vocês estão cansados? — a Young perguntou animada, atropelando nas palavras — Espere! Não me conte ainda. Vou buscar minha bolsa e colocar meus tênis.

A animação da garota resultou em risadas nasaladas dos três adultos. Ela deu dois passos pra trás indo em busca da mochila largada pelas arquibancadas mas logo em seguida voltou, apertando os Willams em mais um abraço.

── Estou tão feliz! — ela ressaltou uma última vez antes de sair saltitando.

Susan e Owen costumavam morar em All Valley mas se mudaram para o Canadá após o falecimento da primeira e única filha, buscando escapar da constante saudade que sentiam de Winter em todas as ruas da pequena cidade em Los Angeles. Porém, os mais velhos sempre voltavam em ocasiões especiais para visitar a única neta, cujo Christopher insistiu que era melhor para a garota crescer na mesma cidade que os pais.

A casa azul dos Youngs estava cheia, mesmo com a ausência de uma peça do quebra cabeça. A decoração natalina escolhida pela adolescente tornava o ambiente ainda mais aconchegante com as pequenas luzinhas que piscavam lentamente.

Theodora andava para frente e para trás, da cozinha para sala de jantar, colocando a louça especial para visitas sobre a mesa, Christopher estava debruçado sobre o fogão trajando o seu famoso avental e Owen dava apoio moral para o genro, tagarelando sobre o tipo de vinho que haviam trazido para tomar.

── Ainda não me acostumei com os vinhos do Canadá, não chegam nem aos pés dos vinhos italianos — resmungou o mais velho torcendo o nariz e em seguida tomando mais um gole da bebida escura na sua taça.

Theo riu nasalado, se esquivando para pegar alguns guardanapos de tecido para adornar a mesa, do tipo que eles só usavam quando tinham visitas.

── Quase terminando. Você pode chamar sua avó por mim? — Chris perguntou para a filha, retirando uma assadeira com peixe do forno. O avô da garota ainda resmungando ao fundo.

── Claro.

A Young mais nova posicionou os guardanapos delicadamente sobre a mesa, um para cada lugar, quatro no total, antes de sair a procura da mulher mais velha.

Susan estava parada nas escadas, admirando os porta-retratos que adornavam a parede com um sorriso e um olhar melancólico, o mesmo olhar que parecia acompanha-la desde o momento que pisou em Los Angeles.

Theo parecia hesitante em interromper o momento da mulher, segurando o corrimão firmemente antes de anunciar sua presença.

── Você está bem, vovó? — a garota se aproximou, parando ao lado da mais velha.

── Sim, querida... Eu só...  — ela respirou fundo, se recompondo — São lindas fotos.

A Young sorriu, ela amava aquelas fotos da mãe sempre parecendo cheia de vida.

── Aquela ali é minha favorita — Theo comentou, apontando para uma foto de quando ela tinha quatro anos, sentada no colo de Winter, as duas sujas de terra enquanto a mulher plantava lírios no jardim.

Susan sorriu.

── Ela parece tão...

── Jovem? — a adolescente completou incerta, após alguns segundos de hesitação. A Willams concordou com a cabeça, voltando-se para a neta.

── Você me lembra tanto dela, querida.

Theodora engoliu em seco, ela não sabia definir se isso era uma benção ou uma maldição, era um sentimento agridoce que pairava sobre a língua da menina. Ela levou a ponta dos dedos para o pingente de floco de neve, buscando um pouco de conforto.

A ação não passou despercebida pela mais velha que levou a mão ao próprio colo, retirando o relicário prateado em formato oval do pescoço.

As mãos frágeis e enrugadas abriram o pingente, revelando duas fotos. Uma era Winter adolescente, os cabelos castanhos caindo pelos ombros como uma cascata sendo bagunçados pelo movimento, a mulher estava patinando. A segunda foto era de Theodora criança, usando um collant azul bebê em sua primeira competição de patinação.

A loira sorriu involuntariamente, acompanhando a mais velha. Os lábios de Theo se repartiram mas ela não disse nada, só o olhar de saudades e admiração valia mais que mil palavras.

── Ela está viva em você, meu amor — Susan afagou os cabelos da menina — Você é o melhor presente que ela podia ter me deixado.

Antes que os olhos da Young pudessem lacrimejar com as palavras carinhosas a voz de Christopher ressoou pelos cômodos anunciando que o jantar estava na mesa.

── Vamos comer — Susan disse casualmente, colocando o colar de volta ao pescoço e deixando um selar suave na testa da neta, caminhando em direção a sala de jantar.

Theodora acompanhou a mais velha um pouco mais atrás, se recuperando do momento emocional interrompido que as duas haviam acabado de compartilhar.

── Como vão as competições de patinação, Theo? — Owen perguntou quando todos já estavam sentados, se servindo — Ainda sonha em ir para as olimpíadas?

A garota sorriu, lembrando de quando em meio a todas as crianças que diziam que seriam advogados ou médicos a pequena Theodora dizia que iria para as olimpíadas de inverno, conquistar uma medalha para seu país.

── Não mais — ela respondeu enquanto se servia de salada — Na verdade eu voltei a patinar faz pouco tempo, tinha dado uma pausa.

── Serio? Não consigo imaginar Theodora Young sedentária. Você sempre foi a criança que corria o quarteirão inteiro e não se cansava.

── Ela não estava parada — Christopher se pronunciou enquanto cortava o peixe no próprio prato — Estava se aventurando no karatê.

Os dois mais velhos pareciam chocados enquanto a garota dava de ombros. Com todos os problemas que o karatê tinha trazido ela não sabia se devia considerar aquilo uma conquista.

── Terceiro lugar no torneio regional — Chris reforçou, apontando com o garfo na direção da garota.

── Meu Deus, esse torneio ainda existe? — foi a vez de Susan se pronunciar, deixando uma risada nasalada escapar enquanto os dedos alcançavam a taça de vinho — Quando sua mãe era adolescente, ela tinha um amigo que lutava nesse torneio.

Enquanto a mulher mais velha bebia despreocupada um gole de vinho, Theodora engasgou, tossindo e colocando a mão sobre o peito.

── Eles eram inseparáveis, era uma amizade linda. Eu e Owen até apostamos que eles iriam se casar no futuro — sorriu — Isso é claro, antes da sua mãe ir para faculdade e se apaixonar pelo seu pai.

A Young se esticou para pegar o copo d'água, tomando dois longos goles enquanto respirava fundo, ignorando o olhar curioso do avô sobre si.

── Qual era o nome dele, querido? Dante? Danilo?

── Daniel — Owen respondeu simples, colocando mais uma garfada na boca.

── Daniel! Onde anda o Daniel?

── Ele é vendedor de carros — Chris respondeu, apreciando o jantar.

── A filha dele está na minha aula de literatura — Theo completou, colocando outra garfada na boca para impedir o assunto de se estender.

Antes que Susan pudesse continuar o interrogatório e persistir no assunto dos LaRussos, Christopher perguntou sobre a viagem fazendo a filha lançar um olhar agradecido e o clima na mesa aliviar e os assuntos fluírem.

── É melhor vocês se esforçarem nos presentes esse natal porque eu estou arrasando — Theodora provocou, apontando para o próprio peito.

── Na verdade... — Susan repousou os talheres, fazendo o sorriso da garota diminuir.

── Nós queríamos te dar seu presente adiantado — Owen completou, interrompendo a esposa.

── O que? Vocês vão me dar um carro? — brincou a loira, engasgando em uma risada.

O silêncio pairou sobre a mesa enquanto o Willams mais velho retirava um molho de chaves do bolso, o barulho metálico fazendo o queixo da garota cair enquanto ela olhava para o pai que ria, cúmplice.

Theodora se levantou, dando a volta na mesa como um foguete para abraçar o torso do avô enquanto todos os presentes gargalhavam.

── Tome cuidado, eu precisei trocar as peças antigas e renovar a pintura mas é o mesmo Jeep da sua mãe — o mais velho disse rindo da demonstração de afeto exagerada da mais nova.

── Você é o melhor avô do mundo! — a Young beijou o topo da cabeça dele em meio os cabelos grisalhos — Posso dar uma volta? Por favorzinho? — ela levantou o olhar de cachorrinho para o pai.

── Amanhã — ele prometeu com um sorriso, admirando o quanto sua garotinha cresceu — Agora você vai me ajudar a tirar a mesa.

Theo estendeu a língua para o mais velho mas logo em seguida cumpriu sua parte, ajudando a organizar a sala de jantar e a cozinha. Os quatro funcionando de uma maneira engraçada como engrenagens em um relógio enquanto conversavam, lavando a louça e guardando os restos.

── Seu telefone está tocando — Owen anunciou apontando para o eletrônico que exibia o nome 'Miguel Diaz' na tela brilhante — Quem é Miguel? Seu namoradinho?

── Deus me livre — a loira respondeu, enquanto enxugava as mãos, se esticando para alcançar o celular — Deixe de ser curioso.

── Sou seu avô! Respeito com os mais velhos — ele retrucou se divertindo com a ousadia da menina, que saiu da cozinha, sumindo escada a cima.

── Alô — a loira atendeu, fechando a porta do próprio quarto com o pé.

── O Torneio All Valley foi cancelado.

˚ ⊹˚.⋆ ₊

── Defina como assistir essa assembleia chatíssima é 'ajudar o sensei'? — Theodora perguntou derretendo na poltrona localizada na última fileira do auditório, a monotonia da reunião arrancando mais bocejos da loira do que as aulas de espanhol.

Por mais que ela e Miguel estivessem levemente afastados, ambos sempre responderiam ao chamado do outro, mesmo que a garota ainda achasse estupidez a ideia dele competir no regional logo após quase ter ficado paraplégico.

── Tudo bem, só temos que seguir o plano — Miguel disse mais para si mesmo, os olhos procurando a família LaRusso na multidão.

── Que é? — nenhuma resposta. Os olhos da garota se arregalaram — Oh Deus, você não tem um plano. Por que eu sempre acabo envolvida nos seus problemas?

── Shhh.

Uma senhora de idade repreendeu, girando o tronco para encarar os dois adolescentes e em seguida voltando a sua atenção para a discursão inútil que perdurava.

── Jesus Cristo, esse lugar está...

── Certo, agora vamos ouvir a apelação pelo cancelamento do Torneio Regional de Karatê Sub-18. Quem quer falar primeiro? — a excelência presente decretou, fazendo Miguel se ajeitar na cadeira e Johnny e Daniel se levantarem ao mesmo tempo, preparados para darem um show para todos os cidadãos de meia idade presentes.

── Senhoras e senhores, sou o capitão da reserva John Kreese — anunciou o mais velho, parando em frente ao palanque e interrompendo a briga silenciosa dos outros dois presentes.

Theodora aprumou a postura, um arrepio estranho que só a voz de vilão de desenho animado do antigo sensei provocava nela.

── Obrigada pelo seu serviço — a mulher respondeu, ajeitando o óculos na ponta do nariz.

── Servir foi uma honra. E quero continuar servindo em nossa comunidade, ensinando força e disciplina às nossas crianças por meio do karatê — ele continuou, sua voz em uma mistura de confiança e inocência — Fiquei arrasado ao saber do cancelamento do torneio devido à briga da escola. Por que meus alunos serão penalizados pela violência cometida por dojos como o Miyagi-Do?

Kreese tinha uma pequena curva nos lábios, quase imperceptível, quando lançou um olhar para Daniel, o provocando.

── Espere um minuto.

── Sr. LaRusso, por favor, não é sua vez de falar.

── Desculpe, conselheira Roberts. Mas esse homem...

── Vereadora Roberts — o mais velho interrompeu soberbamente, ganhando a confiança da mulher.

── Obrigada, capitão Kreese — ela sorriu, gesticulando para ele dar continuidade ao seu discurso enquanto o outro homem se calava contragosto.

── Acho que meus colegas concordam que todos queremos o bem dos nossos alunos e da comunidade. O objetivo do Cobra Kai é preparar os jovens do Vale para lidarem com os infortúnios da vida real.

Theodora resistiu a uma revirada de olhos, enquanto assistia a persuasão do Kreese fazer efeito na assembleia.

── O mundo é difícil. Estou apenas os preparando para se defenderem — continuou.

── Vereadora Roberts, com licença, esse homem é lobo em pele de cordeiro — Daniel interrompeu novamente, gesticulando indignado — Há algumas semanas, meus alunos foram atacados pelos alunos do Cobra Kai em um parque de diversões. E um deles...

── E quem começou a briga? — o mais velho rebateu — Se me lembro bem, foi a sua filha descontrolada.

Theodora colocou a mão sobre o braço de Miguel, impedindo o garoto de se levantar e piorar a discussão enquanto ele travava o maxilar.

── O QUE? — Amanda LaRusso se levantou, mais exaltada que o marido — Deixe minha filha fora disso, seu lixo!

── Mãe... — Sam se encolheu na cadeira, sentindo as bochechas queimarem com a explosão da mulher.

── Senhora, contenha-se, por favor.

Johnny colocou a mão sobre a boca para controlar uma gargalhada.

── É curioso você dizer isso, pois tenho uma ordem de restrição contra ela por agressão — John anunciou calmamente.

Os olhos verdes da Young se arregalam conforme a situação ia de mal a pior.

── Está de brincadeira comigo? — a LaRusso riu desacreditada.

── Devo chamar a polícia?

── Não será necessário — a vereadora fez um sinal para os seguranças, que se aproximaram da mulher com cautela.

── Não toque em mim, ouviu? — Amanda exclamou, se abaixando para pegar sua bolsa na cadeira — Já estou de saída — os passos pesados fazendo barulho rítmico, graças ao salto alto da mulher — Mas esse homem é um maluco!

Todos os pares de olhos do cômodo acompanharam a LaRusso sair do auditório, batendo a porta em seguida.

── Vereadora Roberts, garanto que sou uma influência positiva aos meus alunos e a todos os outros que formei antes deles — o Kreese continuou como se nada tivesse acontecido, após alguns segundos de silêncio.

── MENTIROSO!

Foi a vez de Johnny se exaltar, levantando da poltrona que ocupava. Os espectadores que antes quase dormiam com a reunião, agora vidrados na confusão cada vez mais complexa.

── Excelência, Johnny Lawrence, do Karatê Presas de Águia.

Theo torceu o nariz, buscando o olhar de Miguel que deu de ombros, como se dissesse 'Não foi culpa minha. Ele escolheu o nome sozinho.'

── Esse homem envenenou as mentes dos alunos dele. E eu sei bem disso, porque fui um deles.

── Fomos competitivos? — o mais velho se defendeu, lançando um olhar para o antigo aluno — Claro. Mas tudo em nome desse esporte.

── Ele é um ladrão e mentiroso!

── E colocou uma naja viva na minha loja! — Daniel acrescentou gerando mais burburinhos paralelos a discursão inicial.

── Já chega! Sentem-se. Todos vocês.

Os três homens se entre olharam emburrados antes de ocuparem a primeira fileira do auditório, lado a lado, formando uma imagem engraçada.

── É notável que o torneio de karatê está causando discórdia e rivalidade em nossa comunidade. Os senhores mostraram ótimos argumentos que provam que o torneio não pode continuar.

── Espere! — Miguel se levantou, atraindo o olhar de todos para si, inclusive de Theodora que não esperava essa reação.

── Quem é ele? — alguém perguntou em um sussurro alto.

── Meu nome é Miguel Diaz. Estava na briga da escola. Eu sou o garoto que foi chutado do segundo andar — explicou, descendo os degraus em direção ao palanque — Sabe, achei que ficaria paraplégico. Mas eu reaprendi a ficar de pé. Reaprendi a andar. E quero que o torneio continue.

── Estamos felizes por sua recuperação, meu jovem — respondeu a vereadora — Mas receio que não entenda...

── Ele entende — Sam e Theo disseram em uníssono, a loira fechando os olhos se arrependendo imediatamente da sua impulsividade. As duas garotas se entre olharam em um acordo silencioso, antes de caminharem juntas para próximo do Diaz.

── Fomos nós que nos machucamos. Fomos nós que lutamos — a LaRusso disse firme — Devíamos ser ouvidos.

── Vocês estão apagando não só anos de tradição do Valley mas também o único lugar que podemos competir de forma justa e segura — a Young completou recebendo um sorriso apoiador de Miguel. O uso do plural na frase aquecendo o peito dele com a possibilidade de competirem lado a lado novamente.

── Quando me mudei pra cá, fui vitima de bullying. Notei que não havia saída. Há sempre garotos que sempre vão roubar seu dinheiro, fazer um cuecão ou um mergulho — o garoto continuou, virando-se para o juri.

── Um mergulho?

── É quando afundam a cabeça da pessoa na privada e dão descarga — Johnny se levantou perante a duvida da excelência — É bem engraçado, na verdade.

── Sensei — Theo censurou com os olhos apertados, fazendo o homem se desculpar e se sentar.

── Ao invés de nos esconder e fingirmos que o bullying não existe ou varrer ele por baixo do tapete, precisamos aprender a nos defender — continuou o garoto.

── Física e mentalmente — adicionou Samantha — Pois, às vezes, as cicatrizes não visíveis são as que mais doem — as duas garotas se entreolharam empáticas.

── O karatê é disciplina. É força interior. É confiança. Lições que podem ser usadas por toda a vida — Theodora deu um passo a frente — Eu não sei onde estaria ou quem eu seria hoje sem o karatê e sem o apoio do meu sensei.

O Lawrence sentiu seus olhos lacrimejarem contra sua vontade, ouvindo as palavras da Young e o aceno de cabeça em concordância de Miguel.

── Não precisamos do torneio para dar chutes legais ou vender ingressos. Precisamos dele para mostrar aos valentões que não temos medo. Ele se chama "All Valley" porque é para todos, pra todos terem a chance de mostrar sua capacidade, para que possam lutar e serem campeões — o Diaz olhou para as duas garotas ao seu lado — E merecemos essa chance.

O juri parecia mexido com os discursos dos adolescentes, eles se entreolharam com acenos de cabeça, os minutos de silêncio deixando todos tensos enquanto a Vereadora Roberts ajeitou o óculos no rosto.

── Sinceramente, não entendo o fascínio do Valley pelo Karatê. Mas se importa tanto para vocês, e se aceitam assinar termos que isentem a cidade dessa responsabilidade, então... O Torneio Regional Sub-18 está oficialmente de volta.

As duas batidas altas do malhete fizeram as palmas ecoarem no auditório, enquanto os três jovens trocavam abraços entre si. Samantha hesitou ao parar em frente da Young incerta sobre o contato físico graças a pouca intimidade que as duas tinham mas a loira sorriu mais largo envolvendo a LaRusso entre os braços.

˚ ⊹˚.⋆ ₊

Nada mais justo do que comemorar a volta do torneio regional. Mesmo ainda incerta se participaria, Theodora não pode deixar se se sentir contaminada pela animação de Miguel e Samantha, os três combinando de se encontrarem no Miyagi-Do após o jantar.

A Young se atrasou de propósito, deixando o ex-casal ter um pouco de privacidade e tempo sozinhos para conversaram. Ela nunca havia pisado no dojo dos LaRussos, estava um pouco impressionada com a quantidade de carros antigos parados no estacionamento.

A loira abaixou a cabeça para enviar uma mensagem avisando que tinha chegado ao melhor amigo, enquanto caminhava distraída, esbarrando fortemente no peito de alguém que caminhava na direção contrária.

── Merda — a garota exclamou, abaixando-se para pegar o celular que havia caído no chão e virando-se para falar com a outra vitima do esbarrão — Descu...

As palavras morreram entaladas no nó que se formou na garganta da loira quando os olhos se encontram com os de Robby. A raiva presente no olhar dele por ter presenciado a cena de Samantha e Miguel no jardim suavizou minimamente com a voz da garota.

A garota que tinha mandado ele para o reformatório.

O silêncio parecia alimentar a tensão entre os dois, o estômago de Theodora se contorceu tão violentamente que ela sentiu que estava doente. A oportunidade de fazer as pazes que tinha deixado a garota noites em claro, reensaiando infinitamente, agora era real. O garoto que a visitava nas memórias agora em carne e osso na sua frente.

── Oi — ela disse, mordiscando os lábios — Você saiu...

── É, depois de você me colocar lá — o Keene a cortou a raiva reacendendo no peito dele enquanto os olhos verdes ainda pareciam hipnotizados.

A Young inspirou fundo desviando o olhar dele, era um péssimo momento para dizer "você merecia" mas ela não queria estragar, provavelmente, a única chance que teria de consertar as coisas.

Os olhos dela divagaram em silencio tentando decifrar o complexo quebra-cabeça do olhar dele, parando sobre a marca levemente arroxeada sobre a bochecha direita.

── Você está bem? — o tom de voz pacifico de Theodora resultou em um revirar de olhos do garoto e uma risada nasalada.

Não. Ele não estava bem. Mas Robby jamais admitiria tamanha vulnerabilidade na frente dela.

── Você não precisa fingir que se importa — ele rebateu com escárnio, enfurecendo a garota — Estou ótimo.

── Eu me importo.

A fragilidade das palavras firmes dela assustou os dois, o Keene sentiu seu coração errar uma batida.

── Eu escrevi pra você — continuou — Você que não me escreveu de volta.

Robby travou o maxilar enquanto ela colocava as cartas na mesa. Ele podia ficar com a raiva que fosse mas nisso Theodora tinha razão, ele nunca escreveu de volta, apesar de pensar sobre, fazer esboços de e-mails quando as luzes se apagavam e ter outras tentativas frustradas na sala de informática do reformatório.

Os lábios do garoto se partiram, fazendo a Young se preparar para mais uma resposta ácida, uma explosão, um xingamento, qualquer coisa.

── Só me deixe em paz.

Robby se virou, caminhando para saída em passos pesados, sentindo o olhar da garota queimar nas costas dele, cansado dos sentimentos traiçoeiros que sentia quando pensava em Theodora.

O garoto precisava se blindar. E só existia um lugar que podia fazer ele esquecê-la.

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